Por Janio de Freitas, no portal UOL
“Se
os bloqueios de estradas e, em cidades, as paralisações desordenadas
mantiverem a intensidade segunda-feira verificada em vários Estados,
como prometido para toda a semana, pode-se esperar que logo uma parte da
população esteja pedindo providências contra a outra. As próprias
manifestações começam a criar o seu risco de reversão, facilitado pela
crescente impressão de que, nas atuais circunstâncias, não é possível
passeata que não degenere em saques e outras violências.
Os
jovens que convocaram a manifestação contra as passagens de ônibus
paulistanos estão, hoje, na situação do japonês que repetia atônito,
depois da bomba atômica em Hiroshima: "Eu só puxei a descarga da privada".
Buscaram um objetivo, estão em meio a um turbilhão, do qual não podem
se desligar. E sobre o qual não têm controle algum, mas são chamados a
representá-lo como se tivessem.
Evolução/Involução humana
A
balbúrdia das reivindicações seria de difícil controle mesmo que o
movimento partisse de uma liderança definida e forte. Mas as
dificuldades que acarretam vêm, sobretudo, de outra característica do
momento: as reivindicações manifestadas referem-se, na maioria, a problemas de responsabilidade estadual e municipal.
No entanto, os governadores e prefeitos fingem-se de mortos. Fugiram da
cena desde o primeiro crescimento das manifestações. Com exceção só de
Geraldo Alckmin e Fernando Haddad.
Preço e eficiência do transporte urbano (agora é bacaninha dizer “mobilidade urbana”, como se os transeuntes das cidades também precisassem de reforma),
contenção da criminalidade, escolas, hospitais e saúde em geral --assim
é o grosso das reivindicações levantadas nas ruas, assuntos, todos, de
governadores e prefeitos.
Melhor para eles se Dilma Rousseff chamou a si, no que talvez seja um erro político, a responsabilidade por todos os problemas [estaduais e municipais] e
soluções em questão. Mas não adianta pretender ações em grande escala,
seja em número ou em dimensão, como seu discurso sugeriu. Daí só viria
mais frustração, porque cada uma delas será, sempre, batalha política e
outra batalha com forças econômicas. Tudo o que é reivindicado requer
dinheiro, dinheiro em grande quantidade requer impostos a mais --e os economistas adotados pelos meios de comunicação dirão o restante...
O
necessário e factível é selecionar prioridades, poucas e uníssonas, no
rol dos defeitos nacionais. E atacá-las com todo o vigor, sem
condicionamentos eleitorais ou partidários. Se é para mudar alguma
coisa, em consonância com a voz das ruas, a falta de apoio na Câmara e
no Senado não pode ser motivo de barganhas partidárias: deve ser denunciada ao país, para dele receber resposta.
O barganhismo de apoios partidários, desde que Fernando Henrique o
adotou para montar seu dispositivo eleitoral unindo PSDB a PFL e PMDB, e
com a continuação que lhe deram Lula e Dilma, é um dos entraves mais
funestos da política e da administração no Brasil.
Escrevo
antes de conhecer o resultado da reunião de Dilma Rousseff com
governadores e demais convocados. Dali só poderiam sair propostas e
medidas administrativas. A necessidade decisiva do Brasil é, porém, a de
mudanças institucionais --sistema partidário, sistema eleitoral,
atividade da Câmara e do Senado, adoção do sistema federativo que está
em seu nome e não na realidade. Mas isso é de outro capítulo. E o do momento é das vozes que se encontram e podem se desencontrar nas ruas.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário