domingo, 16 de março de 2014

Brasileiros endividados e inadimplentes diminuem

José Carlos Peliano (*) no Carta Maior

  

Segundo pesquisa da Serasa Experian, empresa com banco de dados de crédito de consumidores, empresas e grupos econômicos, os brasileiros têm conseguido reduzir os comprometimentos devedores inadimplentes de suas rendas com compras a prazo nos últimos 4 anos.

Se em 2012 o total chegava a 6 milhões, em 2013 há uma redução de 100 mil, somando 5,9 milhões. Este total veio decrescendo também de 2010 a 2011. A inadimplência, caracterizada pelas dívidas não quitadas por mais de 90 dias, vai ficando aos poucos menor de ano a ano.

Este é um sinal positivo por pelo menos duas razões. Começa a existir por parte dos detentores de dívidas uma preocupação maior com a administração dos seus gastos mensais, o que torna mais eficiente a distribuição correspondente de suas rendas nos mais diversos itens, além de folgar os bolsos e escapar do vermelho.
Como também permite aprender a definir com mais clareza quais gastos podem ser feitos a prazo, à espera de períodos posteriores para efetuar outros, para não criar dificuldades e aborrecimentos futuros.

Ainda assim a pesquisa revela que 36,6% dos inadimplentes são do grupo reincidente. Pelo menos 1 entre 3 inadimplentes não conseguiu segurar a peteca, tendo que postergar e rolar os seus créditos para dar conta das despesas assumidas anteriormente e não pagas a tempo. O descontrole permanece, no entanto, assustando esses brasileiros.

O descontrole pesa mais para os mais pobres: 11,5% dos integrantes da classe D, que recebem entre R$ 299,00 e R$ 993,00, têm 10% de suas rendas mensais comprometidas com inadimplência, enquanto 21,9% têm 201% ou mais de suas rendas mensais penduradas no prego na mesma situação – ou seja, dois meses de renda mensal assumidos para a cobertura de dívidas não pagas.

Já para os mais ricos o descontrole é menor: 40,6% dos integrantes da classe A, que ganham mais que R$ 6.503,00, têm 10% de suas rendas mensais na situação de devo não nego, pago quando puder, enquanto 10,7% têm 201% ou mais de suas rendas igualmente na espera de algum dia serem quitadas.

Por certo que há muitas razões pelas quais os tomadores de crédito entram no circuito de dívida. Ricos e pobres têm motivações diversas que os levam a consumirem por conta de promessas de pagamentos futuros. Mas têm também informações diferentes sobre o processo de compra de bens e endividamento.

O sistema comercial de vendas a prazo esconde mais dados do que esclarece. Para os mais pobres em especial, a matemática dos juros compostos e dos valores à vista e a prazo, são os grandes vilões que acabam por compromete-los com dívidas assumidas mais por desconhecimento do que esclarecimento. A eles são repassados muitas vezes gatos por lebres.

Os números da pesquisa evidenciam por si mesmos: pouco menos da metade dos ricos pendura proporções menores de suas rendas em dívidas não pagas. Os pobres se comprometem mais.

O sistema de crédito por sua vez confunde os pobres, pouco acostumados com o uso a organização do crediário para as compras a prazo, o que não acontece com os ricos com mais experiência no assunto. Aliás boa parte de sua riqueza acumulada veio pelas mãos do parcelamento de compras e investimentos.

O ponto central da questão está em como usar o sistema de crédito. Afinal ele está aí para facilitar compras e evitar a descapitalização. Os pobres há bem pouco tiveram acesso a ele, graças em boa parte à melhoria de suas rendas obtidas nos últimos 12 anos, nas administrações dos três governos federais do PT. O que lhes falta é mais informações bem como orientações, as quais podem lhes ser fornecidas por organismos públicos, paraestatais ou não governamentais. Quem sabe os procons da vida ou assemelhados!

A tarefa de entender o financiamento das compras a prazo via crédito bancário, de saber o papel da inflação na correção das dívidas, de aceitar o sistema de juros compostos, que chuta o valor presente da compra lá para as nuvens, e de conseguir administrar mais de perto e com segurança as rendas mensais com os comprometimentos das dívidas assumidas, tudo isso, de uma só vez, assim de repente, complica até mesmo a cabeça de muita gente da classe A. Imagine de gente pouco experiente das classes D, C e B!

Para complicar ainda mais a tomada de decisões nas compras a prazo e no posterior rolo da inadimplência, todas as classes se deparam com as pesadas campanhas do marketing comercial nas TVs, rádios e outdoors. O efeito demonstração é difícil de ser contido, tanto entre os adultos, na compra de utensílios domésticos de primeira necessidade, quanto entre os mais jovens que querem chegar às ruas na moda, bem vestidos e tecnologicamente equipados.

De toda maneira, a queda gradativa do número de inadimplentes nos últimos anos pelo menos indica uma situação menos apertada para os bolsos dos brasileiros.
Um sinal de que, ou pela razão, ou pela dificuldade, a administração das dívidas mensais toma um rumo mais respirável, livrando devagar um bom número de ter o nome sujo na praça. O que igualmente ajuda a colocar a economia com os pés mais ao chão, ao ser financiada por dívidas melhor administradas e pagas mais em dia.

(*) Economista

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