quarta-feira, 27 de julho de 2011

'Marcha da insensatez' da dívida dos EUA deixa governo 'apreensivo'

do site Carta Maior

Impasse entre Barack Obama e seus inimigos republicanos sobre a gigantesca dívida norte-americana preocupa governo, que 'torce' por solução. 'Confesso minha apreensão', diz o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Com EUA e parte da Europa patinando na 'segunda fase' da crise financeira mundial de 2008/2009, governo prepara medidas tributárias e protecionistas em favor do setor industrial. Apesar do pessimismo sobre o exterior, previsões para o crescimento do Brasil continuam positivas, graças ao mercado interno.
BRASÍLIA – A falta de solução para a dívida dos Estados Unidos começa a deixar o governo preocupado. O motor do crescimento brasileiro tem sido – e continuará sendo - o mercado interno, mas a piora da expectativa sobre o futuro dos países desenvolvidos, especialmente os EUA, prejudica a indústria e justifica adotar medidas tributárias e comerciais que o governo prepara e anunciará em breve.

“Confesso minha apreensão pelo rumo que as coisas estão tomando [nos Estados Unidos]”, disse nesta terça-feira (26/07) o ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, no Palácio do Planalto. “Torço para que eles resolvam essa situação”, que classificou de “grave”.

Para o ministro, o mundo assiste a uma “marcha da insensatez” nos EUA, cuja dívida é gigantesca (cerca de cinco vezes o tamanho da economia brasileira), não para de crescer, mas o mundo político não acha uma solução – subir impostos, cortar gastos ou fixar novos limites de endividamento. “Certamente existe um cenário político por trás disso”, disse Mantega, aludindo à guerra entre o presidente Barack Obama e seus inimigos republicanos por causa da eleição do ano que vem.

Na Europa, disse o ministro, o cenário não é muito diferente. Alguns países, como Grécia e Itália, vivem na pele uma segunda etapa da crise financeira mundial de 2008/2009. O problema, que era privado (dos bancos), tornou-se estatal (dos governos). A solução dessa nova crise “deve se arrastar pelos próximos anos”, para Mantega, mas já tem consequências práticas.

A principal delas, disse o ministro, é a “falta de mercado para manufaturas”. Como o mundo rico não cresce, fecham-se os espaços para produtos de maior valor agregado, e a competição se acirra. Neste quadro, corre-se o risco de um “vale-tudo” em busca de mercados. “Até os Estados Unidos estão sendo usados na triangulação para o Brasil. Os Estados Unidos têm hoje superávit comercial com o Brasil. Vamos tomar medidas importantes neste campo”, declarou.

A triangulação a que se referiu o ministro é a exportação de uma mercadoria a algum país antes de ser remetida ao Brasil, numa tentativa de driblar tarifas e burocracias maiores, caso o bem viesse direto de seu país de origem. Tem sido praticada sobretudo por empresas chinesas, que vinham optando por exportar para países do Mercosul e, logo em seguida, ao Brasil, porque os parceiros do bloco tem comércio facilitado. Agora, os chineses estariam recorrendo aos EUA.

Do ponto de vista das empresas brasileiras, o fechamento dos mercados internacionais para produtos industriais agrava-se com a ininterrupta queda do preço do dólar. Como o país continua crescendo, investidores e multinacionais seguem botando seus recursos no Brasil, em busca de lucros. No primeiro semestre, entraram US$ 50 bilhões de dólares no país, segundo dados divulgados pelo Banco Central (BC) nesta terça-feira (26/07). A cotação da moeda americana aproxima-se da casa de U$ 1,50.

Para tentar melhorar a competitividade das empresas, especialmente industriais, sem agir no dólar diretamente, o ministério da Fazenda estuda mudar a cobrança de contribuição previdenciária (que hoje incide sobre a folha de salários e passaria para o faturamento) e na legislação do ICMS, o principal imposto do país, que é estadual e possui 27 legislações diferentes. “Essa é uma prioridade decidida junto com a presidenta Dilma Rousseff”, disse Guido.

Apesar do cenário algo pessimista sobre o exterior, o governo aposta que, a exemplo do que ocorreu na primeira etapa da crise financeira mundial, o Brasil está preparado para se sair bem, porque a economia está sendo impulsionada pelo mercado interno, com geração de emprego e renda ainda elevada, mesmo que num ritmo menor do que o de 2010. O controle da inflação este ano está sendo feito sem sacrificar o mercado de trabalho.

"O importante é salientar que o controle da inflação, embora implacável, não chegou a derrubar a economia", disse mantega. "O atual crescimento é satisfatório para atender as necessidades dos jovens e da sociedade", completou.

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