Não é casual que a blogueira tenha iniciado
sua gira pelo Brasil, país que tem participação decisiva no mais
importante projeto de infraestrutura em construção em Cuba hoje, o
Complexo de Mariel. Será o maior porto de todo o Caribe.
Data: 23/02/2013
A gira da blogueira cubana Yoani Sanchez pelo
Brasil tem se revelado, até o momento, uma exitosa campanha de ‘over’
exposição midiática dela, numa tentativa de distorcer a gigantesca
função histórica libertadora da Revolução Cubana e, também, numa
fracassada operação da diplomacia da desintegração. Trata-se de uma
ação geopolítica da direita para tentar impedir a crescente presença
política de Cuba na América Latina e Caribe por meio de vários projetos
de cooperação, mas, sobretudo, pela criação da Celca (Comunidade de
Estados Latino-Americanos e Caribenhos), da qual Cuba é hoje presidente
e onde foram derrotados pelos povos da região todos os esforços da
agressiva política dos EUA para isolar a ilha caribenha. Começo por
reivindicar 1% do espaço midiático dado a ela, para discutir este outro
ponto de vista.
Era previsível que a blogueira tivesse ampla
cobertura da mídia. Esta cobertura é marcada pela repetição de uma única
tese e, na proporção inversa, pela negativa em informar sobre o que é
exatamente a realidade Cuba, a começar pela informação de que Cuba
exerce a presidência da Celac, o que, para um país que foi bloqueado,
expulso da OEA, atacado militarmente pelos EUA, impedido de ter acesso
pleno ao sistema
financeiro
internacional, representa exatamente uma vitória de Cuba e da causa da
integração latino-americana e caribenha. Obviamente, representa um
fracasso de todos os países imperiais, de seus meios de comunicação e
de personagens como Yoani Sanches, que, observa que seu discurso é de
absoluta sintonia com os polos mais conservadores da sociedade
brasileira, discurso que tem sido derrotado. O discurso dela e da mídia
brasileira que o exalta, é o discurso que quer o fracasso da política
externa brasileira de prioridade à integração com a América Latina.
Biotecnologia: avanço técnico-científicoSeria
muito informativo e educativo para o povo brasileiro se, na mesma
proporção do oferecido à blogueira, também fosse dado espaço midiático
aos cientistas cubanos para falar como um país pobre, em pouco mais de
50 anos, e sob bloqueio, conseguiu desenvolver um indústria de
biotecnologia das mais avançadas do mundo, com medicamentos de eficácia
comprovada e sucesso internacional como o Óleo de Schostakovsky ( para
a gastrite), o complexo para combater diabetes, a vacina contra o
câncer de intestino (um laboratório dos EUA tentou comprar mas foi
proibido pelo governo Bush), as vacinas contra a meningite, etc. Antes
da Revolução, Cuba sequer possuía indústria farmacêutica, hoje exporta
medicamentos, ciência, e médicos.
Países imperiais exportam
soldados, armas, intervenções militares. Esta mesma mídia brasileira que
é sócia da SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa, apoiadora de
todas as ditaduras da região), também fez um grande estardalhaço para
tentar impedir que o Brasil reatasse relações com Cuba em 1986, sob o
Governo Sarney. Na época, o Brasil teve um surto de meningite e esta
mesma mídia, que fez uma acirrada campanha para que o Brasil não
comprasse as vacinas cubanas contra a meningite. Uma operação econômica
e ideológica.
No primeiro caso, o Brasil tinha e ainda tem o seu
setor de medicamentos quase totalmente controlado e ocupado por umas
poucas multinacionais farmacêuticas, grandes anunciantes desta mídia,
ambos lutando para não perder o controle do mercado para as vacinas
cubanas, que o governo Sarney acabou importando em grande quantidade,
apesar da pressão dos oligopólios. E era também uma operação
ideológica, com a intenção de dizer que era impossível que uma ilha
pequenina, cercada de hostilidades imperiais por todos os lados,
pudesse, com poucos anos de socialização de sua economia, ter alcançado
tal êxito técnico-científico, a ponto de transformar-se em exportadora
de sofisticados medicamentos, enquanto o Brasil, uma economia muitas
vezes superior, era ainda dependente de sua importação.
Sarney e as vacinas cubanasA
ruidosa campanha contra as vacinas cubanas na época – questionando até
sua eficácia apesar dos reconhecimentos da Organização Mundial da
Saúde - era uma desumana tentativa de intimidar o governo Sarney que,
não apenas reatou com Cuba, mas começou a realizar um processo de
intercâmbio comercial, científico e cultural com a Ilha. Vale lembrar, o
ministro da Cultura de Sarney era o inesquecível Celso Furtado... O
discurso da mídia então, submisso aos ditames imperiais, queria também
impedir a criação do Mercosul, cujo fortalecimento posterior e sua
consolidação hoje, é algo que desagrada enormemente aos inimigos da
integração, pois é evidente que um Mercosul cada vez mais forte e
amplo, com a entrada da Venezuela e, proximamente, da Bolívia e do
Equador, representa uma alternativa histórica real aos “Cem Anos de
Solidão” de uma América Latina antes submissa e desunida e, agora, em
processo de transformação , com governos populares e com uma cooperação
cada vez maior com Cuba. Estamos abrindo as páginas dos Cem Anos de
Cooperação...
Desintegração e fracasso históricoA este
processo de integração crescente se dirige a passagem da blogueira por
aqui e deste ponto de vista, revela-se um enorme fracasso Ela se auto
classificou como diplomata popular, mas é fácil perceber tratar-se de
uma diplomata da desintegração. O pano de fundo, o que ela e seus
patrocinadores visam, é obstaculizar a causa maior de nossas mais
importantes lideranças históricas, a começar por Simon Bolívar, José
Marti, Tiradentes, Abreu e Lima, Perón, Getúlio Vargas, Che Guevara,
hoje continuados, concretamente, pelas políticas de integração
implementadas pelos governos de Lula-Dilma, Fidel-Raul, Hugo Chávez,
Evo Morales, Pepe Mujica, Nestor e Cristina Kirchner, Daniel Ortega e o
recém reeleito Rafael Correa.
Dalai LamaPersonagens
como Yoani Sanches são criados em determinados momentos, recebem as
condições materiais e financeiras de circulação, publicidade e
exaltação, mas produzem, concretamente, poucos resultados práticos.
Citemos outro personagem fabricado para uma operação similar contra a
Revolução Chinesa: Dalai Lama. Sustentado por anos e anos pelo
Departamento de Estado dos EUA, que além do salário, do apartamento
onde vive perto do Central Park de Nova York, e de uma jorrante
publicação de seus livros, Dalai Lama revela-se um retumbante fracasso.
Antes da Revolução Chinesa, o Tibet era um regime feudal e
escravocrata. O Brasil não foi o último país a abolir a escravidão, foi
o Tibet, e por meio de uma revolução dirigida por Mao-Tse Tung e o
Partido Comunista. Antes da vitória socialista, em 1949, a China era
conhecida pela espantosa fome que levava milhões à morte a cada ano.
Além
disso, havia todo tipo de doenças evitáveis, o povo sequer conhecia
médicos. E era possível, nas feiras, comprar animais e mulheres como
servas, já que não existiam direitos trabalhistas. Hoje, apesar das
inúmeras giras de Dalai Lama pelo mundo, a China é conhecida por lançar
uma nave tripulada ao espaço sideral, por ser a economia que mais
cresce no mundo, que mais fabrica computadores e turbinas de energia
solar, que lança satélites em parcerias com a Venezuela e o Brasil, que
legalizou e socializou a acupuntura (antes de Mao era proibida) e que,
em parceria com a Rússia e o Iran, está travando os planos da Otan de
invadir e esquartejar a Síria. O que se houve falar de Dalai? A notícia
mais recente é que ele estaria disposto a dialogar com as autoridades
chinesas, contrariando seus patrocinadores. Vai ter que mudar-se do
Central Park...
Cuba inclusiva?A blogueira falou em
Brasília que quer uma Cuba mais inclusiva e plural. Se examinarmos a
realidade cubana, especialmente as estatísticas elaboradas ou
reconhecidas por instituições internacionais como a Organização Mundial
da Saúde, a Unesco, a Unicef, a Organizaçao Panamericana de Saúde e se
a mídia comercial, que tanta exalta a Yoanis, desse ao povo brasileiro
o direito de conhecê-las, ficaria claro que é difícil apontar uma
sociedade tão inclusiva como a cubana. Há começar porque não existem
crianças vagando pelas ruas, crianças fora da escola, crianças pedindo
esmolas, nem crianças trabalhando.
A taxa de mortalidade infantil
é INFERIOR àquela registrada nos EUA, onde, aliás, o trabalho infantil
está em elevação, o que se agravou enormemente com o desemprego e a
crise capitalista por lá, onde só os banqueiros e a indústria bélica
foram salvos, como revela o Occupy Wall Street.
Não há um único
hospital privado em Cuba, todo o atendimento é gratuito. Isto não é
inclusão? Inclusive para os bombeiros e sobreviventes dos EUA que
trabalharam nas operações de resgate de corpos dos escombros das Torres
Gêmeas, demolidas providencialmente pelos autoatentados de 11 de
setembro de 2001. Estes bombeiros e sobreviventes, cidadãos
norte-americanos, foram levados a Cuba pelo cineasta Michel Moore, pois
não tinham planos de saúde nem tratamento médico nos EUA, onde haviam
sido condecorados com heróis. Em Cuba, foram atendidos gratuitamente
nos hospitais mais avançados, os mesmo que já trataram, depois da
eleição de Chávez, 43 mil cidadãos venezuelanos. Se a blogueira tivesse
visitado hospitais no Entorno de Brasília, teria uma ideia concreta do
que é realmente a falta de inclusão.
Aliás, se o povo
brasileiro pudesse ser informado, massivamente - digamos que 10 % do que
a TV Globo mostra de baixarias do Big Brother, onde há z até
edificantes concursos de pum - sobre um único relatório da UNICEF em
que se afirma que “Existem 200 milhões de crianças desnutridas no mundo
hoje. Nenhuma delas é cubana!”, entenderia mais claramente os absurdos
ditos por esta personagem.
BloqueioHouve um tempo em
que os opositores de Cuba, inclusive a blogueira, diziam que o bloqueio
dos EUA era apenas uma desculpa de Fidel para desviar a atenção dos
problemas internos. Agora, quando o bloqueio recebe múltiplas
condenações na ONU, sendo defendido apenas pelos EUA, e por razões
óbvias de subordinação pelo Canadá, Israel e um ilha desconhecida do
Pacífico, sendo criticado até mesmo pelo New York Times e pela Revista
Forbes, a blogueira foi orientada a mudar o discurso e admite ser
contrária a esta escandalosa violação dos direitos humanos do povo Cuba
por parte da Casa Branca, proibindo à ilha uma simples operação
comercial para a compra de aspirinas no mercado norte-americano.
Aliás,
ela disse também ser a favor da libertação dos 5 heróis cubanos
prisioneiros políticos nos EUA, por trabalharem na prevenção dr
atentados terroristas organizados em território da pátria de Jack
London. Alertado por Fidel Castro, em carta entregue pelo genial
Gabriel Garcia Marques, o presidente Bill Clinton, ao invés de fazer
uso das informações para evitar atentados terroristas que estavam e
organização, como os de Oklahoma ou os de 11 de setembro de 2001,
preferiu prender os cinco cidadãos cubanos.
Aliás, agora que até a
blogueira já fala o fim do bloqueio, dando razão ao governo de Cuba, e
também a Lula e Dilma que sempre se pronunciam em defesa da posição do
governo cubano, vale comparar a situação vivida por Yoani Sanchez -
que não está presa, comunica-se com o mundo inteiro a partir de Cuba ou
fora dela, viajando por mais de 12 países para criticar a Revolução
Cubana - com a situação do soldado norte-americano Bradley Manning,
preso e torturado em prisão militar dos EUA, por ter revelado ao mundo,
corajosa e generosamente, com a ajuda do Wikileaks, os documentos
sigilosos contendo os planos mais sinistros do imperialismo para atacar
e desestabilizar vários> países e governos ao redor do mundo. Ou
comparar com a situação de Mumia Abu Jamal, jornalista e militante
negro, preso no Corredor da Morte, condenado injustamente por um juiz
racista que coleciona sentenças de pena de morte especialmente para
negros, asiáticos, hispânicos e pobres que vivem por lá. O “delito” de
Abu Jamal é escrever com coragem e talento sobre o regime
discricionário vigente nos EUA, onde, há pouco, foi proibida a sintonia
por satélite de canais de TV do Irã, desmascarando-se, assim, o falso
discurso da liberdade de expressão reivindicado pela Casa Branca. Bom,
eles já haviam proibido o ingresso de Charles Chaplin por lá...
Medicina e humanismoTive
a oportunidade de visitar a Escola Latino Americana de Medicina
(ELAM), instalada numa antiga base naval desativada próximo a Havana e
lá conversei com representantes dos mais de 500 estudantes negros
estadunidenses, oriundos dos bairros pobres do Harlen ou do Brooklin.
Eles me contaram que jamais teriam a oportunidade de se formarem em
medicina nos EUA, sendo muito mais provável, pelas condições precárias
de vida que tinham lá, que fossem recrutados pelo narcotráfico e
terminassem presos. Aliás, os EUA possuem a maior população carcerária
do mundo... Em Cuba, estes jovens estão estudando, gratuitamente, para
serem médicos.
Compartilhar o que tem, não o que sobraAnte
aos agressivos ataques do Pentágono e da CIA contra a Revolução Cubana,
esta se defende, legitimamente, mas também reage com humanismo,
oferecendo aos filhos pobres da pátria de Lincoln a possibilidade de
escapar da criminalidade e servirem socialmente ao povo norte-americano,
a quem se respeita em Cuba, a ponto que jamais se queimou uma bandeira
dos EUA em território cubano. Enquanto a Casa Branca envia terroristas e
guerra bacteriológica contra Cuba - como denunciou um ex-ministro da
saúde dos EUA - Cuba envia médicos formados para o povo norte-americano!
É a este país, que reparte seus modestos recursos orçamentários com
outros povos, que a blogueira afirma não ser inclusivo?
Vale
lembrar o desastre do Furacão Katrina: enquanto a população negra e
pobre estava abandonada em Nova Orleans pelo governo de Bush, Cuba
ofereceu o envio imediato de 1200 médicos para salvar vidas ali. Eles
ficaram toda uma manhã posicionados no aeroporto de Havana esperando
autorização da Casa Branca para embarcarem para os EUA. A autorização
nunca veio. E a blogueira, que reivindica uma Cuba inclusiva, não toca
no tema.
Cuba plural?Houve um ano, 1984, em que a
Unesco reconheceu ter Cuba batido um recorde na publicação de livros,
que lá são vendidos a preços de um picolé ou menos. Foram 480 milhões
de exemplares publicados naquele ano. Entre estas obras há Guimarães
Rosa, com tiragem superior a 150 mil exemplares, quando no Brasil, com
um indústria gráfica 50% ociosa, a tiragem padrão é de apenas 3 mil
exemplares. Em Cuba há mais pleno acesso à literatura universal, ao
cinema internacional, o cinema é uma atividade popular, com ingressos
baratos e salas cheias. Já foi produzida em Cuba uma rádio-novela sobre
a Coluna Prestes, quando aqui ainda não há sequer projetos para uma
grande produção cinematográfica sobre o tema.
Como seria
educativo se a presidenta do Instituto do Livro Cubano, Zuleika Romay,
uma mulher negra e jovem, pudesse ter 5% do espaço televisivo que foi
dado à blogueira para desprestigiar a Cuba, inclusive quando afirmou que
concordaria com hospitais e escolas privadas na Ilha, o que revela seu
pensamento nada inclusivo, já que serviços privados só são acessíveis a
quem paga, e na Cuba atacada pela mídia conservadora, a educação e a
saúde são públicas e gratuitas. Milton Nascimento, numa turnê pela Ilha,
sentiu-se mal e foi atendido por médicos em seu hotel. Ao final, quis
pagar, recebendo como resposta que em Cuba saúde é um direito de todos e
que isto não se vende.
Cuba, Brasil e HaitiQuando a
tragédia do terremoto assolou o Haiti - um geólogo cubano havia alertado
anos antes que eram altíssimas as probabilidades de um terremoto com
epicentro cerca de Porto Príncipe - os médicos cubanos já eram
responsáveis há anos, praticamente, pelo o que havia restado de serviço
de saúde ali ante tanta miséria construída pelos países imperiais que
dão sustentação à blogueira. O Brasil também estava lá, com o maior
número de soldados, que também realizam obras de infraestrutura. Mas, a
partir do terremoto Brasil e Cuba passaram a colaborar mais
centradamente na área da saúde, e, com um financiamento de 80 milhões de
dólares do governo brasileiro, foram construídas instalações de saúde
para o povo haitiano, no qual trabalham as centenas de cubanos que já
estavam lá há anos, juntamente com médicos militares brasileiros. Como
parte desta cooperação, além da saúde, o Batalhão de Engenharia do
Exército está construindo a única hidrelétrica por lá, além de rodovias e
pontes.
Impublicável: cooperação sul-sul-sulEm 2006, a
Organização Mundial da Saúde, lançou um SOS Internacional: precisava de
produção massiva, a preços baixos, de vacina contra meningite A e C
para entregar a 23 países da África, onde vivem 430 milhões de seres
humanos. Só uma empresa transnacional fabricava estas vacinas, mas
devido à baixa lucratividade, reduziu sua fabricação colocando a África
sob o risco de emergência sanitária. Só dois laboratórios públicos
atenderam ao chamado da OMS: Instituto Finlay de Cuba e o Instituto
Bio-Manguinhos do Brasil. Os dois se associaram para a criação da vacina
Vax-MEN-AC, específica para os tipos de meningite que afetam a África. A
cooperação Brasil-Cuba permitiu um preço 20 vezes menor do praticado
pela transnacional e já foram produzidas e entregues 19 milhões d doses.
Esta
é uma notícia impublicável nos grandes meios que abrem todo espaço à
blogueira e que hiper divulgam as ações financiadas pela Fundação do
Multibilionário Bill Gates, de impacto mínimo, conduzidas por operações
de marketing de empresas privadas, aquelas que não se interessaram em
atender ao apelo da OMS. Brasil e Cuba, com governos de orientação de
esquerda, por meio de laboratórios públicos, fazem mais contra a
meningite na África que as transnacionais e a fortuna de Bill Gates. A
blogueira não fala nada disso no seu blog, nem nas suas entrevistas, mas
pede uma Cuba mais inclusiva e plural.
Cuba, Brasil e Timor LesteEm
visita de trabalho ao Timor Leste, onde a TV Cidade Livre de Brasília e
o Comitê de Brasiliense de Solidariedade ao Timor doaram os
equipamentos de uma rádio comunitária às organizações educacionais
locais, pude visitar, também, o alojamento de 400 médicos cubanos que lá
trabalham em solidariedade ao povo maubere. Comentei a visita com o
Presidente da República, Ramos-Horta, Prêmio Nobel da Paz, que recebia o
Presidente Lula. Ele me contou que ter sido pressionado pelo Embaixador
dos EUA lá a não receber os médicos de Cuba, oportunidade em que
perguntou ao gringo: “Quantos médicos norte-americanos temos aqui?”. “Só
um, o da embaixada!”, respondeu. “Pois então o povo do Timor é muito
grato a Cuba e vai sim receber os médicos cubanos”, disse-lhe Horta.
O
pensamento da blogueira é bastante sintonizado com o do embaixador
gringo e certamente não considera inclusivo que na cooperação Brasil e
Cuba, os 600 estudantes timorenses que serão formados em medicina na
Ilha brevemente, antes de voltar ao Timor, façam estágio na Fundação
Oswaldo Cruz, no Brasil, na área de medicina tropical.
Como se
sabe, a cooperação não fica por aí. O Brasil está estudando a
contratação de um numeroso contingente de médicos cubanos para,
finalmente, levar serviços médicos a todos os municípios brasileiros, o
que ainda não ocorre. Isso sem falar dos cerca 800 brasileiros, em sua
maioria pobre, inclusive, uma centena de jovens do MST, que lá estão
estudando medicina. Gratuitamente, pois Cuba, desde o início de sua
Revolução, compartilha não apenas o que lhe sobra, mas o que tem com
outros povos.
Complexo de Mariel: integração para todos
crescerem. Não é casual que a blogueira tenha iniciado sua gira pelo
Brasil, país que tem participação decisiva no mais importante projeto de
infraestrutura em construção em Cuba hoje, o Complexo de Mariel. Será o
maior porto de todo o Caribe, dinamizando a economia de toda a região,
além contar com uma ferrovia, uma rodovia e uma mineradora. Os
empréstimos do BNDES são da ordem de 1,2 bilhão de dólares.
Desnecessário afirmar que, na prática significa, também, furar o
bloqueio dos EUA contra Cuba, indicando apurada visão estratégica de
Lula, e, além disso, uma ideia clara do que significa uma integração
para que todos os países possam crescer juntos, reduzindo asassimetrias e
comprovando a política de que só por meio da integração da América
Latina e Caribe é possível constituir uma área alternativa de
crescimento com distribuição de renda. A blogueira está na contramão
deste projeto e é por isso que foi tratada como um troféu pela mídia
oposicionista - e por seus seguidores - que tem visto este projeto ser
derrotado nas urnas repetidas vezes, como recentemente no Equador, na
Venezuela e na Bolívia, que recém nacionalizou os serviços portuários
ante a negativa de investimentos de transnacionais espanholas.
Mandela: devemos o fim do apartheid a CubaForam
ouvidos muitos disparates durante a gira da blogueira no Brasil.
Algumas manifestações normais e democráticas de jovens e estudantes
contra sua presença foram tratadas como se fossem violentas. Nenhum país
é mais criticado no fluxo informativo internacional do que Cuba. Mas, o
problema não são as críticas, elas são permitidas até à própria
blogueira. A questão é a violência com que foi tratada a Revolução
Cubana desde o início, sendo obrigada a pagar um preço amargo, com
muitas vidas ceifadas em atentados terroristas como o que derrubou o
Avião da Cubana de Aviación, sendo seus autores confessos protegidos
pelos governos dos EUA.
Mas, entre todos os disparates, o mais
surpreendente foi contorcionismo analítico de um editorialista do
Estadão que chegou a fazer uma comparação, meio envergonhada é bem
verdade, de Yoani Sanchez com Nelson Mandela. Diante do nível desta
tentativa absurda de analogia, uma resposta grande com uma página da
História. Cuba enviou cerca de 350 mil homens em mulheres para lutar em
Angola em defesa da independência do país, invadido pelo exército
racista da África do Sul, contando com o apoio dos EUA e com a oferta de
Israel para que fosse atirada uma bomba nuclear sobre as tropas
cubano-angolanas. A solidariedade cubana escreveu uma página inapagável
na história moderna: Cuba foi o único povo a pegar em armas para lutar
contra o apartheid, o mais brutal e criminoso regime político-social dos
tempos modernos! Quando ocorre a vitória sobre as tropas racistas na
Batalha de Cuito Cuanavale, Mandela, ao livrar-se dos 27 anos de prisão,
cunhou uma frase que define com a energia de um raio, a função
histórica de Cuba: “ A Batalha de Cuito Cuanavale foi o começo do fim do
Apartheid. Devemos isto a Cuba”.
Diante dos ataques da mídia
contra Cuba, Dilma, em Havana, reagiu apontando os telhados de vidro dos
que querem ser campeões em direitos humanos mas mantém um centro de
torturas em Guantânamo e multiplica o assassinato de civis, inclusive
crianças, por meio de seus drones macabros. E o Brasil segue
aprofundando sua cooperação com Cuba e consolidando a integração
solidária e democrática por meio do Mercosul, da Unasul e da Celac,
presidida por Cuba, com sua generosidade e humanismo, e sem a presença
arrogante e imperial dos EUA. A diplomata da desintegração, aqui no
Brasil, está fadada ao fracasso.