quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Dívida: menor juro no exterior tem impacto zero dentro do Brasil

Em 2012, governo conseguiu vender no exterior títulos com menor juro da história do país e em patamar bem menor do que nas transações semanais dentro do Brasil. Mas, segundo Tesouro Nacional, gestor da trilionária dívida pública, taxa externa não influencia juro pago internamente, ainda o maior do mundo. Motivo: falta de concorrência no 'mercado' brasileiro.

BRASÍLIA – Na primeira semana do ano, o governo vendeu títulos públicos no exterior pagando ao “mercado” o juro mais baixo da história do país, 3,4%. A utilidade desse tipo de operação está na referência que aponta para o juro no comércio de papéis no futuro e para a taxa paga por empresas que emitem papéis no exterior, uma forma mais barata de arranjar dinheiro do que dentro do Brasil.

Do ponto de vista da gestão da dívida pública como um todo, porém, a operação não ajuda em nada o governo a vender papéis no “mercado” brasileiro pagando juros menores do que os atuais. “A dívida interna tem dinâmica própria. A influência é zero”, diz o coordenador de operações da dívida pública da Secretaria do Tesouro Nacional, José Franco de Morais.

Nos leilões semanais de venda de títulos que faz no país, o Tesouro tem pago entre 10% e 11% de juro ao “mercado”, bem mais do que o observado nas negociações externas. Um dos motivos dessa diferença, diz o Tesouro, é que o “mercado” brasileiro tem menos interessados em comprar títulos do que o “mercado” externo – é mais difícil passar adiante um papel em real do que em dólar.

O Tesouro não pode usar expressões explícitas, até por ter de lidar diariamente com o “mercado” mas, em linguagem mais simples, o que diz é que o “mercado” brasileiro é mais guloso pois sabe que tem o governo na mão – se o governo tivesse de recorrer a estrangeiros para rolar toda semana a trilionária dívida pública, não os acharia em quantidade mínima e suficiente.

Mas também não seria desejável, segundo o governo, dever apenas para estrangeiros, mesmo que estes aceitem juros menores do que brasileiros, por uma questão de soberania. A dívida feita dentro do Brasil tem de ser paga em reais, uma moeda que o governo controla e pode emitir. Já a dívida feita no exterior tem de ser paga em dólares, moeda que o Brasil não controla nem pode “frabicar”.

Apesar disso, o Tesouro acha que não seria de todo ruim aumentar a fatia da dívida externa dentro do total da dívida pública perante o “mercado”. Hoje, a dívida externa representa 4% do total. Num plano anual que divulga sempre em janeiro, o governo diz que trabalhar para que esta fatia fique entre 4% e 6%. Porém, informalmente, o Tesouro acha que uma fatuia de 10% seria admissível.

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