sábado, 8 de outubro de 2011

A força das cidades médias - Revista Exame

A força das cidades médias

Campo Grande, o norte-nordeste de Santa Catarina e três outras regiões metropolitanas têm potencial para crescer duas vezes mais que São Paulo e Rio de Janeiro nos próximos 15 anos

Márcio Kroehn, da EXAME São Paulo - São Bento do Sul é a terceira cidade brasileira com o melhor índice de responsabilidade fiscal, social e de gestão dos últimos sete anos. Não é por acaso que a cidade catarinense de 75 000 habitantes, conhecida como um polo moveleiro, aparece entre as primeiras colocações no estudo da Confederação Nacional dos Municípios, atrás da paulista Cerquilho e da gaúcha Tupandi.
São Bento do Sul está localizada no norte-nordeste de Santa Catarina, uma das regiões urbanas mais pujantes do Brasil, com 20 municípios cujo epicentro econômico é Joinville.
Na última década, ali foram gerados 160 000 novos empregos formais, ampliando o número de trabalhadores com carteira assinada para 381 000, numa população de 1,2 milhão de pessoas.
É uma proporção de 31%, ante 23% da média do país. Além da geração de empregos, o consumo tomou impulso nas cidades do norte-nordeste catarinense.
De 2000 a 2010, a frota de veículos da região mais que duplicou, para 621 000 carros. São Bento do Sul é a terceira cidade mais populosa nessa área, atrás de Joinville, com 515 000 habitantes, e de Jaraguá do Sul, com 143 000.
Nos próximos 15 anos, o crescimento populacional ficará dentro da média nacional, mas a economia continuará se diferenciando. “É um momento de ouro”, afirma Udo Döhler, presidente da tecelagem Döhler, de Joinville.
Ele é membro da quarta geração da família de origem alemã que fundou a empresa há 130 anos. “Haverá uma nova onda de oportunidades e a região dará um salto ainda maior na próxima década.”
Enquanto a economia brasileira cresceu 33% de 2000 a 2008, a da região catarinense avançou 40%. Para os próximos anos, a previsão é de manter uma média de 5,8% de crescimento anual.
De acordo com um estudo da consultoria McKinsey, o norte-nordeste de Santa Catarina é a região urbana brasileira com mais de meio milhão de habitantes que mais vai crescer até 2025.

Chamada de Manchester catarinense pela concentração e diversidade industrial — lá estão instaladas empresas como Weg, Tupy, Tigre, Malwee, Marisol e Embraco —, a região viveu até meados da década passada uma crônica carência no setor de serviços. Para entrar num shopping center, seus moradores tinham de viajar 140 quilômetros até Curitiba.
Os dois primeiros centros comerciais foram inaugurados em Joinville em 1995. Há um ano e meio, um terceiro abriu as portas, levando para Santa Catarina redes como Etna e Burguer King. A expansão do varejo busca atender uma população que multiplicou seu poder de compra — e deve enriquecer mais.
 Assim como o norte-nordeste catarinense, os centros urbanos de Campo Grande, Grande Vitória, Grande São Luís e João Pessoa têm potencial de crescer duas vezes mais que São Paulo e Rio de Janeiro, segundo a McKinsey.
O potencial de duas delas — São Luís e João Pessoa — se explica principalmente pelas carências atuais. Com grande crescimento populacional nos últimos anos, falta a essas regiões todo o arcabouço de serviços e infraestrutura.
Campo Grande é o centro de um dos principais polos de agronegócio no país. E a Grande Vitória é beneficiada pela atividade econômica de seus portos.
Oportunidades
O norte-nordeste catarinense é uma exceção, com uma atividade industrial já desenvolvida e que vem atraindo mais investimentos nos últimos tempos. Em Joinville, a fabricante de barcos americana Brunswick anunciou em agosto a construção de uma fábrica e a criação de 150 empregos.
A GM investe 350 milhões de reais para inaugurar uma fábrica de motores no ano que vem e pode levar para a cidade uma unidade de transmissões. A BMW estaria entre duas cidades do norte-nordeste catarinense — Joinville e Araquari — para instalar sua primeira unidade brasileira.

Toda essa movimentação já mexe com o sistema educacional. A Universidade Federal de Santa Catarina vai inaugurar seu campus em Joinville com cursos de engenharia naval, ferroviária, aeroespacial e de trânsito. A PUC ampliará sua oferta local em 2012.
Os cursos universitários são um complemento para a formação técnica oferecida pela Weg e pela Tupy. “Investir na capacitação evita que soframos as consequências do crescimento sem controle”, diz Luis Figueiredo, diretor de RH da Weg, a maior empresa da região e empregadora de 10% da população de Jaraguá do Sul, onde sua sede está localizada.
Apesar de todo esse desenvolvimento, o norte-nordeste catarinense sofre com a infraestrutura. Joinville, a maior cidade do estado, trata apenas 14% do esgoto produzido. O aeroporto não tem instrumentos básicos para pousos em condições de tempo adversas.
As estradas que levam ao vizinho porto de São Francisco do Sul não são duplicadas. “Todas as cidades médias têm a oportunidade de investir em planejamento urbano, o que não foi feito nas grandes cidades”, diz Patricia Ellen, sócia da McKinsey especializada no setor público.
Campo Grande é um exemplo de preocupação com o crescimento mais ordenado. As ruas são largas como nas cidades americanas para facilitar a circulação de 790 000 habitantes e 392 000 veículos. A economia se concentra no comércio e nos serviços. Sua força vem do agronegócio de Mato Grosso do Sul.
Nos últimos quatro anos, o número de usinas de açúcar no entorno passou de dois para 21. O governo do estado quer diversificar a fonte de receita do município com a atração de indústrias. Cinco polos empresariais foram criados em Campo Grande na última década.
O setor de construção civil ocupou um terço do espaço oferecido. Com um dinamismo acima da média nacional, as metrópoles regionais são também uma nova fronteira de oportunidades.

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