sábado, 18 de fevereiro de 2012

Envelhecimento e emprego em Portugal


Por João V.
Caro/as, segue uma reflexão que coloquei num outro forum sobre o tema do envelhecimento das polulações, nomeadamente da população portuguesa.
O Envelhecimento das populações e o desenvolvimento do capitalismo.
O envelhecimento da população portuguesa é um tema muito sério e parece-me que em Portugal está tudo em negação. O declínio da natalidade, a meu ver, está claramente associado ao desenvolvimento do capitalismo mas como na nossa praça pública é tudo alérgico a qualquer crítica séria ao capitalismo vamos evitando enfrentar as razões de fundo do envelhecimento da população - em Portugal e na Europa. Veja-se bem que hoje a ideia de um emprego para a vida foi tornada ridícula que o que interessa é mobilidade e flexibilidade, pois bem, mas o que isto quer dizer é que não há capacidade para fazer planos a longo prazo, um dos mais importantes destes planos, senão mesmo o mais importante é ter e criar um, dois, três filhos.
É preciso dizê-lo, o capital (que é dizer, os banqueiros que vão à televisão, os srs. das grandes empresas que têm o número de telefone dos Primeiro-ministros e que condicionam a decisão política sobre a economia) está a marimbar-se para estes problemas, sabem que se precisarem de mão-de-obra podem sempre importar. E ficar à espera que o capital cumpra alguma função social de fundo que não as que estejam directa e imediatamente ligadas ao lucro é coisa de néscio, enfim, é coisa de nossos neoliberais e seus boys . Do ponto de vista da natalidade, que é cada vez mais uma questão urgente, o último acordo de concertação social, por exemplo, é mais um prego para o caixão. Sigamos então alegremente como marias-vão-com-as-outras as tendências de aprofundamento da tal flexibilidade e mobilidade e assistamos ao declínio inexorável da natalidade em Portugal - tudo com a benção dos srs. "supostos-saber".
Elaborando um pouco mais, a questão da indisponibilidade de discutir-se a fundo o capitalismo decorre da sua autorreprodução não encontrar um excesso livre que o possa colocar num extremo de uma proposição a partir do que, então, possa ser tomado não como pano-de-fundo , como é hoje em dia, ou seja, colocado ao nível da natureza, mas como uma força concreta entre outras a partir do que se pudesse convertê-lo, por exemplo, num objecto histórico e não mais como o sujeito universal da história que hoje é, conversão essa a partir do que o capitalismo não seria já para si mesmo mas para um outro - nomeadamente para os povos, as sociedades, os Estados, ou seja, para o político na sua dimensão mais ampla.
O capitalismo adquiriu uma tal amplitude que, como referi, está ao nível da posição da natureza - ou seja, algo que não vemos senão por seus elementos e algo que não pensamos por de fora mas já e sempre por dentro e, portanto, condicionados pelas próprias categorias das quais se serve o capitalismo para se autorreproduzir .
Tal é esta amplitude do capitalismo que, e se bem entendi a obra "O Anti Édipo" de Deleuze e Guattari , o seu único excesso contemporâneo é o esquizofrénico - tudo o mais o capitalismo converte em factor de autorreprodução . Um exemplo curioso é aquela imagem do Ché Guevara em que começamos por ter, no homem concreto, um inimigo do capitalismo para acabar por convertê-lo numa panóplia de produtos - t-shirts, bonés, pins - perfeitamente integrados na economia de mercado - o guerrilheiro e estratega de uma oposição sistemática ao capitalismo torna-se num item de moda; eis a força do capitalismo.
Então, esta força do capitalismo, há que reconhecê-lo , está muito na sua capacidade de assimilar as diferenças, de digeri-las para combustível de sua autureprodução , no entanto, esta capacidade de assimilar a diferença tem a contraparte de tornar o capitalismo cada vez mais abstracto pois que quanto mais ampla é a abstracção mais objectos, forças, ideias é capaz de incorporar, sendo que o problema da ampliação do carácter abstracto do capitalismo é o de deixar as pessoas cada vez mais a laborar no vazio, ou seja, o horizonte a que se estende o poder do que as domina é de tal modo longínquo que não resta às pessoas mais do que a imediaticidade, o imediato.
Quando o imediato é o único terreno visível das pessoas a ideia de criar um ou mais filhos chega a parecer um salto no escuro e, portanto, é natural que haja uma retracção constante da natalidade. A meu ver corremos em Portugal um risco efectivo de dissolução do país no envelhecimento.

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