terça-feira, 17 de dezembro de 2013

O VOO - Mauro Santayama


(HD) - Seria bom, se para tirar a cabeça das nuvens, bastasse tirar os pés do chão. Os pilotos aliados relatam instantes de iluminação, nos vôos em que retornavam, com os aviões avariados, quase caindo, às suas bases na Inglaterra, na Segunda Guerra Mundial. Santos Dumont e Amelia Earhart costumavam dizer que refletiam melhor quando livres das amarras da gravidade, embora isso não tenha livrado a famosa aviadora norte-americana de desaparecer, sobre as águas do Pacífico, em julho de 1937.       
Essas divagações nos vêm à mente a propósito da entrevista de Fernando Henrique Cardoso, ao Valor, sobre os detalhes da viagem dos ex-presidentes da República, com a Presidente Dilma, a Johanesburgo, para as homenagens a Nelson Mandela.
Nela, Fernando Henrique desmistifica o mito da Dilma fechada e “rabugenta”. Diz que todos evitaram polemizar, que ninguém – além da Presidente – conseguiu dormir na viagem de ida. E foi simpático ao referir-se a Lula, com quem teria  “rememorado muitas coisas”, e estabelecido um contato mais próximo do que o que teve com Collor ou Sarney.   
Seria desejável, se, em momento de lucidez, inspirado pelo fato de terem estado no mesmo avião, a caminho da África do Sul, os presidentes refletissem sobre o fato de estarmos, todos, no mesmo barco, do ponto de vista da responsabilidade pela defesa da democracia e com relação aos riscos, sempre presentes, que ameaçam o Estado de Direito.  
É preciso combater a corrupção, onde ela estiver? Sim! Mas é preciso também parar de ficar forjando cascas de banana; de tentar elevar a sabotagem ao estado da arte no exercício da política; de manipular e distorcer as instituições; de ficar criando problemas para torpedear a governabilidade e travar o desenvolvimento - como está ocorrendo, por exemplo, na área de infra-estrutura – em projetos federais, estaduais e municipais. 
Apostar na criminalização da política, como tem se feito, implacavelmente – tentando crucificar o outro quando o próprio telhado é de vidro – equivale a dedicar-se a montar, sem pára-quedas, uma bomba dentro de aeronave a dez mil metros de altitude.
Na internet, está virando moda dizer que, para ser homem público, basta ser ladrão, e – como resultado da  irresponsável doutrinação feita nos últimos anos - há quem não veja mais nenhuma diferença ética ou ideológica entre quaisquer segmentos da política nacional.
Para grupos mais radicais, de fascistas e psicopatas -  é preciso que suas excelências atentem para os sinais luminosos no fundo da cabine - já passou da hora de jogar as urnas fora, rasgar o título de eleitor, e promover a volta da tortura e dos assassinatos do autoritarismo.
É isso que muitos defendiam, nos portais e redes sociais, enquanto o avião presidencial atravessava o oceano, rumo a Johanesburgo. Torcendo, abertamente, para que ele explodisse ou caísse, a centenas de metros por segundo, sobre o Atlântico Sul.

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