Países como Bangladesh não podem competir com os
avançados, a não ser que paguem muito menos a seus trabalhadores
por Paul Krugman, The New York Times
—
publicado
20/07/2013 08:53
Munir Uz Zaman/AFP
Muito, muito, muito tempo atrás eu
acreditava que o principal debate político e econômico que aguardava os
Estados Unidos seria sobre a globalização, sem perceber que ele giraria
em torno de um movimento poderoso para reverter o relógio aqui em casa e
trazer de volta a Era Dourada. (Como eu disse certa vez, Sauron reunia
suas forças em Mordor.)
De qualquer modo, em 1997, como colunista da Slate,
escrevi um ensaio argumentando que o que se consideravam baixos
salários e más condições de trabalho pelos padrões ocidentais eram
necessários e inevitáveis nos países pobres, provocando uma previsível
indignação.
Todas essas questões ficaram desbotadas no passado, mas
continuam aí, e o horror da fábrica em Bangladesh trouxe algumas delas
de volta à proeminência. E agora há medidas sérias para impor condições
de trabalho e segurança mais rígidas aos produtores de roupas no
Terceiro Mundo. Qual a minha opinião? A resposta é: sou totalmente a
favor – e não, não acho que seja uma contradição com minhas opiniões
anteriores.
Continua sendo verdade que, por causa da
sua baixa produtividade, países como Bangladesh não podem competir com
países avançados, a não ser que paguem muito menos a seus trabalhadores e
ofereçam condições de trabalho muito piores. A indústria de confecção
bengali tem de consistir no que chamaríamos de oficinas de trabalho
escravo, ou simplesmente não existiriam. E Bangladesh precisa das
confecções: é basicamente a única coisa que mantém sua economia na
superfície.
A esta altura, porém, realmente não há qualquer
concorrência entre os produtores de roupas em países pobres e em países
ricos. Toda a indústria mudou-se para o Terceiro Mundo. A concorrência
relevante é, na verdade, entre os países pobres, entre Bangladesh versus
China, em particular. E aqui, as diferenças não são tão dramáticas: a
McKinsey estima que a produtividade bengali em confecções seja 77% do
nível chinês.
Diante dessa realidade,
podemos exigir que Bangladesh ofereça melhores condições de trabalho a
seus trabalhadores? Se o fizermos por Bangladesh, e só por Bangladesh, o
tiro poderá sair pela culatra: a indústria poderá mudar-se para a China
ou o Camboja. Mas, se exigirmos padrões mais elevados para todos,
padrões modestamente mais elevados (não estamos falando em devolver o
setor aos países avançados), poderemos obter uma melhora na vida dos
trabalhadores (e menos mortes terríveis) sem minar as indústrias de
exportação de que esses países precisam desesperadamente.
•
Tenho tido uma estranha reação às
notícias recentes sobre política econômica. Estão ocorrendo coisas: o
Federal Reserve dos EUA embaralhou suas comunicações, fez sua parte para
minar o modesto progresso econômico. A Comissão Europeia está mais ou
menos relaxando as exigências de austeridade. O Banco da Inglaterra
parece ter emitido orientações de que vai emitir orientações. E assim
por diante. Mas, com a possível exceção da “Abenomia”, no Japão, são
coisas sem importância.
E isso é decepcionante. Tivemos o que parecia um debate
intelectual épico sobre a economia da austeridade, encerrado, na medida
em que os debates nunca terminam, com uma vitória surpreendente do lado
“antiausteridade”. E quase nada mudou no mundo real. Enquanto isso, a
turma do sofrimento inventa motivos dúbios para o arrocho monetário. E o
desemprego em massa continua.
Então, como isso termina? Eis uma ideia
deprimente: talvez não termine. É verdade, alguma coisa pode acontecer,
uma nova tecnologia, uma guerra, ou talvez apenas um acúmulo suficiente
de “uso, desgaste e obsolescência”, como disse Keynes. Mas, nesta
altura, tenho sérias dúvidas sobre se haverá fatos capazes de forçar uma
ação política.
Em primeiro lugar, muitas pessoas acreditavam que o alto
desemprego sustentado levaria a uma deflação substancial, talvez
acelerada – e que isso levaria os políticos a fazer algo vigoroso. Agora
está claro, porém, que a relação entre inflação e desemprego se
estabiliza com baixos índices de inflação.
Provavelmente poderemos ter alto
desemprego e preços estáveis na Europa e nos EUA durante muito tempo, e
todos os sábios insistirão que é tudo estrutural e nada pode ser feito
até que o público aceite cortes drásticos na rede de segurança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário