domingo, 15 de dezembro de 2013

Do jornal online “Brasil 247”



“Paulo Nogueira, editor do ‘Diário do Centro do Mundo’, comenta a restrição judicial ao projeto de Fernando Haddad, que eleva o imposto nos bairros ricos e reduz nas periferias. "Os moradores dos bairros mais “nobres” pagariam mais pela excelente razão de que podem mais. Mas quem tem voz não são as pessoas da periferia. São os privilegiados", diz ele.

(...) O projeto do prefeito Fernando Haddad, que eleva o imposto em bairros nobres e reduz na periferia, foi barrado nos tribunais por iniciava da FIESP, de Paulo Skaf, que pretende disputar o Palácio dos Bandeirantes. Segundo Nogueira, "é difícil fazer coisas para os pobres no Brasil". Leia sua análise:

O CASO DO IPTU DE SP MOSTRA COMO É DURO FAZER COISAS PELOS POBRES NO BRASIL

É difícil fazer coisas para os pobres no Brasil. O 1% não gosta. Não deixa.

Getúlio criou as leis trabalhistas. Impediu a exploração de menores pelas empresas. Estabeleceu férias. Tornou secreto o voto, o que acabou com a farra dos patrões que acompanhavam seus funcionários na cabine eleitoral para checar se eles escolhiam quem era para eles escolherem. Fora isso, Getúlio estendeu o voto às mulheres.

Getúlio terminou morto.

Jango, como ministro do Trabalho de Getúlio, no começo dos anos 1950, acabou com a prática segundo a qual greve era coisa de polícia. Obrigou as empresas a negociar com os sindicatos em caso de confronto.

Mais tarde, como presidente, criou o 13º salário, tratado pelo “Globo” numa manchete antológica como "um grave risco ao país".






Jango terminou deposto.

As coisas não mudaram tanto assim.

Veja, por exemplo, o “IPTU dos Pobres”, que Haddad vem tentando com imensas dificuldades emplacar em São Paulo.

Os moradores dos 25 bairros mais pobres de São Paulo pagariam menos IPTU. No Parque do Carmo, por exemplo, o imposto se reduziria em 12%.

Os moradores dos bairros mais “nobres” pagariam mais pela excelente razão de que podem mais.

Mas quem tem voz não são as pessoas da periferia. São os privilegiados.

E então começou uma monstruosa resistência contra o IPTU dos Pobres. A Justiça de SP, absolutamente alinhada aos privilegiados, acabou vetando o projeto.

Agora, a prefeitura deve recorrer ao STF.

Mas um momento: como você espera que vai votar Gilmar Mendes, classificado pela jornalista Eliane Cantanhêde, num perfil bajulador escrito tempos atrás para uma revista da Folha, como “muito tucano”?

Ou Joaquim Barbosa? Ou Fux?

Com quem eles estão? Com os desvalidos? Bem, pausa para gargalhadas.

O ponto positivo, aí, é a insistência de Haddad. Você não faz nada pelos desvalidos sem lutar, lutar e ainda lutar contra grupos extraordinariamente acostumados a mamatas do Estado.

Por coisas assim, considero o “Mais Médicos” a coisa mais importante deste ano. Como sempre, houve reação formidável contra o projeto.

Médicos que jamais iriam pensar em trabalhar em cidadezinhas remotas se ergueram contra o programa.

A mídia corporativa fez seu habitual papel abjeto de defensora dos privilégios, e não do interesse público. Lideranças médicas infestaram as páginas de jornais e revistas para tentar matar o “Mais Médicos”.

Mas o governo – ao contrário de outras ocasiões, em que hesitou diante da resistência conservadora – foi adiante.

Os médicos cubanos hoje são amados pelos desvalidos brasileiros. Não apenas eles têm alguém que os atenda, mas também se sentem queridos pelos médicos cubanos, um sentimento jamais despertado pelos doutores brasileiros, subtraídas as exceções de sempre.

Não.

Não é fácil ajudar os pobres no Brasil.

Torço, daqui de meu canto, para que o IPTU dos Pobres afinal triunfe, ainda que todas as probabilidades apontem para a direção oposta.”

FONTE: escrito pelo jornalista Paulo Nogueira, fundador e diretor editorial do site de notícias e análises “Diário do Centro do Mundo”(Diário do Centro do Mundo).Artigo transcrito e comentado no jornal online “Brasil 247”   (http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/124025/DCM-IPTU-prova-como-é-duro-agir-pelos-pobres.htm).

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