sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Crescimento, inflação e taxa de juros



                                                                                                                   *José Álvaro de Lima Cardoso
      No acumulado de janeiro a maio deste ano, a produção da indústria geral registrou queda de 1,6%, e no desagregado da indústria de transformação, a queda no período foi de 2,4%. Os melhores indicadores do nível de atividade são os próprios dados do PIB. Em 2011, os chamados emergentes cresceram 6,4% e o Brasil, 2,7%. No ano seguinte, os emergentes 5,1% e o Brasil, 1%. E em 2013, os crescimentos foram, respectivamente, de 4,7% e o Brasil 2,5%. Para este ano, a projeção de crescimento dos países emergentes é 4,6% enquanto a previsão do crescimento brasileiro, pouco acima de 1%. No primeiro trimestre o PIB do Brasil cresceu apenas 0,2% em relação ao trimestre anterior e 1,8% em um ano. A crise internacional é importante para entender a conjuntura, mas não explica tudo.
     O problema do baixo crescimento (como os problemas macroeconômicos em geral) têm várias causas. Certamente, a falta de confiança do setor empresarial para realizar investimentos é uma delas, mas, o atual nível da taxa de juros é fator o explicativo fundamental, ocupando a posição de uma das mais elevadas taxas de juros reais do planeta. Nos países desenvolvidos, as taxas de juros reais, são negativas neste momento, o mesmo ocorrendo, inclusive, em alguns países emergentes. No Brasil o “espirito animal” do empresário tem sido facilmente abatido por investimentos que faturam 4,5% reais, com risco zero e sem necessidade de se colocar os pés na fábrica.
     Em 2011, a equipe econômica do governo Dilma, visando retomar um crescimento mais forte do PIB, adotou durante 19 meses consecutivos uma política de redução na taxa de juros Selic. Entre setembro de 2011 até Mar­ço de 2013, baixou a taxa básica de ju­ros de 12% ao ano para 7,25%. Chegou a 2% reais, a menor taxa da história nacional. Enquanto os chamados rentistas lucraram em média, acima da inflação, 18,5%, no segundo Governo FHC, no segundo governo Lula, ainda faturaram, limpo, 11,5%, em média. Sob o governo Dilma, este percentual ainda era alto, mas caiu para 4%, em média. Quando o governo resolveu colocar as taxas de juros do Brasil em linha com as taxas dos países “civilizados”, em 2011, entrou em rota de colisão com o setor rentista, tendo o governo, finalmente cedido em março do ano passado, dado a pressão vinda dos chamados “formadores de opinião”.
     A pressão inflacionária verificada especialmente nos primeiros meses de 2013, relacionada diretamente à queda na produção de alguns produtos agrícolas de alto consumo, causada por sérios problemas na agricultura (maior seca no Nordeste em meio século e sérios desastres climáticos no Sul do País) foi o ingrediente que faltava. Os  formadores de opinião alardearem um suposto “descontrole inflacionário” e a necessidade imediata de elevar a taxa Selic para enfrentar o problema. Naquele período, como ocorre também agora, o aumento dos preços de alguns itens de elevado consumo, num contexto de forte geração de empregos e do crescimento da massa salarial (o consumo das famílias cresce continuamente há uma década), que possibilita que os trabalhadores possam continuar consumindo, exercia também, é claro, uma pressão sobre os preços (inflação decorrente de uma virtude da atual conjuntura brasileira).  
     Em boa parte, a baixa capacidade de investimentos do governo federal está relacionada com a elevação dos juros, já que a cada 1 ponto percentual de aumento na Selic, o gasto anual do governo com juros aumenta em torno de R$ 50 bilhões. No ano passado, o país gastou R$ 249 bilhões com juros, da dívida pública, equivalentes a quase 5% do PIB. Mas esse valor já foi maior: em 2002 os rentistas levaram R$ 570 bilhões de reais em valores atuais, mais de 14% do PIB. A economia de R$ 321 bilhões na despesa com os credores da dívida em parte foi direcionada para o investimento púbico em infraestrutura urbana (portos, aeroportos, estradas, saneamento) e para o gasto social (valorização do salário mínimo, Bolsa Família, programa Minha Casa, Minha Vida). 
     Ainda que o objetivo anunciado seja segurar a inflação, esse novo ciclo de aumento de juros não tem surtido o efeito desejado. Desde abril de 2013 a Selic passou de 7,25% para os 11,25% atuais e a inflação cedeu recentemente, por uma questão de normalização da oferta, principalmente de produtos alimentares de alta demanda, como observado, que apresentam redução em seus preços há alguns meses, inclusive no atacado. No entanto, se a elevação da Selic não é tão eficiente para o controle de preços que aumentam em função de redução da oferta, ela acerta em cheio o nível de atividade econômica. Nesta altura do ano as previsões decrescimento do PIB dos analistas de mercado estão abaixo de 1%.  
     São conhecidos também os efeitos dos juros sobre o custo empresarial. Segundo levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI) os custos do capital de giro da indústria aumentaram 33% no primeiro trimestre de 2014 em comparação com o mesmo período do ano passado. Além do mais, taxas de rendimento financeiro próximas de 5% em termos reais, retira toda a motivação dos investimentos produtivos.
*Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.


                                                                                                              

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