sábado, 24 de março de 2012

Não mexer na poupança impõe barreiras ao crescimento, diz Delfim

SÃO PAULO - A remuneração da caderneta de poupança estipula um piso para a taxa Selic, por isso, não mexer nesse investimento impõe uma barreira ao avanço do País, disse hoje o economista e ex-ministro Delfim Netto. "Não se trata apenas de redução da poupança, mas sim de um programa de política monetária, fiscal e cambial para reduzir as taxas de juros no Brasil."
Para ele, o desafio é convencer a sociedade de que a mudança na rentabilidade da caderneta de poupança é importante para toda a população. Para isso, é necessário um "mínimo de educação financeira". "A questão da poupança se tornou algo extremamente difícil de se por a mão", afirmou, em referência ao custo político de tomar medidas sobre a poupança.
Na prática, a redução da Selic - em 9,75% desde 7 de março - deve levar os fundos de investimento a reduzir suas taxas de administração para se ajustar à nova realidade de rendimentos mais baixos do que as cadernetas de poupança. "A preocupação explícita pela redução do rendimento da poupança é dos fundos de investimento e de pensão", disse. "Eles vão ter que se ajustar de qualquer jeito."
Em debate sobre alterações na remuneração da poupança, realizado na sede da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), o ex-ministro afirmou que a queda da Selic, não terá impacto significativo sobre o financiamento da dívida pública De acordo com ele, mesmo com rentabilidade menor dos títulos do Tesouro Nacional em relação à poupança, a dívida pública seguirá sendo o investimento de maior segurança.
Delfim disse também que a redução dos juros no Brasil, assim como atuações para conter a valorização do câmbio, são questões de legítima defesa do País. "Os países adotam taxas de juros reais negativas para desvalorizar suas moedas e competir com o Brasil. O governo tem que enfrentar mesmo essa situação", afirmou.
De acordo com Delfim, o Brasil precisa de uma taxa de juro real próxima às praticadas pelo restante do mundo, para que não haja desequilíbrio entre o fluxo de capital que entra e o que sai do País. "Uma economia só pode funcionar de maneira razoável se tiver uma taxa de juro real interna parecida com a externa, de forma a não permitir arbitragem com a entrada e saída de capital", disse, durante debate sobre mudanças na remuneração da caderneta de poupança, realizado na sede da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). "Enquanto isso não acontecer, o equilíbrio será precário."
O ex-ministro disse ainda concordar com a forma como o Banco Central (BC) tem se comunicado com o mercado. "O Banco Central está correto, transparência é fundamental para reduzir a especulação e a volatilidade", disse, referindo-se à sinalização da autoridade monetária sobre o comportamento da taxa Selic na última ata do Copom, divulgada na semana passada.
Indústria de transformação
O economista e ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou hoje (20) que o Brasil corre o risco de desindustrialização devido à perda de competitividade frente a produtos importados. "A indústria de transformação brasileira só cresceu 0,1% porque os empresários não compareceram ao trabalho", disse, ironicamente, para depois completar: "A indústria de transformação do Brasil está sendo depenada."
As declarações do ex-ministro foram feitas após debate sobre possíveis mudanças na remuneração da caderneta de poupança, realizado na sede da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), na capital paulista. No evento, Delfim Netto alertou que o parque industrial brasileiro precisa ganhar competitividade a partir de reformas estruturais. A discussão, segundo ele, não se limita a discutir a redução da taxa de juros.
Uma delas, por exemplo, é a alta carga tributária do País. O ex-ministro, no entanto, se mostrou cético quanto à redução expressiva dos impostos. "É um sonho da gente achar que o Brasil vai baixar sua carga tributária", afirmou. "A Constituição do Brasil tem um objetivo quase utópico: saúde e educação universais e gratuitas. Isso significa dar igualdade e oportunidade a todo cidadão e isso exige impostos mais altos."
A solução, disse o ex-ministro Delfim Netto, está no aumento da eficiência nos gastos públicos.
Fonte: Estadão

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