quinta-feira, 28 de novembro de 2013

OS CARROS E OS TANQUES.


(JB) - Segundo informações do governo, a balança comercial apresentou déficit de US$ 1,350 bilhão na quarta semana de novembro.

Foram US$ 4,151 bilhões de exportações e US$ 5,501 bilhões em importações. No acumulado do ano, a balança apresenta um déficit de US$ 1.455 milhões.


Os dados se explicam pela queda na  venda de produtos manufaturados, mas também pelo aumento das importações, com destaque para combustíveis e lubrificantes.


Enquanto isso, piora a situação da Petrobras, com o adiamento, agora para esta semana, da discussão sobre a implantação de um sistema de reajuste automático de combustíveis, que ficou  para quinta-feira.


Em meados deste ano, a estatal tinha um prejuízo de 700 milhões de dólares por mês com a importação de combustíveis, que está sendo coberto com a venda de ativos. E o governo resiste a mudar essa situação, com receio de criar um novo indexador que poderia colocar em risco o controle da inflação.


Segundo a ANP, apesar do saldo negativo no comércio de gasolina com outros países, o país continua autossuficiente em óleo e derivados, já que as exportações de petróleo bruto compensam as importações de petróleo leve, e também da própria gasolina.


Mas isso não resolve o problema das trocas nacionais com o exterior. As exportações de manufaturados têm caído, não apenas pela questão cambial, mas também devido aos efeitos da crise internacional em outros países - principalmente da Europa e da América do Sul.


Cada dólar economizado na compra de combustíveis no exterior, evita a necessidade de conseguir divisas para pagar essas importações, e melhora, em consequência, a situação da economia nacional.


O atraso na construção das novas refinarias indica que não está próxima a solução desse problema. Se tudo der certo, a Abreu e Lima, em Pernambuco, com 280.000 barris de capacidade, ficará pronta em 2014.


Mas o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro só entrará em produção em 2016, e as refinarias do Maranhão e do Ceará, apenas em 2017 e 2018.


Considerando-se a pressão da imprensa financeira internacional e das agências de rating sobre o Brasil, em temas como o cálculo da dívida interna, o balanço de pagamentos, e a questão fiscal, pode ser tarde demais.


Urge, portanto, buscar a substituição de combustíveis importados, por fontes nacionais, e se, possível, renováveis, para a frota de automóveis, que cresceu aceleradamente nos últimos anos.


Enquanto importamos gasolina, mandamos etanol para o exterior.


Informações do setor de açúcar e álcool dão conta de que as exportações desse combustível devem continuar consistentes neste segundo semestre, favorecidas pelo câmbio, com o dólar entre R$ 2,20 e R$ 2,30.


No primeiro semestre, o Brasil exportou 710 milhões de litros de combustível para os EUA, com crescimento de mais de 100% ante o primeiro semestre do ano passado.   


Um dos caminhos que eventualmente poderiam ser trilhados seria achar uma forma de subsidiar, marginalmente, a venda desse combustível no mercado interno, para que ele ficasse no Brasil, e se voltasse a investir no aumento da produção.


É mais barato, para o país, gastar reais para aumentar a oferta de álcool nacional, do que arranjar dólares para trazer gasolina do exterior.


Outra solução seria investir em maior eficiência energética, e em outras fontes renováveis de origem nacional.


Na semana passada, o executivo brasileiro Carlos Ghosn, presidente mundial do grupo Renault-Nissan, criticou publicamente a demora nas negociações sobre a criação de uma política de incentivo para carros híbridos e elétricos no Brasil.


Já que não dá para aumentar a produção de combustíveis de um dia para o outro, é preciso fazer com que os carros rodem mais quilômetros com menos combustíveis fósseis, ou possam, eventualmente, deles prescindir.


Em declarações para mais de uma centena de jornalistas de todo o mundo no Salão Internacional de Tóquio, Ghosn declarou que há “falta de interesse” do governo brasileiro para resolver a questão.           


Para ele, apesar das declarações e da alusão à necessidade de menor emissão de poluentes, não se cogita investir em uma rede de recarga de veículos ou mobilizar o consumidor para o uso de carros elétricos.


O que ocorre com a frota particular de automóveis também se estende para o transporte público de passageiros.


Nos programas de mobilidade estabelecidos para a Copa do Mundo, não se programou o uso de ônibus movidos a gás ou a etanol, quando isso já é comum em outras cidades do mundo, e a tecnologia está amplamente disponível.


Nem a adoção, ainda que experimental, de ônibus a hidrogênio, como os desenvolvidos pela COPPE do Rio de Janeiro.


Seria recomendável pensar sinergicamente nessa questão, analisando todas as alternativas, para estabelecer uma política nacional de combustíveis que leve em consideração as características de cada região.


Só assim poderemos começar a nos livrar da dependência estrangeira e da ameaça de maiores déficits comerciais nos próximos anos.      

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