quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Custo salarial pressiona menos a indústria


Valor Econômico

Por Camilla Veras Mota e Alessandra Saraiva | De São Paulo e do Rio
https://www1.fazenda.gov.br/resenhaeletronica/imagens/vazio.gif

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O cenário do emprego industrial pode ser ligeiramente mais favorável em 2014 do que neste ano. Dados da Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de outubro, divulgados ontem, apontam a primeira alta da ocupação no setor depois de cinco quedas seguidas. A alta foi pequena, de 0,1% sobre setembro, mas ela pode indicar que o ciclo de ajustes nos quadros de funcionários por conta dos desequilíbrios herdados de 2012 pode ter chegado ao fim naquele mês, de acordo com analistas ouvidos pelo Valor.

Outro ponto positivo é que a produtividade do trabalho na indústria está crescendo acima da folha de salários e do custo unitário do trabalho do setor, o que atenua a pressão do custo de pessoal sobre as despesas totais da indústria.

No acumulado entre janeiro e outubro, sobre o mesmo período de 2012, a produtividade avançou 2,7%, acima da variação de 2,3% na folha de pagamento real do setor. A comparação, para José Francisco Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, reitera uma tendência que vem sendo verificada desde meados do ano e indica um maior controle sobre custos em 2014. No ano fechado de 2012, a folha de pagamento subiu 4,3% para uma produtividade que caiu 0,8%.

Pelos dados do IBGE, a produção industrial cresceu 1,6% de janeiro a outubro deste ano, e foi obtida com um número 1,1% menor de horas pagas, resultando no ganho de 2,7% de produtividade. Sem considerar o salto de 6,1% de 2010 (que veio na sequência do fraco 2009), a eficiência da indústria só havia crescido acima desse nível em 2007, quando foi de 4,2%.

Por trabalhador, a folha de pagamentos real ainda supera o ganho de produtividade, mas está em declínio. Depois de encerrar o ano passado com alta de 5,8%, ela recuou para 4,6% nos 12 meses encerrados em outubro, e está em 3,3% nos dez meses deste ano.

Esse movimento de recuo (ou menor pressão) aparece melhor em um acompanhamento de média móvel trimestral dessazonalizada feita pelo banco Fator com os dados do IBGE. Esse dado mostra que a produtividade crescia 0,78% no trimestre encerrado em junho sobre os três meses encerrados em maio, enquanto o custo unitário do trabalho subia 0,19%. Em outubro, a produtividade mantinha uma alta trimestral de 0,79%, mas o custo unitário do trabalho caiu 0,19% na mesma comparação. "O aumento do custo unitário parece ter chegado a um teto", afirma Gonçalves.

Nesse sentido, Rogério César de Souza, do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), chama atenção para os segmentos da indústria que estão demitindo neste ano, mas conseguiram elevar a produção. Para ele, a dinâmica mostra um esforço das empresas para aumentar sua produtividade. A queda do emprego, afirma, nunca é positiva, mas, diante do avanço severo da competição e dos custos que o setor teve de enfrentar neste ano, a estratégia é "válida".

Entre os 18 segmentos listados pelo IBGE, seis estão nessa situação, entre eles calçados e couro (redução de 5,3% no emprego industrial entre janeiro e outubro em relação ao ano anterior e alta de 7,1% na produção), madeira (menos 5,2% e mais 4,1%), máquinas e aparelhos elétricos (menos 2,4% e mais 3,3%), e fabricação de novos produtos da indústria de transformação (menos 4% e mais 3,6%).

A reação do emprego apurada pela pesquisa do IBGE e a evolução mais consistente da produção, que mostrou as três primeiras altas seguidas no ano em agosto (0,2%), setembro (0,5%) e outubro (0,6%), em relação aos meses imediatamente anteriores, para Souza, sugerem que o período de ajustes de pessoal que se estende desde 2012 pode ter chegado ao fim. Se a produção mantiver a trajetória de crescimento e deixar para trás os movimentos oscilatórios que protagonizou durante o ano, 2014 poderá ser mais calibrado para a indústria, diz o economista. Os sinais apareceriam primeiro em um avanço nas horas pagas antes de se manifestarem como um aumento mais robusto da ocupação.

As comparações de mais longo prazo dos números da pesquisa do IBGE ainda expõem o ano difícil para o emprego na indústria. Em relação ao mesmo mês do ano passado, a ocupação teve em outubro a redução mais forte de 2013 nessa comparação, de 1,7%, e as horas pagas cederam 2%; tanto no acumulado entre janeiro e outubro quanto no acumulado em 12 meses, sobre o período anterior, as variações foram de menos 1% e de menos 1,1%.

O quadro, explica Gonçalves, do Fator, é uma reação defasada ao desempenho de 2012, quando a ocupação na indústria, por conta dos altos custos para demitir e da expectativa de que houvesse uma retomada mais consistente da atividade, caiu menos que a produção - menos 1,4% e menos 2,6%, nessa ordem.

O professor do Ibmec Gilberto Braga ressalta, porém, que a melhora marginal não mostra recuperação consistente da indústria, que vem de uma trajetória de longo prazo muito ruim. Essa é também a avaliação de Fernando Abritta, do IBGE. Para ele, o quadro ainda é preocupante e não pode ser considerado positivo, já que o número de vagas da indústria ainda mostra trajetória descendente em relação a iguais meses de 2012.


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