segunda-feira, 11 de julho de 2011

Economia nacional usa pouca mão de obra qualificada

Publicado em por Rodrigo Medeiros

Professor Ben Ross Schneider, do MIT, abordou no Ipea as características do capitalismo na América Latina
A presença de um número elevado de multinacionais no país e a exploração de recursos naturais por grandes grupos econômicos nacionais reduz a demanda por mão de obra qualificada no Brasil. A tese foi defendida pelo professor Ben Ross Schneider, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Ele apresentou uma palestra sobre as variedades do capitalismo na América Latina nesta quinta-feira, 30, no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Para Schneider, o domínio de multinacionais em setores tecnológicos, intensivos em capital e pouco demandante de mão de obra inibe iniciativas de pesquisa e desenvolvimento no país, que exigiriam quantidades maiores de trabalhadores com boa formação. Ao mesmo tempo, os setores primários, sob controle grandes grupos econômicos, são mais intensivos em mão de obra, mas contratam pouco pessoal com maior qualificação.
Essa é uma das características do capitalismo hierárquico, categoria que explica o modelo de desenvolvimento e a estrutura das economias latino-americanas. “Nesse modelo hierárquico existe, pelo lado das empresas, multinacionais e grupos econômicos nacionais diversificados. O mercado laboral é atomizado, segmentado entre formais qualificados, formais pouco qualificados e uma grande parte de informais. Os níveis de qualificação são também bastante baixos. Essas características se complementam em um sentido negativo”, explicou.
“A ocupação pelas multinacionais, ainda no início, de espaços em setores tecnológicos, impediu o desenvolvimento de grupos nacionais, que ficaram restritos a áreas de bebidas, alimentos, mineração e celulose. Isso é um problema para a demanda de mão de obra qualificada, porque as multinacionais não criam setores de pesquisa e desenvolvimento no país. Os mais qualificados em setores como a mineração são minoria”, completou.
A solução para o dilema econômico brasileiro poderia ser inspirada nos países escandinavos. De acordo com Schneider, esses países, também muito dependentes da exploração de recursos naturais, firmaram um compromisso governamental e social com a educação pública e com o setor privado de pesquisa e desenvolvimento. Ross sugere que o Estado estimule os grupos nacionais a direcionar as rendas elevadas dos recursos naturais para atividades que envolvam a inovação e diversificação na produção.
Para Mansueto Almeida, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea, a demanda por trabalhadores de baixa qualificação nas grandes empresas nacionais não é necessariamente ruim. “A maior oferta de trabalho no Brasil é de baixa qualificação. Se quiséssemos estimular setores de alta qualificação, teríamos de importar mão de obra, ou empregaríamos uma parcela muito pequena da sociedade”, argumentou.
Mansueto ressalta, entretanto, que o país deve adotar políticas para educar a população e mudar, no futuro, a estrutura econômica atual. “Existe o mito de que já investimos muito em educação, 5% do PIB, a média da OCDE, mas a Coreia do Sul, quando conseguiu se desenvolver, aplicava de 7% a 8% do PIB em formação e qualificação. Hoje temos dinheiro para fazer isso”, afirmou.

http://www.desenvolvimentistas.com.br/blog/rodrigo-medeiros/2011/07/11/economia-nacional-usa-pouca-mao-de-obra-qualificada/

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