segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Sobre a crise industrial (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial)

Sobre a Crise Industrial. Que a economia brasileira enveredou para uma desaceleração significativa e que a indústria do país vive um momento de extrema dificuldade, a esta altura não resta dúvida. As causas do menor ritmo de crescimento são conhecidas: a elevação da taxa de juros, a contenção do crédito, o corte de despesas públicas e as expectativas negativas decorrentes do agravamento da crise nas economias centrais. Esses fatores esmoreceram a evolução do consumo e do investimento privado, afetando em primeira mão a indústria que, paralelamente, sofria os efeitos intensos de uma aguda carência de competitividade, graças a um câmbio que desde 2006 vem minando sua competitividade e a uma acumulação de custos sistêmicos que transformou o Brasil em uma das economias mais caras para se produzir em todo o planeta.

Por isso, em um ano como 2011 em que o mercado consumidor cresce 8%, segundo dados do varejo para os meses de janeiro a setembro, a indústria de transformação no mesmo período foi capaz de elevar sua produção em míseros 1,1%. As características setoriais desse crescimento trazem informações relevantes para uma reflexão sobre a crise industrial. Primeiramente, o segmento manufatureiro de maior intensidade tecnológica que reúne a produção de aviões, produtos eletrônicos, farmacêuticos e instrumentos de precisão, foi o de maior crescimento, 3,8%, denotando que valem a pena os esforços de política industrial em desenvolver esse segmento que é mais resistente a instabilidades da economia e aos fatores adversos de custo.

Em média-alta intensidade tecnológica, que engloba bens de capital e setores de bens intermediários (produtos químicos) e de bens de consumo duráveis (automóveis), o crescimento alcançou apenas 1,5%, a despeito de uma evolução próxima a 10% do mercado consumidor desses produtos. É que este segmento é palco da mais acirrada disputa que a importação trava com a produção nacional, fruto tanto de estratégias globais de produção de antigos produtores internacionais instalados no país que agora optam por importar de outros países, quanto de novos concorrentes, a exemplo de produtores chineses, que buscam colocação para sua excessiva capacidade produtiva nos poucos mercados dinâmicos existentes no mundo.

Em média-baixa intensidade, a evolução também de apenas 1,5% reflete sobremaneira o comportamento da produção de bens metálicos, com incremento de somente 1,2%, onde se destaca a siderurgia, um setor que enfrenta dificuldades em sustentar mercados externos e preservar o mercado doméstico. Espelha ainda a baixa capacidade de oferta do setor de derivados de petróleo cuja produção aumentou muito pouco (1%). No grupo, somente a produção de produtos minerais não-metálicos apresentou maior dinamismo (aumento de 4,2%), beneficiado com o boom da construção.

Por ser o maior empregador da indústria e deter a mais disseminada rede de produção pelo país, o pior resultado, de longe, é o da baixa intensidade tecnológica. O crescimento negativo de 0,7% reflete um declínio da indústria de alimentos e bebidas (-0,1%) por fatores domésticos e pontuais causas externas e um gigantesco retrocesso (-10,1%) em têxtil e calçados, resultado da concorrência do importado.





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