domingo, 4 de dezembro de 2011

Percalços do Brasil no comércio mundial

*José Álvaro de Lima Cardoso
     A balança comercial brasileira continua apresentando bom desempenho. Entre janeiro e novembro (primeiras três semanas) o saldo comercial alcançou US$ 26,7 bilhões, algo inimaginável no início deste ano, quando as projeções de saldo para 2011 rondavam os US$ 8 bilhões. As exportações aumentaram quase 30%, tendo atingido US$ 225,7 bilhões até as primeiras três semanas de novembro. É justamente a elevação do preço dos produtos exportados pelo Brasil, principalmente as commodities, que têm garantido o bom desempenho da balança comercial brasileira neste ano. O preço dos produtos básicos (que respondem por cerca de 40% da pauta exportadora) aumentou em ritmo superior ao dos produtos importados (predominantemente industriais), garantindo o ótimo desempenho até aqui. Os preços dos produtos exportados pelo Brasil, segundo a  Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), aumentaram 25%, em média, até outubro. 
A elevação do valor das exportações brasileiras – fundamentais em um ano complicado como 2011 – vale lembrar, acaba agindo como uma espécie de anestésico. O problema não é exportar produtos básicos, e sim a crescente dependência da nossa balança comercial desse tipo de produto. Nos primeiros nove meses do ano a balança comercial brasileira de bens industriais registrou um déficit de US$ 35,3 bilhões, o que projeta um déficit no ano de quase US$ 50 bilhões, quando, em 2010, foi de US$ 34,8 bilhões. Até então, o déficit mais elevado para períodos de três primeiros trimestres do ano no Brasil foi o registrado em 2010, quando o saldo ficou negativo em US$ 25,8 bilhões. O incremento significativo do déficit em bens típicos da indústria de transformação ocorreu paralelamente ao aumento do saldo positivo dos produtos da agropecuária, da extração mineral e outros mais. Como se sabe, além da reprimarização da pauta de exportação, está havendo também uma crescente substituição da produção doméstica por importados, colocando em risco a produção industrial nacional. Mais do que isso: estamos perdendo o mercado de produtos industrializados na América do Sul, até mais rápido do que o mercado interno. Como várias analistas vêm chamando a atenção, a estratégia da China (principal parceiro comercial do Brasil) é muito clara: necessitada vitalmente de matérias primas, procura obtê-las fornecendo para o mundo produtos de valor agregado crescente, ao mesmo tempo em que investe pesado em ciência e tecnologia.
Procurando do não se tornar refém da estratégia da China e preocupado com a visível piora da conjuntura internacional, o governo brasileiro, recentemente, anunciou uma meta de elevar as exportações em 2012 para US$ 276 bilhões, cerca de 15% acima do valor atual. A consecução da meta seria uma forma de diminuir os efeitos da esperada queda dos financiamentos internacionais no ano que vem, preservando assim o balanço de pagamentos. A tentativa de se antecipar aos fatos é sempre louvável, especialmente em uma conjuntura incerta como a atual. Mas essa medida talvez seja insuficiente, dada a agressividade chinesa e de outros países, em face de mercados em retração. É possível que a piora do quadro mundial em 2012 requeira medidas mais ousadas que passem pela desvalorização cambial, política de tarifas, taxação de exportação de commodities e outras.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

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