segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Governo gasta R$ 196 bilhões com bancos e apenas R$ 4,7 bilhões de investimento até junho


 

Há tanta confusão no ar (e até nos aeroportos) que é difícil prestar atenção em todas, isto é, em todas que têm alguma importância. Nos últimos dias, deixamos de lado a grita em torno do “superávit primário”.

Talvez porque essa grita seja algo esquisita: o governo superou a meta do primeiro semestre, para essa reserva destinada a juros, em mais de R$ 1,2 bilhão (R$ 48.085.318.000 para uma previsão de R$ 46.813.025.000; NOTA: trata-se, aqui, do superávit primário do governo central - soma dos resultados do Tesouro Nacional, Previdência e Banco Central - e não do conjunto do setor público, que inclui governos estaduais, municipais e as estatais).

Por que, então, os bancos – e sua mídia – estão reclamando e prevendo, se não houver “correção”, terríveis consequências econômicas para o país?

Os bancos não conseguiram extrair, via “superávit primário”, o mesmo que no ano passado (R$ 55.993.750.000) - e isso foi o suficiente para desencadear o terrorismo midiático-financeiro. Como se sabe, o mundo vai acabar no dia em que o governo não drenar os recursos da população para os bancos...

Trata-se de uma questão de princípio da agiotagem: sempre achacar o máximo possível - e sempre mais.

Os bancos receberam, em dinheiro, no primeiro semestre, R$ 61,961 bilhões em juros e R$ 134,465 bilhões em amortizações (sem contar o refinanciamento ou rolagem da dívida, que não é em dinheiro, mas em títulos).

Portanto, somadas essas duas parcelas, os bancos receberam, em dinheiro, R$ 196,426 bilhões – nada menos que 23,89% do total que foi pago pelo governo no primeiro semestre. Se contarmos também os R$ 186,902 bilhões de rolagem (refinanciamento), a parte dos bancos chegaria a R$ 383,328 bilhões, ou seja, 46,62% dos gastos do governo no primeiro semestre deste ano.

Observemos que isto aconteceu apesar de, em valores correntes, o governo ter gasto -7,93% em juros que no mesmo período do ano passado.

Mas, se o pagamento de juros diminuiu quase 8%, a amortização em dinheiro subiu +208,78%.

Na prática, isso fez com que o gasto do governo com os bancos, em dinheiro, aumentasse R$ 85,578 bilhões (de R$ 110,848 bilhões em janeiro-junho de 2011 para  R$ 196,426 bilhões em janeiro-junho de 2012).

Apesar da queda no superávit primário, da queda na rolagem (-26,51%) e da queda no gasto com juros...

Investir
Existe algo inestimável em não ignorar as confusões a que aludimos acima: descobrir coisas que antes não sabíamos.

É verdade que, nesse caso, já tocamos no assunto algumas vezes, mas sempre é bom (ainda que triste) constatar sua verdade.

A verba para investimentos efetivamente liberada no primeiro semestre foi 0,58% do total pago – e apenas 5,3% da verba anual aprovada pelo Congresso. Em dinheiro, o Congresso autorizou investimentos orçamentários de R$ 90,073 bilhões, mas foram liberados apenas R$ 4,774 bilhões.

E foi melhor que o ano passado: no primeiro semestre de 2011, os investimentos foram apenas 0,38% do total pago – e 4,47% do que foi aprovado pelo Congresso.

Enquanto isso, o crescimento do país caía de 7,5% (2010) para (talvez) 1,5% este ano – mas ouvimos um bocado sobre a importância do investimento, sobre como não é possível aumentar os funcionários por causa do investimento, etc., etc., etc. & mais etc., etc.

Fonte: Hora do Povo.

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