sexta-feira, 8 de julho de 2011

Serviços mantêm inflação pressionada

Arícia Martins e Rafael Rosas |De São Paulo e do Rio
08/07/2011


A aceleração nos preços dos serviços no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu o mercado, que esperava uma taxa menor que o 0,15% apurado em junho para o indicador. A alta nesse segmento anulou, em parte, o efeito benéfico da deflação em alimentos e combustíveis. Para analistas, a indexação de preços e uma demanda firme por serviços continuarão a ser fonte de inflação no segundo semestre.
Cálculos da Quest Investimentos que agregam todos os subitens relacionados a serviços no IPCA, a taxa desse grupo, incluindo refeições fora de casa, apontam que os preços desse grupo avançaram 9,2% nos 12 meses encerrados em junho, acima da inflação ocorrida no período, que alcançou 6,71%. Os serviços agregados pela Link Investimentos, por sua vez, se mantiveram praticamente estáveis na comparação mês a mês, com aceleração de 0,6% em junho, diante de taxa de 0,59% em maio, mas atingiram seu maior nível em 12 meses desde agosto de 1997 ao subirem 8,7%.
O aumento observado em 12 meses é maior nos serviços pessoais, mais demandados com o aumento da renda, como manicure e pedicure (11,7%), estacionamento (11,5%), médico (10,3%) e cabeleireiro (9,6%). Em serviços menos procurados pelo consumidor, por outro lado, os preços subiram abaixo que a inflação, como consertos de eletroeletrônicos (3,8%), excursões (4,3%), fotocópia (2,8%) e aluguel de automóvel (3,3%).
"Era esperado que os serviços estivessem se acomodando, mas eles continuam acelerando", afirma Fabio Ramos, da Quest, que previa alta de 0,06% no IPCA. Em sua análise do resultado do indicador, o economista sustenta que "o problema mais sério [da atual leitura] são os serviços, que voltaram a acelerar. É a parte mais difícil de projetar; não há coleta que replique bem preços não padronizáveis como mecânico, costureira, estacionamento etc". Segundo Ramos, como nos próximos dois meses é aguardada uma deflação menor nos itens transportes e alimentação e os serviços continuarão pressionando, o IPCA deve avançar um pouco mais em julho, ficando em 0,25%.
Para Thiago Carlomagno, da Link, a aceleração dos serviços "mostra a pressão do mercado de trabalho, que está excessivamente aquecido". Ele esperava que a taxa geral de serviços recuasse para 0,45% neste mês, o que ajudaria a trazer o IPCA para a sua projeção de 0,08%. Carlomagno não tem uma previsão para a inflação de serviços no fim de 2011, mas vê como certo uma alta maior do que sua projeção para o IPCA, de 6,2%.
Elson Teles, economista-chefe da Máxima Asset Management, acredita que os preços de serviços se mantêm pressionados devido aos constantes reajustes do salário mínimo e ao aumento da demanda após a ascensão da classe C, sem igual movimento na oferta. "A evolução dos preços de serviços tem vindo bem acima dos ganhos de produtividade, como mostrou o Banco Central em seu relatório trimestral de inflação. Há um fator inercial muito grande, muito atrelado ao salário mínimo. Com a ascensão social, as pessoas demandam mais serviços", explica.
Ao contrário dos outros analistas, Fábio Romão, da LCA Consultores, aponta como principal razão para a alta de serviços a indexação de preços como aluguéis e salários. "Houve uma alta importante dos salários de serviços domésticos na Pesquisa Mensal de Emprego de maio e que vai aparecer no IPCA de julho. No caso do aluguel, o IGPM [Índice Geral de Preços - Mercado] subiu 11,3% no ano passado e contribuiu para essa taxa permanecer num nível mais alto. A demanda está num ritmo bom, o que pode chancelar esses repasses, mas o fator mais importante é a indexação."
Segundo Romão, os serviços mostram uma evolução preocupante e a LCA projeta uma continuidade desse movimento. "A revisão que fizemos da projeção do aluguel no fim do ano, somada ao número mais salgado que esperamos para a alta de empregado doméstico, aponta que os serviços fecharão o ano em 8,7", prevê. A LCA espera que o aluguel encerre 2011 com alta de 11,6%, e empregado doméstico, com 10,9%.
O IPCA recuou de 0,47% para 0,15% entre maio e junho. A mediana de previsões do mercado era de 0,07%. Dos nove itens que compõem o índice, três registraram deflação: transportes, que teve queda de 0,61%, alimentação e bebidas, que apresentou retração de 0,26%, e comunicação, com variação negativa de 0,05%.
Tiveram desaceleração os grupos habitação, de 0,97% para 0,58%, saúde e cuidados pessoais, de 0,73 para 0,67% e despesas pessoais, de 0,72% para 0,67%. Na contramão, os itens artigos de residência, vestuário e educação registraram acréscimos em suas taxas, com aumento de 0,09% para 0,42% no primeiro, de 1,19% para 1,25% no segundo e de 0,01% para 0,11% no terceiro.
No primeiro semestre, a inflação medida pelo IPCA atingiu 3,87%, o maior patamar para os seis primeiros meses do ano desde os 6,64% entre janeiro e junho de 2003. Os dados apresentados do IBGE mostram que o índice foi puxado pelos não alimentícios, que subiram 4,10% no primeiro semestre, enquanto os alimentos avançaram 3,11%. Dentro dos não alimentícios, as principais alavancas para a alta foram os administrados e os serviços. Juntos, eles contribuíram com 61% do IPCA de 3,87% entre janeiro e junho.
"A alta dos serviços é reflexo da alta da renda, enquanto nos monitorados há repasse da inflação maior em 2010", afirmou a gerente de índices de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. "Já os alimentos ajudaram a segurar a inflação no primeiro semestre", acrescentou.

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