quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Crônica: Política não é como Futebol e Religião



Mairon E. Brandes
Economista catarinense.


Recebi um convite de um amigo, que há meses eu não via, para comer uma carninha assada e tomar umas geladas na casa dele, ontem. Eu fui, pois fazia tempo que eu não o via e gosto de cultivar as amizades, além de tomar cerveja. Aliás, este meu amigo é aqueles do tipo "bom de copo", então, eu sabia que beberíamos algumas cervejas enquanto colocaríamos a prosa em dia.
Levei uma caixa de latinhas e o freezer da geladeira da casa dele já estava cheio quando cheguei. Logo brindamos e começamos a beber e conversar. Como vai a vida? Por que você não apareceu mais no futebol? Caiu bastante o nível da parceria, apenas dois ou três daquela nossa turma continua jogando. Eu mesmo vou porque estes vão, se eles pararem, também deixarei de ir. E o trabalho? O casamento? Quais são os projetos? E assim por diante...
Bom, em época eleitoral, o tema política também haveria de entrar na prosa, está certo? Começamos afirmando que este era um assunto que não gostávamos de debater/discutir, sabe como é, cada um tem sua posição, é como a religião e o futebol. Na verdade, entre nós, debater política era mais complicado do que a religião e o futebol, logo pude perceber.
A conversa começou assim: "Não vamos discutir política. Mas, sabe, vou votar em tal, tal, para o senado eu não sei, tal e tal. Mairon, sei que tua posição é diferente, tranquilo." É verdade, meus candidatos são outros. Mas de qualquer forma, respeito a coerência de teus votos. "Sabe Mairon, reconheço uma coisa positiva neste governo, o Programa Minha Casa Minha Vida, nada mais." Bom, acho que teve avanços importantes na educação também, mais oportunidades, além dos avanços no mercado de trabalho, com valorização do salário mínimo, formalização e diminuição do desemprego, mas não vamos discutir isso, vamos?
"É aí que está. Há um desequilíbrio, as coisas melhoraram para um lado. Sabe, sou contra o Bolsa Família, sei que você é mais pelo social." Pois é, eu sou à favor do Bolsa Família, respondi. "Sou contra porquê um país como o Brasil não precisa dar renda para as pessoas. Há vagas sobrando, elas precisam trabalhar." Entendo sua visão, e respeito, mas sou a favor porque com menos de 1% do PIB, o programa melhorou, diretamente, a vida de 30 ou 40 milhões de brasileiros. O orçamento do programa parece que foi de, aproximadamente, 30 bilhões de reais em 2013. Isso o governo paga em 1 1/2 mês aos banqueiros, como juros da dívida e, no entanto, não questionamos.
O clima foi esquentando, ele começou a ficar nervoso e eu também. Mas não resisti a mais um argumento que me veio à cabeça... Sabe, trata-se de um programa social. Para mim, mais importante do que a renda são as condicionalidades. Para receber a renda, a família deve manter os filhos na escola, onde recebem merenda além de educação, se alimentam melhor. As crianças precisam estar em dia também com os acompanhamentos preventivos à saúde oferecidos pelas unidades de saúde locais. "Mas Mairon, isso não acontece. Fazem política com este dinheiro nos municípios." Bom, mas daí parece-me ser um problema de âmbito municipal, respondi.
Nessa altura ele estava vermelho e visivelmente nervoso. Eu também já tremia mais que o normal. Então decidi intervir: Meu caro, sabe de uma coisa? Você não vai me convencer e nem eu te convencerei, então vamos mudar de assunto. Ele assentiu com a cabeça, demos uma risada acompanhada de uma recuperada de fôlego, tomamos uns bons goles de cerveja e passamos a discutir futebol. Foi fácil. O meu São Paulo está "voando" e duas rodadas atrás bateu o Botafogo, dele. Sem que eu argumentasse ele afirmou: o São Paulo será campeão brasileiro. Foram mais três "saideiras" a última em pé, ao lado da mesa, e a despedida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário