quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Seca no Sul reduz safra nacional

A produção de grãos deve ser 4,5 milhões de toneladas menor que a da temporada passada. Levantamento aponta quebra de 10,8% no Rio Grande do Sul e de 7,8% no Paraná 
A seca que vem prejudicando as lavouras do Sul desde novembro vai reduzir a safra nacional de grãos em 4,5 milhões de toneladas, conforme levantamento divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). A retração é de 2,8% em relação a 2010/11 e limita a colheita de 2011/12 a 158,45 milhões de toneladas. O Paraná perde 1,72 milhões de toneladas (7,8%) e o Rio Grande do Sul, 3,11 milhões (10,8%), puxando os números nacionais para baixo, mostra o estudo, que considera perdas relatadas até 19 de dezembro.

Os governos paranaense e gaúcho fizeram avaliações preliminares e apontam impacto negativo de aproximadamente R$ 4 bilhões na economia. No Paraná, a redução na receita dos produtores de grãos equivale ao que eles investiram no milho de verão

As perdas no Sul somam 5,26 milhões de toneladas de grãos. Porém, a previsão de aumento de 1,5 milhão de toneladas no Sudeste e no Centro-Oeste ameniza o impacto da crise nas demais regiões.

O levantamento é o quarto divulgado pela Conab sobre a safra 2011/12, mas o primeiro que considera as projeções repassadas aos técnicos pelos produtores. Os três primeiros tomaram médias históricas e projeções climáticas como referência, e já apontavam queda. Em relação ao último levantamento, houve variação negativa de 0,2% na previsão para a safra nacional.

No Paraná, a região mais afetada é o Sudoeste, onde a maior parte das lavouras teve ontem mais um dia de sol. A expectativa é de que o clima seco mude ainda nesta semana. Porém, as perdas são consideradas irreversíveis. 

“No milho, a quebra vai ser de 30% a 40%. A soja sente menos a estiagem. Mas, como as noites frias já tinham reduzido um pouco a produção, as perdas devem chegar a 25%”, afirma Alberto Santin, que acompanha a situação de 290 mil hectares dos associados da Coopertradição, de Pato Branco.

Os produtores das regiões Oeste, Centro-Oeste, Noroeste e Norte também relatam perdas expressivas. A situação é menos grave no Centro, nos Campos Gerais e no Sul do estado, que devem amenizar o impacto do clima, influenciado pelo La Niña. As previsões meteorológicas para os próximos meses continuam sendo de chuvas abaixo do normal.

As culturas de milho, soja e arroz serão as mais afetadas, disse o gerente de levantamento da Conab, Carlos Roberto Bestetti. Ele ressaltou que esses produtos representam 94% da produção da Região Sul e que as previsões tendem a ser revisadas para baixo nos próximos meses.

Em relação à safra nacional de milho, a previsão ainda é de aumento de 2 milhões de toneladas (5,6%) na colheita de verão, que pode chegar a 35,92 milhões de toneladas. Entre os principais produtores, a Conab aponta perdas apenas no Rio Grande do Sul. A quebra deve-se principalmente à estimativa de redução de 3,57 milhões de toneladas (4,7%) na colheita da soja.

O Instituto Brasileiro de Geo¬grafia e Estatística (IBGE) também divulgou ontem previsão sobre a produção de grãos e aponta safra de 160,9 milhões de toneladas. O estudo indica que o Rio Grande do Sul terá redução de 13,3% na colheita de soja. No Paraná, a seca seria responsável por queda de 8,2%. Mato Grosso, maior produtor nacional, deve ver sua produção aumentar 5,6% em relação ao ano passado, aponta o IBGE.

Impacto no campo e no abastecimento afeta a economia

As perdas climáticas provocam prejuízos aos produtores das regiões atingidas pela seca, mas podem elevar a renda de quem conseguir boa colheita. A quebra de safra na América do Sul – incluindo Brasil, Argentina e Paraguai – tende a pressionar as cotações para cima, pelo impacto no abastecimento global.

Nas contas do ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas, se a economia brasileira voltar a crescer fortemente, essa queda na colheita pode significar um aumento de 0,5 ponto porcentual no Índice de Preços ao Consumido Amplo (IPCA). “Esse impacto só vai acontecer se a economia estiver crescendo acima de 5%”, disse.

No Ministério da Agricultura, a previsão é de que, mesmo com a produção menor, não haverá falta de grãos para o consumo interno no Brasil. No entanto, os economistas se apressam em dizer que haverá consequências para a inflação e mais dificuldades para o trabalho do BC.

A previsão do mercado é de uma inflação em 5,31% neste ano, acima do centro da meta estabelecida pelo governo – de um IPCA de 4,5%, com 2 pontos porcentuais de tolerância para cima ou para baixo. Segundo o secretário de Abastecimento do Ministério de Agricultura, Edilson Guimarães, a seca no Sul é a principal vilã. Uma forma de amenizar o impacto das quebras climáticas, que acontecem uma vez a cada cinco anos no Rio Grande do Sul, seria investir mais em irrigação, apontou. Ele disse que o governo lançará, até o segundo semestre, um plano de irrigação na região que beneficiará, principalmente, as plantações de milho, soja e arroz.

Outra medida em estudo é o socorro aos agricultores que não estão protegidos pelo seguro agrícola dos financiamentos públicos. O governo federal vem reduzindo o orçamento do seguro agrícola da agricultura comercial nos últimos dois anos, o que afeta os produtores que assinam contratos de financiamentos de custeio. A parcela dos produtores que não correm o risco de se endividar por perdas climáticas é de menos de 10% no país. (JR, com agências)

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