sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Em 2012, 296 empresas nacionais passaram para controle estrangeiro


23/01/2013  INFORMA CUT

Em 2011, foram desnacionalizadas 206 empresas
por: Carlos Lopes, Sao paulo,

Capital estrangeiro avança sobre a economia nacionalOs dados divulgados
pela empresa de consultoria KPMG no último dia 14 mostram que as
desnacionalizações de empresas brasileiras atingiram um novo recorde em
2012. O notável é que elas já haviam atingido um recorde em 2011 - e
também em 2010.

Em suma, a cada ano se aceleram as compras de empresas brasileiras por
fundos ou empresas estrangeiras, a maioria com sede nos EUA (para que o
leitor tenha uma ideia relativa: segundo o Censo de Capitais Estrangeiros
do BC, as empresas dos EUA têm dentro do Brasil 3,4 vezes o que têm as
empresas francesas, alemãs ou japonesas), com recordes batendo recordes
anteriores.

Em 2012 foram 296 empresas nacionais que passaram para controle
estrangeiro. Em 2011, haviam sido 208 empresas nacionais. Em 2010, 175
empresas.

Assim, o número de empresas desnacionalizadas aumentou, em relação ao ano
anterior, sucessivamente: +92,3% (2010), +18,9% (2011), e, no ano passado,
+42,3%.

Desde 2004, quando a KPMG passou a divulgar, em sua pesquisa, os dados das
operações "cross border 1" (cb 1 = "empresa de capital majoritário
estrangeiro adquirindo, de brasileiros, capital de empresa estabelecida no
Brasil"), os resultados foram os seguintes:

2004 - 69 empresas desnacionalizadas;

2005 - 89 empresas desnacionalizadas;

2006 - 115 empresas desnacionalizadas;

2007 - 143 empresas desnacionalizadas;

2008 - 110 empresas desnacionalizadas;

2009 - 91 empresas desnacionalizadas;

2010 - 175 empresas desnacionalizadas;

2011 - 208 empresas desnacionalizadas;

2012 - 296 empresas desnacionalizadas.

Ao todo, desde 2004, foram 1.296 empresas nacionais que passaram para
controle estrangeiro, com as conhecidas e inevitáveis consequências da
desnacionalização:

1) Aumento brutal das remessas de lucros para fora do país: as remessas
totais, cuja maior parte é constituída pelos ganhos, no Brasil, das
filiais de multinacionais que são enviados às suas matrizes, passaram de
US$ 25,198 bilhões (2004) para US$ 85,271 bilhões (2011), um aumento de
238,40% (o total de 2012 ainda não foi divulgado pelo Banco Central).

Se consideradas apenas as remessas para o exterior declaradas oficialmente
como "lucros e dividendos", o valor em dólares mais do que quintuplicou
(foi multiplicado por 5,5) no mesmo período.

Ao todo, de 2004 a 2011, pari passu com a desnacionalização de 1.296
empresas brasileiras, esse aumento vertiginoso nas remessas para o
exterior significou o envio para fora do Brasil do equivalente a 152,84%
do saldo comercial que o país obteve no mesmo período. Exatamente, as
remessas totais para o exterior montaram a US$ 404,878 bilhões, enquanto o
saldo comercial atingiu US$ 264,911 bilhões.

2) Simultaneamente a essa hemorragia de remessas para o exterior, houve um
aumento tão brutal, ou mais, das importações. De 2004 a 2011, as
importações aumentaram, em valor, 260%: de US$ 62,835 bilhões (2004) para
US$ 226,233 bilhões (2011).

As filiais de multinacionais são, sobretudo, empresas importadoras de bens
intermediários - ou seja, de componentes para a montagem de produtos
finais. Mas essa é a melhor das hipóteses: a outra, que está se tornando
rotina, é quando elas passam a importar o próprio produto final,
transformando a empresa desnacionalizada em mero balcão de vendas. O fato
é que quanto maior a desnacionalização, maior o aumento das importações.

A consequência é a desindustrialização do país, com a indústria nacional
atacada em seu maior setor - o de bens intermediários - pelas importações,
o que se estende rapidamente às importações de bens de produção.

3)  Não menos importante, até mais, é a estagnação da economia que essa
desnacionalização e desindustrialização, inevitavelmente, implica.

Em primeiro lugar, estagnação tecnológica. Não é paradoxal, mas apenas
doentio ou prova de dubiedade de caráter (ou apenas exibição de estupidez)
que os mesmos sujeitos que vivem falando que na economia brasileira faltam
"inovações", "competitividade", "produtividade", etc., sejam os mesmos a
defender a entrega ao capital estrangeiro das empresas nacionais que são
responsáveis pelas inovações e avanços tecnológicos.

Estamos, aqui, nos referindo às empresas privadas nacionais, embora o
mesmo seja verdadeiro - e até mais - para as estatais. É verdade que, no
momento, existe a originalidade de termos, na presidência da nossa maior e
mais avançada estatal, uma senhora que parece achar que sua função é falar
mal da empresa que preside. Mas isso, como diria o grande Dorival Caymmi
numa metáfora petroquímica, é matéria plástica. Dura pouco.

Mas voltemos às empresas privadas nacionais, com um exemplo.

Em 2012, houve uma queima de empresas nacionais produtoras de programas de
computador para os mais variados ramos da indústria. Certamente, não foi
porque essas empresas nacionais eram atrasadas ou ineficientes que as
multinacionais ou fundos especulativos se interessaram por elas - e por
atacado.

A desnacionalização resultou em que o desenvolvimento tecnológico do país
conquistado por essas empresas foi apropriado e monopolizado por empresas
estrangeiras. Não porque estas fossem mais eficientes, mas porque tinham
maior poder financeiro - e a política do governo foi, essencialmente, a de
deixar as empresas nacionais ao léu, ou seja, à mercê do capital
estrangeiro.

Em segundo lugar, e correlacionado com o anterior, a desnacionalização
leva, inevitavelmente, à estagnação do crescimento econômico: as empresas
multinacionais não se instalam em outro país para desenvolver a economia
nacional - aliás, elas fazem parte de outra economia nacional. Portanto,
as remessas de lucros, e também as suas importações, significam puxar o
investimento para baixo no país onde estão as filiais de empresas
estrangeiras.

Naturalmente, isso pode ser contrabalançado quando as filiais de
multinacionais não são o principal setor da economia - na China, por
exemplo, a taxa de investimento de 46% do PIB é atingida, sobretudo,
devido ao impulso do investimento público.

Porém, quando não há outra força - a força da coletividade, através do
Estado - se opondo, de forma geral, podemos dizer que quanto mais
desnacionalizada é uma economia, mais forte é a tendência de queda do
investimento e do crescimento. Nem precisamos lembrar a catástrofe da
economia tailandesa ou as medidas rigorosas que a Malásia tomou para
evitar catástrofe semelhante.

Basta olhar para o nosso próprio país.

De janeiro de 2004 a novembro de 2012, entraram no Brasil US$ 332,686
bilhões em "investimento direto estrangeiro" (IDE), ou seja, dinheiro para
comprar empresas ou aumentar a participação estrangeira no capital de
empresas, além de empréstimos da matriz à sua própria filial (cujo
pagamento é uma das formas de remeter lucros sem declará-los
oficialmente).

Essa entrada de US$ 332,686 bilhões em IDE provocou, segundo o Banco
Central, um aumento no estoque de IDE (ou seja, na propriedade estrangeira
sobre empresas) de US$ 132,818 bilhões (dezembro de 2003) para US$ 675,601
bilhões (setembro de 2012). Ou seja, a desnacionalização de empresas fez
com que a propriedade estrangeira sobre empresas dentro do Brasil, em
dólares, aumentasse cinco vezes (em termos percentuais, +408%).

Qual foi o resultado disso sobre o investimento na economia brasileira -
em especial sobre a taxa de investimento, ou seja, o investimento
(formação bruta de capital fixo - FBCF) em termos de PIB?

O resultado é que somente houve algum aumento do investimento quando houve
aumento do investimento público. A desnacionalização, isto é, o
"investimento direto estrangeiro" (IDE), pelo contrário, teve o efeito de
segurar e  deprimir a taxa de investimento da economia.

O que, aliás, é perfeitamente lógico: filiais de multinacionais não têm
como função gastar seus lucros em investimentos. Sua função é exatamente a
oposta - a de investir o mínimo possível para enviar o máximo possível de
seus ganhos para a matriz.

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