segunda-feira, 28 de maio de 2012

Weisbrot: Cobertura da mídia sobre a Argentina esconde o essencial



publicado em 5 de maio de 2012 às 12:34
por Luiz Carlos Azenha
Mark Weisbrot, do Centro de Pesquisas Econômicas e de Políticas Públicas de Washington (CEPR) escreveu um interessante artigo para o jornal britânico Guardian a respeito do que “especialistas” consultados pela mídia falam sobre a Argentina. Resumo: o espetacular crescimento econômico do vizinho seria resultado do boom das commodities, notadamente da exportação da soja.
Weisbrot apontou como exemplo, entre outros, este artigo do New York Times, do qual destacou o trecho:
Navegando num boom de exportação de commodities como a soja, a economia da Argentina cresceu em média 7,7% de 2004 a 2010, quase o dobro da média anual de 4,3% do Chile, um país geralmente citado como modelo de políticas econômicas.
Weisbrot argumenta que a cobertura da mídia sobre a Argentina, especialmente em tempos de nacionalização da petrolífera YPF pela presidenta Cristina Kirchner, esconde o essencial:
O mito do boom das commodities é uma forma dos detratores da Argentina classificarem o crescimento econômico do país como fortuito. Mas a realidade é que a expansão econômica foi liderada pelo consumo e investimento domésticos. E aconteceu porque o governo argentino mudou a maioria das suas escolhes macroeconômicas mais importantes: políticas fiscal, monetária e de câmbio. É o que tirou a Argentina da depressão enfrentada entre 1998-2002 e a transformou na economia que mais cresce nas Américas.

Agora sobre a significância mundial do verdadeiro motivo da recuperação da Argentina: como eu e muitos outros economistas escrevemos, as políticas atualmente impostas às economias da eurozona — especialmente as mais fracas — são similares às da Argentina durante a depressão, que levaram à moratória e à desvalorização do peso. Aquelas políticas eram pro-cíclicas, significando que amplificaram o impacto da recessão. Juntas com o câmbio fixo e sobrevalorizado, pioraram a economia. Ao decretar a moratória e desvalorizar sua moeda, a Argentina ficou livre para mudar suas políticas macroeconômicas mais importantes.
Se as autoridades europeias (a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o FMI) continuarem a bloquear a recuperação econômica da eurozona com medidas de austeridade sem sentido, os países serão levados a considerar alternativas mais racionais para restaurar o pleno emprego. O povo da Grécia, da Espanha, de Portugal, da Irlanda e de outros países é informado todos os dias que precisa engolir o remédio amargo e que não há alternativa ao sofrimento prolongado e às altas taxas de desemprego enfrentadas. Mas a experiência argentina — a realidade, não os mitos propagados — indica que isso não é verdade. Definitivamente, existem melhores alternativas — e elas não têm nenhuma relação com a soja ou com o boom da exportação de commodities.

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