terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

A crescente (e perigosa) dependência do Brasil da exportação de produtos primários


                 *José Álvaro de Lima Cardoso

     A produção da indústria avançou 0,9% em dezembro frente ao mês de novembro, fechando o ano de 2011, com taxa positiva de apenas 0,3%, resultado bem abaixo do registrado em 2010 (10,5%). No último trimestre de 2011 a produção industrial recuou 1,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior. A Indústria de Transformação, considerando-se a série dessazonalizada, cresceu 1,06% em dezembro com relação a novembro. O índice de Utilização da Capacidade Instalada divulgado pela CNI - Confederação Nacional da Indústria, relativo à novembro (último dado disponível), considerando-se a série dessazonalizada, registrou 81,5%, mantendo estabilidade em relação ao mês anterior, outubro (81,4%).
     Este medíocre resultado da indústria está relacionado tanto ao acúmulo de estoques do primeiro semestre, quanto com o agravamento da crise no segundo semestre, que abalou a confiança dos empresários, que interromperam ou desaceleraram investimentos previstos. Outro fator é a rápida expansão das importações de produtos industriais, decorrência direta da apreciação cambial. O problema da indústria brasileira não são apenas as dificuldades para exportar produtos industriais, mas principalmente a facilidade para importá-los.
      O comportamento da balança comercial do país revela claramente o problema cambial. O Brasil obteve em 2001 um respeitável superávit comercial de US$ 29,7 bilhões (bom desempenho, em grande parte, pelo ainda elevado preço das commodities), um crescimento de 48% se comparado a 2010. O crescimento das exportações foi o principal responsável por esse aumento. Enquanto em 2010 o Brasil exportou US$ 201,9 bilhões, no ano passado a venda de produtos para o exterior foi de US$ 256 bilhões. As importações em geral cresceram a um ritmo um pouco menor, totalizando, no final de 2011, US$ 226,2 bilhões. Mas, na realidade, o país ampliou a sua dependência da exportação de commodities, visto que, de janeiro a novembro, o déficit da indústria de transformação atingiu US$ 43,68 bilhões, um aumento de 37% em relação a 2010. A China, o principal país comprador dos produtos brasileiros em 2011 (US$ 44,31 bilhões, expansão de 44% em relação a 2010), importa bilhões em soja e minério de ferro do Brasil (e outros produtos básicos) e inunda o país com produtos industriais. Como tem sido alertado por muitos especialistas, essa política é extremamente arriscada e não tem sustentação no longo prazo.  
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.

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