quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

ESTRATÉGIA E IMIGRAÇÃO NO BRASIL

Mauro Santayama em seu blog



(JB) - O senhor Marcelo Neri, Ministro de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, precisa deixar claro a que se refere, quando diz que o Brasil pretende reformular suas leis de imigração, para possibilitar a entrada de profissionais estrangeiros.
A cada vez que ele toca no assunto, a imprensa internacional faz grande estardalhaço - principalmente em países que estão em crise - dando a impressão de que há milhões de empregos de alta remuneração não ocupados por aqui, e ressalta a “incompetência” brasileira nos campos da educação e da formação técnica de mão-de-obra especializada.


Primeiro, há que considerar que a necessidade de mão-de-obra estrangeira qualificada é pontual, e localizada, e não generalizada.


Assim como ocorre com o Programa Mais Médicos - e essa deveria ser a primeira missão da Secretária de Assuntos Estratégicos da Presidência da República nesse contexto - é preciso identificar, claramente:


a) Em que áreas, estados, cidades, estamos dependendo de profissionais estrangeiros.


Se vamos construir um porta-aviões, por exemplo, busquemos profissionais - até mesmo aposentados - que já tenham participado desse tipo de projeto, para que nos repassem essa tecnologia.      


Precisamos acelerar nosso programa espacial? Vamos recrutar especialistas no exterior para dar aulas no ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica, para trabalhar junto à AEB, a Agência Espacial Brasileira, ou no Instituto de Aeronáutica e Espaço.


O mesmo pode ser feito na área de nanotecnologia, de novos materiais, da ótica, da mecatrônica, da biotecnologia, da física quântica, na identificação de pesquisas de ponta das quais o Brasil pode participar, financiando projetos de alta tecnologia no exterior ou trazendo professores e pesquisadores de fora para montar equipes específicas com cientistas brasileiros.


b) Como encontrar e recrutar especialistas estrangeiros.


O processo de seleção não tem que ser feito aqui, mas, previamente, no exterior. Para isso, pode-se contar com a estrutura de nossos consulados e embaixadas em outros países, e realizar esse trabalho por intermédio de nossos adidos comerciais ou militares, ou de programas públicos de seleção, sempre levando em consideração a origem, formação e experiência anterior dos candidatos, para se evitar a mera importação de espiões.


c) De que forma esses profissionais irão trabalhar no Brasil.


Se a contratação será temporária e renovável, como no Programa Mais Médicos, se haverá possibilidade de obtenção da nacionalidade brasileira depois de certo período e de cumpridos determinados requisitos, etc.


O Brasil recebeu,  quase sempre de braços abertos, principalmente  nos séculos XIX e XX, imigrantes das mais variadas origens e culturas. Libaneses e sírios do Oriente Médio, portugueses e espanhóis, italianos, ucranianos, russos, alemães, japoneses.


Temos, no Brasil, bairros e cidades inteiras construídas a partir de outras culturas, como Blumenau, em Santa Catarina, onde se comemora a segunda maior Oktoberfest do mundo; o bairro da Liberdade, na capital paulista, de marcante presença oriental; a região de Curitiba, onde há a única escola do Balé Bolshoi fora da Rússia; Garibaldi, de colonização italiana, no Rio Grande do Sul; ou as cidades de Americana, fundada por Confederados sulistas, que para cá vieram depois de ser derrotados na Guerra de Secessão e de Holambra, estabelecida por colonos holandeses em São Paulo.


Apesar disso, quando tivemos, forçados pela crise dos anos noventa, de proceder à nossa própria diáspora - pequena, quase insignificante, para nossas dimensões demográficas - não podemos dizer que tenhamos sido tratados com a mesma generosidade, mesmo em países que foram, e agora voltam a ser, tradicionais emissores de emigração para o Brasil.


É preciso, no entanto, distinguir o imigrante ou refugiado pobre, humilde, que traz na sola do sapato seu passado e sua esperança, para agregá-los ao nosso destino e forjar futuro, e os novos “imigrantes” que chegam de nariz em pé, com diploma debaixo do braço, achando que podem nos dar lições de qualquer espécie, ou nos olhar com arrogância, por cima do ombro, como se dependêssemos deles, e não ocorresse o contrário.


Para ilustrar, basta o exemplo, cristalino, do embaixador da Espanha no Brasil, Manuel de La Camara (foto), em recente entrevista à agência EFE, publicada pela imprensa de seu país.


Nela, o sutil diplomata, jogando para a platéia - uma Espanha quebrada, com 27% da população desempregada - dá um empurrãozinho à autoestima ibérica, explicando que os engenheiros espanhóis que estão trabalhando em nosso país “prestam um duplo serviço ao Brasil. Oferecem mão de obra qualificada, graças ao investimento em educação do estado espanhol, e, além disso, formam os engenheiros brasileiros.”


As declarações de sua Excelência o embaixador da Espanha - que mereceriam alguma reação da comunidade acadêmica nacional e do Clube de Engenharia - mostram que a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República - também notícia no país de Cervantes - não está sabendo se fazer entender em alguns países, quando trata da política brasileira de imigração de mão-de-obra especializada.


Ou somos uma nação que tem um projeto claro e consequente para a importação de trabalhadores  qualificados, para setores e projetos estratégicos, como os EUA, a URSS, a China, a Austrália e o Japão já o fizeram no passado, ou somos um paraíso tropical para arquitetos e decoradores estrangeiros recém-formados – e uma república de bananas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário