quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

A vida do trabalhador como ela é


 
Recentemente trabalhadores de grandes empresas de Jaraguá do Sul se revoltaram com o tratamento recebido dos chefes, encarregados, gerentes, supervisores e fizeram greve. A paralisação, apesar de curta, serviu para mostrar à sociedade os graves problemas enfrentados pelos trabalhadores e trabalhadoras no ambiente de trabalho. O assédio moral é a mais nova realidade do setor vestuarista da microrregião. Além disso, os trabalhadores vivem as conseqüências dos baixos salários e das péssimas condições no ambiente de trabalho.
 
O Sindicato, já há alguns anos, tem alertado às empresas sobre a necessidade de qualificar as gerências para a função que ocupam, pois, quando um trabalhador é desrespeitado e humilhado constantemente por um chefe, o fato pode gerar indenização por dano moral, causando um transtorno desnecessário ao patrão. Assédio moral é uma prática antiga nas relações de trabalho, mas está sendo combatida com determinação pelo movimento sindical.
 
Já é do conhecimento da população que o assédio moral deixa as vítimas doentes, física e mentalmente, e os prejuízos são muitos e de todos. As degradantes condições do ambiente de trabalho também fazem parte do dia a dia do trabalhador. Os trabalhadores denunciam o calor excessivo minimizado apenas com ventiladores, água morna para beber, poeira, barulho, proibição de ir ao banheiro, não aceitação de atestados médicos, obrigação de trabalhar aos sábados, produção acima das condições físicas e, como se não bastasse, humilhações, xingamentos, deboches e até castigo no canto da parede.
 
E tudo isso em pleno século 21. Os mesmos problemas do início da industrialização ainda presentes. A diferença é que agora as empresas faturam e lucram como nunca antes na história do capital e do trabalho no país. O que a gente se pergunta é: até quando a corda aguenta sem arrebentar? O ano de 2013 começou tenso, com um expressivo número de pedidos de demissões, decorrentes dos baixos salários pagos aos trabalhadores do setor. Quem não saiu decidiu reagir diante de tanta injustiça e violação de direitos humanos e trabalhistas.
 
Gildo Antônio Alves
Presidente do STIVestuário de Jaraguá do Sul e Região

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Pratos cuspidos e trilhos entalados

27/02/2013

O governo vai em romaria aos grandes centros financeiros mundiais para atrair investidores interessados em construir ferrovias, estradas, portos e aeroportos no país.

Não é um passeio. Pode ser uma cartada decisiva.

A continuidade do desenvolvimento requer algo em torno de R$ 500 bilhões em investimentos para dilatar a fronteira logística de um sistema econômico originalmente projetado para servir a 30% da sociedade.

O Brasil corre contra o tempo, mas o momento é favorável.

O governo oferece projetos de concessão pré-esquadrejados pelo Estado.

O interesse público define as prioridades , prazos, qualidade do serviço e taxas de retorno – atraentes, diga-se, de até 15% ao ano.

Num mundo estagnado pela desordem neoliberal, com juro negativo e dinheiro embolorando no caixa das corporações, pode dar certo.

Mas a romaria que começa nesta sexta-feira não visa apenas o capital externo.

Na verdade, destina-se também a desfechar um safanão no rentismo local.

Em 2012 ele já fora abalroado por um corte de 5,5 pontos na taxa da Selic.

Dilma roçou baixo o pasto gordo da renda fixa, livre, leve e líquida propiciada pelos títulos públicos.

Ainda assim a manada hesita.

Resiste em migrar dos piquetes de engorda de curto prazo para canteiros de obras de longo curso.Mesmo com taxas de retorno maiores que a do juro real da dívida pública.

A relutância não é totalmente espontânea.

Anima-a a lira musical conservadora que sassarica dando voltas no salão, a embalar expectativas de que o Brasil de Dilma vai acabar na próxima curva.

A estratégia tem lógica.

Trata-se de engessar a economia em um imenso gargalo de infraestrutura, capaz de emprestar alguma relevância ao discurso do senhor Neves, em 2014.

O governo tenta contornar a arapuca trazendo a concorrência do investidor estrangeiro para atiçar o investimeto local.

Mas não é o único obstáculo que enfrenta.

O país que pretende construir 10 mil kms de ferrovias nos próximos anos não dispõe de uma única fábrica de trilhos para atender a demanda prevista.

O colapso dos trilhos, curiosamente, não integra os hits da lira musical conservadora.

De todos os colapsos alardeados pelas manchetes nos últimos meses, o dos trilhos é o mais palpável.

Não como ameaça.

É a realidade palpitante dos dias que correm.

Um trecho de 600 km da Ferrovia Norte-Sul, que ligará as cidades de Ouro Verde (GO) e Estrela D"Oeste, em São Paulo, em construção pela Valec, está com as obras prestes a parar.

Por falta de trilhos, informa o insuspeito jornal Valor Econômico.

Que a fuzilaria midiática não se debruce sobre esse férreo gargalo causa espécie.

O Brasil, ao lado da Austrália, é o maior exportador de minério de ferro do mundo.

Não qualquer minério.

A mina de Carajás, no Pará, concentra a maior reserva de ferro de alto teor do planeta. Bom para fazer o aço requerido por uma laminadora de trilho.

Trata-se de uma reserva nuclear rodeada por um imenso estoque de manganês, além de ouro, dez jazidas de cobre e quatro de níquel.

Carajás, que fica próximo a Serra Pelada, tem fôlego para cerca de quatro séculos de exploração.

O paradoxo não fica nisso.

A China compra 70% do minério de ferro embarcado pelo Brasil.

E o país importa da China cada centímetro de trilho de aço de que necessita.

Quando há problema com as importações, como agora no caso da Valec, o comboio descarrila.

Como entender que o senhor Neves, seus padrinhos de partido e os embarcados da mídia não explorem um desconcerto como esse que grita ao sol do meio dia?

Uma rápida recapitulação ajuda a entender o paradoxo dentro do paradoxo.

A Vale do Rio Doce, detentora da jazida de Carajás, foi privatizada por R$ 3,3 bilhões, em 1997 no governo FHC --com o empenho firme de Serra, gosta de contar o ex-presidente tucano.

Um trimestre padrão de lucro da empresa pagaria o valor atualizado da transação.

A Vale exporta, em média, uns US$ 25 bi ao ano em minério de ferro bruto.

Fundamentalmente para a China, no valor médio de US$ 130 a tonelada.

O Brasil importou, só em um edital de compras, em 2010, para citar um exemplo, 244,6 mil toneladas de trilhos.

Fundamentalmente da China e secundariamente do leste europeu.

Preço médio: US$ 864 a tonelada.

Quase sete vezes o valor do minério bruto embarcado.

Durante seus dois governos, Lula insistiu inúmeras vezes, em público e em encontros privados, para que a Vale investisse em siderurgia e beneficiasse o minério brasileiro.

Transformando-o em trilhos.

Seus apelos foram recebidos com estupefação pela mídia sempre ciosa dos interesses superiores dos acionistas, em relação às necessidades secundárias do país.

E tratados com senhorial indiferença pelo presidente executivo da Vale, o tucano Roger Agnelli, que dirigiu a empresa de 2001 a 2011, por indicação dos acionistas privados, conforme reza o esperto escopo da privatização.

Uma laminadora de trilhos adquire escala econômica a partir de 500 mil toneladas ano de produção.

A demanda do país chegou a 496 mil toneladas em 2010 .

Ou seja, antes de deflagrar os planos que agora projetam o maior investimento ferroviário dos últimos 40 anos.

O Brasil nem sempre foi assim tão paradoxal.

Foi preciso empenho para chegar onde chegamos.

Em 1996, um ano antes de privatizar a Vale do Rio Doce , o governo Fernando Henrique Cardoso desativou também o laminador de produção de trilhos da Companhia Siderúrgica Nacional.

A CSN criada por Vargas.

O tucano que prometeu enterrar o ciclo Vargas fez barba e bigode.

Entregou o minério bruto.

E inviabilizou a agregação de valor local.

Não foi um plano demoníaco.

Foi a pacífica convicção anti-desenvolvimetista na complementariedade dos livres mercados.

Movida por uma fé esférica nas vantagens comparativas 'naturais' --que a história não tem direito de contrariar, como Vargas o fez.

Ao mandar Vargas e o desenvovimentismo às favas, o ciclo tucano definiu que cabe ao Brasil fazer o que sabe melhor: raspar Carajás até o fundo do tacho.

Abastecer o mundo.

E importar o que for preciso.

Acionistas da Vale nunca reclamaram dessa lógica.

Nem a mídia que agora fuzila a Petrobrás, pelos índices de nacionalização impostos às encomendas de equipamentos.

Nem o colunismo que ecoa a 'pátria dos acionistas', inconformado com o desvio de dividendos da estatal para a 'irrealista' meta de construir quatro refinarias --e ainda por cima, uma delas com a Venezuela-- que agreguem valor ao pré-sal.

Enquanto comandou a Vale, com a cobertura dos acionistas privados, da mídia amiga e dos tucanos, Roger Agnelli jamais permitiu tamanho disparate.

Foi assim que seu nome foi alçado à galeria dos melhores CEOs do planeta.

O seleto grupo de ‘matadores’ de um capitalismo reflexo, rapinoso e imediatista, em que as coisas dão certo quando tudo dá certo.

Quando dá errado, como na crise de 2008, a Vale, de Agnelli, foi a primeira empresa brasileira a baixar o porrete grosso: demitiu 1.300 operários numa tacada.

A Petrobrás não demitiu ninguém. E engoliu um congelamento estratégico do preço da gasolina, martelado como escândalo pelo jornalismo especializado no direito dos acionistas graúdos.

O herói pró-cíclico consagrou-se assim.

Esburacando o país para saciar a fome das siderúrgicas internacionais.

Graças a sua resistência, a obra tucana de privatizar o subsolo e esfarelar a superfície industrial manteve-se intacta por uma década.

Um ciclo de fastígio da república dos dividendos.

Hoje o Brasil é um paradoxo mineral: exporta ferro e vive sob a ameaça de um colapso na oferta de trilhos.

O governo do PT teve tempo.

Poderia ter montado uma laminadora estatal de trilhos, por exemplo. Por que não o fez?

O governo errou.

Mas a mesma mídia que agora retrucará assim – não sem razão – seria a primeira a disparar alarmes e sinalizadores contra 'o estatismo ineficiente e empreguista' do PT.

Ou não é exatamente como agem hoje em relação à Petrobrás e ao pré-sal?

FHC reclama que Dilma cospe no prato fino que os seus oito anos de governo legaram ao país.

O colapso dos trilhos revela a ponta da gororoba, o imenso angu de caroço acumulado sob a película do caviar.

Escravidões

Jacques Gruman

27/02/2013


Fiquei decepcionado com as declarações de Spike Lee sobre o último filme do Quentin Tarantino, ‘Django livre’. O filme é tudo, menos um desrespeito ao sofrimento dos milhões de negros traficados para os EUA nos séculos 18 e 19.
Data: 25/02/2013
Sou viciado em alguns filmes. Um deles é ‘O plano perfeito’, dirigido pelo Spike Lee. Perdi a conta de quantas vezes o assisti, é um fascínio renovado. Tem um ingrediente fundamental para qualquer bom filme: saber contar uma boa história. Não basta, claro, mas é indispensável. Posso, até, discordar veementemente de certas obras, mas admito que, abrindo mão do sectarismo, a fruição estética pode romper muros ideológicos. É o caso, por exemplo, de Leni Riefenstahl, espécie de musa cinematográfica do III Reich. O conteúdo de suas peças de propaganda nazista é desprezível, mas ela revolucionou técnicas de filmagem e, por isso, não pode ser ignorada.

Fiquei decepcionado com as declarações de Spike Lee sobre o último filme do Quentin Tarantino, ‘Django livre’. Lee disse que o filme é um desrespeito a seus ancestrais, que a escravidão nos Estados Unidos não foi um faroeste italiano. Surpreendentemente, tirou essas conclusões sem assistir ao filme. Ou seja: não vi e não gostei. Desonestidade intelectual. O último Tarantino é tudo, menos um desrespeito ao sofrimento dos milhões de negros traficados para os Estados Unidos nos séculos 18 e 19. Trata-se de um grande filme, com sutilezas e ótimas sacadas. Lá está, gritante, a impressão digital tarantiniana. Não é, entretanto, um documentário, nem pretende contar uma história linear da escravidão. Talvez tenha sido esse o grande equívoco de Spike Lee, que chegou a declarar que não há possibilidade de brancos compreenderem em profundidade a história dos negros. Seriam, portanto, incapazes de filmá-la. Pressionou Hollywood para que Norman Jewison, diretor respeitado e com filmes anti-racistas no currículo, não fosse escalado para dirigir Malcolm X, em 1992. Foi bem sucedido. Adivinhem quem ficou com a direção ? O próprio Lee.

Há muitas formas de se escaldar um gato. Grandes tragédias podem ser narradas de formas muito diferentes. Uma obra seminal como ‘Shoah’, do francês Claude Lanzmann, narra o genocídio dos judeus na 2ª Guerra Mundial sem mostrar uma única cena chocante. O assombro vem das palavras, dos gestos, dos silêncios, dos descampados, das narrativas crepusculares. A escravidão nos Estados Unidos foi, como todas as outras formas de exploração de trabalho escravo, uma abominação, usada como forma histórica de acumulação de capital. Em 1790, a economia norte-americana tinha base agrícola, e o algodão era uma das joias da coroa. Naquele ano, produziram-se mil toneladas no sul, maior região produtora. Setenta anos depois, a produção pulou para 1 milhão de toneladas. Sintomaticamente, no mesmo período o número de escravos foi de 500 mil a 4 milhões. Todo um sistema de repressão, física e ideológica, garantiu este sistema de exploração. Castigos desumanos (respaldados por autoridades clericais, que afirmavam que Deus estava de acordo com o que acontecia), intimidação armada e preconceito racial eram os muros reais e virtuais que cercavam o cativeiro. Houve revoltas, a maior em New Orleans, em 1811. Foi sufocada pela ação conjunta do exército e de milícias armadas.

Tarantino certamente conhece essa história e a contou à sua maneira. Falei em sutilezas? Vamos lá. A dupla central de protagonistas é formada por um alemão, caçador de recompensas, e um escravo negro. Sócios improváveis se déssemos um salto de poucas décadas adiante, quando a Alemanha foi varrida por uma tsunami racista. A surpresa, ou sacada se preferirem, avança para uma cena onde um fazendeiro sádico manda cachorros estraçalharem um ‘mandingo’ fugitivo, na frente do alemão e seu sócio negro. A cena horroriza o europeu e o fazendeiro sorri, perguntando ao negro se seu sócio não estava passando bem. A resposta é navalha pura: “Não é bem isso. É que ele ainda não conhece os americanos”. Selvageria em pequena escala que, hiperbolicamente, a história norte-americana multiplicaria em guerras imperialistas e grandes banhos de sangue. E era o alemão que não suportava a carne humana cortada pelos dentes caninos... Coisas da Usina de Sonhos. A fazenda da tortura e do desrespeito se chamava Candyland, Terra do Doce. Tarantino, que não é tolo, sabe que ditadores e assassinos gostam de esconder seus crimes sob nomes de fachada. No portão do campo de extermínio de Auschwitz estava escrito Arbeit macht frei (o trabalho liberta). A única liberdade dos que chegavam saía como fumaça nos fornos crematórios.

Outra ousadia é a presença de um negro adesista. O que se compõe com o patrão branco, a quem idolatra. Trai os escravos, ajuda a castigá-los, ganha migalhas. No mundo preto ou branco – sem segundas intenções! -, todo mundo é bom ou mau, esse tipo de personagem não caberia. Riefenstahl não mostraria um nazista ao menos hesitante. Eram todos heróis abençoados pelo Walhalla. Nenhum filme da era do realismo socialista mostraria um pioneiro ou operário em dúvida sobre nada. A vida não é assim. Essas fantasias são perigosas e Tarantino soube driblá-la sem caricaturas.

Alguém disse que ‘Django livre’ e ‘Bastardos inglórios’ são “direitos de resposta” dos massacrados. Com a licença poética permitida pelo cinema e escrachadamente sem compromisso com verdades acadêmicas. Cada um que olhe à sua maneira. Em outro contexto, filmes como ‘A vida é bela’ e ‘O trem da vida’, com foco no Holocausto, receberam críticas injustas de membros mal-humorados de comunidades judaicas. Seu crime? Não apelar para narrativas lineares, repetitivas, chorosas, convencionais, da matança dos judeus durante a era nazista. Tem muita gente que ainda sonha com versões unânimes. Comportamento de manada. A imaginação arromba essa pretensão descabida.

Termino com uma história verídica, espelho do racismo “cordial” do dia-a-dia carioca (brasileiro?). Um motorista de táxi aguarda passageiros. Aproxima-se uma senhora muito bem vestida, com um cachorrinho no colo. Dirige-se ao taxista e abre a porta do carro. Alertada pelo motorista de que era proibido levar animais no carro, ela se revolta e, exaltada, diz: “Pois fique sabendo que meu cachorro é limpinho, aliás muito mais limpo do que você”. O taxista, de bate-pronto: “Desculpe, mas eu não me referi ao cachorro. É que eu não transporto vacas”. Em tempo: o taxista era negro.

Hora de aumentar o salário mínimo


http://www1.folha.uol.com.br/colunas/paulkrugman/1232643-e-hora-de-aumentar-o-salario-minimo.shtml

Greve dos portuários e o ódio da mídia

Altamiro Borges A greve dos portuários na sexta (22), que mobilizou cerca de 30 mil operários em 36 portos de 12 Estados, fez com que o governo recuasse na sua posição de acelerar a aplicação da Medida Provisória 595, que cria um novo marco regulatório para o setor. Após reunião em Brasília, os Sindicatos anunciaram o fim imediato da paralisação. Em troca, o governo se comprometeu, finalmente, a negociar alguns pontos polêmicos do MP. A mídia patronal, que destilou ódio contra os grevistas, não deve ter gostado do desfecho.
Segundo relato do jornal O Globo do dia 25, o governo decidiu “suspender as multas aos sindicatos e garantiu que não fará movimentos para acelerar o trâmite da MP no Congresso, interromperá o processo licitatório concedendo áreas à iniciativa privada e não editará decretos regulamentando a MP até 15 de março, quando os dois lados esperam chegar a um acordo’. A gente tem que ter humildade de dizer que precisa conversar e abrir o leque da negociação’, afirmou o José Leônidas Cristino, da Secretaria Especial de Portos”.
O governo alega que a Medida Provisória visa modernizar os portos. Já os Sindicatos afirmam que o projeto acelera a privatização deste setor estratégico, beneficia as multinacionais e vai gerar desemprego. “Do jeito que está redigida, a MP prejudica frontalmente os interesses dos trabalhadores e, consequentemente, do povo brasileiro”, ataca Wilton Barreto, presidente da Federação Nacional dos Estivadores. No outro extremo, Gerdau, Cargill e outras corporações elogiaram a MP e apresentaram propostas bilionárias de portos privados.
Neste conflito de interesses, a mídia privada não vacilou em defender o lucro do capital e atacar a luta dos trabalhadores. Em editorial, o Estadão criticou o “mau uso da força” – numa crítica à Força Sindical, que liderou a resistência dos portuários. Para o jornal da famiglia Mesquita, que historicamente sempre satanizou as greves operárias, o governo não deve “se render às ameaças da Força” e deve acelerar a MP, “que tem tido o apoio da maioria das organizações empresariais” interessadas em “reduzir os custos operacionais”.
No mesmo rumo, o editorial intitulado “Abertura dos portos”, a Folha afirmou que a mobilização sindical visa "manter a reserva de mercado para contratar mão de obra, o que anularia a boa iniciativa liberalizante do Planalto”. O jornalão, que faz oposição aberta ao governo, até elogiou “a louvável iniciativa da presidente Dilma Rousseff de abrir, ainda que parcialmente, o setor portuário ao capital privado e à concorrência”. Para a famiglia Frias, outra inimiga histórica da luta trabalhista, a resistência portuária é um “atraso”.
Aos jornalões conservadores se somou a senadora Kátia Abreu, presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). Segundo o jornal Valor, ela comparou o “movimento grevista às invasões do MST”. A ruralista defende a MP por motivos óbvios: a chamada “modernização dos portos” serve aos interesses dos barões do agronegócio, favorecendo as exportações. Quanto aos trabalhadores – ou escravos? –, pouco importa! Nestas horas, latifundiários, empresários e a midiazona se unem contra o trabalho e têm pressa!
Altamiro Borges é jornalista, dirigente do Partido Comunista do Brasil e presidente do Barão de Itararé

A inflação como pretexto para aumentar a taxa de juros

J. Carlos de Assis

27/02/2013



Nosso problema essencial não é inflação, mas um crescimento medíocre. A grande falha de política econômica deste governo é confiar em excesso no desejo ou na capacidade do setor privado de investir, abrindo mão do papel essencial do Estado nessa área.
Data: 20/02/2013
Será um erro elevar a taxa básica de juros a pretexto de combater a inflação. A alta de preços que vem sendo observada na economia deve-se a um aumento de demanda que nada tem a ver com a taxa básica de juros, associado a uma queda na produção de produtos agrícolas de alto consumo, nos dois casos refletindo efeitos de uma correta política de redistribuição de renda em favor dos menos favorecidos. Comparada à de 2011 (6,5%), houve de fato no ano passado, a despeito da queda da taxa de juros, um significativo declínio da inflação (5,84%).

Por que, então, a insistente pressão do “mercado”, através de seus porta-vozes na mídia, bramindo contra a inflação e pedindo mais juros, como se estivéssemos à beira de um descontrole total de preços? É muito simples: para subir a taxa de juros serve qualquer pretexto. É espantoso o fato de que os economistas de banco e seus asseclas são incapazes de reconhecer que a inflação anual caiu, remetendo-se exclusivamente ao centro da meta – um centro que, por ser um centro de uma banda estimada, não significa um objetivo fixo.

Há muitas causas para a inflação, desde uma retração da oferta a um total descontrole fiscal em situação de utilização da plena capacidade produtiva na economia. A causa teoricamente menos relevante, não obstante ter sido a pedra angular da doutrina monetarista, é a que atribuiu à política monetária (elevação da taxa básica de juros e contração geral do crédito) a função exclusiva de controlar a alta dos preços. O próprio Milton Friedman, diante de fatos contrários, teve de recuar de seus princípios doutrinários.

Veja-se a atual situação norte-americana: com taxa básica de juros de zero por cento e expansão infinita do crédito (quantitative easing), os Estados Unidos deveriam estar mergulhados em inflação, e não em risco de deflação. O mesmo se pode dizer da área do euro (0,5%) e da Inglaterra (0%). Isso significa que a política monetária não tem em geral nenhuma influência sobre a média ponderada dos preços, seja para subir, seja para descer. Só em condições muito especiais ela tem relevância, por exemplo, numa situação de colapso total do sistema fiscal. Nesse caso, porém, se tem hiperinflação.

Por que, no Brasil, temos uma inflação ainda elevada em termos de comparação internacional? A razão principal é a efetividade e a memória da indexação dos preços que, depois de décadas de hiperinflação e de vários planos econômicos, ainda persiste. Um caso notório onde a indexação persiste são os preços dos serviços públicos privatizados. O governo FHC não teve coragem de introduzir o princípio da atualização eventual de preços de serviços pelo custo preferindo a fórmula simples da indexação. Isso contaminou e contamina outras áreas.

Voltemos, porém, à inflação de 2012: um dos maiores aumentos de preços foi o de serviços de empregados domésticos (12,73%), o qual teve o mais destacado peso individual no índice geral (0,45 ponto percentual). Sem esse aumento, a inflação teria ficado em pouco mais que 5%, bem perto da meta. Pergunta-se: em que medida a elevação da taxa básica de juros poderia ter contribuído para um aumento menor de salários dos trabalhadores domésticos? Ou das costureiras (7,42%)? Ou das manicures (11,73%)? Ou das cabeleireiras (6,8%)? Ou ainda dos hotéis (9,39%), das excursões (15,25%) ou dos cigarros (25,48%)?

Na verdade, ao longo de 2012, o grupo alimentação e bebidas, o de maior peso no IPCA, teve um aumento de 9,86%, contra 7,18% em 2011. O significado disso é muito simples, nada teve a ver com taxa de juros. Deveu-se a problemas de safra agrícola, uma terrível e prolongada seca no Nordeste além de desastres climáticos no Sul. Graças à civilizada política de distribuição de renda monetária do governo milhões de trabalhadores nordestinos e do Sul, mesmo não tendo podido produzir, puderam consumir. E é esse consumo, sem equivalente produção, que pressionou em parte os índices de preço do grupo alimentação.

É evidente, insista-se, que isso nada tem a ver com a taxa básica de juros. Se quiserem acusar o governo de contribuir com a inflação, que busquem outra desculpa. Por exemplo, que exijam, abertamente, o fim da política de distribuição de renda representada pela política de valorização do salário mínimo, de renda mínima vitalícia, de bolsa família etc. Que defendam abertamente um recuo nos índices civilizatórios que conseguimos nesses últimos dez anos para cairmos de novo na cantilena ideológica da privatização, do mercado auto-regulado e do Estado mínimo.

Nada disso implica o reconhecimento de que a política macroeconômica segue sem falhas. Nosso problema essencial não é inflação, mas um crescimento medíocre. Nesse contexto, aceitar as pressões para aumentar a taxa de juros é um disparate. A grande falha de política econômica deste governo é confiar em excesso no desejo ou na capacidade do setor privado de investir, abrindo mão de um papel essencial do Estado em economias em desenvolvimento, que é liderar o processo de crescimento, inclusive privado, mediante amplos investimentos públicos. Isso, sim, é o que está faltando para o Brasil: conciliar crescimento com desenvolvimento social.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Documentário rápido sobre a indústria da alimentação


http://player.vimeo.com/video/57126054#at=0

A Palestina vai ao Oscar. E é detida no aeroporto



Baby Siqueira Abrão,
Jornal Brasil de Fato - de São Paulo (SP) - 21/2/2013

Emad Burnat, diretor de "5 Broken Cameras" [5 câmeras quebradas], filme indicado ao Oscar de melhor documentário estrangeiro, foi detido na noite de 19 de fevereiro ao desembarcar no aeroporto de Los Angeles, Califórnia, para participar da festa do cinema de Hollywood. Ele, a esposa Soraya e o filho Gibril, de 8 anos – que também participam do filme –, foram levados para uma área fechada nas dependências do aeroporto e submetidos a interrogatório. Segundo as autoridades de imigração, Emad não tinha em seu poder o “convite apropriado para o Oscar”, seja lá o que isso for.
Emad enviou uma mensagem, pelo celular, a Michael Moore, o polêmico documentarista de "Tiros em Columbine", "Fahrenheit 11 de setembro" (filme que questiona a versão oficial do atentado ao World Trade Center) e um dos diretores da Academia de Hollywood. Moore denunciou a detenção a seus 1,4 milhão de seguidores no Twitter e acionou o pessoal da Academia, que por sua vez contatou advogados para cuidar do caso. “Pedi a Emad que repetisse meu nome várias vezes aos oficiais da imigração e que lhes desse meus números de telefone”, disse Moore. “Parece que eles não conseguiam entender como um palestino podia ter sido indicado ao Oscar”, completou, irônico.
Moore também deixou claro que faria o que estivesse a seu alcance para impedir a deportação que ameaçava a família Burnat. E foi bem-sucedido, porque uma hora e meia depois eles foram libertados. “Mas só poderão ficar em Los Angeles uma semana, até o Oscar”, esclareceu Moore. E, de novo com ironia, acrescentou: “Bem-vindos aos Estados Unidos!”
Para Emad, a detenção não é nenhuma novidade. “Quando se vive sob ocupação militar, sem nenhum direito, esse é um acontecimento diário”, declarou.

Em cena, a ocupação militar da Palestina
     
      No documentário, Emad mostra câmeras destruídas - Foto: Reprodução
O filme "5 Broken Cameras" é o resultado de sete anos de trabalho de Emad, que comprou a primeira câmera quando Gibril nasceu e passou a registrar tudo o que acontecia em sua vila natal, Bil’in, na Cisjordânia, sob ocupação militar de Israel. Ajudado pelo israelense Guy Davidi, que esteve ao lado da resistência de Bil’in desde os primeiros dias, foi responsável pelo pós-roteiro de "5 Broken Cameras" e figura como codiretor, Emad fez um documento fundamental para a compreensão, pelo público externo, do cotidiano palestino sob ocupação. O título do filme faz referência às cinco câmeras que o exército israelense inutilizou ao atingi-las com tiros. Numa dessas ocasiões o equipamento salvou a vida do diretor – a câmera deteve a bala atirada na direção da cabeça de Emad.

Cineasta por acaso – e por necessidade
Emad Burnat nunca pensou em se tornar cineasta. Foi a necessidade de registrar a ocupação – para proteger os vizinhos, pois os soldados, receosos de um dia enfrentar o Tribunal Penal Internacional, evitam agir com muita violência diante das câmeras –, de mostrar ao mundo, pela internet, a realidade na Palestina, até poucos anos atrás oculta pela narrativa sionista, e de ter provas para apresentar aos tribunais de Israel, aos quais o exército conta histórias implausíveis mas levadas a sério, que levaram Emad a filmar.
Ele comprou sua primeira câmera em 2005, ano do nascimento de Gibril, para gravar seu crescimento e a vida em família. Mas era impossível limitar-se a temas domésticos numa vida sob ocupação militar. As incursões noturnas dos soldados, os ataques aos moradores durante as manifestações não violentas, as prisões, as invasões dos colonos, a construção do primeiro muro e seu desmantelamento em 2011, bem como a execução do segundo muro, tudo era muito impactante no cotidiano de Bil’in e merecia ser registrado.
Essa opinião era compartilha por Guy Davidi, professor de cinema, que em 2005 passou a ir com frequência à vila palestina e chegou a morar lá por alguns meses, para sentir como era viver sob ocupação. Guy produziu alguns curtas sobre Bil’in, onde filmou, entre 2005 e 2008, "Interrupted streams" [Fluxos interrompidos], sobre o confisco das fontes de água palestinas por Israel. Muitas vezes Emad e Guy filmavam juntos as manifestações, os ataques dos soldados, as detenções. Corriam os mesmos riscos. Tornaram-se amigos.
Foi ao longo desses anos que Emad começou a pensar em reunir seu material num longa-metragem sobre a resistência em Bil’in. Estimulado pela família, pelos amigos e por Guy, ele conseguiu tocar o projeto. Só não esperava o sucesso que se seguiu ao lançamento. Cineasta por intuição, Emad ganhou o respeito e a admiração de seus pares ao redor do mundo.

Referência ao Brasil e vários prêmios
Uma das cinco câmeras quebradas exibe um adesivo da bandeira brasileira, símbolo também presente na porta da casa da família Burnat, em Bil’in – um modo de demonstrar o carinho que eles sentem por nosso país. Soraya, esposa de Emad, é palestina criada no Brasil. O casal e os filhos mais velhos falam um português impecável e sem sotaque.
"5 Broken Cameras" é o primeiro filme palestino a concorrer a um Oscar. Além de muito elogiado pela crítica, vem tendo uma trajetória de sucesso em todo o mundo. Em 2012, foi indicado para o Asian Pacific Screen Award e ganhou o prêmio de melhor documentário no Jerusalem Film Festival; o de melhor diretor de documentário no Sundance (também foi indicado para o Grande Prêmio do Júri desse festival), nos Estados Unidos, e o Busan Cinephile, do Busan International Film Festival, da Coreia. Em 2011 recebeu o Prêmio Especial do Júri e o Prêmio Especial do Público no International Documentary Film Festival Amsterdam (IDFA), na Holanda. A. O. Scott, crítico do The New York Times, considerou-o uma “comovente e rigorosa obra de arte”.
Ele tem razão. No documentário, com sensibilidade, Emad funde sua vida e a de sua família com a história da ocupação de Bil’in. É uma história comum à maioria dos milhões de palestinos que nasceram nos hoje dezenas de vilarejos – eram mais de 500 antes que os sionistas os tomassem à força, nos anos 1940 – que circundam as 11 cidades da Cisjordânia, compondo as regiões distritais daquela parte do Estado da Palestina.
Com texto de Guy Davidi e narrado por Emad, o filme nos conduz pelas belas paisagens de Bil’in, mostrando a chegada dos agrimensores israelenses para a medição das terras que seriam confiscadas; as reuniões entre os moradores e o pessoal do grupo Anarquistas Contra o Muro, de Israel, que conseguiu o mapa com o traçado do muro e se uniu aos bilainenses para boicotá-lo; os primeiros enfrentamentos com o exército israelense; as prisões, a progressão dos desafios e da violência; a consolidação da resistência; e o apoio internacional à luta não violenta de Bil’in.
Há cenas geniais, como a do grupo de moradores que barra o avanço dos soldados na área urbana da vila com instrumentos de percussão improvisados, numa “bateria” ruidosa e criativa. Há também cenas difíceis, em que Emad se vê obrigado a filmar a prisão dos irmãos e de um vizinho, um menino; e cenas trágicas, como o assassinato de Bassem Abu-Rahmah, o Fil, até aquele momento um dos líderes da resistência e um dos protagonistas do filme. A sequência é dolorosa, embora o público seja poupado das tomadas mais dramáticas.
     
      Filho de Emad entrega um ramo de oliveira a um soldado israelense
O documentário leva o público a participar do cotidiano de Bil’in e a vivenciar um pouco do que significa estar submetido a uma ocupação militar. Trata-se de documento histórico, denúncia viva dos abusos cometidos pelo exército sionista. Por isso mesmo, a cena em que o pequeno Gibril, mal se sustentando em seus primeiros passos, oferece um ramo de oliveira a um dos soldados israelenses – que o aceita, com um sorriso culpado e sem jeito – surpreende e enternece. Num momento assim não há como deixar de questionar o mal que os sionistas têm feito aos seres humanos que vivem de um lado e de outro do muro. Não fossem eles, provavelmente palestinos de todas as religiões teriam continuado a conviver  em harmonia na Palestina histórica. Os inimigos e a discórdia vieram de fora. Será possível neutralizá-los e resgatar a antiga harmonia, dessa vez juntando ao antigo grupo os cidadãos de Israel, como propõem palestinos e israelenses que defendem a existência de um único Estado, democrático e secular, com direitos iguais para todos?

O impacto nos jovens de Israel
É difícil responder a essa indagação sem levar em conta as alianças do sionismo e seu papel decisivo nas finanças internacionais, na indústria bélica e na tecnologia nuclear. O movimento praticamente domina os setores estratégicos sobre os quais se desenrola o teatro do mundo. É ele que cuida do caixa, do lucro, da produção e do roteiro do espetáculo. Por isso, o combate não se restringe à ação dos sionistas na Palestina. Ele se espalha cada vez mais, controlando governos, territórios e ramos de atividades nos cinco continentes.
Mas é em Israel que seu controle se estende a toda a sociedade. Lá, o sistema educacional garante apoio e submissão aos princípios sionistas nesta e nas futuras gerações. Assim, quem nasce em Israel aprende, desde a infância, que os palestinos são “árabes que vivem em território israelense” – e inimigos. A maior parte dos livros didáticos faz pouca referência à Palestina – nos mapas, por exemplo, Cisjordânia e Gaza são mostradas como território de Israel – e a sua história. A grande maioria dos jovens israelenses não sabe que seu país ocupa outro, e tem de seu exército uma visão heroica e romântica, fabricada pela propaganda sionista.
Contribui para essa ilusão um programa muito comum nos feriados e nos fins de semana em Israel: os pais costumam levar os filhos pequenos a locais onde são expostos equipamentos de guerra, que as crianças podem experimentar, e veículos nos quais elas entram e fingem controlar. Tudo sob o olhar complacente da família e diante das explicações de jovens soldadas e soldados. Para entender como essa indústria da violência funciona, assista ao vídeo produzido pelo israelense Itamar Rose.
Não é de admirar, portanto, que as crianças de Israel desenvolvam a ideia de que a solução de seus problemas – ou daquilo que lhes é ensinado como “problema” – passa pela via militar. Foi para desfazer essa crença que Guy Davidi decidiu mostrar "5 Broken Cameras" a um grupo de jovens em Israel e filmar suas reações. Suas expressões, durante a exibição do documentário, dizem muito sobre a revelação de como é a vida dos palestinos: indicam surpresa, choque, consternação, revolta, compaixão.
     
      Jovem palestino é retirado de sua casa por soldados israelenses
Diante dessa experiência, Davidi resolveu elaborar um projeto maior: levar "5 Broken Cameras" ao público israelense em sessões que permitam reflexões e debates sobre a ocupação, a violência imposta aos palestinos de maneira direta e aos israelenses de modo indireto, o dia a dia dos cidadãos dos dois lados do muro, o próprio muro, o questionamento ao papel do exército e à ideologia dos soldados – que, como eu mesma pude comprovar nas muitas conversas que travei com eles, têm dos palestinos e dos árabes uma imagem deturpada, assimilada em uma existência inteira de educação dirigida e controlada. Conheça a surpreendente experiência de Guy Davidi com os jovens israelenses.
Será que a arte pode promover compreensão e tolerância, aproximando duas populações separadas pela agenda bélica e expansionista das autoridades sionistas? Será que a mudança necessária pode começar da base de ambas as sociedades, as únicas instâncias portadoras de legitimidade para isso? É uma aposta ousada, a dos diretores de "5 Broken Cameras". Aguardemos os resultados.

Quer assistir a 5 Broken Cameras?
A jornalista Baby Siqueira Abrão tem uma cópia do filme para exibir ao público brasileiro, com legendas em inglês. Se você quiser assisti-lo, reúna os amigos e entre em contato pelo e-mail babyabrao@hotmail.com. Ela levará a cópia até vocês, fará a tradução simultânea e, havendo interesse, pode contar sua experiência como correspondente na Palestina e moradora de Bil’in. A exibição, de acordo com pedido expresso de Emad Burnat, é gratuita.
O trailer oficial está aqui: http://www.kinolorber.com/5brokencameras/.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Assange defende aumento massivo de meios de comunicação


Em entrevista à Carta Maior, concedida na embaixada do Equador no Reino Unido, Julian Assange fala sobre seu novo livro, que está sendo publicado no Brasil, e analisa o atual momento da mídia mundial. “O abuso que grandes corporações midiáticas fazem de seu poder de mercado é um problema. Nos meios de comunicação, a transparência, a responsabilidade informativa e a diversidade são cruciais. Uma das maneiras de lidar com isso é abrir o jogo para que haja um incremento massivo de meios de comunicação no mercado”, defende.
Data: 21/02/2013
O fundador de Wikileaks, Julian Assange, recebeu a Carta Maior em um escritório especial que a embaixada do Equador no Reino Unido preparou para que ele converse com a imprensa no momento da publicação no Brasil de seu novo livro “Cyberpunks. A Liberdade e o futuro da internet”. Veste uma camiseta da seleção brasileira, com o número sete e seu nome nas costas: a desenvoltura futebolística combina com seu bom bom humor. O cabelo branco e a pele quase translúcida lhe dá um ar de albino insone, mas os mais de seis meses encerrado nos confins da embaixada e o mais que incerto futuro ante à decisão do governo britânico de não conceder-lhe o salvo-conduto que permitiria que viajasse ao Equador, não parecem pesar muito.

É certo que ele em uma aparentemente merecida fama de recluso e que em seu pequeno quarto na embaixada deve fazer o mesmo que fazia a maior parte do tempo em sua vida livre: ficar grudado em seu computador e na internet. É difícil imaginar a vida de Julian Assange sem a tela do monitor e o ciberespaço. Por isso o livro que começa a ser vendido este mês no Brasil, publicado pela editorial Boitempo, contem algo tão inesperado como a camiseta brasileira: uma visão particularmente cética e mesmo negativa sobre o impacto da internet.



Você fala em seu livro da internet como uma possível ameaça para a civilização. Muitos pensam que a internet é uma arma para o progresso humano que produziu, entre outras coisas, Wikileaks. Sua interpretação não é um pouco pessimista?

Assange: Não resta dúvida que a internet deu poder às pessoas que não o tinham ao possibilitar o acesso a todo tipo de informação em nível global. Mas, ao mesmo tempo, há um contrapeso a isso, um poder que usa a internet para acumular informação sobre nós todos e utilizá-la em benefício dos governos e das grandes corporações. Hoje não se sabe qual destas forças vai se impor. Nossas sociedades estão tão intimamente fundidas pela internet que ela se tornou um sistema nervoso de nossa civilização, que atravessa desde as corporações até os governos, desde os casais até os jornalistas e os ativistas. De modo que uma enfermidade que ataque esse sistema nervoso afeta a civilização como um todo.

Neste sistema nervoso há vários aparatos do Estado, principalmente, mas não unicamente, dos Estados Unidos, que operam para controlar todo esse conhecimento que a internet fornece à população. Este é um problema que ocorre simultaneamente com todos nós. E se parece, neste sentido, aos problemas da guerra fria.

Você é muito crítico do Google e do Facebook que muita gente considera como maravilhosas ferramentas para o conhecimento ou as relações sociais. Para essas pessoas, em sua experiência cotidiana, não importa a manipulação que possa ser feita na internet.

Assange: Não importa porque esta manipulação da informação está oculta. Creio que nos últimos seis meses isso está mudando. Em parte por causa de Wikileaks e pela repressão que estamos sofrendo, mas também pelo jornalismo e pela investigação que está sendo feita. O Google é excelente para obter conhecimento, mas também está fornecendo conhecimento sobre os usuários. Ele sabe tudo o que você buscou há dois anos. Cada página de internet está registrada, cada visita ao gmail também. Há quem diga que isso não importa porque a única coisa que eles querem é vender anúncios. Esse não é o problema. O problema é que o Google é uma empresa sediada nos Estados Unidos sujeita à influência de grupos poderosos. Google passa informação ao governo de maneira rotineira. Informação que é usada para outros propósitos que não o conhecimento. É algo que nós, no Wikileaks, sofremos em primeira mão e que vem ocorrendo com muita gente.



Mas no que concerne o controle do Estado há usos legítimos da internet para a luta contra a pornografia infantil, o terrorismo, a evasão fiscal...

Assange: Indiscutivelmente há usos legítimos e a maior parte do tempo a polícia faz isso adequadamente. Mas nas vezes em que não faz, esses usos podem ser terríveis, aterrorizadores, como está ocorrendo atualmente nos Estados Unidos. É preciso levar em conta que o que chamamos de quatro cavaleiros do apocalipse – a pornografia infantil, o terrorismo, as drogas e a lavagem de dinheiro – são usados para justificar um sistema de vigilância massivo da mesma maneira que usaram armas de destruição em massa para justificar a invasão do Iraque. Não se trata de uma vigilância seletiva de pessoas que estão cometendo um delito. Há uma gravação permanente de todo mundo. Isso é uma ameaça diferente de tudo o que já vivemos antes, algo que nem Goerge Orwell foi capaz de imaginar em “1984”.

No Ocidente, falou-se muito da revolução do Twitter para explicar a primavera árabe. Esse não é um exemplo perfeito do potencial revolucionário da internet?

Assange: A primavera árabe se deveu à ação das pessoas e dos ativistas, desde a Irmandade Muçulmana até outros grupos organizados. A internet ajudou o pan-arabismo da rebelião com pessoas de diferentes países aprendendo umas com as outras. Também ajudou a que Wikileaks difundisse os documentos que deram mais ímpeto ao movimento. Mas se você olha para os manuais dos grupos que coordenavam os protestos, na primeira e última página, recomendavam que não se usasse Twitter e Facebook. Para as forças de segurança as mensagens no Twitter e no Facebook são um documento probatório de fácil acesso para prender pessoas.

O que pode se fazer então?

Assange: A primeira coisa é ter consciência do problema. Uma vez que tenhamos consciência disso, não nos comunicaremos da mesma maneira por intermédio desses meios. Há uma questão de soberania que os governos da América Latina deveriam levar em conta. As comunicações que vão da América latina para a Europa ou a Ásia passam pelos Estados Unidos. De maneira que os governos deveriam insistir que os governos deveriam insistir para que essas comunicações sejam fortemente criptografadas. Os indivíduos deveriam fazer a mesma coisa. E isso não é fácil.



De que maneira um governo democrático ou um congresso pode contribuir para preservar o segredo das comunicações pela internet?

Assange: Para começar, garantindo a neutralidade do serviço. Do mesmo modo que ocorre com a eletricidade, não se pode negar o fornecimento com base em razões políticas. Com a internet não deveria existir essa possibilidade de controlar o serviço. O conhecimento é essencial em uma sociedade. Não há sociedade, não há constituição, não há regulação sem conhecimento. Em segundo lugar, é preciso negar às grandes potências e superpoderes o acesso à informação de outros países. Na Argentina ou no Brasil a penetração do Google e do Facebook é total. Se os parlamentos na América latina conseguirem introduzir uma lei que consagre a criptografia da informação, isso será fundamental.



Temos falado da revolução do Twitter, mas em termos de meios mais tradicionais, como a imprensa escrita ou a televisão, vemos que há um crescente debate mundial sobre seu lugar em nossa sociedade. O questionamento ao poder de grandes corporações midiáticas como o grupo Murdoch ou Berlusconi na Itália e as leis e projetos na Argentina ou Equador para conseguir uma maior diversidade midiática mostram um debate muito intenso a respeito. O que você pensa sobre essas iniciativas?

Assange: Nós vimos em nossa própria luta como o grupo Murdoch ou o grupo Bonnier na Suécia distorceram deliberadamente a informação que forneceram sobre nossas atividades porque suas organizações têm um interesse particular no caso. Então temos, por um lado, a censura em nível do Estado e, por outro, o abuso de poder de grupos midiáticos. É um fato que os meios de comunicação usam sua presença para alavancar seus interesses econômicos e políticos. Por exemplo, “The Australian”, que é o principal periódico de Murdoch na Austrália, vem sofrendo perdas há mais de 25 anos. Como isso é possível? Por que ele segue mantendo esse veículo. Porque ele é utilizado como uma arma para atingir o governo para que este ceda em determinadas políticas importantes para o grupo Murdoch.

O presidente Rafael Correa faz uma distinção entre a “liberdade de extorsão” e a “liberdade de expressão”. Eu não colocaria exatamente assim, mas temos visto que o abuso que grandes corporações midiáticas fazem de seu poder de mercado é um problema. Nos meios de comunicação, a transparência, a responsabilidade informativa e a diversidade são cruciais. Uma das maneiras de lidar com isso é abrir o jogo para que haja um incremento massivo de meios de comunicação no mercado.

Tradução: Katarina Peixoto

A blogueira cubana e o fracasso da diplomacia da desintegração

Não é casual que a blogueira tenha iniciado sua gira pelo Brasil, país que tem participação decisiva no mais importante projeto de infraestrutura em construção em Cuba hoje, o Complexo de Mariel. Será o maior porto de todo o Caribe. Data: 23/02/2013
A gira da blogueira cubana Yoani Sanchez pelo Brasil tem se revelado, até o momento, uma exitosa campanha de ‘over’ exposição midiática dela, numa tentativa de distorcer a gigantesca função histórica libertadora da Revolução Cubana e, também, numa fracassada operação da diplomacia da desintegração. Trata-se de uma ação geopolítica da direita para tentar impedir a crescente presença política de Cuba na América Latina e Caribe por meio de vários projetos de cooperação, mas, sobretudo, pela criação da Celca (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), da qual Cuba é hoje presidente e onde foram derrotados pelos povos da região todos os esforços da agressiva política dos EUA para isolar a ilha caribenha. Começo por reivindicar 1% do espaço midiático dado a ela, para discutir este outro ponto de vista.

Era previsível que a blogueira tivesse ampla cobertura da mídia. Esta cobertura é marcada pela repetição de uma única tese e, na proporção inversa, pela negativa em informar sobre o que é exatamente a realidade Cuba, a começar pela informação de que Cuba exerce a presidência da Celac, o que, para um país que foi bloqueado, expulso da OEA, atacado militarmente pelos EUA, impedido de ter acesso pleno ao sistema financeiro internacional, representa exatamente uma vitória de Cuba e da causa da integração latino-americana e caribenha. Obviamente, representa um fracasso de todos os países imperiais, de seus meios de comunicação e de personagens como Yoani Sanches, que, observa que seu discurso é de absoluta sintonia com os polos mais conservadores da sociedade brasileira, discurso que tem sido derrotado. O discurso dela e da mídia brasileira que o exalta, é o discurso que quer o fracasso da política externa brasileira de prioridade à integração com a América Latina.

Biotecnologia: avanço técnico-científico
Seria muito informativo e educativo para o povo brasileiro se, na mesma proporção do oferecido à blogueira, também fosse dado espaço midiático aos cientistas cubanos para falar como um país pobre, em pouco mais de 50 anos, e sob bloqueio, conseguiu desenvolver um indústria de biotecnologia das mais avançadas do mundo, com medicamentos de eficácia comprovada e sucesso internacional como o Óleo de Schostakovsky ( para a gastrite), o complexo para combater diabetes, a vacina contra o câncer de intestino (um laboratório dos EUA tentou comprar mas foi proibido pelo governo Bush), as vacinas contra a meningite, etc. Antes da Revolução, Cuba sequer possuía indústria farmacêutica, hoje exporta medicamentos, ciência, e médicos.

Países imperiais exportam soldados, armas, intervenções militares. Esta mesma mídia brasileira que é sócia da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa, apoiadora de todas as ditaduras da região), também fez um grande estardalhaço para tentar impedir que o Brasil reatasse relações com Cuba em 1986, sob o Governo Sarney. Na época, o Brasil teve um surto de meningite e esta mesma mídia, que fez uma acirrada campanha para que o Brasil não comprasse as vacinas cubanas contra a meningite. Uma operação econômica e ideológica.

No primeiro caso, o Brasil tinha e ainda tem o seu setor de medicamentos quase totalmente controlado e ocupado por umas poucas multinacionais farmacêuticas, grandes anunciantes desta mídia, ambos lutando para não perder o controle do mercado para as vacinas cubanas, que o governo Sarney acabou importando em grande quantidade, apesar da pressão dos oligopólios. E era também uma operação ideológica, com a intenção de dizer que era impossível que uma ilha pequenina, cercada de hostilidades imperiais por todos os lados, pudesse, com poucos anos de socialização de sua economia, ter alcançado tal êxito técnico-científico, a ponto de transformar-se em exportadora de sofisticados medicamentos, enquanto o Brasil, uma economia muitas vezes superior, era ainda dependente de sua importação.

Sarney e as vacinas cubanasA ruidosa campanha contra as vacinas cubanas na época – questionando até sua eficácia apesar dos reconhecimentos da Organização Mundial da Saúde - era uma desumana tentativa de intimidar o governo Sarney que, não apenas reatou com Cuba, mas começou a realizar um processo de intercâmbio comercial, científico e cultural com a Ilha. Vale lembrar, o ministro da Cultura de Sarney era o inesquecível Celso Furtado... O discurso da mídia então, submisso aos ditames imperiais, queria também impedir a criação do Mercosul, cujo fortalecimento posterior e sua consolidação hoje, é algo que desagrada enormemente aos inimigos da integração, pois é evidente que um Mercosul cada vez mais forte e amplo, com a entrada da Venezuela e, proximamente, da Bolívia e do Equador, representa uma alternativa histórica real aos “Cem Anos de Solidão” de uma América Latina antes submissa e desunida e, agora, em processo de transformação , com governos populares e com uma cooperação cada vez maior com Cuba. Estamos abrindo as páginas dos Cem Anos de Cooperação...

Desintegração e fracasso histórico
A este processo de integração crescente se dirige a passagem da blogueira por aqui e deste ponto de vista, revela-se um enorme fracasso Ela se auto classificou como diplomata popular, mas é fácil perceber tratar-se de uma diplomata da desintegração. O pano de fundo, o que ela e seus patrocinadores visam, é obstaculizar a causa maior de nossas mais importantes lideranças históricas, a começar por Simon Bolívar, José Marti, Tiradentes, Abreu e Lima, Perón, Getúlio Vargas, Che Guevara, hoje continuados, concretamente, pelas políticas de integração implementadas pelos governos de Lula-Dilma, Fidel-Raul, Hugo Chávez, Evo Morales, Pepe Mujica, Nestor e Cristina Kirchner, Daniel Ortega e o recém reeleito Rafael Correa.

Dalai Lama
Personagens como Yoani Sanches são criados em determinados momentos, recebem as condições materiais e financeiras de circulação, publicidade e exaltação, mas produzem, concretamente, poucos resultados práticos. Citemos outro personagem fabricado para uma operação similar contra a Revolução Chinesa: Dalai Lama. Sustentado por anos e anos pelo Departamento de Estado dos EUA, que além do salário, do apartamento onde vive perto do Central Park de Nova York, e de uma jorrante publicação de seus livros, Dalai Lama revela-se um retumbante fracasso. Antes da Revolução Chinesa, o Tibet era um regime feudal e escravocrata. O Brasil não foi o último país a abolir a escravidão, foi o Tibet, e por meio de uma revolução dirigida por Mao-Tse Tung e o Partido Comunista. Antes da vitória socialista, em 1949, a China era conhecida pela espantosa fome que levava milhões à morte a cada ano.

Além disso, havia todo tipo de doenças evitáveis, o povo sequer conhecia médicos. E era possível, nas feiras, comprar animais e mulheres como servas, já que não existiam direitos trabalhistas. Hoje, apesar das inúmeras giras de Dalai Lama pelo mundo, a China é conhecida por lançar uma nave tripulada ao espaço sideral, por ser a economia que mais cresce no mundo, que mais fabrica computadores e turbinas de energia solar, que lança satélites em parcerias com a Venezuela e o Brasil, que legalizou e socializou a acupuntura (antes de Mao era proibida) e que, em parceria com a Rússia e o Iran, está travando os planos da Otan de invadir e esquartejar a Síria. O que se houve falar de Dalai? A notícia mais recente é que ele estaria disposto a dialogar com as autoridades chinesas, contrariando seus patrocinadores. Vai ter que mudar-se do Central Park...

Cuba inclusiva?
A blogueira falou em Brasília que quer uma Cuba mais inclusiva e plural. Se examinarmos a realidade cubana, especialmente as estatísticas elaboradas ou reconhecidas por instituições internacionais como a Organização Mundial da Saúde, a Unesco, a Unicef, a Organizaçao Panamericana de Saúde e se a mídia comercial, que tanta exalta a Yoanis, desse ao povo brasileiro o direito de conhecê-las, ficaria claro que é difícil apontar uma sociedade tão inclusiva como a cubana. Há começar porque não existem crianças vagando pelas ruas, crianças fora da escola, crianças pedindo esmolas, nem crianças trabalhando.

A taxa de mortalidade infantil é INFERIOR àquela registrada nos EUA, onde, aliás, o trabalho infantil está em elevação, o que se agravou enormemente com o desemprego e a crise capitalista por lá, onde só os banqueiros e a indústria bélica foram salvos, como revela o Occupy Wall Street.

Não há um único hospital privado em Cuba, todo o atendimento é gratuito. Isto não é inclusão? Inclusive para os bombeiros e sobreviventes dos EUA que trabalharam nas operações de resgate de corpos dos escombros das Torres Gêmeas, demolidas providencialmente pelos autoatentados de 11 de setembro de 2001. Estes bombeiros e sobreviventes, cidadãos norte-americanos, foram levados a Cuba pelo cineasta Michel Moore, pois não tinham planos de saúde nem tratamento médico nos EUA, onde haviam sido condecorados com heróis. Em Cuba, foram atendidos gratuitamente nos hospitais mais avançados, os mesmo que já trataram, depois da eleição de Chávez, 43 mil cidadãos venezuelanos. Se a blogueira tivesse visitado hospitais no Entorno de Brasília, teria uma ideia concreta do que é realmente a falta de inclusão.

Aliás, se o povo brasileiro pudesse ser informado, massivamente - digamos que 10 % do que a TV Globo mostra de baixarias do Big Brother, onde há z até edificantes concursos de pum - sobre um único relatório da UNICEF em que se afirma que “Existem 200 milhões de crianças desnutridas no mundo hoje. Nenhuma delas é cubana!”, entenderia mais claramente os absurdos ditos por esta personagem.

Bloqueio
Houve um tempo em que os opositores de Cuba, inclusive a blogueira, diziam que o bloqueio dos EUA era apenas uma desculpa de Fidel para desviar a atenção dos problemas internos. Agora, quando o bloqueio recebe múltiplas condenações na ONU, sendo defendido apenas pelos EUA, e por razões óbvias de subordinação pelo Canadá, Israel e um ilha desconhecida do Pacífico, sendo criticado até mesmo pelo New York Times e pela Revista Forbes, a blogueira foi orientada a mudar o discurso e admite ser contrária a esta escandalosa violação dos direitos humanos do povo Cuba por parte da Casa Branca, proibindo à ilha uma simples operação comercial para a compra de aspirinas no mercado norte-americano.

Aliás, ela disse também ser a favor da libertação dos 5 heróis cubanos prisioneiros políticos nos EUA, por trabalharem na prevenção dr atentados terroristas organizados em território da pátria de Jack London. Alertado por Fidel Castro, em carta entregue pelo genial Gabriel Garcia Marques, o presidente Bill Clinton, ao invés de fazer uso das informações para evitar atentados terroristas que estavam e organização, como os de Oklahoma ou os de 11 de setembro de 2001, preferiu prender os cinco cidadãos cubanos.

Aliás, agora que até a blogueira já fala o fim do bloqueio, dando razão ao governo de Cuba, e também a Lula e Dilma que sempre se pronunciam em defesa da posição do governo cubano, vale comparar a situação vivida por Yoani Sanchez - que não está presa, comunica-se com o mundo inteiro a partir de Cuba ou fora dela, viajando por mais de 12 países para criticar a Revolução Cubana - com a situação do soldado norte-americano Bradley Manning, preso e torturado em prisão militar dos EUA, por ter revelado ao mundo, corajosa e generosamente, com a ajuda do Wikileaks, os documentos sigilosos contendo os planos mais sinistros do imperialismo para atacar e desestabilizar vários> países e governos ao redor do mundo. Ou comparar com a situação de Mumia Abu Jamal, jornalista e militante negro, preso no Corredor da Morte, condenado injustamente por um juiz racista que coleciona sentenças de pena de morte especialmente para negros, asiáticos, hispânicos e pobres que vivem por lá. O “delito” de Abu Jamal é escrever com coragem e talento sobre o regime discricionário vigente nos EUA, onde, há pouco, foi proibida a sintonia por satélite de canais de TV do Irã, desmascarando-se, assim, o falso discurso da liberdade de expressão reivindicado pela Casa Branca. Bom, eles já haviam proibido o ingresso de Charles Chaplin por lá...

Medicina e humanismo
Tive a oportunidade de visitar a Escola Latino Americana de Medicina (ELAM), instalada numa antiga base naval desativada próximo a Havana e lá conversei com representantes dos mais de 500 estudantes negros estadunidenses, oriundos dos bairros pobres do Harlen ou do Brooklin. Eles me contaram que jamais teriam a oportunidade de se formarem em medicina nos EUA, sendo muito mais provável, pelas condições precárias de vida que tinham lá, que fossem recrutados pelo narcotráfico e terminassem presos. Aliás, os EUA possuem a maior população carcerária do mundo... Em Cuba, estes jovens estão estudando, gratuitamente, para serem médicos.

Compartilhar o que tem, não o que sobra
Ante aos agressivos ataques do Pentágono e da CIA contra a Revolução Cubana, esta se defende, legitimamente, mas também reage com humanismo, oferecendo aos filhos pobres da pátria de Lincoln a possibilidade de escapar da criminalidade e servirem socialmente ao povo norte-americano, a quem se respeita em Cuba, a ponto que jamais se queimou uma bandeira dos EUA em território cubano. Enquanto a Casa Branca envia terroristas e guerra bacteriológica contra Cuba - como denunciou um ex-ministro da saúde dos EUA - Cuba envia médicos formados para o povo norte-americano! É a este país, que reparte seus modestos recursos orçamentários com outros povos, que a blogueira afirma não ser inclusivo?

Vale lembrar o desastre do Furacão Katrina: enquanto a população negra e pobre estava abandonada em Nova Orleans pelo governo de Bush, Cuba ofereceu o envio imediato de 1200 médicos para salvar vidas ali. Eles ficaram toda uma manhã posicionados no aeroporto de Havana esperando autorização da Casa Branca para embarcarem para os EUA. A autorização nunca veio. E a blogueira, que reivindica uma Cuba inclusiva, não toca no tema.

Cuba plural?Houve um ano, 1984, em que a Unesco reconheceu ter Cuba batido um recorde na publicação de livros, que lá são vendidos a preços de um picolé ou menos. Foram 480 milhões de exemplares publicados naquele ano. Entre estas obras há Guimarães Rosa, com tiragem superior a 150 mil exemplares, quando no Brasil, com um indústria gráfica 50% ociosa, a tiragem padrão é de apenas 3 mil exemplares. Em Cuba há mais pleno acesso à literatura universal, ao cinema internacional, o cinema é uma atividade popular, com ingressos baratos e salas cheias. Já foi produzida em Cuba uma rádio-novela sobre a Coluna Prestes, quando aqui ainda não há sequer projetos para uma grande produção cinematográfica sobre o tema.

Como seria educativo se a presidenta do Instituto do Livro Cubano, Zuleika Romay, uma mulher negra e jovem, pudesse ter 5% do espaço televisivo que foi dado à blogueira para desprestigiar a Cuba, inclusive quando afirmou que concordaria com hospitais e escolas privadas na Ilha, o que revela seu pensamento nada inclusivo, já que serviços privados só são acessíveis a quem paga, e na Cuba atacada pela mídia conservadora, a educação e a saúde são públicas e gratuitas. Milton Nascimento, numa turnê pela Ilha, sentiu-se mal e foi atendido por médicos em seu hotel. Ao final, quis pagar, recebendo como resposta que em Cuba saúde é um direito de todos e que isto não se vende.

Cuba, Brasil e Haiti
Quando a tragédia do terremoto assolou o Haiti - um geólogo cubano havia alertado anos antes que eram altíssimas as probabilidades de um terremoto com epicentro cerca de Porto Príncipe - os médicos cubanos já eram responsáveis há anos, praticamente, pelo o que havia restado de serviço de saúde ali ante tanta miséria construída pelos países imperiais que dão sustentação à blogueira. O Brasil também estava lá, com o maior número de soldados, que também realizam obras de infraestrutura. Mas, a partir do terremoto Brasil e Cuba passaram a colaborar mais centradamente na área da saúde, e, com um financiamento de 80 milhões de dólares do governo brasileiro, foram construídas instalações de saúde para o povo haitiano, no qual trabalham as centenas de cubanos que já estavam lá há anos, juntamente com médicos militares brasileiros. Como parte desta cooperação, além da saúde, o Batalhão de Engenharia do Exército está construindo a única hidrelétrica por lá, além de rodovias e pontes.

Impublicável: cooperação sul-sul-sulEm 2006, a Organização Mundial da Saúde, lançou um SOS Internacional: precisava de produção massiva, a preços baixos, de vacina contra meningite A e C para entregar a 23 países da África, onde vivem 430 milhões de seres humanos. Só uma empresa transnacional fabricava estas vacinas, mas devido à baixa lucratividade, reduziu sua fabricação colocando a África sob o risco de emergência sanitária. Só dois laboratórios públicos atenderam ao chamado da OMS: Instituto Finlay de Cuba e o Instituto Bio-Manguinhos do Brasil. Os dois se associaram para a criação da vacina Vax-MEN-AC, específica para os tipos de meningite que afetam a África. A cooperação Brasil-Cuba permitiu um preço 20 vezes menor do praticado pela transnacional e já foram produzidas e entregues 19 milhões d doses.

Esta é uma notícia impublicável nos grandes meios que abrem todo espaço à blogueira e que hiper divulgam as ações financiadas pela Fundação do Multibilionário Bill Gates, de impacto mínimo, conduzidas por operações de marketing de empresas privadas, aquelas que não se interessaram em atender ao apelo da OMS. Brasil e Cuba, com governos de orientação de esquerda, por meio de laboratórios públicos, fazem mais contra a meningite na África que as transnacionais e a fortuna de Bill Gates. A blogueira não fala nada disso no seu blog, nem nas suas entrevistas, mas pede uma Cuba mais inclusiva e plural.

Cuba, Brasil e Timor Leste
Em visita de trabalho ao Timor Leste, onde a TV Cidade Livre de Brasília e o Comitê de Brasiliense de Solidariedade ao Timor doaram os equipamentos de uma rádio comunitária às organizações educacionais locais, pude visitar, também, o alojamento de 400 médicos cubanos que lá trabalham em solidariedade ao povo maubere. Comentei a visita com o Presidente da República, Ramos-Horta, Prêmio Nobel da Paz, que recebia o Presidente Lula. Ele me contou que ter sido pressionado pelo Embaixador dos EUA lá a não receber os médicos de Cuba, oportunidade em que perguntou ao gringo: “Quantos médicos norte-americanos temos aqui?”. “Só um, o da embaixada!”, respondeu. “Pois então o povo do Timor é muito grato a Cuba e vai sim receber os médicos cubanos”, disse-lhe Horta.

O pensamento da blogueira é bastante sintonizado com o do embaixador gringo e certamente não considera inclusivo que na cooperação Brasil e Cuba, os 600 estudantes timorenses que serão formados em medicina na Ilha brevemente, antes de voltar ao Timor, façam estágio na Fundação Oswaldo Cruz, no Brasil, na área de medicina tropical.

Como se sabe, a cooperação não fica por aí. O Brasil está estudando a contratação de um numeroso contingente de médicos cubanos para, finalmente, levar serviços médicos a todos os municípios brasileiros, o que ainda não ocorre. Isso sem falar dos cerca 800 brasileiros, em sua maioria pobre, inclusive, uma centena de jovens do MST, que lá estão estudando medicina. Gratuitamente, pois Cuba, desde o início de sua Revolução, compartilha não apenas o que lhe sobra, mas o que tem com outros povos.

Complexo de Mariel: integração para todos crescerem. Não é casual que a blogueira tenha iniciado sua gira pelo Brasil, país que tem participação decisiva no mais importante projeto de infraestrutura em construção em Cuba hoje, o Complexo de Mariel. Será o maior porto de todo o Caribe, dinamizando a economia de toda a região, além contar com uma ferrovia, uma rodovia e uma mineradora. Os empréstimos do BNDES são da ordem de 1,2 bilhão de dólares. Desnecessário afirmar que, na prática significa, também, furar o bloqueio dos EUA contra Cuba, indicando apurada visão estratégica de Lula, e, além disso, uma ideia clara do que significa uma integração para que todos os países possam crescer juntos, reduzindo asassimetrias e comprovando a política de que só por meio da integração da América Latina e Caribe é possível constituir uma área alternativa de crescimento com distribuição de renda. A blogueira está na contramão deste projeto e é por isso que foi tratada como um troféu pela mídia oposicionista - e por seus seguidores - que tem visto este projeto ser derrotado nas urnas repetidas vezes, como recentemente no Equador, na Venezuela e na Bolívia, que recém nacionalizou os serviços portuários ante a negativa de investimentos de transnacionais espanholas.

Mandela: devemos o fim do apartheid a Cuba
Foram ouvidos muitos disparates durante a gira da blogueira no Brasil. Algumas manifestações normais e democráticas de jovens e estudantes contra sua presença foram tratadas como se fossem violentas. Nenhum país é mais criticado no fluxo informativo internacional do que Cuba. Mas, o problema não são as críticas, elas são permitidas até à própria blogueira. A questão é a violência com que foi tratada a Revolução Cubana desde o início, sendo obrigada a pagar um preço amargo, com muitas vidas ceifadas em atentados terroristas como o que derrubou o Avião da Cubana de Aviación, sendo seus autores confessos protegidos pelos governos dos EUA.

Mas, entre todos os disparates, o mais surpreendente foi contorcionismo analítico de um editorialista do Estadão que chegou a fazer uma comparação, meio envergonhada é bem verdade, de Yoani Sanchez com Nelson Mandela. Diante do nível desta tentativa absurda de analogia, uma resposta grande com uma página da História. Cuba enviou cerca de 350 mil homens em mulheres para lutar em Angola em defesa da independência do país, invadido pelo exército racista da África do Sul, contando com o apoio dos EUA e com a oferta de Israel para que fosse atirada uma bomba nuclear sobre as tropas cubano-angolanas. A solidariedade cubana escreveu uma página inapagável na história moderna: Cuba foi o único povo a pegar em armas para lutar contra o apartheid, o mais brutal e criminoso regime político-social dos tempos modernos! Quando ocorre a vitória sobre as tropas racistas na Batalha de Cuito Cuanavale, Mandela, ao livrar-se dos 27 anos de prisão, cunhou uma frase que define com a energia de um raio, a função histórica de Cuba: “ A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do Apartheid. Devemos isto a Cuba”.

Diante dos ataques da mídia contra Cuba, Dilma, em Havana, reagiu apontando os telhados de vidro dos que querem ser campeões em direitos humanos mas mantém um centro de torturas em Guantânamo e multiplica o assassinato de civis, inclusive crianças, por meio de seus drones macabros. E o Brasil segue aprofundando sua cooperação com Cuba e consolidando a integração solidária e democrática por meio do Mercosul, da Unasul e da Celac, presidida por Cuba, com sua generosidade e humanismo, e sem a presença arrogante e imperial dos EUA. A diplomata da desintegração, aqui no Brasil, está fadada ao fracasso.

Florestan Fernandes: patrimônio do povo brasileiro

http://youtu.be/BVIsapkW4RE

País de Gigantes - um pouco de Florestan Fernandes

Da Wikipédia


Segundo seus relatos, Florestan Fernandes teve, ainda criança, o interesse pelos estudos despertado, principalmente pela diversidade dos lugares onde passou sua infância. Afilhado de Hermínia Bresser de Lima, filha de Carlos Augusto Bresser, Florestan aprendeu com ela a dedicação aos estudos: "O fato é que embora eu não estudasse organizadamente, pelo fato de ter nascido na casa de dona Hermínia Bresser de Lima aprendi o que era livro, a importância de estudar e com pouco mais de seis anos adquiri uma disciplina." Filho de mãe solteira, não conheceu o pai[1]. Começou a trabalhar, como auxiliar numa barbearia, aos seis anos de idade. Também foi engraxate. Estudou até o terceiro ano do primeiro grau. Só mais tarde, voltaria a estudar, fazendo curso de madureza, estimulado por freqüentadores do bar Bidu, no centro de São Paulo, onde trabalhava como garçom[2].
Em 1941, Florestan ingressou na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, formando-se em ciências sociais. Iniciou sua carreira docente em 1945, como assistente do professor Fernando de Azevedo, na cadeira de Sociologia II. Na Escola Livre de Sociologia e Política, obteve o título de mestre com a dissertação "A organização social dos Tupinambá". Em 1951, defendeu, na Faculdade de Filosofía, Letras e Ciências Humanas da USP, a tese de doutoramento "A função social da guerra na sociedade tupinambá", posteriormente consagrado como clássico da etnologia brasileira, que explora o método funcionalista.
Uma linha de trabalho característica de Florestan nos anos 50 foi o estudo das perspectivas teórico-metodológicas da sociologia. Seus ensaios mais importantes acerca da fundamentação da sociologia como ciência foram, posteriormente, reunidos no livro "Fundamentos empíricos da explicação sociológica"[3]. Seu comprometimento intelectual com o desenvolvimento da ciência no Brasil, entendido como requisito básico para a inserção do país na civilização moderna, científica e tecnológica, situa sua atuação na Campanha de Defesa da Escola Pública, em prol do ensino público, laico e gratuito enquanto direito fundamental do cidadão do mundo moderno[1].

Carreira

Durante o período, foi assistente catedrático, livre docente e professor titular na cadeira de Sociologia, substituindo o sociólogo e professor francês Roger Bastide em caráter interino até 1964, ano em que se efetivou na cátedra, com a tese "A integração do negro na sociedade de classes". Como o título da obra permite entrever, o período caracteriza-se pelo estudo da inserção da sociedade nacional na civilização moderna, em um programa de pesquisa voltado para o desenvolvimento de uma sociologia brasileira[1].
Nesse âmbito, orientou dezenas de dissertações e teses acerca dos processos de industrialização e mudança social no país e teorizou os dilemas do subdesenvolvimento capitalista[3]. Inicialmente no bojo dos debates em torno das reformas de base e, posteriormente, após o golpe de Estado, nos termos da reforma universitária coordenada pelos militares, produziu diagnósticos substanciais sobre a situação educacional e a questão da universidade pública, identificando os obstáculos históricos e sociais ao desenvolvimento da ciência e da cultura na sociedade brasileira inserida na periferia do capitalismo monopolista[1].
Aposentado compulsoriamente pela ditadura militar em 1969, foi Visiting Scholar na Universidade de Columbia, professor titular na Universidade de Toronto e Visiting Professor na Universidade de Yale e, a partir de 1978, professor na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 1975, veio a público a obra "A revolução burguesa no Brasil"[3], que renova radicalmente concepções tradicionais e contemporâneas da burguesia e do desenvolvimento do capitalismo no país, em uma análise tecida com diferentes perspectivas teóricas da sociologia, que faz dialogar problemas formulados em tom Max Weber com interpretações alinhadas à dialética marxista[2]. No inicio de 1979, retornou a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, agora reformada, para um curso de férias sobre a experiência socialista em Cuba, a convite dos estudantes do Centro Acadêmico de Ciências Sociais. Em suas análises sobre o socialismo, apropriou-se de variadas perspectivas do marxismo clássico e moderno, forjando uma concepção teórico-prática que se diferencia a um só tempo do dogmatismo teórico e da prática de concessões da esquerda. Em 1986 foi eleito deputado constituinte pelo Partido dos Trabalhadores, tendo atuação destacada em discussões nos debates sobre a educação pública e gratuita[2]. Em 1990, foi reeleito para a Câmara. Tendo colaborado com a Folha de S. Paulo desde a década de 1940, passou, em junho de 1989, a ter uma coluna semanal nesse jornal.
O nome de Florestan Fernandes está obrigatoriamente associado à pesquisa sociológica no Brasil e na América Latina. Sociólogo e professor universitário, com mais de cinquenta obras publicadas, ele transformou o pensamento social no país e estabeleceu um novo estilo de investigação sociológica, marcado pelo rigor analítico e crítico, e um novo padrão de atuação intelectual.[4]
O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que foi orientado em seus trabalhos acadêmicos por Florestan, estabeleceu com ele forte relação afetiva, mantida até a morte do sociólogo[3].
Florestan, com graves problemas no fígado, em 1995, submeteu-se a um transplante de fígado mal sucedido na Hospital das Clínicas de São Paulo, realizado pelo professor Silvano Raia. Morreu pouco após a cirurgia[2].

Principais obras

Florestan começou a escrever no final dos anos 40, e ao longo de sua vida, publicou mais de 50 livros e centenas de artigos. Suas principais obras foram:
  • Organização social dos Tupinambá (1949);
  • A função social da guerra na sociedade Tupinambá (1952);
  • A etnologia e a sociologia no Brasil (1958) (resenhas e questionamentos sobre a produção das Ciências Sociais no Brasil, até os anos 50);
  • Fundamentos empíricos da explicação sociológica (1959);
  • Mudanças sociais no Brasil (1960) (nesta obra Florestan faz um panorama de seu trabalho e retrata o Brasil);
  • Folclore e mudança social na cidade de São Paulo (1961) (esta obra reúne trabalhos e pesquisas realizadas nos anos em que Florestan foi aluno de Roger Bastide na USP, dedicados a várias manifestações de cultura popular entre crianças da cidade de São Paulo).
  • A integração do negro na sociedade de classes (1964) (estudo das relações raciais no Brasil);
  • Sociedade de classes e subdesenvolvimento (1968);
  • A investigação etnológica no Brasil e outros ensaios (1975) (reedição em volume de artigos anteriormente publicados em revisas científicas e dedicados à produção recente da antropologia brasileira);
  • A revolução burguesa no Brasil: Ensaio de Interpretação Sociológica (1975).

O PROGRAMA NUCLEAR E O FUTURO DO BRASIL

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Imagem: Johanne Eisele/AFP

“O Brasil, considerando apenas a área até aqui prospectada, é o sexto país em reservas de urânio em todo o mundo. Essa reserva é suficiente para manter em funcionamento as atuais usinas Angra I e Angra II, e a futura Angra III e mais 4 novas usinas de 1000 Mw cada, por cerca de 100 anos. Não é para ser desconsiderado, portanto.

Por Roberto Amaral

Mas possuir reservas minerais não é tudo, embora o Brasil esteja se descuidando de suas terras raras. Para ser utilizado, e para ter valor comercial, o urânio precisa ser transformado industrialmente em combustível nuclear, processo que compreende algumas etapas, entre elas o enriquecimento, com enorme valor agregado, inumeráveis fases de tratamento e o acesso a segredos tecnológicos guardados a cinco chaves pelos países que dominam essa tecnologia.

É o que se descreve a seguir.

Inicialmente, o minério bruto é processado de maneira a extrair a maior quantidade possível do urânio nele contido. Isso gera um material sólido chamado “yellow cake”, ou “concentrado de urânio”. Antes do enriquecimento propriamente dito, o “yellow cake” puro deve ser transformado em gás. Nas usinas de enriquecimento, esse gás é processado para aumentar a proporção de Urânio 235, o urânio físsil, responsável, quando fissionado, pela geração de energia no gás. Em seguida, ele é reconvertido para a fase sólida, constituindo-se num pó, que é compactado em pastilhas (“pellets”) e acondicionado em varetas que compõem o chamado “elemento combustível”.

Precisamos de urânio enriquecido para alimentar Angra I e II e Angra III, e, se o país tiver juízo, as demais usinas projetadas, projetadas, projetadas e de execução [sempre] adiada. Qual o procedimento atual? Produzimos o “yellow cake” e o remetemos para processadores no exterior para transformação em gás enriquecido, retornando ao país para ser reconvertido, produzidas as pastilhas e acondicionadas nos elementos combustíveis.

Hoje, após anos de investimentos em pesquisa e equipamentos, e enfrentando a sabotagem das grandes potências nucleares, EUA à frente, como sempre, já dominamos a tecnologia para enriquecimento isotópico do urânio, desenvolvida pela Marinha (CTMSP) em colaboração com o IPEN, e brevemente estaremos produzindo nosso combustível na fábrica da INB. A tecnologia não é pioneira, mas nossas centrífugas, principal equipamento da planta, apresentam importantes conquistas que as tornam mais eficientes que as atualmente em uso em todo o mundo. E motivo de cobiça.

O domínio dessa tecnologia decorre de decisões políticas cruciais de vários governos e da persistência de pesquisadores e militares devotados. Dele tanto resulta o acúmulo de pesquisas, como determina igualmente novos avanços científicos e tecnológicos, os quais estarão refletidos em novas conquistas. Além da conclusão do ciclo nuclear, disporemos de maior segurança no fornecimento do combustível, economia de custos e de divisas e, de futuro, a possibilidade de fornecermos urânio enriquecido para clientes no exterior. O ganho econômico pode ser medido pela diferença de preço, no mercado internacional, entre o minério bruto e o elemento combustível.

Uma vez mais se coloca para o país optar entre permanecer como mero fornecedor de matéria-prima in natura, ou transformar-se em exportador de conhecimento, rejeitar como destino a condição dependente, optando pela emancipação nacional como base de seu futuro. E não há futuro nem independência se renunciarmos ao desenvolvimento científico e tecnológico. Não se veja nessa política a revisão do velho projeto do Brasil-potência, nem eivos de um militarismo arcaico. Trata-se, simplesmente, de optar entre independência e dependência e caminhar no sentido contrário das políticas do neoliberalismo.

Nossa tecnologia, voltada para os usos pacíficos da energia nuclear, nada tem a ver com a produção de bombas, que requer urânio enriquecido a mais de 90% em seu isótopo 235, enquanto a planta de enriquecimento isotópico da INB em Rezende foi projetada para a produção de enriquecimento até 5%, destinando-se, portanto, exclusivamente, para uso na fabricação de elementos combustíveis dos reatores de potência do sistema Angra e em alguns tipos de reatores para propulsão naval, como do nosso futuro submarino.

Portanto, nosso país nada tem que esconder. E jamais escondeu. Precisa apenas decidir se deseja mesmo (pois precisa) dominar o conhecimento científico e tecnológico pondo-o a serviço de seu desenvolvimento e de sua soberania.

Além de haver aderido, em 1997 [FHC], ao “Tratado de não-proliferação de Armas Nucleares” (TNP), unilateralmente, ou seja, sem negociar, isto é, sem cobrar contrapartidas [!], como, por exemplo, transferência de tecnologia, ou, a redução dos estoques das potências nucleares e guerreiras (EUA à frente), o Brasil é o único país do mundo a determinar, em sua Constituição (art.21, XXIII, a) que “toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos” e, igualmente, é o único país do mundo que permite inspeções em suas instalações militares. E o único submetido a inspeções de duas agências internacionais, a “Agência Internacional de Energia Atômica-AIEA”, e a “ABACC, Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares”.

O país recebe, anualmente, cerca de 50 inspeções anunciadas e seis inspeções não anunciadas, isto é, de surpresa, sem programação prévia, em suas instalações nucleares.

Quando foi levantado o pleito da AIEA com vistas à assinatura de um novo Acordo de Salvaguardas, a posição brasileira foi a de assegurar, às Agências a aplicação de um controle efetivo do material nuclear utilizado, ao mesmo tempo que defendíamos outras questões como desarmamento e, principalmente, nosso acesso às conquistas tecnológicas, além de igualdade de condições entre os signatários.

É querer muito? Não. O diferencial é que esses devem ser os termos de discussão de um país preocupado em preservar seus interesses, para continuar soberano.

É oportuno lembrar que o programa nuclear brasileiro não se reduz à produção de combustível. São notáveis suas aplicações na área médica, seja com vistas a diagnóstico, seja com vistas à terapia (radioterapia e braquiterapia; biotecnologia, irradiação de materiais biológicos); no meio ambiente, na indústria, na agricultura e irradiação de alimentos, nas indústrias do petróleo e do papel e na siderurgia, no beneficiamento de gemas, esterilização de materiais e no melhoramento genético e controle de pragas, nas áreas de materiais, processos físicos, químicos e tecnologia de suporte.

E, por fim, é fundamental o aproveitamento do urânio para a geração de energia elétrica, como fonte complementar às hidrelétricas e em substituição às fontes fósseis (petróleo e carvão), caras e poluentes. Até porque as hidrelétricas, independentemente das delimitações impostas pelo regime das chuvas (acabamos de viver ameaças de ‘apagões’), enfrentam crescentes restrições ambientais as quais, por exemplo, estão determinando “hidrelétricas a fio-d’água”, isto é, sem reservatórios, donde a necessidade de o Estado investir em alternativas.

Trata-se, portanto, o nuclear, de programa estratégico, que decide hoje o futuro do país.”

FONTE: escrito por Roberto Amaral, cientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia entre 2003 e 2004. Artigo publicado no portal “Vermelho”  (http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=206527&id_secao=1). [Trechos entre colchetes adicionados por este blog 'democracia&política'].