José Álvaro de Lima Cardoso*
No Brasil os dados do Produto
Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre, com crescimento de 0,2% em relação
ao último trimestre de 2011 (2,2% na variação anual), decepcionaram mesmo os mais
pessimistas, situação agravada com a divulgação dos primeiros dados
macroeconômicos de março e abril. O cenário mundial e nacional, no momento, não é de
maiores pressões inflacionárias e sim de incertezas quanto ao processo de
recuperação. Mas as dificuldades para a retomada do crescimento, ao mesmo tempo
em que traz sérios riscos para a economia brasileira, abre possibilidades de o
governo continuar testando novos patamares para a taxa de juros (que já está no
seu menor nível histórico).
Como o crescimento se mantém fraco há
vários trimestres, o cenário mundial não sinaliza para problemas de choques de
oferta e o preço das commodities vem caindo, as condições para a redução dos
juros são extremamente favoráveis. As turbulências nos mercados internacionais,
somadas à queda de juros no Brasil, levaram a uma oportuna desvalorização do
real, de forma mais acentuada a partir de março, que colocou o dólar em um novo
patamar, de R$ 2,00.
O comportamento da economia brasileira nos
primeiros cincos meses do ano projeta um cenário onde dificilmente a economia
brasileira cresce acima de 3% em 2012, com possibilidade de ficar abaixo desse
patamar. A economia estadunidense anda de lado, a crise na Europa parece que
não se resolve em menos de três anos, a China desacelera. Resta ao Brasil
procurar se posicionar bem nesse meio tempo e apostar no seu mercado interno.
Mas dificilmente a reação do mercado interno será como em 2009/10, porque os
brasileiros comprometem hoje uma parcela maior de sua renda com financiamentos.
Por outro lado, a situação da indústria é preocupante, com ociosidade elevada
de 81,5% (segundo a Confederação Nacional da Indústria). A desvalorização de
15% do real em relação ao dólar desde fevereiro tem ajudado um pouco a
indústria e o desafio é manter o câmbio nesse patamar, ou melhorá-lo. De
qualquer forma, não há dúvida de que mudou o “mix” de política econômica no país,
com uma histórica redução de juros e uma taxa de câmbio bem mais desvalorizada.
Se este novo ambiente tiver consistência, isto é, se tiver vindo para ficar, a
taxa de investimentos na economia deverá aumentar, acelerando o ritmo de crescimento
do PIB.
*Economista
e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.
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