quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Há que pegar o "trem-bala" da crise e fazer sensível redução dos juros no Brasil


Carta Capital.com e Blog Além da Economia, 13/08/2011
Entrevusta
Esta não é a crise definitiva do capitalismo, diz
professor da Unicamp
Paulo Daniel 13 de agosto de 2011 às 12:16h
Com o objetivo de compreender, analisar e debater a crise financeira e econômica
mundial, o Blog Além de Economia em conjunto com o site da revista CartaCapital,
está promovendo uma série de entrevistas neste mês de agosto.
Para esta segunda rodada de entrevistas, convidamos o Professor José Carlos de Souza
Braga, economista, Livre Docente do Instituto de Economia da Unicamp, com Pós-
Doutorado pela Universidade de Berkeley, California, USA e Diretor Executivo do
Centro de Estudos de Relações Econômicas Internacionais (CERI-Unicamp).
De acordo com Braga, o Brasil está em melhores condições para enfrentar a
instabilidade mundial, entretanto, não se pode permitir a deterioração do balanço de
pagamentos. Enfrentar a crise quer dizer; mais Estado, tanto do ponto de vista
quantitativo, como qualitativo.
Confira abaixo a entrevista:
Além de Economia/CartaCapital: Nos últimos tempos o capitalismo está em uma
busca insana de obter lucros e aumento da renda sem passar pelas agruras do
processo de produção. A que se deve esse processo? Que consequências pode se
observar no sistema econômico?
José Carlos de Souza Braga: É próprio do capitalismo desenvolver tanto a acumulação
de lucros pela produção como pela via financeira. Afinal o conceito de capital
financeiro é a fusão das formas parciais de riqueza; logo a fusão da forma lucro e da
forma juros. No capitalismo atual até as empresas industriais e comerciais de peso
ganham com o chamado lucro operacional e também com o lucro financeiro. Mas, além
disso, desde o rompimento dos acordos de Bretton Woods que regulava a economia
internacional, emergiu o capitalismo financeirizado, ou seja, aquele em que a
dominância financeira é o caráter principal. A dinâmica de expansão/crise, par
indissolúvel no movimento capitalista ganhou outras feições. A principal conseqüência
é que as crises de desvalorização da riqueza financeira necessariamente são contornadas
com o apoio dos governos via bancos centrais e tesouros nacionais. Os estados
nacionais viram reféns dos proprietários dessa riqueza: os bancos, as empresas de
grande e médio porte, os investidores institucionais e as famílias de elevada riqueza.
AE/CC: Estamos vivendo uma nova forma ou um novo modelo de capitalismo?
JCSB: Como disse antes é uma dominância financeira estrutural e isso nos permite
afirmar que há um novo padrão sistêmico que é baseado na financeirização do
capitalismo. Mas é preciso ter claro o que isso significa pois virou moda falar de
financeirização e então tem gente falando e escrevendo muitas impropriedades. Desde
1985, em minha tese de doutoramento, avanço a reflexão sobre esse padrão de
funcionamento. Ele aprofundou a instabilidade, as flutuações e as crises que, como
disse, dependem dos governos para serem “resolvidas” e reaparecerem mais adiante.
Mas, ao contrário do que dizem muitos analistas, não se trata de tendência à estagnação,
não é uma deformação do capitalismo, muito menos é a “crise definitiva” que vários
estão a esperar não sei desde quando, nem leva ao enfraquecimento das corporações
capitalistas. O capital e o capitalismo, nesse padrão, adéquam-se a seus conceitos,
digamos assim. O capitalismo atual é resultante da evolução intensa de suas
características intrínsecas e do desmantelamento da regulação estatal que impunha uma
dada disciplina financeira entre os anos 1950 e o início dos 1970. Combina
paradoxalmente a acumulação produtiva com a financeira e inclusive com a criação de
riqueza fictícia na órbita monetário-financeira. Fictícia no sentido de mover-se
independentemente do ritmo da órbita produtiva. Evidentemente, que em algum
momento, por razões que variam ao longo do tempo, essa folia especulativa conduz à
crise financeira que repercute sobre a macroeconomia da renda e do emprego. Padecem
os estados nacionais e os assalariados não-proprietários de riqueza, mas, a acumulação
de capital lato sensu segue adiante na tensão entre expansões e crises.
AE/CC: Com o ápice da crise em 2008 ocorreu uma enxurrada de dólares nos
diversos mercados e países, neste sentido, as moedas locais, como o nosso Real,
tendem a se valorizar. Seria muita loucura o governo da Presidenta Dilma pensar
em adotar um câmbio fixo como faz a China?
JCSB: O Brasil não pode mais seguir com o câmbio na situação atual. Se isso
continuar, agora sim, deverá ocorrer uma verdadeira desindustrialização. O governo tem
que administrar o câmbio através de diferentes formas de intervenção que vão desde as
operações do banco central nos mercados a vista e a termo até o controle de capitais, se
necessário for. Nosso país está sujeito a uma abertura financeira profunda e assim
vulnerável à livre movimentação de capitais para aquelas “praças” onde o ganho é fácil.
Em debate com o professor Jan Kregel num seminário no México surgiu da parte dele a
definição precisa para os juros no Brasil. São obscenos. Qual economia com o porte da
brasileira tem semelhante, agora sim cabe a palavra, deformação? Nenhuma. Não há
justificativa técnica no campo da economia para isso. Essa é uma articulação de poder
na sociedade brasileira que nos torna líderes da financeirização, entre os países ditos
emergentes, e promotores do rentismo ofensivo, mais ativo e incessantemente inovador
das finanças em relação ao “velho” rentismo pré-1960, digamos. A verdade é que os
donos do poder, incluindo o empresariado dito produtivo, ganha com esse rentismo. Do
contrário a situação já seria diferente, sobretudo com reservas internacionais em torno
de US$ 350 bilhões e um quadro macroeconômico mais positivo do que negativo.
AE/CC: A partir de janeiro de 99 o governo brasileiro articulou juntamente com o
FMI uma política macroeconômica ancorada em três pilares: taxa de juro real
elevada, superavits primários crescentes e câmbio flutuante. Esse tripé ainda
persiste, não estaria aí um limitador para trilhar um caminho de desenvolvimento
econômico social sustentado?
JCSB: É o que tenho denominado de “triângulo de ferro”. Sem desmontá-lo não vejo
chance de desenvolvimento no sentido forte, do tipo a que se referia Celso Furtado:
distribuição de renda e riqueza, padrão de financiamento adequado, padrão monetário
defensável, maior homogeneidade regional etc. Pode até ocorrer, como já ocorre desde
2004, crescimento do PIB, mas não a superação do subdesenvolvimento. Em defesa
desse triângulo há um “vale tudo” perpetrado pelos financistas de todas as origens, por
economistas cínicos ou inocentes úteis, por parte expressiva da grande imprensa. Um
exemplo concreto é o terrorismo retórico que tem exercido acerca das pressões
inflacionárias recentes, que são por eles maximizadas. Esse tipo de política coloca o
“nó” brasileiro na questão fiscal. Há que produzir superavit o suficiente para pagar juros
e reduzir a dívida pública. Como? Cortando os gastos sociais para corrigir os
“desequilíbrios” decorrentes do rentismo que corrói as finanças públicas. Então esse é o
projeto para o Brasil do que chamo Alta Finança Moderna, repetindo, na qual estão
incluídas as tesourarias das grandes empresas da indústria e do comércio. Pode até dar
crescimento do PIB, mas é um estilo de crescer que reproduz, paradoxalmente, o
subdesenvolvimento.
AE/CC: O Brasil está preparado para enfrentar mais uma crise do dito mundo
desenvolvido? Com essa crise mundial há possibilidade de se fazer alguma
projeção para economia brasileira para os próximos anos?
JCSB: É uma unanimidade o diagnóstico de que sim estamos em melhores condições
para enfrentar a instabilidade mundial. Mas, dependendo do tipo de defesa, poderemos
não avançar e até regredir quanto às perspectivas novas que assinalei acima. O estilo de
defesa não pode permitir a erosão das reservas internacionais, nem a recessão, nem o
desemprego, nem o corte de salários reais. Tem que haver dirigismo do crédito como já
houve em 2008/2009 com importante participação dos bancos públicos. Há que pegar o
“trem-bala” da crise – porque não se trata mais de bonde – e mudar intensamente a
política monetária o que é sinônimo de redução sensível das taxas de juros. Setores
público e privado devem “conversar” e organizar articuladamente o movimento dos
investimentos. E não se pode permitir a deterioração do balanço de pagamentos, com o
que mudar a tendência atual da taxa de câmbio e se necessário for fazer controle de
capitais. Enfim, em poucas palavras, mais Estado em termos qualitativos e quantitativos
(investimentos) e políticas públicas que “empurrem” o setor privado para decisões
produtivistas ao invés de para o rentismo ofensivo das finanças contemporâneas que
tem nos derivativos o emblema da acumulação fictícia de capital.

É uma recessão longa e severa



O Estado de S. Paulo - São Paulo/SP - NOTÍCIAS - 31/08/2011 - 00:00:00


domingo, 28 de agosto de 2011

Capitais brasileiros no exterior

CAPITAIS BRASILEIROS NO EXTERIOR (CBE) – Fonte BCB

BASE: Ano 2010

US$ Bilhões
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
68,6
72,3
82,7
93,2
111,7
152,2
197,2
212,0
223,2
274,6


I – Introdução

A pesquisa Capitais Brasileiros no Exterior (CBE) é realizada anualmente, desde o ano-base 2001, pelo Banco Central do Brasil. Seu objetivo é mensurar os estoques de ativos no exterior detidos por residentes na economia brasileira na posição de 31 de dezembro de cada ano. A declaração é obrigatória para pessoas físicas e jurídicas que detinham ativos no exterior, ao fim de cada ano-base, em montante igual ou superior a US$100 mil.

Os resultados do CBE permitem completar a contabilidade do total de ativos externos do Brasil, possibilitando, em conjunto com os passivos externos, a aferição da Posição Internacional de Investimentos (PII) que, integrada com o balanço de pagamentos, constituem as estatísticas fundamentais para a análise do setor externo da economia brasileira. Tais informações fazem parte do conjunto de dados obrigatórios para os países participantes do Padrão Especial de Disseminação de Dados (PEDD), iniciativa do Fundo Monetário Internacional (FMI) para ampliar a divulgação e transparência das estatísticas econômicas, que conta, em 2011, com 68 países participantes. Adicionalmente, os dados obtidos pelo CBE permitem ao país participar da Pesquisa Coordenada sobre Investimentos em Portfólio (Coordinated Portfolio Investment Survey, CPIS), da Pesquisa Coordenada sobre Investimentos Diretos (Coordinated Direct Investment Survey, CDIS), ambas anuais e realizadas pelo FMI, visando apurar os estoques globais de investimentos diretos e em carteira, bem como sua distribuição por país investido.

II – Declarantes

O número de declarantes ao CBE em 2010 aumentou de 18,6% em relação a 2009 e ultrapassou vinte mil, maior participação já registrada. Os números de declarantes pessoa física, 17.879, e pessoa jurídica, 2.191, aumentaram 19,3% e 13,3%, respectivamente. Em comparação ao primeiro CBE, em 2001, o número de declarantes aumentou 72,1%.

Em relação ao volume de ativos declarados, as pessoas jurídicas responderam por US$228,9 bilhões, 83,4% do total, enquanto as declarações de pessoas físicas totalizaram US$45,6 bilhões.

III – Resultados econômicos

O CBE apurou ativos totais de US$274,6 bilhões para o ano-base 2010, expansão de 23% em relação a 2009. Destacaram-se os investimentos brasileiros diretos no exterior (IBD), que atingiram US$189,2 bilhões, crescimento de 15% na mesma base de comparação. Os investimentos em carteira somaram US$37,6 bilhões, e os derivativos, US$797 milhões. Os outros investimentos totalizaram US$47 bilhões.

O estoque de IBD manteve a trajetória de expansão observada em todas as edições do CBE. A comparação com a primeira apuração do CBE, em 2001, mostra que o IBD, que naquele ano totalizara US$49,7 bilhões, mais que triplicou, evidenciando a sólida e acelerada internacionalização das empresas de capital brasileiro.

Em 2010, a participação direta de residentes no capital de empresas no exterior, parcela do IBD que reflete a efetiva participação do investidor na gestão do empreendimento, somou US$169,1 bilhões, crescimento de 27,7% na comparação com 2009. As participações no capital corresponderam a 89,3% do IBD no ano, proporção maior que a registrada no ano anterior, 80,5%. A maior parte dos ativos dessa natureza é de propriedade de investidores de grande porte. Do total do estoque de IBD – participação no capital, US$116 bilhões, equivalentes a 68,6% do total apurado na data-base, referem-se a ativos de residentes que possuem acima de US$1 bilhão investido no exterior. Da mesma maneira, as empresas investidas no exterior são, em sua maioria, de grande porte, com participações individuais de investidores brasileiros em montante superior a US$1 bilhão, totalizando US$97,9 bilhões, 57,9% do total.

O estoque de IBD – participação no capital concentra-se em atividades de extração de minerais metálicos, 27,4% do total, e em serviços financeiros e atividades auxiliares, 38,2%. Relativamente à distribuição geográfica desses investimentos no exterior, destaque-se a Áustria, país no qual foram investidos 21,9% do estoque total. Os paraísos fiscais permanecem como importante destino do IBD, ressaltando as Ilhas Cayman, 17,4%; Ilhas Virgens Britânicas, 8,7%; e Bahamas, 7,3%. Em seguida, os ativos nos Estados Unidos, 7,8%; Países Baixos, 6,4%; Dinamarca, 5,5%; e Espanha, 5,3%.

Os empréstimos intercompanhia, que compreendem os créditos concedidos a subsidiárias e filiais no exterior na forma de empréstimos e financiamentos de bens e serviços e compra de títulos emitidos por essas coligadas e que, juntamente com a participação no capital, compõem o total do IBD, registraram retração de 37,2% e atingiram US$20,2 bilhões ao final de 2010, dos quais US$15,6 bilhões de longo prazo e US$4,6 bilhões de curto prazo.

Os investimentos brasileiros em carteira no exterior totalizaram US$37,6 bilhões, incremento de 127,8% em relação a 2009. Os investimentos em ações registraram elevação de 70,5%, totalizando US$14,7 bilhões, dos quais US$6,5 bilhões aplicados em Brazilian Depositary Receipts (BDR). Em relação à distribuição geográfica desses investimentos, os Estados Unidos responderam por 22,9% do investimento em ações. Bermudas e Espanha foram os outros principais destinos, com participações respectivas de 21,1% e de 20,9%.

Os investimentos brasileiros em títulos de renda fixa no exterior registraram aumento de 190,7% na comparação com 2009, totalizando US$22,9 bilhões, compostos por US$8,4 bilhões em papéis de longo prazo e US$14,5 bilhões, de curto prazo. Em relação aos títulos de renda fixa de longo prazo, o principal destino do investimento brasileiro foram os Estados Unidos, 32%, seguido de Dinamarca, Gibraltar e Espanha, respectivamente, 30,2%, 15,6% e 7,5%. Os investimentos brasileiros em papéis de curto prazo concentram-se nos Estados Unidos, 86,1%.

Os outros investimentos totalizaram US$47 bilhões em 2010, aumento de 12,4% comparativamente ao ano anterior. Os recursos mantidos no exterior na forma de moeda estrangeira e depósitos totalizaram US$26,9 bilhões. Os depósitos situaram-se principalmente nos Estados Unidos, 42,9%, seguido de Reino Unido e Ilhas Cayman, respectivamente, 16,1% e 13,9%. Os empréstimos a não residentes, excetuados os créditos entre empresas ligadas, somaram US$13,4 bilhões, sendo sua quase totalidade, US$13,3 bilhões, composta de operações de longo prazo. Os outros ativos no exterior somavam US$6,6 bilhões.

terça-feira, 23 de agosto de 2011

Um depoimento indignado e impressionante

Vejam este vídeo impressionante com a fala indignada de Mr. Dowe que desbancou a prepotência da jornalista inglesa. Material enviado pelo jornalista Celso Vicenzi.

http://www.youtube.com/watch?v=6Fgdpww5DpI

Encruzilhada brasileira


Folha de S.Paulo, 21/08/2011
Artigo
TENDÊNCIAS/DEBATES

MARCIO POCHMANN
O cenário atual de moeda valorizada faz avançar o Brasil dependente da geração de
produtos internos com forte conteúdo importado
O processo democrático das três últimas eleições nacionais conformou uma nova
maioria política comprometida com a sustentação do atual ciclo de expansão
econômica. A antiga maioria política, constituída pela Revolução de 30, e que por cinco
décadas conduziu o projeto de industrialização nacional, desfez-se com a crise da dívida
externa (1981-1983).
A imposição imediata da queda na taxa de lucro do setor produtivo se manteve
sobretudo pelas medidas macroeconômicas de esvaziamento do mercado interno em
prol de alta exportação e baixa inflação.
Nesse contexto, as alternativas implementadas por acordos políticos de ocasião
buscaram compensar o sentido redutivo da taxa de retorno dos investimentos produtivos
por meio da crescente valorização dos improdutivos ganhos financeiros. Assim, o Brasil
mudou da macroeconomia da industrialização para a da financeirização da riqueza, com
elevados ajustes fiscais.
Nos anos 1990, por exemplo, a sustentação do custo ampliado com o pagamento do
endividamento público, derivado de altas taxas de juros reais, se mostrou capaz de repor
aos grupos econômicos tanto o retorno econômico perdido pelo fraco desempenho da
produção como a garantia do próprio sucesso eleitoral. Mesmo assim, os sinais de
regressão econômica e social tornaram-se maiores.
Nas eleições de 2002 a 2010, contudo, fortaleceu-se inédita força política gerada pela
aglutinação dos setores perdedores do período anterior com parcela crescente de
segmentos em trânsito do ativo processo de financeirização da riqueza para o novo ciclo
de expansão dos investimentos produtivos.
Com isso, reacendeu-se o compromisso da maioria política emergente com a
manutenção da fase expansiva da economia, embora dúvidas permaneçam em relação
ao perfil do desenvolvimento brasileiro. A encruzilhada nacional dos próximos anos
reside aí: o resultado da disputa no interior da maioria política pelo Brasil da Fama
(fazenda, mineração e maquiladoras) ou pelo Brasil do Vaco (valor agregado e
conhecimento).
O cenário atual de moeda nacional valorizada faz avançar o Brasil dependente da
exportação de matérias-primas e da geração de produtos internos com forte conteúdo
importado. Dessa forma, a taxa de investimento abaixo de 20% do produto é suficiente,
assim como a contenção da inovação tecnológica, suprida por compras externas.
O Brasil da Fama cresce, gerando mais postos de trabalho na base da pirâmide social e
ocupando maior espaço global. Sua autonomia e sua dinâmica parecem menores diante
dos imutáveis graus de heterogeneidade econômica e social que marcam o
subdesenvolvimento.
O Brasil do Vaco, por outro lado, pressupõe reafirmar a macroeconomia do
desenvolvimento sustentada em maior valor agregado e conhecimento. A superimpulsão
dos investimentos é estratégica, pois gera agregação de valor em cadeias produtivas e
ampliação da inovação tecnológica e educacional. Assim, o novo desenvolvimento
brasileiro rompe com o atraso secular da condição subordinada do Brasil no mundo.
MARCIO POCHMANN, professor licenciado do Instituto de Economia e do Centro de Estudos
Sindicais e de Economia do Trabalho da Universidade Estadual de Campinas, é presidente do Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Sob o teto da dívida, a luta pelo poder


Valor Econômico, 22/08/2011.

Por Rodrigo Sias
A discussão política sobre o teto da dívida federal nos EUA tomou conta do noticiário
econômico e político da maior parte do mundo, principalmente depois do rebaixamento
da classificação de risco do país, de AAA para AA+, e do consequente "terremoto
financeiro" nas principais bolsas de valores. Dada a importância da economia do país e
os impactos de um "calote" no simbolismo e na credibilidade do dólar como a "moeda
universal", não poderia ser diferente.
Mas se o teto da dívida federal já foi elevado tantas e seguidas vezes, a demanda por
títulos do Tesouro dos EUA continua elevadíssima e o impasse seria um "tiro no pé",
pois jogariam os EUA e o mundo numa depressão, qual seria o porquê de tamanho
rebuliço em torno da questão no Congresso? Por que existiu tanta dificuldade em se
chegar a um acordo sobre a dívida?
Três razões vêm sendo apontadas para o acirramento do debate e para a demora da
costura final do acordo: a disputa presidencial em 2012 e a briga tradicional entre
democratas e republicanos, a discussão do tamanho do Estado na economia e, por fim, a
questão "classista" em torno dos impostos.
Embora o pleito presidencial de 2012 seja crucial e a antecipação do debate eleitoral
favoreça a oposição republicana, somente interesses eleitorais de curto e médio prazo
não explicariam a contento o impasse criado e a reação aparentemente desproporcional
dos membros republicanos ultraconservadores do "Tea Party", que, por fim, aceitaram
um acordo.
Hoje, os EUA são um país rachado por uma "grande batalha". E é essa "grande
batalha" que explica como um problema econômico secundário ganhou uma
dimensão tão grande e ares tão catastróficos. É a política, mais uma vez, ditando os
rumos da economia mundial
O tamanho do Estado na economia - aqui medido em termos do tamanho da dívida
federal em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) e do tamanho do déficit público -
embora seja uma questão importante, também é secundário, uma questão contábil. O
próprio sistema de "teto para a dívida" (inspirado num modelo de pesos e contra pesos
recíprocos) foi criado para que sempre existisse a discussão que, em diversos
momentos, foi, por assim dizer, "morna".
Ronald Reagan, ícone dos republicanos, foi o presidente que transformou os Estados
Unidos de nação credora a devedora em relação ao resto do mundo. Bill Clinton,
símbolo dos democratas, deixou a Casa Branca com o orçamento federal gerando
superávits fiscais nominais. Portanto, também não é só uma questão de que
republicanos queiram orçamentos equilibrados e democratas queiram mais Estado.
Por fim, a mera observação dos grupos que apoiam e financiam os dois partidos em
disputa descarta a hipótese simplista de uma mera questão "classista" dos impostos.
Muitos democratas são apoiados pelas bilionárias fundações Ford e Rockefeller e por
clãs e famílias tradicionais como os Kennedy; e muitos republicanos, especialmente a
ala pertencente ao "Tea Party", são apoiados pela classe média dos "self made men",
pequenos e médios proprietários das áreas rurais, grupos religiosos protestantes, dentre
outros - basicamente, a "maioria silenciosa", na expressão do ex-presidente republicano
Richard Nixon.
Ou seja, há republicanos ricos e pobres que não querem aumentar a carga tributária e
democratas ricos e pobres que desejam uma rede pública de saúde paga com impostos
dos contribuintes mais abastados.
Na verdade, todas essas explicações anteriores são apenas caricaturas, minidisputas, que
fazem parte de um pano de fundo mais complexo e amplo em que se encontra o cerne
da questão: a disputa visceral de poder entre dois grandes grupos ideológicos dentro dos
Estados Unidos, os conservadores e os progressistas.
O primeiro grupo carrega a bandeira do patriotismo estadunidense, conservador por
excelência. Simbolizado pelo "Tea Party", luta pela manutenção da identidade cultural
do país e de seus valores tradicionais, desconfia da globalização e considera os EUA
como a liderança moral e o modelo político e econômico a ser seguido pelo resto do
mundo.
Dentre as personalidades políticas emblemáticas desse grupo encontram-se os expresidentes
Richard Nixon, Ronald Reagan, além das figuras recentes como a
governadora do Alasca, Sarah Palin, e Mike Huckabee, ex-governador do Arkansas.
Já o segundo, que levanta a bandeira do globalismo, é composto por membros
essencialmente "progressistas" no sentido amplo do termo: tem uma visão crítica,
quando não claramente hostil, dos valores tradicionais, promovem o multiculturalismo e
acreditam numa liderança compartilhada e limitada por uma ordem internacional
centrada no conceito da ONU. Estão abundantemente representados na ala progressista
do Partido Democrata: vão desde ativistas de direitos civis, a ONGs e as já citadas
fundações bilionárias, além de diversas multinacionais e banqueiros interessados nos
ganhos financeiros da globalização.
Entre as figuras emblemáticas desse grupo, podemos citar os ex-presidentes Jimmy
Carter e Bill Clinton (e seu vice, Al Gore), além do magnata David Rockefeller, o
financista George Soros e o economista Paul Krugman, para citar os "não políticos".
Embora os dois grupos sempre contassem com representantes em ambos os partidos,
nos últimos tempos, tem havido uma polarização mais clara, em especial, devido ao
advento do Tea Party. Essa polarização, de certa forma, ajuda a enxergar melhor o
posicionamento ideológico, antes camuflado no debate partidário.
Como fica claro para observadores mais atentos, é esse o por que de Barack Obama, um
progressista, sofrer tanta oposição dos membros do "Tea Party".
Hoje, os Estados Unidos da América são um país rachado por uma "grande batalha". E é
essa "grande batalha" que explica como um problema econômico secundário ganhou
uma dimensão tão grande e ares tão catastróficos. É a política, mais uma vez, ditando os
rumos da economia mundial!
Rodrigo Sias é economista. E-mail: rsias@bndes.gov.br

Lições de inovação que vêm da China


Esta é uma singela homenagem a Antônio Barros de Castro, falecido ontem no Rio de Janeiro. Grande historiador e um dos maiores economistas do País, Antônio Barros de Castro foi professor da Unicamp e da UFRJ e presidiu o BNDES. Dedicava-se ultimamente com grande afinco e paixão ao estudo da China, preocupado como era com o futuro da economia mundial e com as possibilidades brasileiras de ampliar seu desenvolvimento. Antônio Castro em diversas ocasiões esteve muito próximo do IEDI. Escreveu textos, colaborou com as propostas de política industrial e tecnológica do Instituto e foi membro do Fórum IEDI em companhia de outros grandes economistas que discutiam o presente e o futuro da indústria no Brasil e no mundo.
Esta Análise traz um resumo de um estudo que o IEDI está ultimando e que em breve será publicado sobre as políticas de inovação na China, um dos temas prediletos de Antonio Barros de Castro. O Instituto pretende oferecer ao governo e à sociedade brasileira um exemplo de grande determinação e esforço de ampliação de avanço tecnológico e de inovação empresarial.
Desde 1978 quando iniciou sua reforma econômica, a China vem reduzindo rapidamente sua distância em relação aos países de economia avançada. O sucesso da estratégia chinesa de catching-up se expressa em diversos indicadores. Em 2010, por exemplo, a China, que em termos do produto interno bruto (PIB) em paridade do poder de compra já ocupava o segundo lugar desde 2001 atrás apenas dos Estados Unidos, tornou-se também a segunda maior economia mundial em termos do PIB em dólar corrente.
Em ciência, tecnologia e inovação (C, T & I), a ascensão da China tem sido especialmente impressionante. Desde 1999, os investimentos chineses em pesquisa e desenvolvimento (P&D) crescem em média 20% por ano, tendo alcançado 1,44% do PIB em 2007, convergindo rapidamente para a média de 2,1% do grupo dos principais países avançados. A meta é elevar as despesas com P&D para 2,5% do PIB em 2020. A emergência da China como potência em tecnologia e inovação é o objeto do presente estudo.
A China registra um notável desempenho na solicitação de patentes no exterior, indicador da aplicação do conhecimento científico. O número de patentes de invenções obtidas junto ao escritório americano de patentes e marcas (USPTO, na sigla em inglês) atingiu 2.657 em 2010 (90 em 1999). Já o número de solicitações chinesas de patentes internacionais no âmbito do Tratado de Cooperação de Patentes (PCT, na sigla em inglês), que garante proteção às invenções domésticas em 142 países, mais do que triplicou entre 2006 e 2010, levando a China da oitava para a quarta posição do ranking, ultrapassando a Coreia do Sul, a França, o Reino Unido e a Holanda e reduzindo o diferencial em relação à Alemanha, terceiro lugar do ranking, atrás dos Estados Unidos e do Japão.
Embora os Estados Unidos e o Japão permaneçam como os países-líderes em ciência, tecnologia e inovação (C, T & I), a China se tornou em 2008 o segundo maior produtor mundial de conhecimento científico, expresso no número de artigos publicados, após revisão crítica, em revistas científicas, atrás apenas dos Estados Unidos. Mantido na atual trajetória, o avanço chinês na produção científica mundial deverá levar o país à primeira posição em meados da presente década. Em algumas áreas do conhecimento, como química e nanotecnologia, a China já alcançou reconhecida excelência.
O sucesso da convergência tecnológica chinesa frente aos países avançados repousa na visão estratégica de longo prazo do governo, que vem, desde a década de 1980, elaborando sucessivos planos de desenvolvimento cientifico e tecnológico. Nesses planos, a prioridade conferida à ciência e inovação tem sido coerentemente articulada com outros aspectos da política industrial, tais como formação de recursos humanos, estratégias setoriais, propriedade intelectual, uso seletivo do investimento estrangeiro direto.
Além da rápida e sistemática absorção de conhecimento estrangeiro, a China investiu pesadamente em capital humano, promovendo todos os níveis educacionais do país, bem como educação e treinamento no exterior, e na construção da infraestrutura de ciência e tecnologia. Desde meados de 1990, foram criados mais de 100 laboratórios nacionais em áreas selecionadas de pesquisa básica e inúmeros parques científicos e tecnológicos.
Na China, onde muitos membros do Conselho de Estado – a mais alta instância do governo – são cientistas e engenheiros experientes, o progresso científico e tecnológico é entendido como o principal meio de obter ganhos substanciais de produtividade e de promover o desenvolvimento econômico e social, de forma coordenada e sustentável. Essa visão está claramente explicitada no Programa Nacional de Médio e Longo Prazo para o Desenvolvimento Ciência e Tecnologia (MLP, na sigla em inglês), anunciado em 2006, que pretende transformar a China em uma economia orientada à inovação até o ano de 2020, de modo a garantir a manutenção do crescimento em um patamar elevado e assegurar a coesão social interna. Os princípios norteadores dos esforços chineses nesse período de
quinze anos são:

  • Inovação nativa: fomento à inovação original própria, à inovação integrada (novos usos para tecnologias existentes) e à re-inovação (absorção e aperfeiçoamento de tecnologias importadas), em ordem de melhorar a capacidade de inovação nacional;
     
  • Saltos tecnológicos (“leapfrogging”) em áreas prioritárias: selecionar e concentrar esforços em áreas-chave, de força e vantagem relativa, vinculadas à economia nacional e à subsistência da população, bem como à segurança nacional;
     
  • Promoção do desenvolvimento: viabilizar tecnologias-chave que são urgentemente necessárias para o desenvolvimento econômico e social sustentável e coordenado;
     
  • Liderar o futuro: utilizar pesquisas básicas e tecnologias de ponta para criar novas demandas e novas indústrias, as quais irão impulsionar o futuro crescimento econômico e desenvolvimento social.
Os principais objetivos do MLP são: reduzir a dependência da China de tecnologia estrangeira para menos de 30% até 2020; ampliar o gasto doméstico bruto com P&D de 2,0% do PIB em 2010 para 2,5% em 2020; elevar a contribuição das atividades de C, T & I a 60% do crescimento do PIB; posicionar a China entre os cinco principais países do mundo em número de patentes domésticos e em citação internacional de artigos científicos. São inúmeras as evidências de que a China vem realizando progressos significativos em direção as metas definidas no MLP.
A emergência da China como potência científica e tecnológica representa um sério desafio para os países avançados, que já enfrentam a crescente concorrência chinesa em diferentes áreas, e deve servir de inspiração para outros países em desenvolvimento. Porém, é preciso ressaltar que o avanço chinês ainda está longe de implicar no declínio dos Estados Unidos, Japão, Alemanha, França e Reino Unido e outros. Embora estejam perdendo participação em termo de investimento e desempenho na atividade global de P&D, a produção científica e tecnológica desses países segue crescendo em termos absolutos a partir de uma base já elevada.
 


Conjuntura da semana em frases


A análise da conjuntura da semana é uma (re)leitura das ‘Notícias do Dia’ publicadas, diariamente, no sítio do IHU.   A análise é elaborada, em fina sintonia com o Instituto Humanitas Unisinos - IHU, pelos colegas do Centro de Pesquisa e Apoio aos Trabalhadores - CEPAT - com sede em Curitiba, PR, parceiro estratégico do Instituto Humanitas Unisinos - IHU.


Tudo vezes três!
"Quando é dinheiro público, não pesa no seu bolso. Aí você joga pro alto mesmo, até porque se você não jogar você vai perder logo de cara, porque todo mundo vai jogar. Criou essa ideia aqui: "Ah, é pro governo, joga o valor pra três, tudo vezes três'" - Humberto Silva Gomes, empresário, em conversa telefônica interceptada na Operação Voucher da Polícia Federal – Folha de S. Paulo, 13-08-2011.
Objetivo central?
"Onde houver problemas de corrupção, nós somos obrigados a tomar providências. Eu não faço disso um objetivo central do meu governo" – Dilma Rousseff, presidente da República – O Estado de S. Paulo, 20-08-2011.
Purgatório
"O PR saiu do céu, mas não vai para o inferno. Pagará os seus pecados no purgatório" - Blairo Maggi, senador – PR-MT – O Estado de S. Paulo, 15-08-2011.
Limpeza étnica?
"A faxina ética que Dilma prometeu parece ser mais uma 'limpeza étnica'. Conforme a cor partidária atingida, a atitude da presidente é mais ou menos incisiva” – Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ, sobre os diferentes desdobramentos de escândalos nos Transportes (PR), Agricultura (PMDB) e Turismo (PMDB-PT) – Folha de S. Paulo, 13-08-2011.
Choque
"Apesar das suspeitas que envolvem a Agência Nacional de Petróleo, a faxina da corrupção não chega ao Ministério de Minas e Energia, porque ali dá choque" - Domingos Dutra, deputado federal - (PT-MA -, referindo-se à pasta comandada pelo peemedebista Edison Lobão, aliado histórico da família Sarney – Folha de S. Paulo, 19-08-2011.
Panos quentes
"Ao rasgar tanta seda para os antecessores, os novos ministros indicam que não rasgarão os véus das malfeitorias. Em vez de faxina, panos quentes!" - Chico Alencar, deputado federal - PSOL-RJ - sobre Mendes Ribeiro, que minimizou as denúncias responsáveis pela demissão de Wagner Rossi da Agricultura – Folha de S. Paulo, 21-08-2011.
Paz?
“Com carinho e verbas, Dilma acalma a base aliada” – Ricardo Kotscho, jornalista, em seu blog, 17-08-2011.
Ocioso
"Com tantos afagos tucanos a ela, nós, do PT, ficamos praticamente sem função" - um cardeal petista que assistiu à solenidade de ontem, diante dos elogios de Alckmin a Dilma – Folha de S. Paulo, 19-08-2011.
#prontofalei
"Numericamente, estamos mais fracos que a oposição ao Chávez" - Jutahy Júnior, deputado federal - PSDB-BA.  A média de votos contra o governo gira em torno de 80 dos 513 deputados – Folha de S. Paulo, 17-08-2011.
Duelo de Titãs
”Na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Lula e José Dirceu estão em campos opostos. Um quer mostrar que elege outro poste, o ministro Fernando Haddad. Já o comissário trabalha por Marta Suplicy. A senadora tem também o apoio da consultoria de Antonio Palocci” – Elio Gaspari, jornalista – Folha de S. Paulo, 21-08-2011.
Teoria crítica
"Eu, hoje em dia, me definiria como uma pessoa dessa linhagem marxista, mas a da teoria crítica. Não consigo deixar de buscar nas brechas do capitalismo oportunidades de melhorar a vida das pessoas, mas preservando todas as liberdades individuais" – Fernando Haddad, ministro da Educação, respondendo à pergunta se continua socialista – Folha de S. Paulo, 21-08-2011.
Haja UPPs!
“No seu código prático de conduta, Cabral (governador do RJ – PMDB) pode chamar o menino favelado que lhe fazia uma reclamação de "otário" e dizer que os bombeiros rebelados são "vândalos irresponsáveis". Haja Unidade de Propaganda Pacificadora para dar conta de tanta realidade” – Fernando de Barros e Silva, jornalista – Folha de S. Paulo, 14-08-2011.
Vai tarde!
"Por tudo de mal que fez (Nelson Jobim)  à nação, enganando-a sobre o real estado das Forças Armadas, já vai tarde. Vamos ficar livres das suas baboseiras, das suas palavras ao vento, das suas falácias” - Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, general reformado e ex-presidente do Clube Militar – Folha de S. Paulo, 16-08-2011.
Dia da caça
"Como um dia é da caça e outro do caçador, o senhor foi expelido do cargo de forma vergonhosa, ácida, quase sem consideração a sua pessoa, repetindo os atos que tantas vezes praticou com exemplares militares que tiveram (...) a desventura de servir no seu ministério" - Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, general reformado e ex-presidente do Clube Militar – Folha de S. Paulo, 16-08-2011.
Pior
"Como no Brasil tudo o que está ruim pode ficar ainda pior, vamos ter que aturar o embaixador Amorim" - Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, general reformado e ex-presidente do Clube Militar – Folha de S. Paulo, 16-08-2011.
Grilo falante
“O Gilberto (Carvalho) é uma figura respeitada no PT e no governo porque é ponderado, não é de extremos. Ele tem ouvidos para todas as queixas e nunca vem com assertivas. É uma pessoa aberta ao que os outros falam” - Cândido Vaccarezza - PT-SP – líder do governo na Câmara – O Globo, 13-08-2011.
Mal-vindos
“Gritaria anteontem na Fiesp. A cada exclamação dos ativistas infiltrados na plateia, durante debate do Código Florestal, um era fortemente "convidado" a se retirar pelos seguranças.  Até que Katia Abreu, da CNA, não aguentou: "Assalariado do Greenpeace, vai trabalhar". Aldo Rebelo bateu ainda mais forte na ONG. Acusou-a de receber dinheiro do agronegócio europeu. Gilmar Mendes acompanhou” – Sônia Racy, jornalista – O Estado de S. Paulo, 17-08-2011.
Pandemia
“Justificar que ela estava sem escolta por decisão própria é o mesmo que dizer que alguém morreu em meio a uma pandemia porque não quis ser vacinado” - Wálter Maierovitch, desembargador aposentado e presidente de um instituto que leva o nome do juiz morto pela máfia italiana Giovanni Falcone – Zero Hora, 13-08-2011.
Medo
“Quem tem medo morre todos os dias. Quem não tem morre uma vez só” - Paolo Borsellino, magistrado italiano assassinado e, 1993, citado por Wálter Maierovitch – Zero Hora, 13-08-2011.
Megarricos
"Enquanto os pobres e a classe média combatem por nós no Afeganistão e muitos americanos lutam para chegar ao fim do mês, nós, os megarricos, nos beneficiamos com isenções extraordinárias” – Warren Buffett, dono do fundo de investimentos Berkshire Hathaway, megabilionário – Folha de S. Paulo, 18-08-2011.
Sacrifícios
"Nossos líderes pediram um sacrifício compartilhado. Perguntei a meus amigos megarricos quais sacrifícios esperavam. Eles também não foram afetados" – Warren Buffett, dono do fundo de investimentos Berkshire Hathaway, megabilionário – Folha de S. Paulo, 18-08-2011.
5ª economia de mercado
"Nós temos que ajudar a presidente Dilma a transformar o Brasil na quinta economia do mundo" – Jorge Gerdau,  empresário, coordenador da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade do governo – O Estado de S. Paulo, 19-08-2011.
Gays
"Ele [Kassab] tirou a Marcha por Jesus e a CUT da Paulista com o argumento de que, na região, há muitos hospitais. Mas manteve lá a Parada Gay! É mais fácil tirar Jesus da Paulista do que os gays..." – Carlos Apolinário,  vereador – DEM-SP – Folha de S. Paulo, 15-08-2011.
Diferenciado
“O Neymar é um cara diferenciado. Tem aulas semanais de administração de portfólios. Em cinco anos, eu diria que ele pode ser um banqueiro. O Neymar, o pai e a irmã. A gente o assiste com alguns dos mais notáveis especialistas do mercado financeiro. E ele tem uma mesada restrita. Aplica o resto, com a nossa assistência para que ele não seja vítima de oportunistas, de caras que querem vender um bonde, uma passagem para a Lua” - Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, presidente do Santos – Folha de S. Paulo, 21-08-2011.
Guerra santa
“Ameaçado de perder espaço na TV pela minguada audiência de seu Show da Fé, o pastor RR Soares adverte: Ibope é "coisa do capeta". Cá pra nós, a ideia de exorcizar a opinião pública não é de todo má” - Tutty Vasques, humorista – O Estado de S. Paulo, 20-08-2011.
Pé na bunda
“Diz que a Dilma tem uma plantação. De pé de limão? De pé de mexerica? Não, de pé na bunda mesmo. Dilma tem plantação de pé na bunda. Safra recorde!” – José Simão,  humorista – Folha de S. Paulo, 17-08-2011.

domingo, 21 de agosto de 2011

Um grito mudo

Frei Beto




A foto do jornal me causou  horror. A criança somali lembrava um ET desnutrido. O corpo, ossinhos  estufados sob a pele escura. A cabeça, enorme, desproporcional ao tronco  minguado, se assemelhava ao globo terrestre. A boca – ah, a boca! –  escancarada de fome emitia um grito mudo, amargura de quem não mereceu a vida  como dom. Mereceu-a como dor.

 Ao lado da foto, manchetes sobre a  crise financeira do cassino global. Em dez dias, as bolsas de valores perderam  US$ 4 trilhões. Estarrecedor! E nem um centavo para aplacar a fome da criança  somali? Nem uma mísera gota de alívio para tamanho  sofrimento?

 Tive vergonha. Vergonha da Declaração Universal dos  Direitos Humanos, que reza que todos nascemos iguais, sem propor que vivamos  com menos desigualdades. Vergonha de não haver uma Declaração Universal dos  Deveres Humanos. Vergonha das solenes palavras de nossas Constituições e  discursos políticos e humanitários. Vergonha de tantas mentiras que permeiam  nossas democracias governadas pela ditadura do dinheiro.

 US$ 4  trilhões derretidos na roleta da especulação! O PIB atual do Brasil ultrapassa  US$ 2,1 trilhões. Dois Brasil sugados pelos desacertos dos devotos do lucro e  indiferentes à criança somali.

 Neste mundo injusto, uma elite  privilegiada dispõe de tanto dinheiro que se dá ao luxo de aplicar o supérfluo  na gangorra financeira à espera de que o movimento seja sempre ascendente.  Sonha em ver sua fortuna multiplicada numa proporção que nem Jesus foi capaz  de fazê-lo com os pães e os peixes. Basta dizer que o PIB mundial é, hoje, de  US$ 62 trilhões. E no cassino global se negociam papéis que somam US$ 600  trilhões!

 Ora, a realidade fala mais alto que os sonhos e a  necessidade que o supérfluo. Toda a fortuna investida na especulação explica a  dor da criança somali. Arrancaram-lhe o pão da boca na esperança de que a  alquimia da ciranda financeira o transformasse em ouro.

 À  criança faltou o mais básicos de todos os direitos: o pão nosso de cada dia.  Aos donos do dinheiro, que viram suas ações despencarem na bolsa, nenhum  prejuízo. Apenas certo desapontamento. Nenhum deles se vê obrigado a abrir mão  de seus luxos.

 Sabemos todos que a conta da recessão, de novo,  será paga pelos pobres. São eles os condenados a sofrerem com a falta de  postos de trabalho, de crédito, de serviços públicos de qualidade. Eles  padecerão o desemprego, os cortes nos investimentos do governo, as medidas  cirúrgicas propostas pelo FMI, o recuo das ajudas humanitárias.

 A miséria nutre a inércia dos miseráveis. Antevejo, porém, o  inconformismo da classe média que, nos EUA e na União Europeia, acalentava o  sonho de enriquecer. A periferia de Londres entra em ebulição, as praças da  Espanha e da Itália são ocupadas por protestos. Tantas poupanças a se  volatilizarem como fumaça nas chaminés do cassino global!

 Temo  que a onda de protestos dê sinal verde ao neofascismo. Em nome da recuperação  do sistema financeiro (dirão: “retomada do crescimento”), nossas democracias  apelarão às forças políticas que prometem mais ouro aos ricos e sonhos, meros  sonhos, aos pobres.

 Nos EUA, a derrota de Obama na eleição de  2012 revigorará o preconceito aos negros e o fundamentalismo do “tea party”  incrementará o belicismo, a guerra como fator de recuperação econômica. A  direita racista e xenófoba assumirá os governos da União Europeia, disposta a  conter a insatisfação e os protestos.

 Enquanto isso, a criança  somali terá sua dor sanada pela morte precoce. E a Somália se multiplicará  pelas periferias das grandes metrópoles e dos países periféricos afetados em  suas frágeis economias.

 Ora, deixemos o pessimismo para dias  melhores! É hora de reacender e organizar a esperança, construir outros mundos  possíveis, substituir a globocolonização pela globalização da solidariedade.  Sobretudo, transformar a indignação em ação efetiva por um mundo  ecologicamente sustentável, politicamente democrático e economicamente justo.



Frei Betto é escritor, autor, em parceria com Marcelo  Barros, de “O amor fecunda o Universo – ecologia e espiritualidade” (Agir),  entre outros livros. http://www.freibetto.org/>    twitter:@freibetto.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Indústria pode reduzir nível de emprego e investimentos


Estimativa do Iedi tem como base a perda do nível de produtividade da maior parte dos setores produtivos, com destaque para o têxtil, que caiu mais de 13%

A evolução da produtividade por setores de atividade no primeiro semestre de 2011 mostra um quadro bastante diferente do verificado no primeiro semestre de 2010, quando a economia se recuperava da forte retração no ano de 2009.
Segundo o estudo, de 18 setores que são analisados, dez apresentaram desempenho negativo em comparação ao ano passado.
 
 


http://www.iedi.org.br/artigos/top/analise/analise_iedi_20110819_industria_o_desafio_da_produtividade.htmlAtt

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Governo decide acabar com fator previdenciário



Valor Econômico - 17/08/2011

http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif

Ribamar Oliveira
http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif

http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif

O ministro da Previdência Social, Garibaldi Alves Filho, pretende concluir até o fim de setembro uma proposta de substituição do fator previdenciário mecanismo criado pelo governo Fernando Henrique, em 1999, cujo objetivo era incentivar o trabalhador a adiar a aposentadoria. Três alternativas estão em discussão: estabelecer uma idade mínima para a aposentadoria, elevar o prazo mínimo de contribuição e uma fórmula que contemple essas duas variáveis. O governo desistiu, no entanto, da fórmula 85/95, sob o argumento de que ela não fecha a conta (85 é a soma da idade com o tempo de contribuição para mulheres e 95 é a soma aplicada aos homens). A discussão caminha para a fórmula 95/105.

O pressuposto básico do projeto é que os cofres da Previdência não podem ter prejuízo com o substituto do fator previdenciário. De 1999 até 2010, o fator permitiu economia de R$ 31 bilhões. Neste ano, a conta deve ser de R$ 9 bilhões. Mas os estudos do governo mostram que o fator tem apresentado efeito maior em reduzir o valor do benefício do que em adiar a aposentadoria, segundo informou ontem o secretário de Políticas de Previdência Social, Leonardo Guimarães.

Mesmo com o fator, o homem está se aposentando, em média, aos 54 anos e a mulher, aos 51,5 anos. As pessoas veem apenas o curto prazo. O fator corta 30% do valor do benefício, em média, mas elas continuam trabalhando e a aposentadoria é vista como um complemento da renda. Só quando perdem a capacidade laboral elas sofrem com a decisão que tomaram, explicou, durante depoimento em audiência pública na Câmara.

A avaliação do governo é de que o fator é um motivo de intranquilidade para o trabalhador, pois muda todo ano com as tabelas de expectativa de vida do IBGE. Por isso, gostaria que seu substituto fosse definido em comum acordo com as centrais sindicais. As discussões prosseguem, mas ainda estão longe do entendimento. As centrais não querem uma idade mínima para requerer aposentadoria, com o argumento de que os mais pobres começam a trabalhar mais cedo e, por isso, contribuiriam mais. Técnicos do governo consideram que apenas elevar o prazo de contribuição (de 35 para 42 anos, no caso dos homens, e de 30 para 37, no das mulheres) beneficiaria quem começa a trabalhar mais cedo.

A alternativa seria uma fórmula que contemplasse as duas variáveis: aumento da idade para requerer aposentadoria e do tempo de contribuição. O projeto de Garibaldi será entregue à presidente Dilma no fim de setembro para que ela o envie ao Congresso.

Antecipar abono salarial pode ajudar classe média


O Estado de S. Paulo - 17/08/2011

http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif

Proposta foi feita por subsecretário de Assuntos Estratégicos em seminário promovido pelo governo para discutir efeitos da crise no consumidor
http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif
http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif
Marta Salomon
http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif

http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif

O pesquisador perguntou à mulher que acabara de comprar uma moto nova em 36 prestações se ela sabia que podia comprar outra moto só com os juros do financiamento e por que não poupara para comprar à vista. A resposta: "Deve fazer muito tempo que você não anda de ônibus", ouviu o pesquisador do Data Popular, empresa que estuda o comportamento dos brasileiros emergentes.

A história foi contada em seminário do governo sobre a Nova Classe Média, na semana passada, que tratou de um contingente de 100 milhões de brasileiros, 30 milhões deles saídos da pobreza nos últimos oito anos, e que já representa a maior fatia do mercado de consumo no Brasil.

Essa parcela cresceu mesmo na crise de 2008 e movimentou o mercado interno quando o mercado externo encolhia, deixando o País menos vulnerável.

A primeira proposta de política pública para evitar que a nova classe média escorregue de volta à pobreza partiu de Ricardo Paes de Barros, subsecretário de Assuntos Estratégicos. Estão voltadas ao trabalhadores que ganham entre um e dois salários mínimos e que representam dois terços da nova classe média.

Ele defendeu antecipar o pagamento do abono salarial e do salário-família, junto com o salário do trabalhador. O valor seria equivalente a um ano de pagamento do benefício do Bolsa-Família. "O trabalhador recebe isso, mas nem percebe", disse Paes de Barros, que apresentou a proposta como uma forma de "imposto de renda negativo".

Risco ou ativo. Diante de uma nova crise - que o ministro Moreira Franco (Assuntos Estratégicos) chamou de "ambiente esquisito" e a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil) classificou de "tempos duros", na abertura do seminário -, os palestrantes apontaram a nova classe média ora como ativo econômico, ora como risco para a inflação fugir ao controle ou as importações crescerem acima do desejável. O crescimento sustentável da classe média, concluíram, é desafio para as políticas públicas.

"O Brasil quer dar um passo maior do que as pernas, essa conta não fecha: vem o Banco Central e tira o barril de chope na hora em que a festa começa", provocou o economista Eduardo Giannetti, preocupado com o comportamento dos novos consumidores e com o atendimento de suas demandas.

O diretor de assuntos internacionais e de regulação do sistema financeiro do BC, Luiz Awazu Pereira, chamou a atenção para a necessidade de políticas de "suavização do patamar de consumo", para evitar que a busca por bens pela nossa classe média venha a ser atendida sobretudo por bens importados. Sugeriu um freio de arrumação.

"Tenho medo do ressentimento social se tudo isso implodir", comentou o também economista André Urani, presidente do Instituto de Estudos de Trabalho e Sociedade, sublinhando o risco de parte da nova classe média voltar à pobreza por causa de medidas de contenção do consumo. Ficou entendido como classe média famílias com renda mensal entre R$ 1 mil e R$ 4 mil.

Márcio Holland, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, mais otimista, insistiu que o mais importante, agora, é manter a inflação sob controle, assim como a economia em crescimento e aprofundar a inclusão financeira, digital e de conhecimento da classe média.

http://www.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif