quarta-feira, 15 de maio de 2013

Srs. médicos


João Franzin
No Brasil, faltam bons profissionais em várias áreas especializadas. Isso decorre do nosso descaso histórico com a Educação, atrasada em décadas por pressão da Igreja (nas memórias de Darcy Ribeiro, ele conta o veto de Dom Hélder Câmara a plano seu e de Anísio Teixeira) e de outras forças conservadoras.
Nos últimos anos, após a desértica era FHC, o governo Lula começou, sem muita pressa, a compensar o atraso. Houve novo avanço, mais recentemente, com o lançamento do Pronatec, pela presidente Dilma. Mas o atraso prossegue.
Em razão disso, o Brasil está precisando importar profissionais qualificados, com destaque para engenheiros. Agora, chegou a vez dos médicos. Médicos? Duvidam classe média e abastados. Médicos, sim, senhores. Doutores não faltam nas cidades ricas e bairros melhores das metrópoles. Porém, saiam a 30 quilômetros da Praça da Sé e verifiquem o que ocorre por aquelas bandas.
Médicos, quase sempre filhos da elite ou da classe média, não montam consultório nas quebradas do mundaréu. Essa parte fica para o SUS, com os problemas já conhecidos: faltas a plantões, exames daqui para seis meses, consultas sem apalpar o paciente e com duração de dez minutos, filas, senhas, doentes nas macas por corredores, atendimento seletivo, e tudo o mais que se sabe.
Na parte produtiva, o capitalismo, que age depressa, decidiu importar engenheiros. E ninguém reclamou. A grita, agora, vem contra a importação de médicos. Pior ainda: médicos de Cuba.
O governo, talvez por um desvio esquerdista, anunciou importação de médicos cubanos. E errou. Deveria ter aberto a porteira para médicos de todos os países, desde que devidamente habilitados.
Eu me trato com uma médica chinesa (e com alopatas, claro), que clinicou 22 anos em Shangai. Ela fala mal o português. Mas sua aplicação, e vontade de curar, compensa a precariedade do idioma. Acima da barreira da língua está o compromisso com a profissão. Acima da nacionalidade estão a competência técnica e o respeito ao paciente.
Sou associado a um plano de saúde, que cobra caro e me atende, digamos, a contento. Mas não sem problemas. Dia 18 de outubro, com um problema súbito no ouvido esquerdo, passei por uma otorrino, num hospital na Vila Buarque. Ela mal me atendeu e disse: você tem líquido no ouvido. Dias depois, um professor do HC, zeloso e respeitoso, acertou: lesão na cóclea, com surdez acentuada e zumbido.
Mais: recorri à papisa da matéria, em consultório chic no Alto de Pinheiros, consulta a R$ 600,00. Primeiro tratamento: me encheu de corticóide, e nada de resultado. Na segunda consulta, frente ao fracasso de seu receituário, me sugeriu procurar “tratamento energético”. Apertei a doutora e ela (filha de Oxum) me recomendou: “tratamento espiritual” (minha mulher estava lá, é testemunha).
Diante disso, eu pergunto: por que temer os cubanos, os lusitanos, os hindus, os japoneses?

João Franzin é Jornalista e coordenador da Agência Sindical.

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