quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Para os céticos, promessa de renúncia de Berlusconi é estratégia

BOLONHA - Na Itália há quem diga que o Parlamento aprovará o pacote econômico do governo Silvio Berlusconi em uma semana. Essa corrida contra o tempo aceleraria a demissão do primeiro-ministro, que perdeu a maioria na Câmara dos Deputados e condicionou sua saída à aprovação da lei de estabilidade, que inclui corte de gastos, reforma previdenciária e aumento de impostos. Opiniões contrárias, entretanto, indicam que Berlusconi, que ainda detém maioria no Senado, está ganhando tempo e que a votação do pacote poderá se arrastar por mais de um mês. Essa alternativa manteria o Cavaliere no poder e a vida politica italiana paralisada.
Nas ruas de Bolonha, cidade da região da Emilia Romanha, com 400 mil habitantes, os italianos contam as horas para a queda de Berlusconi, mas ao mesmo tempo são céticos quanto a uma rápida saída do premiê e sobre as alternativas que a Itália teria para superar a crise e as constantes arbitrariedades de sua politica nacional.
Anna Gobetti, estudante da Academia delle Belle Arti da Universidade de Bolonha, disse que só acredita vendo o fim do terceiro mandato do presidente do Conselho de Ministros italiano. "Ele prometeu que agora vai embora para casa. Já não é sem tempo, seria ainda melhor se fosse para a cadeia, mas eu só acredito quando, de fato, acontecer", opina a estudante.
O ceticismo da universitária, explica o aposentado Mario Gagliotti, está relacionado à fama de "furbo" (malandro) de Berlusconi. "Quem garante que a promessa feita ao [presidente italiano, Giorgio] Napolitano será cumprida? Se a lei de estabilidade passar como quer o governo e a União Europeia, ele pode ganhar algum fôlego e talvez recuperar a maioria", considera Gagliotti.
Para a maioria dos bolonheses ouvidos pela reportagem, as chances de um renascimento de Berlusconi são "zero". "Sem a maioria e abandonado por uma dezena de parlamentares de seu próprio partido, Berlusconi enfrentará muita dificuldade para aprovar o pacote econômico. A coisa mais clara até o momento é que o nosso sistema politico vai parar", avalia Michelle Maurizzi, gerente da Safe, indústria do setor de gás natural.
Segundo ele, esse pessimismo está fundamentado nos constantes escândalos na vida politica italiana e também no aprofundamento do país na crise econômica. "As alternativas são poucas, provavelmente Berlusconi conseguirá articular uma nova coalizão de direita e centro, lançando um novo nome. Não podemos nos esquecer de que, na hora de votar, o povo percebe que a esquerda está fraca e dividida", continua Maurizzi.
"Estou muito pessimista, difícil encontrar alternativas para mudar alguma coisa. Para mim, a única saída é uma profunda reforma politica", aposta Matilde Fabri, outra estudante da Universidade de Bolonha.
Analistas políticos italianos convergem para a posição de que a aprovação de lei de estabilidade econômica tenha pelo menos 20 dias de debate na Câmara e no Senado. Uma vez aprovada, eles apostam na demissão de Berlusconi e, como manda a Constituicão italiana, em uma consulta do presidente com as lideranças politicas, que deverá definir eleições gerais para o fim de janeiro ou no máximo meados de fevereiro.
(Luciano Máximo | Valor)

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