terça-feira, 28 de agosto de 2012

Desindustrialização e mercado interno no Brasil



José Silvestre Prado de Oliveira*
                                                                                                                                                             José Álvaro de Lima Cardoso**
      
     A história mostra que todos os países que conseguiram um elevado grau de desenvolvimento não prescindiram da indústria. O Brasil, da mesma forma, se quiser alcançar padrões de desenvolvimento com distribuição de renda não pode prescindir de uma indústria forte e diversificada. Nesse momento há muita discussão se o Brasil vive um processo de desindustrialização da sua economia ou não. Contudo, para além das polêmicas e controvérsias, convêm observar que a política cambial adotada a partir do Plano Real, embora cumpra o papel de âncora dos preços, tem levado a uma perda crescente de competitividade internacional da indústria nacional. Além disso, a taxa de juros, historicamente elevada, inibe o investimento produtivo. Para o empresário, muitas vezes é melhor viver de rendimentos do mercado financeiro que investir na produção. Poucos setores da economia industrial conseguem competir com a rentabilidade proporcionada pelos investimentos financeiros. Quando o empresário se defronta com uma taxa de juros como a Selic, só investe em última instância, quando não tem alternativa.
     Por outro lado, o fluxo de investimento direto estrangeiro (IDE) cresceu em números absolutos nos últimos anos, fato que tem sido comemorado por muitos economistas. Mas a média anual do IDE na indústria, que girava em torno de US$ 17 bilhões na década de 1980, caiu para apenas US$ 8,5 bilhões entre 1996 e 2010. Ademais, estes investimentos representam, na prática, a desnacionalização da economia, porque a maioria deste dinheiro vem para aquisição de empresas (transferência de patrimônio), o que significa mais remessas de lucros no futuro. A desnacionalização da economia tem relação direta com o problema da perda de competitividade da indústria. O processo de aquisição e fusão de empresas nacionais tem de dado desde a abertura da economia brasileira no início dos anos 90, em todos os setores. Entretanto, esse movimento tem se intensificado mais recentemente, por exemplo, no primeiro semestre de 2012, as corporações estrangeiras adquiriram 167 empresas de capital nacional, segundo a empresa de consultoria KPMG. Isto representou  a maior aquisição de empresas privadas brasileiras num único semestre de toda a história do país. Essas empresas, obviamente, não têm maiores compromissos com os projetos nacionais do país; a abertura e a manutenção de suas plantas industriais seguem estratégias globais de investimentos e obtenção de mercados.
     O cenário internacional segue com muitas incertezas. Contudo, vendo especialmente o que ocorre nos países desenvolvidos, é possível imaginar que teremos um longo período de crise mundial. Neste contexto, essas economias, mais a China (que perdeu parte dos mercados que disputava) continuarão a desenvolver políticas cada vez mais agressivas no mercado internacional. Todos os países desejam exportar seus produtos industriais. Nessa acirrada disputa por mercados entre os países, EUA, Zona do Euro e China, cada um deles, usa como arma, políticas industriais explícitas ou veladas, apoiadas na manipulação de suas taxas de câmbio:
      Os EUA e a Zona do Euro utilizam suas políticas monetárias (inundam o mundo com moeda)
      A China fixa sua taxa de câmbio ao dólar
      Isso leva a permanente valorização das moedas dos demais países emergentes, com grandes dificuldades para a produção industrial.
     O enfrentamento desse imenso e complexo problema exige políticas vigorosas e inteligentes. É fundamental evitar fortes movimentos do câmbio, especialmente na direção da valorização do real. As taxas de juros têm que continuar baixando e confluir definitivamente para parâmetros internacionais. O Brasil também tem que estabelecer barreiras aos capitais não desejados. Além disso, o país tem que desenvolver um conjunto de políticas voltadas para o objetivo de expansão do mercado interno, que é o maior ativo que a economia de um país pode possuir. Por isso é fundamental acelerar o processo de inclusão e de distribuição de renda.
*Técnico do DIEESE, da equipe de São Paulo.
 **Técnico do DIEESE, da equipe de Santa Catarina.

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