Resenha
da conferência do Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães realizada em 08/08/2013
aos movimentos social e sindical em Florianópolis.
Daniel
Passos – economista do DIEESE
O Brasil é um país
continental com uma diversidade cultural dificilmente encontrada em algum outro
lugar. Apesar disso, na maioria das vezes assiste-se a poucos gêneros porque as
outras expressões são restringidas quase sempre por um sistema monopolizado de
comunicação. Nas opiniões não é diferente. Há uma restrição enorme das posições
que divergem daquela considerada “predominante” pelos meios de comunicação.
Por isso é quase impossível colocar
em contradição ao grande público a opinião dominante sobre todos os assuntos
nacionais, pois são poucas as vezes em que se consegue espaço para a divulgação
do contraditório. Nos anos noventa havia no Brasil o predomínio de uma visão
neocolonial de que o Brasil deveria se tornar um apêndice da economia norte
americana com a adesão ao tratado que criava a Área de Livre Comércio das
Américas (ALCA).
Ao mesmo tempo, havia uma
resistência grande de vários movimentos contra essa situação, em razão do risco
da perda de autonomia política e produtiva do país. A preocupação não era
desmedida tendo em vista que a maior parte do patrimônio público já havia sido
vendida sob a promessa de melhorias na vida das pessoas que nunca chegava.
Assim, naquela década, foi
com espanto e enorme satisfação que o surgimento público da posição do
Embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, contrário a ALCA, reforçou e deu ânimo
aos que lutavam não apenas contra essa possibilidade mas também contra a
invisibilidade da sua resistência. Finalmente a partir de 2003 a ALCA foi
enterrada. Depois disso, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães ocupou vários
cargos no Ministério das Relações Exteriores e em outros ministérios e
secretarias do governo.
No dia 08 de agosto
Guimarães esteve em Florianópolis para participar de várias atividades entre
elas uma conferência para dirigentes sindicais, de movimentos sociais e
estudantes, organizado pelo Escritório Regional do DIEESE. A principal lição da
sua palestra foi mostrar que os ideais não envelhecem com o tempo, ao
contrário, devem ser constantemente alimentadas para dar força aos que lutam
pela transformação da sociedade em algo melhor para todos.
O embaixador tratou dos desafios
externos e internos para construção de um Brasil para os brasileiros, tendo
como referência o seu último livro “Desafios
Brasileiros na Era dos Gigantes” (editora Contraponto). Contextualizou a
crise mundial desde 2008 e questionou porque é fraca a reação dos países. Para
ele a resposta está na distribuição da produção atualmente no mundo. O espaço
produtivo deixou de ser nacional e a presença da China é elucidativo nesse
contexto já que se constituiu como a maior nação importadora de bens primários
e exportadora de manufaturas. A ausência de controle sobre a produção reduz a
força de orientação dos estados nacionais e por isso, ao invés de se adotar
medidas de regulação da produção de bens e serviços como os financeiros, restou
a adoção de medidas de austeridade contra a sociedade para tentar sustentar um
modelo de produção que pouco responde as necessidades da maioria da população.
Não tem sido diferente a
situação do Brasil. Para o embaixador é enorme a entrada de empresas
estrangeiras no país, na maior parte beneficiadas por medidas de incentivos. Na
prática essa situação tem aprofundado o déficit das contas externas do Brasil
recriando a dependência de capitais externos e a necessidade cada vez maior de
elevação dos juros. Por isso que a possibilidade de retomada de taxas elevadas
de crescimento sustentáveis são cada vez mais difíceis.
A definição das regras de
funcionamento da economia está na política. Para Guimarães é na política que as
regras devem ser construídas, portanto sem a ocupação desses espaços por
agentes que tenham como preocupação o fortalecimento produtivo do Brasil como
uma nação forte e independente reduz a possibilidade de mudanças.
Nesse ponto o embaixador não
deixa dúvida sobre a sua posição política: o governo, depois de desonerar tanto
o capital nos últimos tempos sem nenhum resultado prático, precisa reorientar a
sua ação e passar a desonerar o trabalhador. É preciso melhorar as condições de
trabalho e dos trabalhadores pois será isso que permitirá que o país dê um
salto de qualidade na forma de inserção produtiva no mundo que será determinada
pela esfera da tecnologia e não pela redução do salário do trabalhador.
Na palestra Guimarães não
deixou de falar das dificuldades de construção de uma visão alternativa àquela
que assistimos todo o dia na televisão. Nesse aspecto ele defendeu que quem
pode falar das condições de trabalho são os próprios trabalhadores e avaliou que
já há condições de se pensar em um sistema de comunicação dos trabalhadores no
Brasil capaz de ser porta voz dos interesses da maioria da população que é a
que constrói cotidianamente o país.
A experiência política do
palestrante contagiou os presentes na conferência e demonstrou que os ideais
não devem ser abandonados pela simples dificuldade de serem alcançados. Na
prática as dificuldades é que devem fortalecer os ideais pois apenas revelam a
importância da busca de alternativas que coloquem como protagonistas aqueles
que constroem a riqueza da nação.
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