sábado, 19 de abril de 2014

Petrobras: amputem a necrose e salvem a parte sadia


Paulo Metri – conselheiro do Clube de Engenharia e colunista do Correio da Cidadania
No Correio da Cidadania, em 17.04.2014
Segundo um jornal paulista, o senador José Agripino Maia, do Rio Grande do Norte, presidente nacional do DEM, disse que “se existir a CPI gorda (que investigaria os contratos da Petrobras, dos trens de São Paulo e do Porto de Suape), ela não levará a nada além da perda de credibilidade do Congresso. Quem estiver nela participará de uma farsa”. Em ato falho, o senador descreveu o que acontece neste momento.
Primeiramente, todas as coligações de partidos com maior acesso à mídia, as do PT, do PSDB e do PSB, cujos candidatos, não por outra razão, são os mais cotados para se elegerem presidentes, têm “telhado de vidro”.
Desta forma, cada conjunto de congressistas não quer fazer a CPI para moralizar o país, uma vez que ela criaria temor nos futuros corruptos. Cada conjunto quer fazê-la restrita a um órgão específico para as falcatruas alheias serem descobertas e, assim, poder ver seu adversário político “sangrar”.
Notar que, possivelmente, em cada partido, existe uma banda podre, que compromete o partido como um todo com suas patifarias. E os membros não corruptos, com receio da incompreensão popular, defendem a corporação, incluindo os corruptos também. Falta saber o quão expressivas as bandas podres dos partidos são.
Isto ocorre, em parte, por causa da mídia partidária existente. Esta mídia com acesso às camadas menos politizadas da população, graças – pasmem – a concessões públicas, longe de informar os eventos buscando a isenção, com análises plurais, na verdade faz campanha política pelos seus candidatos. E há uma visível preferência pelos candidatos mais conservadores.
No meio desta balbúrdia, está colocada a Petrobras, um símbolo da vitória da sociedade brasileira sobre o assédio ininterrupto das petrolíferas estrangeiras sobre nossa riqueza, desde a primeira metade do século passado.
Tudo leva a crer que bandas podres de partidos requisitaram áreas da empresa aos seus prepostos, funcionários de carreira, para, na posição de administradores dela, arrecadarem caixa 2 para campanhas eleitorais de bandidos candidatos, além da taxa de passagem dos corruptos.
Pelo visto, é inimaginável que um congressista participe de uma CPI gorda e aponte corruptos em qualquer partido, podendo até ser no seu próprio. Viva, então, o intimorato senador Roberto Requião. Li uma declaração dele, há poucos dias, na qual dizia algo como: “eu apoio toda e qualquer CPI, não importando a origem e os prováveis envolvidos”.
Gostei também da afirmação da presidente Dilma, sobre as investigações no âmbito do Executivo, que, onde houver indícios, todos os possíveis culpados devem ser investigados com rigor e, sendo comprovada a culpa de alguns, estes devem ser penalizados com as penas cabíveis.
Creio que muitos sindicalistas estão cometendo o mesmo erro de avaliação dos políticos, pois eles não querem CPI alguma, com o justo argumento de que a CPI irá se transformar em instrumento de crucificação midiática do PT, da sua candidata e da Petrobras.
Não sei se estou enganado, mas, hoje, quando a população vê o martelar contínuo da mídia em determinadas teses, ela conclui que estão querendo doutriná-la e, portanto, é porque não deve ser bom para ela própria. Talvez eu seja um sonhador, mas tenho a esperança de o povo estar amadurecendo politicamente.
Minha recomendação é que se criem tantas CPI quantas forem as fumaças que existem no ar, e se verifique se há fogo alimentando as mesmas. Na Petrobras, poder-se-á pesquisar, por exemplo, as refinarias Pasadena e Abreu Lima, o complexo petroquímico Comperj e algo que não se tem falado na mídia, que são os “desinvestimentos” da presidente Graça Foster.
Não tenho nenhuma informação de cocheira, mas, salvo erro, a estrutura arquitetada para a consecução dos desinvestimentos é fácil de ser corrompida. Então, para preservar a boa reputação da presidente Graça Foster, sugiro esta averiguação.
Os tucanos precisam ser aquinhoados com a questão dos trens, ligada à Alstom, além de se esmiuçar melhor o “mensalão tucano”. É preciso também, para retirar toda a poeira debaixo do tapete, pesquisar alguns preços mínimos estabelecidos para as privatizações, começando com o valor mínimo da Vale do Rio Doce. Com relação ao pessebista Eduardo Campos, fala-se em perguntar sobre o porto de Suape. Confesso não ter nem ouvido falar do que se passou por lá. Mas, investigue-se também.
O povo só não pode cair no engodo dos conservadores entreguistas, que recomendam que o remédio é privatizar a Petrobras. É verdade que, se ocorrer a privatização, na nova empresa, não haverá diretor escolhido por partido político e não haverá corrupto querendo desviar recursos da empresa. Não é importante, mas, deve-se registrar que os preços dos seus produtos finais certamente não serão barateados.
Entretanto, ela poderá passar a ser corruptora de órgãos e empresas estatais. Um ente estatal nunca é corruptor de outro ente estatal, posição reservada ao setor privado. É preciso acabar com a falsa idéia que o setor privado é mais honesto, até porque a corrupção faz parte da condição humana. Portanto, onde há seres humanos, pode haver corrupção. O que aconteceu na boate Kiss, em Santa Maria, não ocorreu por corrupção privada?
Escrevo artigos em defesa da existência de estatais em setores estratégicos da nossa economia e o setor de petróleo certamente é um desses, não só pelo petróleo ainda ser a principal fonte de energia do mundo e, em consequência, ter grande valor geopolítico, como também pela alta lucratividade intrínseca do “negócio petróleo”.
Além disso, a Petrobras compra mais no país, inclusive plataformas e navios, encomenda mais Pesquisa & Desenvolvimento aqui, emprega mais brasileiros, direta e indiretamente, constrói refinarias, complexo petroquímico, dutos, terminais, estações de bombeamento e a logística de distribuição e abastecimento.
Notar que o monopólio estatal do petróleo foi extinto há 19 anos e, no entanto, até hoje, as petrolíferas estrangeiras só querem produzir petróleo no Brasil e levá-lo para o exterior.
Assim, temos que apurar os fatos, preservando o interesse nacional, que é ter uma Petrobras saudável e atuando em benefício de nossa sociedade.

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