quarta-feira, 30 de abril de 2014

OS EUA E PASADENA


(Hoje em Dia) - Revelações feitas pelo Wikileaks, a propósito da compra pela Petrobras, da refinaria da Pasadena, dão conta de que os Estados Unidos monitoraram atentamente o assunto.

Segundo informações publicadas nos meios de comunicação, um telegrama de 12 de junho de 2006, denominado A Aquisição da Petrobras da Pasadena Refining Systems”, teria sido enviado da embaixada norte-americana em Brasília ao Departamento de Estado a propósito de reuniões sobre o tema feitas com autoridades brasileiras, entre elas a então Chefe da Casa Civil, e Presidente do Conselho de Administração da Petrobras, Dilma Rousseff.

A preocupação dos EUA estava voltada para dois pontos:
Primeiro, saber se a posse de uma refinaria em seu território, por parte de uma empresa controlada, mesmo que parcialmente, pelo governo brasileiro, poderia representar alguma ameaça potencial à segurança nacional dos Estados Unidos.

O segundo, verificar até que ponto a expansão da Petrobras para o exterior podia atrapalhar os planos das empresas norte-americanas na América Latina.

Vários países sul-americanos estavam nacionalizando ativos petrolíferos controlados por multinacionais dos EUA, entre eles o governo equatoriano, que havia assumido as instalações da Occidental Petroleum. Os Estados Unidos queriam saber se a Petrobras poderia se beneficiar com a compra desses ativos, no futuro, se tivesse chance.
   
No mesmo ano, uma missão do governo Bush viajou ao Brasil, e, segundo telegramas do Wikileaks “recebeu garantias durante a visita do Secretário de Comércio Gutierrez no dia 7 de junho de 2006 à Chefe da Casa Civil do presidente Lula, Dilma Rousseff – que também atua como presidente do Conselho da Petrobrás – de que a Petrobras não tem interesse em assumir os ativos da Occidental Petroleum’s Ecuador”.

Naquele momento já havia quem defendesse, dentro da Petrobras, que a empresa concentrasse seus investimentos no pré-sal, em território brasileiro.


Como podemos ver, mais uma vez, pelo episódio, trata-se de uma balela a crença de que os EUA respeitem o livre mercado, além de seus interesses. Por lá, a mera compra de uma refinaria e a perspectiva da substituição de companhias norte-americanas por uma empresa brasileira no Equador são consideradas assunto de Estado, e movimentam vários níveis do governo, incluindo a embaixada em Brasília. Por aqui, desnacionalizamos alegremente setores inteiros, como ocorreu com o nefasto desmonte e entrega da TELEBRAS a países estrangeiros; organismos como o CADE interferem no processo de internacionalização de grandes grupos nacionais – veja-se a privatização da CIMPOR, em Portugal – e a cada vez que se fala na necessidade estratégica de proteção de capitais brasileiros – dentro ou fora do país – o mundo vem abaixo, já que até mesmo a diferenciação do conceito de empresa genuinamente nacional, já não existe mais, desde os anos 1990.

A QUESTÃO HAITIANA

Mauro Santayama em seu blog


Há alguns meses, tocamos aqui no problema dos imigrantes haitianos, que se acumulavam como gado, em um ”abrigo” no Acre, enquanto o governo acreano pedia, a Brasília, o fechamento da fronteira com o Peru, para diminuir o fluxo de “refugiados”.
O povo haitiano tem sido historicamente explorado. Primeiro, pelos espanhóis, depois, pelos franceses, os ingleses e norte-americanos, e vários ditadores, entre eles François Duvalier, o “Papa Doc”, que, além de  café e açucar, enviava, em conluio com mafiosos franceses, para o exterior, também o sangue e o plasma recolhidos, em troca de centavos, de seu povo.
Se antes, os haitianos eram explorados pelos colonos brancos, hoje, com o país destruído pela miséria e o terremoto, eles o são pelos “coyotes” que, em troca de pesadas dívidas, e usando seus familiares que ficam no Haiti como reféns ou como escravos, os enviam para outros países, como o Brasil, para que trabalhem, apenas para pagar a “viagem”, durante anos.
Para o Brasil, portanto, não se trata de um gesto humanitário aceitá-los em nossas fronteiras, já que, com isso, só estamos enriquecendo os modernos traficantes de escravos e os bandidos peruanos que os atravessam para o lado brasileiro.
Se quiséssemos recebê-los por aqui, bastaria obedecer às cotas já ofertadas para imigrantes legais haitianos, nas representações diplomáticas brasileiras em Porto Príncipe.
Trazendo-os diretamente para o Brasil, diminuiríamos o número de vítimas dos traficantes. Mas só poderíamos fazê-lo se tivéssemos como oferecer-lhes capacitação profissional e em nosso idioma, na chegada, e não estivéssemos apenas abarrotando abrigos insalubres, durante meses, com essas pessoas.
Desde 2010, quase 20.000 haitianos já entraram no Brasil por essa rota, e depois de ficar algum tempo no Acre, se espalharam pelo país.
Nas últimas semanas, 2.500 deles ficaram impedidos de fazê-lo, por causa da cheia do rio Madeira, e o governo acreano resolveu enviá-los para outros estados, principalmente da região sudeste, usando aviões que levavam mantimentos ao Acre.

Trata-se de um êxodo descoordenado e improvisado, a ponto de o governo de São Paulo ter emitido, ontem, nota reclamando da chegada de 400 haitianos à capital paulista, sem aviso prévio, nos últimos 15 dias, e classificando a atitude do governo acreano de “irresponsável”.
Quando o governo brasileiro aceitou o comando militar da Minustah - Missão de Estabilização do Haiti, em 2004, a pedido do Conselho de Segurança das Nações Unidas, abriu-se caminho, especialmente depois do terremoto de 2010, para o maior envolvimento  com a população local, considerando-se a natural solidariedade que seu sofrimento despertou entre nossos soldados.
A questão é que, a partir de certo momento, o Brasil passou a agir, de fato, como se fôssemos, como Nação, culpados pela situação haitiana, ou tivéssemos, como a Europa, a França e os Estados Unidos, no passado, explorado suas riquezas, invadido seu território, ou massacrado sua população.
Ao que parece, estabeleceu-se, em alguns círculos, incluindo o governo, certo  sentimento de culpa, como se não estivéssemos no Haiti sob mandato imperativo  das Nações Unidas, mas como tropa de ocupação. E fôssemos obrigados, por isso, a tratar os haitianos de forma diferente da que tratamos, por exemplo, nossos vizinhos da América do Sul. Aceitando a sua entrada, de forma maciça e desordenada, por nossas fronteiras, quando não temos condições sequer de assegurar dignidade, educação, saúde, e condições mínimas de infraestrutura e segurança a milhares de cidadãos acreanos, que, sem emprego e ocupando palafitas na periferia, vivem de forma não muito diferente das condições em que vivem os cidadãos do Haiti.
O que ocorrerá se, amanhã, devido a uma crise ou desastre natural, milhares de paraguaios, bolivianos, nicaragüenses ou hondurenhos, resolverem fazer o mesmo, e se dirigirem, à razão de dezenas de pessoas por dia, para outro município brasileiro?
Teremos o direito de tratá-los de forma diferente da que estamos tratando os imigrantes haitianos até agora?      
O governo brasileiro está simplesmente ignorando e empurrando com a barriga a questão da imigração haitiana. Ao que parece, já foi tomada a decisão de retirar nossos soldados daquela ilha, com o próximo fim da Minustah. É preciso, agora, que o governo federal exija do governo peruano o fim do tráfico de pessoas – que envolve corrupção e dezenas de milhares de dólares por dia – em seu território, para o Brasil.
Ou blindar a fronteira com o exército, antes que a situação fique definitivamente comprometida e insustentável, do ponto de vista do controle dos milhares de quilômetros de fronteira que compartilhamos na América do Sul.
Se quisermos ajudar os haitianos, podemos construir escolas, enviar tecnologia agrícola ou montar cooperativas de trabalho naquele país.

Incentivar a emigração deles para o Brasil – como estamos fazendo, por omissão, agora, não vai resolver nossos problemas, nem os problemas do Haiti.

1º de Maio: a encruzilhada brasileira


Saul Leblon no site Carta Maior

postado em: 30/04/2014

O jogral do Brasil aos cacos esforça-se por  convencer a sociedade de que seus pés tateiam  o precipício  no qual o PT  transformou tudo aquilo que um dia já foi uma economia  de fundamentos sólidos, um país de  vida aprazível.

Narra-se  o Brasil  abanando leques para os donos da casa-grande.

Dá-se a isso o nome de  jornalismo; o resto é ideologia.

A sofreguidão  prestativa mistura problemas reais e imaginários em  uma escalada arfante destinada a validar nas pesquisas  da semana seguinte  a crispação denuncista   emitida no período anterior.

Vive-se uma  circularidade. Soa quase como um bate bola entre amigos.

Esse churrasco de compadres, que se repete com regularidade conveniente,   incorporou   ao  rachão  o ambiente carimbado das bolsas de valores.

O jornalismo  isento grita fogo;  em rodízio disciplinado, institutos de pesquisa  perguntam  ao eleitor  ‘se já sentiu o  cheiro de queimado’; as bolsas  correm e precificam o rescaldo dando  ares de  consenso  ao incêndio  antipetista.

Analistas –todos isentos, ideológicos são os blogueiros que entrevistaram Lula--  cuidam de emprestar  à pantomima uma seriedade imiscível com a manipulação cotidiana que  jorra  de todo o processo.

Não se pode negar alguma eficácia ao jogo corrosivo que tem a seu favor  os flancos  que a  transição de ciclo mundial impõe à economia e ao governo brasileiros.

 Enquanto for capaz de manter o debate  do desenvolvimento sob a neblina dessa isenção,  o conservadorismo terá o mando do campo.

 Mas só o terá enquanto durar a omissão do PT e do governo.

Se estes resolverem  –enquanto ainda há tempo--   esclarecer à sociedade o custo  efetivo das soluções  propugnadas pela ortodoxia , o jogo pode mudar.

Trata-se de repor o verdadeiro divisor de  águas desta eleição.

O conservadorismo insiste que se trata de um embate  entre o precipício petista e a estabilidade que só os candidatos dos livres mercados podem restaurar.

Em primeiro lugar, há que se arejar a moldura.

O Brasil faz parte do mundo. O  jogo aqui é o mesmo  em curso em outras praças do capitalismo internacional.

A escolha, de fato,  consiste em reordenar a economia com o escalpo dos assalariados, como prescreve a restauração neoliberal  em curso; ou repactuar o futuro construindo uma democracia social, que sincronize ganhos de produtividade, crescimento e redistribuição da riqueza.

Essa é a encruzilhada do 1º de Maio de 2014.

Aqui e em todas as latitudes do planeta.

É ela também que repõe os termos da luta entre capital e trabalho, entre  Estado social e estado mínimo, entre Aécios,  Campos & Marinas  --tanto faz--  e o campo progressista nas eleições brasileiras de outubro próximo.

Talvez seja o pressentimento  dessas massas de forças em conflito que explica por que 72% dos eleitores consideram o governo Dilma entre ótimo, bom e regular (segundo a última CNT), apesar do bombardeio diuturno dos isentos rapazes da mídia.

O governo e o PT precisam ajudar essa intuição com  a força do  esclarecimento político para que a sociedade tenha a certeza de que  existe uma escolha a ser feita .

E que ela pode fazer a diferença entre o Brasil que somos e o que gostaríamos de ser.

O conservadorismo prefere entregar o timão da travessia  à mão invisível  dos livres mercados.

A escolha predefine o vencedor do embate com base nas regras que lhes são intrínsecas, a saber: desregulação de direitos  trabalhistas, choque de juros, arrocho fiscal, liberdade irrestrita aos capitais e privatizações.

A  repactuação democrática do desenvolvimento, ao contrário, traz o embate para o delicado campo da negociação política; inclui prazos, sacrifícios e metas a serem pactuados em sintonia com  ganhos de  produtividade e crescimento que deem coerência macroeconômica ao processo.

Trata-se de promover  uma mudança na correlação de forças pós-crise de 2008. E de fazer da campanha de outubro o seu cenário.

A opção conservadora é mais simples e direta.

 Desde a estrutura do Estado, aos ventos internacionais, passando pela  prontidão plutocrática, até aos aparelhos ideológicos da sociedade, com a prestimosa turma do jornalismo isento à frente, tudo está  em linha para deflagrá-la.

O que atrapalha o cortejo é presença contraditória do PT na direção do país desde 2003.

Com as consequências sabidas.

A principal delas sendo a emergência de um novo protagonista representado pela ascensão de  53% dos brasileiros, que,  sozinhos,  formam  hoje  o 16º maior mercado popular do mundo.

O que fizeram os governantes das economias desenvolvidas desde os anos 90 — com os aplausos obsequiosos do dispositivo midiático local  — foi lubrificar uma espiral inversa.

Essa  à qual  o conservadorismo pretende  alinhar o país, se vencer em outubro.

Tome-se o caso mais ameno dos EUA, para não insistir no funeral econômico promovido na Europa pela rendição  socialista, para júbilo da extrema direita.

Nos EUA, ao contrário, há uma  recuperação nos indicadores de mercado.

Mas ela  não impede que o prestígio de Obama derreta aos olhos da sociedade, que hoje lhe atribui taxa de aprovação equivalente a de Bush nos piores momentos.

Por quê?

Porque   a propalada retomada   não inclui o resgate dos mais pobres, nem  a reincorporação da classe média no comboio dos vencedores.

O  grande séquito dos ‘ loosers ‘ norte-americanos  não foi obra do improviso.
Desde os anos 70, com as reformas neoliberais, a participação do trabalho na renda mundial declina.

 Recente debate promovido pela rádio Brasil Atual mostrou, por exemplo, que 2/3 das nações integrantes da ONU promoveram cortes em direitos trabalhistas nas últimas décadas.

Os EUA foram o palco de uma das decepações  mais drásticas.

 Hoje, a parcela da renda destinada aos trabalhadores  norte-americanos  está no  nível mais baixo desde 1950.

Os lucros das grandes corporações, em contrapartida, consomem a maior fatia do bolo já registrada desde 1920.

Esse arrocho estrutural  --associado a distorções cambiais—explica em boa parte  a brutal diferença de custo  entre fabricar  manufaturados no  Brasil e nos EUA.

Em 2004, segundo dados publicados pelo Valor Econômico, o custo da indústria brasileira era 3% menor que o da norte-americana; hoje é 23% maior.

 O fato de Obama não ter conseguido até agora reajustar um salário mínimo congelado há 15 anos, diz muito sobre as escolhas de futuro embutidas nessa diferença de competitividade.

Se por um lado ela inclui opções indesejadas, por outro é evidente que a construção de uma democracia social no Brasil exige respaldar  seu custo em contrapartidas  de produtividade, sem as quais a artificialidade do processo desembocará  em uma espiral salários/preços de consequências  sabidas.

Restaurar o modelo neoliberal, em contrapartida,  como quer o conservadorismo, é repetir o percurso que desembocou justamente no colapso de 2008, e hoje catapulta a extrema direita na Grécia,  França, Inglaterra (leia  a  análise de Marcelo Justo; nesta pág).

Não apenas isso.

Foi sobre  uma  base de renda e trabalho esfacelados  pela transferências de empregos  às ‘oficinas asiáticas’, que se instalou a desordem  neoliberal.

A asfixia desse arranjo capitalista só não explodiu antes de 2008, graças à válvula de escape do endividamento maciço de governos e famílias, que atingiu patamares  insustentáveis na bolha imobiliária norte-americana, espoleta da maior crise do capitalismo desde 1929.

Quando as subprimes gritaram — ‘o rei está nu’, todo o edifício de uma ciranda financeira ancorada no crédito sem poupança (porque sem empregos, sem renda e sem receita fiscal compatível) veio abaixo.

A tentativa atual de  ‘limpar o rescaldo’ resgatando apenas seus gargalos financeiros  --salvando os bancos e arrochando ainda mais os assalariados e os pobres — é mais uma forma de perpetuar a essência da crise do que de enfrentar as suas causas.

É nessa roleta russa que o conservadorismo quer engatar o futuro do Brasil.

O jogo, portanto, é pesado.

 Controlar as finanças desreguladas é um pedaço do caminho para controlar a redistribuição do excedente econômico, ferozmente concentrado nas últimas décadas, na base do morde e assopra – -arrocho de um lado, crédito do outro.

 Preservar o modelo, adicionando-lhe  a contração do crédito, como se tenta agora, desemboca nas manifestações mórbidas de totalitarismo em curso na Europa.

A produtividade imprescindível à renovação dessa engrenagem requer a construção de um outro percurso. Distinto da compressão dos holerites, do emprego e dos direitos sociais preconizado pelos jornalistas isentos.

A pactuação política de um novo ciclo de  expansão da economia certamente  é um caminho mais longo que o ajuste instantâneo oferecido pelo ferramental ortodoxo.

Mas o Brasil ainda preserva em seu metabolismo uma estrutura de organização social e sindical que pode e deve ser rejuvenescida com essa finalidade.

 Dispõe, ademais de um bloco progressista que mudou, para melhor, a face da sociedade em mais de uma década à frente do Estado.

As eleições de 2014 configuram uma derradeira oportunidade para as duas pontas renovarem seu estoque de força e consentimento na repactuação dessa heresia histórica.

Ou seja, construir um Estado social em uma nação em desenvolvimento.

A alternativa,  repita-se, é arrocho.




O contra-ataque dos super-ricos


140324-Superricos
Concentram cada vez mais dinheiro e poder. Sonegam nos paraísos fiscais. Obtêm favores dos Estados. Já sugerem voto segundo renda

Por Roberto Savio | Tradução: Gabriela Leite
F. Scott Fitzgerald cunhou uma famosa, “Os ricos são diferentes de você e de mim”. Pronunciou-a em uma época, os primeiros anos do século 20, em que os ricos não estavam sujeitos ao escrutínio público e em geral eram objeto de inveja, não de ressentimento.
Avançando rapidamente até o século 21, temos o movimento Occupy Wall Street, que, para denunciar a crescente desigualdade social, saiu às ruas em setembro de 2011, no distrito financeiro de Nova York, em nome dos 99% dos norte-americanos que possuem 60% da riqueza nacional frente ao 1% que possui 40%.
Seu êxito repercutiu em todo o mundo; mas agora, os ricos estão contra-atacando.
Seu líder é Tom Perkins, de 82 anos de idade, com um patrimônio de 8 bilhões de dólares. É dono de uma cobertura de 1600 m² em São Francisco e acaba de comprar um iate por 110 milhões de dólares. Em uma carta ao Wall Street Journalem janeiro deste ano, Perkins comparou a “guerra progressiva contra o 1% americano” dos estadunidenses mais ricos, com o Holocausto, comparando a “demonização dos ricos” do movimento do Occupy Wall Street com o antisemitismo da Alemanha nazista.
Um mês depois, Perkins declarou publicamente que, nas eleições, o número de votos a que uma pessoa tem direito deve ser proporcional à quantidade de impostos que paga. E está incentivando seus companheiros a “sair do armário”.

Bud Konheim, CEO da empresa de moda de luxo Nicole Milles, fez exatamente isso com sua mensagem aos 99%: parem de reclamar. “Nosso 99% é o 1% do resto do mundo… É quem está ganhando, ó meu deus, 35 mil dólares por ano… Por que não testamos isso na Índia ou em alguns países cujo nome sequer sabemos?
Juan Marcos, ex diretor-executivo do banco Morgan Stanley, que foi resgatado com fundos públicos, está defendendo os salários extravagantes dos executivos da corporação. Acaba de fazer uma declaração a favor de James Dimon, o executivo principal do JP Morgan Chase, que recebeu 20 milhões de dólares numa época em que seu banco perdeu vários milhões de dólares, em investimentos equivocados em fundos soberanos, e uma multa de cerca de 12 bilhões de dólares por práticas fraudulentas.
Segundo fontes financeiras, Wall Street gastou 500 milhões de dólares em grupos de pressão, para tratar de impedir a ação das autoridades reguladoras, na aplicação das normas aprovadas pelo congresso dos EUA para um controle um pouco mais estrito. Estas normas buscariam evitar uma repetição da crise financeira de 2008 que, junto com a crise europeia, atirou ao desemprego gerações jovens de quase todas as partes do mundo.
Para aqueles que pensam que na verdade o voto de um milionário é igual ao de um desempregado, este contra-ataque do 1% é legítimo. O úncio problema é que, apesar de seu diferente peso na política, me pergunto se as mesmas pessoas ingênuas também creem que ricos e pobres pagam impostos na mesma proporção.
Segundo o Tax Justice Network (TJN) — uma organização que faz campanha para frear a evasão fiscal –, nos paraísos fiscais encontra-se agora cerca de 8% do PIB mundial (os Estados Unidos têm um PIB de cerca de metade disso). O TJN realça como o grande capital estimula a corrupção.
O que é a corrupção? Segundo o Dicionário Inglês de Oxford, a corrupção é “a falta de honestidade ou conduta fraudulenta por aqueles que têm o poder”. As instituições financeiras e o 1% estão, sem dúvida, no poder. De acordo com a TJN, a quantia substraída dos Estados por sonegação, durante os últimos quinze anos, alcança a assombrosa cifra de 30 trilhões de dólares, o que equivale a metade do produto interno bruto do mundo.
Na China, grande parte dos 4 trilhões de dólares que se acredita que tenham desaparecido entre 2000 e 2011, foram desviados para paraísos fiscais. Na Rússia, a cifra é em torno de 1 trilhão de dólares e na União Europeia, 1,2 trilhões.
Em todo o mundo, os bancos foram multados por fraude e corrupção em níveis sem precedentes. Ler o informe do Senado dos EUA (2009) sobre o nível de corrupção na UBS, o maior banco da Suiça, é como entrar no mundo de um romance de crime. O informe, de 176 páginas, detalha em que grau a UBS ajudou seus clientes norte-americanos a esconder muitos bilhões em ativos. A UBS pagou uma de 780 milhões de dólares, e pode vir mais.
Em um apelo para criar uma força policial contra a corrupção mundial publicado no New York Times, no mês passado, Alexander Lebedev denunciou o roubo de 5 bilhões do Banco de Moscou, 4 bilhões do BTA Bank e Banco AMT, 4 bilhões do Rosukrenergo, 3 bilhões do Globex e Sviaz Bank 2 bilhões do Banco Agrícola Russo, um bilhão do Rosagroleasing e mais um bilhão do VEFK Bank.
Segundo Lebedev, um antigo alto funcionario da KGB e agora empresário, proprietário dos jornais Evening Standarde do The Independent, de Londres, “se alguém rouba um bilhão de dólares, e se dirige a um paraíso fiscal, é praticamente impossível empreender ações legais”. Como todos os oligarcas russos, ele certamente conhece o sistema de dentro.
De todo modo, não é necessário que o 1% se preocupe. Apesar de suas queixas, os super-ricos estão se dando melhor do que nunca.
Acabo de ler o Informe sobre a Riqueza deste ano, um compêndio anual publicado pela empresa de administração de propriedades Knight Frank. Durante a última década, o número de super-ricos do mundo cresceu 59%; e o de multimilionários, 80%. Agora, são 1682. Os que têm ativos de mais de 30 milhões de dólares são em torno de 167.000, o que equivale à população de uma cidade de tamanho considerável. Uma recente pesquisa destacou que 75% do famoso 0,1%, os extremamente super-ricos, aumentaram sua riqueza no último ano.
Em torno de 2030, espera-se que a China tenha 322 multimilionários — mais que a Grã Bretanha, Rússia, França e Suíça juntas: por fim, a prova de que o socialismo, mesmo que em sua versão chinesa, é superior ao capitalismo…
Os países soberanos tomem nota. Malta propõe oferecer seu passaporte aos que paguem 650.000 euros (900.000 dólares), sem requisito de residência. Malta faz parte da União Europeia. Com seu passaporte, pode-se ir a qualquer outra parte da UE. Espanha e Portugal estão oferecendo residência, inclusive com tempo limitado, para quem faz investimentos substanciais. Letônia e Estônia estão seguindo-os. Em 2012, os Estados Unidos emitiram 7.641 vistos de investidores e imigrantes e 80% deles foram para investidores chineses.
Portanto, os ricos de verdade são diferentes de você e de mim e estão crescendo tanto, que seria uma lástima não nos unirmos a eles. O mercado é agora a base da democracia, qualquer um pode fazê-lo. Se seguimos fazendo parte dos 99%, é por pura falta de vontade!

As dez cidades menos desiguais do Brasil

http://outraspalavras.net/outrasmidias/destaque-outras-midias/as-dez-cidades-menos-desiguais-do-brasil/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=as-dez-cidades-menos-desiguais-do-brasil

Os ecos de junho e as eleições de 2014

Vinicius Wu (*) no site Carta Maior

postado em: 30/04/2014
As manifestações de Junho de 2013 abriram um novo período político no Brasil. A insatisfação com a esfera da política e a perda de legitimidade das estruturas de representação seguem visíveis, desde as conversas de bar até as pesquisas de opinião. E, ao que tudo indica, a disputa presidencial deste ano dar-se-á em torno do debate sobre a nova agenda do país. Os 'ecos de junho' podem definir os vencedores de outubro. Recomenda-se aos candidatos, desse modo, não subestimarem seus efeitos sobre o cenário eleitoral.

As mobilizações do ano passado trouxeram à tona, ao menos, duas questões centrais. De um lado, evidenciaram a desconfiança de parcela significativa da sociedade brasileira com a atual estrutura política do país e, de outro, colocaram na agenda nacional o debate sobre a qualidade dos serviços públicos, prestados por um Estado ainda bem distante de um modelo provedor de bem-estar social.

As jornadas de junho de 2013, portanto, evidenciaram alguns dos limites da experiência dos governos de esquerda no Brasil e de sua agenda distribucionista - bem sucedida - mas seguramente inconclusa. Os temas relacionados ao transporte nas regiões metropolitanas, bem como à melhoria dos serviços de saúde, à reforma das instituições políticas e ao aumento da transparência e da participação da cidadania nas decisões públicas são alguns dos itens que estiveram ausentes ou, ao menos, pouco desenvolvidos pelas administrações do campo popular. E a grande mídia foi hábil em aproveitar o desconforto em relação a esses temas para tentar minimizar - ou mesmo anular - as expressivas conquistas obtidas no campo da inclusão social, educacional, produtiva etc.

O fato é que, após Junho, o legado de uma década de governos do PT foi, em grande medida, "absorvido" e naturalizado, como se as conquistas obtidas não estivessem relacionadas a opções políticas muito nítidas. E a oposição buscou e continua empenhando-se em demonstrar que a agenda social implantada pelo governo Lula já está consagrada no imaginário nacional e que, portanto, esse já não é mais um tema a polarizar a política nacional.

Assim, o que Junho de 2013 traz de novo à cena política nacional é a abertura de um novo ciclo, no qual a apresentação de uma nova agenda - de aprofundamento da "Revolução Democrática" - torna-se o grande desafio para a esquerda dar seqüência ao processo iniciado em 2003 por Lula. O sentimento mudancista, identificado pelas sondagens dos institutos de pesquisa é consequência direta desse processo. E, apesar de todas as dificuldades enfrentadas pelo governo Dilma, o ambiente político indica que a oposição ainda não foi capaz de galvanizar o sentimento desperto pelas mobilizações do ano passado. Não há confiabilidade, tampouco consistência, na plataforma e nos nomes apresentados até aqui. A queda da popularidade de Dilma não foi acompanhada pela ascensão expressiva de seus oponentes, o que demonstra que parte expressiva do eleitorado teme perder o que conquistou nos últimos anos. Mas o jogo apenas começou, e é preciso compreender as lições de junho e extrair ações e proposições concretas.

Ao campo popular, tanto no plano nacional, quanto nas disputas regionais, cumpre buscar os elementos constitutivos de uma nova agenda, capazes de intensificar transformações na estrutura de classes do país, além de ampliar os canais de participação da cidadania e transparência, explorando com vigor as potencialidades da cultura do compartilhamento e da colaboração em rede.

As eleições de 2014, em grande medida, serão decididas pela capacidade dos partidos, e seus candidatos, apresentarem uma plataforma e um método de ação política capazes de dialogar com alguns dos itens mais evidentes das mobilizações de Junho, tais como a qualificação dos serviços públicos de transporte, saúde, educação e segurança e a abertura de novas possibilidades para o exercício da cidadania e do controle social sobre o Estado. Ignorar ou esquivar-se das questões suscitadas pelos protestos de 2013, subestimando a força dos "ecos" de junho sobre o imaginário nacional, é uma aposta de alto risco, que a esquerda não deveria realizar em direção às eleições de outubro.


(*) Secretário-geral do governo do Estado do Rio Grande do Sul, Coordenador do Gabinete Digital.

A miragem mexicana

 
 
Por José Luís Fiori
 
Poucas pessoas inteligentes -fora da Inglaterra - ainda prestam atenção nas notícias da monarquia inglesa e da sua família real, em pleno século XXI. Mas o mesmo não se pode dizer da City britânica e dos seus dois principais órgãos de imprensa e divulgação - o "Financial Times" e o "The Economist" - que seguem tendo importância decisiva na formação das opiniões e dos consensos ideológicos dentro das elites liberais e conservadoras do mundo. A escolha dos seus temas e o uso de sua linguagem nunca é casual. Como no caso recente do seu entusiasmo pelo México e seu modelo de desenvolvimento liberal, e seu ataque cada vez mais estridente ao "intervencionismo" da economia brasileira. Uma tomada de posição compreensível do ponto de vista ideológico, mas que não vem sendo confirmada pelos fatos.
Em 1994, o México assinou o Tratado de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), junto com os EUA e Canadá, e nos últimos 20 anos tem sido absolutamente fiel ao livre-cambismo, incluindo sua adesão à Aliança do Pacífico, e à iniciativa americana do TPP. Por outro lado, nesse mesmo período, o México praticou uma política macroeconômica e financeira rigorosamente ortodoxa - em particular na última década - mantendo inflação baixa, câmbio flexível, taxas de juros moderadas e amplo acesso ao crédito. Mesmo assim, depois de duas décadas, o balanço dessa experiência ultraliberal deixa muito a desejar1.
Como era de se prever o comércio exterior do país cresceu significativamente no período e passou - em termos absolutos - de US$ 60 bilhões em 1994, para US$ 400 bi em 2013. Mas nesse mesmo período, a economia mexicana teve crescimento médio anual pífio, de 2,6%, sendo o crescimento per capita, de apenas 1,2%. O emprego industrial cresceu de forma setorial e vegetativa, e mesmo nas "maquiladoras" foi de apenas 20%, algo em torno de 700 mil novos postos de trabalho. A participação dos salários permaneceu em torno de 29% da renda nacional e a pobreza absoluta da população mexicana aumentou significativamente.
O modelo mexicano teve um desempenho pior do que o modelo "intervencionista" e "fechado" brasileiro
Por fim, ao contrário do que havia sido previsto, a economia mexicana não se integrou nas "cadeias globais de produção", a produtividade média da economia praticamente só cresceu de forma segmentada e vegetativa e o "investimento direto estrangeiro" (o principal "prêmio" anunciado em troca da abertura da economia) não teve nenhuma alteração significativa.
Esse balanço fica ainda mais decepcionante quando se compara o desempenho do "modelo mexicano", com o "modelo intervencionista" da economia brasileira no período entre 2003 e 2012. Segundo dados publicados pelo Banco Mundial2, e pelos ministérios do Trabalho dos dois países, os números e as diferenças são realmente chocantes. Nesse período, a crescimento médio anual do PIB brasileiro, foi de 4,21%, o do México de 2,92%. O crescimento total da economia brasileira foi de 42,17%, o do México, de 29,29 %. As exportações brasileiras cresceram, a uma taxa anual de 6,59%, as do México, a uma taxa de 5,45%. O crescimento total das exportações brasileiras foi de 65,95%, o do México, foi de 54,45%. As importações brasileiras cresceram a uma taxa média anual de 17,33%, e as do México, a uma taxa de 6,75%. O crescimento total das importações no Brasil foi de 173,32%, e no México de apenas 67,54%.
Por outro lado, a renda per capita brasileira cresceu a uma taxa anual de 2,84%, e a do México, 1,42%; o crescimento total da renda no Brasil foi de 28,4%, e no México foi de 14,26%; e a participação dos salários na renda chegou a 45 %, no Brasil, e no México, a 29%. Nesse mesmo período, o Brasil criou 16 milhões de novos empregos formais, e o México, 3,5 milhões; e a pobreza absoluta foi reduzida a 15,9%, no Brasil, e aumentou para 51,3%, no México.
Por fim, (pasme-se), entre 2002 e 2012, o "investimento direto estrangeiro" no Brasil, cresceu de US$ 16,59 bilhões, para US$ 76,11 bilhões, e no México caiu de US$ 23, 932 bilhões, em 2002, para US$ 15,455 bilhões, em 2012! Só para encerrar a comparação, em 2013 a economia brasileira cresceu 2,3%, (uma das maiores taxas entre as grandes economias do mundo) enquanto a economia mexicana cresceu 1,1%.
Isto posto, o elogio do México deve ser considerado um caso de má fé, fundamentalismo ideológico ou estratégia internacional? As três coisas ao mesmo tempo. Mas o que importa é o que dizem os números e a conclusão é uma só: na última década, o "modelo mexicano" de abertura liberal, integração com os EUA e livre comércio teve um desempenho extraordinariamente pior do que o "modelo intervencionista", "heterodoxo" e "fechado"(apud FT e TE) da economia brasileira, junto com seu projeto de integração do Mercosul.
1- Vide artigo do ex-ministro de relações exteriores do México, Jorge Castañeda: "Nafta's mixed record", publicado na Revista Foreign Affairs,. de janeiro/fevereiro de 2014.
2-www.data.worldbank.org Gráfico disponível em www.bit.ly/S6lUCo
José Luís Fiori, professor titular de economia política internacional da UFRJ, é autor do livro "O Poder Global", da Editora Boitempo, e coordenador do grupo de pesquisa do CNPQ/UFRJ "O Poder Global e a Geopolítica do Capitalismo". Escreve mensalmente às quartas-feiras.

Sou antes brasileiro



“Sou antes brasileiro e tenho o dever de colocar acima de tudo, de todas as considerações pessoais e dos meus sentimentos e interesses particulares, a dignidade e a honra do Brasil.”

(Barão do Rio Branco).

Doutor que prevê “ruína” do Mais Médicos precisa ler Privataria Tucana

http://www.viomundo.com.br/denuncias/doutor-que-preve-ruina-do-mais-medicos-odeia-dilma-e-morre-de-amores-por-serra.html

O BRASIL E OS MERCENÁRIOS DA BLACKWATER

MauroSantayama em seu blog



(Jornal do Brasil) - A Folha de São Paulo informa  que 22 agentes e policiais militares estiveram, por vários dias, em treinamento, nos Estados Unidos, em atividades “antiterroristas”. O curso foi ministrado pela Blackwater, hoje Academi, uma organização “terceirizada” de mercenários, que é conhecida, justamente, por ter auxiliado os Estados Unidos, em vários países do mundo, em atividades de terrorismo de estado.

Ora, nossos agentes e soldados não tem absolutamente nada a aprender com os EUA a propósito da “luta contra o terror”.

Primeiro, porque não possuímos - como eles, que a criaram, interessadamente - uma doutrina “antiterrorista”, e também porque não temos porque adotar uma no futuro. Nem consideramos como terroristas os povos e grupos que os norte-americanos acusam de terrorismo, como os iranianos ou os palestinos.

O Brasil democrático – é duro ter que lembrar isso todo o tempo - não invade nem rouba territórios alheios, não apóia golpes em terceiros países, nem possui inimigos no mundo.

A não ser, claro, aqueles - como é o caso justamente dos EUA - que querem voltar aos velhos tempos em que tinham quase que total domínio sobre o nosso destino.

E que para isso ficam inventando histórias da carochinha para enganar o bando – sempre disponível – de néscios embasbacados, ao longo de anos, pelos seminários de “segurança” estilo Escola das Américas; tapinhas, nas costas, dos adidos militares “ocidentais”; e pelas séries policiais de TV e os filmes de espionagem norte-americanos.

É incompreensível, para não dizer inaceitável – mesmo considerando-se toda a pressão advinda da oposição e da própria administração pública - que um governo que se diz nacionalista e de “centro-esquerda” aceite “ajuda”, em treinamento, de uma potência hegemônica estrangeira.

E, menos ainda, que forças brasileiras de segurança sejam “adestradas” por uma quadrilha de mercenários, pertencentes a uma “empresa” conhecida pela prática do assassinato e da tortura em países como o Iraque, em conflito, no qual, o Brasil esteve, desde o início, radicalmente contra a posição norte-americana.

Afinal – mesmo que justificável fosse esse tipo de “treinamento” - a Blackwater é mais conhecida por sua estupidez e trapalhadas, do que por sua eventual competência em uma área em que se costuma valorizar mais a inteligência que a brutalidade e o gatilho. Ela é apenas uma unidade de “seguranças”, e não uma tropa de elite. 

Não se conhece uma única operação em que a Blackwater tenha detido algum importante “terrorista”, como são chamados os que se insurgem, normalmente em seu próprio solo, contra a OTAN e os Estados Unidos.

Mas seus homens são sobejamente conhecidos por atirar em pessoas inocentes e por outras situações que não exigem nenhum tipo de coragem pessoal.

Entre elas, ficou famosa uma simples missão de proteção de um comboio que levava pessoal do Departamento de Estado, para uma reunião com funcionários da Agência de Desenvolvimento Internacional dos Estados Unidos, no Iraque, no dia 16 de setembro de 2007.

A incompetência dos homens da Blackwater Personal Security Detail transformou uma simples missão de escolta, em um tiroteio descontrolado, e não justificado, contra uma multidão desarmada de civis iraquianos, que deixou um saldo de 17 mortos e dezenas de feridos, na Praça Nisour, em Bagdá.

Entre outras falhas de segurança e de autocontrole e disciplina, um dos assassinos da empresa continuou atirando nos civis mesmo depois do fogo ter sido suspenso, e só deixou de disparar quando um “colega” se aproximou e, apontando a arma para sua cabeça, ameaçou abatê-lo, se continuasse a fazê-lo.

O massacre indignou o governo e a população iraquiana, e o episódio foi determinante para a posterior saída das tropas norte-americanas, e da própria Blackwater, do país.

Pressionado, o Departamento de Estado foi obrigado – só então – a baixar uma lei colocando sob a jurisdição dos tribunais norte-americanos crimes passíveis de punição cometidos por mercenários de empresas “terceirizadas”, em território estrangeiro; uma investigação da Câmara dos Deputados dos EUA, determinou que os homens da Blackwater estavam envolvidos em vários episódios de “uso excessivo de força”, com mortes, no Iraque, e que em 80% dos casos disparavam sem ter sido previamente atacados.

O deputado norte- americano, Henry Waxman, declarou, após produzir relatório sobre o tema, que a controvérsia sobre a Blackwater era uma infeliz demonstração dos “perigos do relaxamento excessivo”, na contratação de seguranças privados pelo sistema de defesa dos Estados Unidos.

No mesmo ano, a ONU divulgou um estudo, declarando que a contratação de empresas privadas como a Blackwater não passa de nova forma de encobrir “atividades mercenárias”, o que é claramente  ilegal sob as leis internacionais.

Os EUA – que se apresentam como os paladinos da defesa da Lei e da Ordem - não são signatários da Convenção das Nações Unidas de 1989, que proíbe o uso de mercenários. Também não aderiram ao protocolo adicional de 1977 à Convenção de Genebra, que classifica os mercenários como civis “que participam diretamente de combates, com o intuito de ganhos privados”.

Para o governo brasileiro, o episódio do treinamento de forças de segurança nacionais por uma empresa ilegal, aos olhos da legislação internacional, sediada nos Estados Unidos, é uma vergonha.

Primeiro, porque se o governo tinha conhecimento disso no mais alto escalão, sabia do papelão que estava fazendo perante parte da opinião pública, e a parceiros do BRICS e da América do Sul.

Em segundo lugar, porque se a decisão foi tomada de forma independente pela “Secretaria de Segurança para Grandes Eventos” é preciso reforçar, por lei, o conceito, de que a aceitação de “ajuda” de terceiros países para treinamento de policiais brasileiros de qualquer escalão ou organização, é assunto de segurança nacional e deve ser de  exclusiva atribuição da Presidência da República, ouvida a Comissão de Relações Externas, no Congresso.

Não é preciso ser expert para saber que sob o manto desses programas de “cooperação”, os Estados Unidos não buscam nada mais do que cooptar – como fizeram no passado - técnica e ideologicamente nossos agentes e oficiais, para a defesa de seus interesses e de sua visão de mundo.

Com a esperança, até, de obter apoio ou facilitação, eventualmente, para futuras ações de espionagem, em território brasileiro.

Para efeito de comparação, o que não estaria ocorrendo, se, por decisão de uma comissão qualquer – sem eventual conhecimento do Itamaraty e da Presidência da República – no lugar de ir para Moyock, na Carolina do Norte, esse pessoal tivesse viajado para um centro de treinamento em Cuba, ou na Rússia?
  

Vai ter Copa. E vamos ganhar


Por Bepe Damasco, em seu blog:


A Copa do Mundo é um grande investimento para todos os brasileiros.

Os únicos investimentos feitos exclusivamente por causa da Copa do Mundo se limitam a R$ 8 bilhões, que são as obras nos estádios. Desse total, o governo federal financiou R$ 4 bilhões, por meio de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O dinheiro volta com juros para os cofres do banco.
A Copa se paga e o país sai ganhando. Levantamento da Fundação de Estudos e Pesquisas Econômicas (Fipe), ligada à USP, mostra que a Copa das Confederações acrescentou R$ 9,7 bilhões ao PIB. A expectativa é de que a Copa do Mundo movimente três vezes esse valor, com
R$ 30 bilhões. Isso é mais do que todos os gastos com estádios, aeroportos, portos, segurança, telecomunicações e obras de mobilidade urbana relacionados à Copa.

Todos os produtos fabricados e os serviços prestados para a realização da Copa do Mundo geram riqueza que se espalha pelo país. Quarenta e nove por cento da renda gerada pela Copa das Confederações ano passado ficaram nas seis cidades-sede dos jogos. Os outros 51% se difundiram pelo Brasil.

Governo federal investe muito mais em saúde e educação do que na Copa do Mundo
Os investimentos do governo federal com educação e saúde aumentaram consideravelmente desde 2010. O gasto da União com a educação em 2013 ficou em R$ 101,9 bilhões. Na Saúde, o gasto da União, no mesmo ano, chegou a R$ 83 bilhões. Desde 2010, quando se intensificaram as ações e obras para sediar a Copa, o governo brasileiro investiu R$ 825,3 bilhões em educação e saúde.

Melhor, mas pior

Da Folha, transcrito do GGN

 
Se, apesar da situação econômica melhor, o sentimento é pior, claro que se trata de algo induzido
 
Janio de Freitas
 
Com intervalo de quatro dias, dois dos jornalistas que mais respeito pela integridade e aprecio pela qualidade, Vinicius Torres Freire e Ricardo Melo, levam-me a ser mais uma vez desagradável com o meu meio.
 
Na Folha de ontem, Ricardo Melo relembra a presença de "representantes do mercado'" no Conselho de Administração da Petrobras, quando comprada a refinaria de Pasadena, e pergunta: "Pois bem: onde foram parar nessa história toda Fábio Barbosa, Cláudio Haddad, Jorge Gerdau, expoentes do empresariado' brasileiro que, com Dilma Rousseff e outros, aprovaram o negócio? Serão convocados a depor, ou deixa pra lá?".
 
A pergunta não expõe apenas Aécio Neves, Eduardo Campos, Aloysio Nunes Ferreira e seus subsidiários, que se limitam a explorar, na "história toda" de Pasadena, o que lhes pode dar proveito eleitoral. Os empresários citados não serão "deixados pra lá". Já foram deixados. Pela imprensa. Nas práticas simultâneas de repetir, dia a dia, no noticiário e em artigos, a aprovação do negócio pelo "conselho presidido por Dilma Rousseff" e jamais mencionar os outros conselheiros.
 
Se o negócio foi aprovado pelo conselho, nos termos e condições expostos aos conselheiros, é óbvio que não houve um votante só. Mas os outros não interessam. Nem é apenas por serem empresários que mais conselheiros também estão dispensados de menção na imprensa. É, só pode ser, porque a exclusividade adotada vem do mesmo objetivo de Aécio Neves, Eduardo Campos e outros. Se a imprensa o faz, ou não, para beneficiar esse ou aquele, pouco importa. Mais significativa é a predominância da prática política.
 
Também na Folha, dia 24 último, Vinicius Torres Freire observa: "O Datafolha registra um nível de insegurança econômica inédito desde os piores dias de FHC, embora a situação econômica e social seja muito melhor agora".
 
Algo provoca tal contradição. Não pode ser a percepção espontânea e geral, porque a situação "muito melhor" não lhe daria espaço. O que poderia ser, senão os meios de comunicação desejosos de determinado efeito? Se, apesar da situação melhor, o sentimento é pior, claro que se trata de sentimento induzido. Um contrabando ideológico.
 
Terminaram depressa as rememorações do golpe de 64. O corporativismo apagou a memória da função exercida pela imprensa no preparo do golpe e no apoio à apropriação do poder, de todos os poderes, pelos militares. Não há, nem de longe, semelhança entre aquela imprensa e a atual. Mas o seu estrato mais profundo, econômico, social e político, mudou menos do que a democracia pede. E conduz às recaídas cíclicas dos meios de comunicação em práticas próprias de partidos e movimentos políticos. Estamos entrando em mais uma dessas fases.