terça-feira, 25 de outubro de 2011

Não há como sobreviver à China sem medidas drásticas, diz economista

Por Rodrigo Pedroso | Valor
CAMPINAS – O duplo movimento chinês, de baixar a remuneração relativa dos industrializados no mercado internacional com produtos altamente competitivos, por um lado, e de elevar o patamar do preço das commodities com forte demanda, do outro, pode desindustrializar o Brasil. A tese é do economista e professor das Faculdades de Campinas (Facamp), Célio Hiratuka.
Durante palestra para alunos em um seminário nesta segunda-feira, em Campinas (SP), Hiratuka defendeu que o governo precisa tomar medidas drásticas e estratégicas para a importação não tomar lugar da indústria do país. “Precisa haver uma ação coordenada. Hoje a questão não é só de preço. As máquinas chinesas vêm subsidiadas pelo banco de lá, o câmbio deles é desvalorizado artificialmente. Esse tipo de competição é muito difícil de enfrentar”, afirmou.
Com a piora no cenário externo, de desaceleração da economia americana e crise na zona do euro, há um acirramento da competição internacional por mercados como o brasileiro. O governo precisa de um plano estratégico para proteger o mercado interno. Para Hiratuka, são necessárias melhorias nas condições de crédito e financiamento, reestruturação e recuperação do mercado de trabalho, do salário mínimo e da massa salarial, e desenvolvimento regional e ampliação de mercados.
Na outra ponta, segundo ele, o governo necessita focar seus esforços na recuperação, pela indústria nacional, de investimentos em infraestrutura, como energia e transportes, construção civil e na universalização de serviços essenciais como educação, saúde, saneamento básico e segurança. A ideia é que, a partir do fomento a esses setores, a indústria tenha o incentivo para se desenvolver e ganhar competitividade. “Essas demandas estão acima do consumo. Esse conjunto de demandas que passa pelo Estado pode gerar uma política de reestruturação industrial no longo prazo”, disse.
O crescimento do Brasil, de 2004 a 2008, antes da crise financeira internacional, foi impulsionado pelo mercado interno, lembra o economista. Mesmo com um novo cenário pela frente, em virtude do aumento do apetite internacional por consumidores externos, o país precisa aproveitar o momento para refazer a indústria nacional, que perdeu sua base entre as décadas de 1980 e 1990, diz Hiratuka.
“O Brasil é hoje um dos poucos países com esse ativo raro na economia internacional, que é um mercado grande e com potencial de crescimento. Temos que aproveitar esse ativo, e não entregá-lo de bandeja à indústria estrangeira”, disse o professor da Facamp.
(Rodrigo Pedroso | Valor)

Nenhum comentário:

Postar um comentário