quarta-feira, 4 de setembro de 2013

PIB do 2º tri confirma rota de recuperação


João Sicsú
De forma inesperada, a política econômica adotada no início de 2011 foi agressivamente contracionista. O superávit primário foi aumentado, houve uma sequência de elevações da taxa de juros, gastos públicos foram contidos, medidas macroprudenciais foram adotadas e até o investimento das estatais foi mitigado.
O resultado era óbvio: a economia desacelerou por seis trimestres consecutivos - de janeiro de 2011 até junho de 2012. A trajetória do crescimento do investimento foi pior que a do PIB.
A economia que crescia a um ritmo de 7,5% em 2010 caiu para 2,7% em 2011; e para 0,9% em 2012. O desastre foi exclusivamente atribuído, de forma errada, à crise internacional. Desconcertado, o governo fez desonerações, abaixou a taxa de juros para programas específicos no BNDES, reduziu tarifas de energia elétrica... e lamentava a falta de reação dos empresários. A oposição e os indecisos babavam de alegria. Analistas conservadores aproveitaram a onda pessimista para colocar a culpa na “elevada” carga tributária.
A economia começou a reagir, de fato, no início de 2013, quando começaram a ser dissolvidos os efeitos provocados pela política contracionista de 2011. No primeiro trimestre do ano, o investimento cresceu mais que a economia – deu sinais que a forma do crescimento poderia se assemelhar à Era Lula.
O resultado do 2º tri já foi bem melhor que o do primeiro. O PIB cresceu 1,5% em relação ao trimestre anterior e 3,3% em relação ao mesmo período do ano passado. E o investimento? Cresceu quase três vezes o crescimento da economia – tal proporção foi exatamente o que caracterizou a fase de crescimento de 2005 a 2010.
Outro quesito importante da qualidade do PIB é o crescimento da indústria. No 2º trimestre, houve crescimento de 1,7% da indústria de transformação em relação ao trimestre anterior. A construção civil foi o destaque, cresceu 3,8% em relação ao trimestre passado. Sempre que a indústria cresce a trajetória do PIB se mostra mais consistente.
Sonho para uns e pesadelo para outros: a economia está com inflação moderada e a trajetória de crescimento se mostra consistente, embora ainda modesta.
Lição do período 2011-2013: a política econômica provoca efeitos reais sobre a trajetória do PIB e do investimento. Escolhas equivocadas produzem resultados indesejados.
João Sicsú é professor do Instituto de Economia da UFRJ, foi diretor de Políticas e Estudos Macroeconômicos do IPEA entre 2007 e 2011. Publicado na revista CartaCapital

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