terça-feira, 2 de julho de 2013

Atitude é a diferença

Celso Vicenzi – Jornalista
Fora dos estádios, o povo brasileiro tenta consolidar uma nova atitude, sem aceitar passivamente o espírito derrotista – “esse país não tem jeito” ou “isso nunca vai mudar”.
A dimensão dessa luta não permite antecipar o desfecho, mas dentro de campo o que se viu durante a Copa das Confederações, e principalmente no antológico olé aplicado aos espanhóis,  é também uma nova conduta que faz toda a diferença.
O escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues dizia, antes de o Brasil ser campeão do mundo de futebol pela primeira vez, que o país tinha "complexo de vira-lata". Depois, ganhamos cinco mundiais, mas nas últimas Copas e em amistosos recentes o nosso futebol se acovardou.
Com a equivocada desculpa da falta de craques, praticava-se, cada vez mais, um futebol retrancado, medroso. Parecia que alguém havia decretado que não tínhamos condições de jogar de igual para igual com qualquer seleção do mundo. O velho mito de país mestiço e inferior parecia invadir novamente a atormentada alma brasileira.
Se são 11 contra 11, temer o quê? Bastava exercitar o “óbvio ululante” – para citar outra vez Nelson Rodrigues – e marcar sob pressão, o que impediria o adversário de ganhar confiança e “gostar do jogo”, como se diz na gíria esportiva.  Depois, é retomar a bola, aparecer para o jogo e improvisar quando necessário – o que a gente sabe fazer muito bem. Foi essa mudança de comportamento que resultou num olé em cima dos espanhóis, na final inesquecível dessa Copa das Confederações.
Mas, para além do talento de Neymar e do oportunismo de Fred, há algo nesse time que é compartilhado também fora dos estádios, pelo povo: a valorização do trabalho e do esforço. Se o talento merece reconhecimento, o trabalho em equipe não pode ser menosprezado. O Brasil não pode ser o país de alguns iluminados, que não saiba valorizar a potencialidade de cada brasileiro.
O que mais doía nos torcedores do futebol pentacampeão não eram as derrotas ou os empates comemorados como se fossem vitórias. Era, sobretudo, a falta de empenho em campo, como se bastasse o talento de poucos, em algum momento, para se transformar na redenção de muitos. E diante de equipes aguerridas e solidárias, ainda ter que ouvir, de narradores e comentaristas elitistas, que, em algum momento, o craque iria fazer a diferença a nosso favor. Já era para ter aprendido que o craque pode muito, mas não pode tudo.
Brecht merece ser convocado para explicar melhor: “Quem construiu Tebas, a das sete portas? / Nos livros vem o nome dos reis, /Mas foram os reis que transportaram as pedras?” Manipulado pela mídia que só enxerga o jogador de habilidade excepcional, o Brasil aprendeu a desdenhar dos Dungas, operários importantes para vitórias, mas atirados à ira do povo como bois de piranha nas derrotas. Mais que a falta de craques, foi o estrelismo de alguns, a falta de empenho e a submissão de outros que explicam muitas derrotas.
O Brasil é e será sempre mais forte se entender que o trabalho incansável, a perseverança, a determinação e o espírito de união podem fazer muito mais pelo país do que meia dúzia de seres humanos instruídos e inspirados em seus ofícios.  
Felipão obteve algo raro: conseguiu que os milionários atletas dessa nova geração entendessem que é preciso lutar os 90 minutos, honrar a camisa, confiar no potencial e praticar um futebol solidário. Perder faz parte, o que o torcedor não tolera é a aceitação passiva da derrota. Se for para perder, que seja com dignidade, tentando reverter ou diminuir o placar até o último minuto.
O técnico da seleção brasileira ainda deu uma lição a um arrogante jornalista inglês. Diante da tentativa de diminuir o país em função das manifestações que vêm ocorrendo, Felipão rebateu de primeira: “Antes de falar mal do meu país, olhe para o seu. Aos ingleses, eu gostaria de perguntar: o que aconteceu lá antes dos Jogos Olímpicos?” – numa referência às manifestações ocorridas em Londres por causa dos gastos com o evento. 
E, mais adiante, reforçou o sentimento que parece tomar conta do país: “O que estivemos vendo é muito bonito, gente. É assim que precisamos agir, não só no futebol como na vida”.
O que não se pode é confundir o orgulho de ser brasileiro e o direito a se firmar como nação justa e soberana com o nacionalismo reacionário e político interno, tantas vezes subserviente aos interesses internacionais.
O que faz o Brasil melhor é isso: atitude. Dentro e fora de campo.

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