quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O comportamento da imprensa na hora de escolher candidatos

 

É comum na imprensa escrita americana, na véspera das eleições, os grandes jornais assumirem abertamente em editorial o apoio a um candidato. Com isso expõe a posição justificada do dono do jornal, que se distingue da posição do jornal em seu noticiário cotidiano. Esta deve ser, na cobertura da campanha, a mais imparcial possível. Claro, nunca será totalmente imparcial. Mas ao menos se finge fazer um esforço nesse sentido.
Não tenho nenhuma simpatia especial pelo sistema político americano, que é uma democracia elitista dominada por grupos de interesse, mas gosto desse comportamento espontâneo da imprensa escrita do país, que a “Folha”, entre nós, costuma copiar. Ninguém pode negar ao dono do jornal uma opinião política. Mas o dono de jornal que permeia o noticiário comum do jornal com sua opinião parcial está manipulando a notícia.
O colunista tem mais graus de liberdade pois “vende” a sua opinião pessoal. No meu caso, já expus a minha, mais de uma vez, no plano federal: votarei em Dilma pelos méritos dela, não só pelos defeitos de Marina e Aécio. Coloco-me entre os que são contra o neoliberalismo, contra a suposta auto-regulação dos mercados que levou à crise de 2008 (que  se arrasta), contra o Estado mínimo que avilta as políticas públicas, como na atual Europa, e acho que Dilma pode ser um seguro contra isso.
Aliás, não entendo por que políticos como Marina e Aécio lutam tanto para tomar as rédeas do Estado quando, no plano doutrinário, querem reduzir ao máximo o seu papel na sociedade. Mais do que isso, no meu entender, só um Estado forte, com amplo apoio social, será capaz de continuar a promover o movimento de reinserção internacional brasileiro com BRICS e a Unasul, o qual é a única real opção estratégica para escaparmos de uma recessão permanente e de uma regressão econômica sob as bênçãos dos EUA e da Europa.
Mas temos também eleição estadual. Nesse campo, acompanho com esperança a candidatura de Crivella no Rio. Poderia dar vários motivos para isso mas me limitarei a um: é um dos poucos políticos brasileiros que buscam conscientemente o poder com o objetivo explícito de promover políticas públicas estruturantes, capazes de fazer mudar para melhor o marco administrativo do Rio. Seu plano de governo reflete isso, atacando os pontos centrais de saúde, educação, mobilidade urbana, segurança e desenvolvimento econômico.
Com 12 anos como senador ou ministro, Crivella conseguiu, paulatinamente, remover os preconceitos religiosos que pretenderam transformá-lo num fundamentalista evangélico, omitindo o fato de que, em todo esse tempo como político eleito, não há uma única iniciativa sua no Congresso – e são dezenas – que privilegia segmentos confessionais.  É um típico republicano, refletindo o nome do partido que construiu com José Alencar, de quem foi amigo e correligionário íntimo.
A população fluminense tem sido vítima de políticos inescrupulosos, corruptos, demagogos ou fisiológicos desde o golpe de 64. Na chamada “revolução”, os principais líderes políticos da Guanabara, núcleo do que seria o Estado do Rio, foram cassados pelo regime ditatorial, sendo o poder local entregue a Chagas Freitas, linha auxiliar da ditadura. O Estado nunca se recuperou disso. Depois de um curto período de administração relativamente sadia, na fusão, o Estado voltou às mãos de Chagas, seguindo-se Brizola, Moreira, Marcelo Alencar, e agora Garotinho, Rosinha e Cabral. Parece que enterraram uma caveira de burro no jardim do Palácio Guanabara. Insistir, no Rio, com Cabral-Pezão ou Garotinho é um excesso! É preciso desenterrar a caveira do palácio com Crivella.
J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

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