sexta-feira, 31 de outubro de 2014

#NãoVaiTerMoleza

Antonio Lassance  no Carta Maior




Não, não vai ter moleza. Não vai ter lua de mel. Não vai ter chance para erros. Enfim, não vai ter colher de chá para o segundo mandato de Dilma Rousseff.

Se depender da coalizão que reúne o PMDB de Eduardo Cunha e os partidos de oposição liderados pelo PSDB, não vai ter um monte de coisas mais.

Não vai ter participação popular. Não vai ter reforma política. Não vai ter, obviamente, regulação da mídia.

A derrubada, por enquanto na Câmara, mas a meio caminho de uma derrota também no Senado, do decreto que institucionaliza a política de participação popular, mostra a tentativa de impor ao país um cabresto quase parlamentarista ao novo governo.

A situação, no momento, não é nada que se compare ao parlamentarismo imposto a João Goulart em 1961, assim como as passeatas de 30 pessoas pedindo o "impeachment" de quem sequer tomou posse (quem são mesmo os desinformados?) não se comparam à Marcha da Família com Deus pela Liberdade - a marcha a ré que engatou o golpe de 1964.

Mas que há um clima estranho e intimidatório no ar, e que Cunha e Renan disso se aproveitam até o talo, não existe qualquer sombra de dúvida.

O jornal O Estado de S. Paulo, que foi quem primeiro criou celeuma contra o tal decreto presidencial, acusava o governo Dilma de tentar mudar o sistema político por decreto.

Pois a Câmara deu o primeiro passo para isso, com a decisão desta quarta-feira (30).

O tridente que junta o PMDB da Câmara, o PMDB do Senado e o Estadão, todos em uma mesma cruzada, quer proteger o Brasil de se transformar em uma Venezuela e em uma Suíça, que tem plebiscitos, referendos, ombudsman e todas essas coisas perigosas, bem mais que a Venezuela.

Decreto por decreto, regime por regime, o que o Congresso aprovou, e agora segue para o Senado, é exatamente uma proposta de decreto do legislativo que invade uma atribuição clara e cristalina do presidente da República.

O Congresso não pode impedir o Executivo de criar ou fortalecer conselhos, comitês de políticas públicas, ouvidorias e conferências. Assim como o Executivo não pode dizer, ao Congresso e ao Judiciário, como esses poderes se organizam.

Se o decreto for (ou quando for) derrubado no Senado, restarão duas alternativas.

A mais rápida e correta será entrar com uma ação de inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) para desfazer o pavoroso ato do Congresso.

Se o STF não derrubar o decreto legislativo, estará chancelando um ataque ao princípio constitucional da separação dos poderes.

Alguém certamente há de lembrar que o STF nunca foi uma boa barreira contra viradas de mesa, mas imaginemos que agora possa ser diferente.

A outra saída, da turma dos panos quentes, é o governo esquecer-se de seu decreto, enviar um projeto de lei e fingir que o assunto é matéria mais adequada de ser tratada pelo Congresso.

Um Congresso que em 2015 conseguirá a façanha, profetizada por Ulysses Guimarães, de ser ainda pior do que o atual.

Que não vai ter moleza todos sabem. A dúvida é se haverá mobilizações à altura para responder aos que ousam intimidar o resultado das urnas.


(*) Antonio Lassance é cientista político.




Cosmopolitismo selvagem

http://bit.ly/1tgND0F

Brasil tem ambiente favorável às reformas política e tributária

http://jornalggn.com.br/noticia/brasilianasorg-brasil-tem-ambiente-favoravel-as-reformas-politica-e-tributaria

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Selic: A primeira cedência de Dilma?

Por Altamiro Borges, em seu blog

Num lance que surpreendeu o próprio “deus-mercado”, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (29) elevar a taxa básica de juros de 11% para 11,25%. A medida ortodoxa, que emperra o crescimento da economia e estimula a especulação financeira, foi tomada três dias após a vitória de Dilma Rousseff no segundo turno. A elevação da Selic visaria, segundo a mídia rentista, acalmar o “inquieto mercado”, que promoveu intenso terrorismo econômico nos últimos meses com o objetivo de interferir na sucessão presidencial. Dos oito integrantes do “seleto” Copom, cinco votaram pelo aumento dos juros – inclusive o presidente do BC, Alexandre Tombini.

Segundo o colunista Valdo Cruz, que não economiza veneno contra o governo em seus artigos na Folha, “durante a sua campanha, a presidente buscou associar seu adversário Aécio Neves (PSDB) a uma política de juros altos contra a inflação. Em um discurso, ela disse que o PSDB ‘sempre plantou dificuldades para colher juros’. O aperto monetário três dias após a reeleição é uma tentativa de reconquistar a credibilidade da política de combate à inflação. Nessa linha, a equipe econômica deve anunciar na próxima semana um pacote fiscal, com redução de gastos e aumento de receitas, para reverter a piora das contas públicas, hoje no vermelho”. Não é para menos que os agiotas, antes baqueados com os resultados do segundo turno, já estão novamente em festa.

Para Luiz Carlos Mendonça de Barros, ex-ministro de FHC e sócio da consultoria Quest, o Banco Central elevou a Selic para reatar os laços com o setor privado. “Dilma foi eleita por causa do desemprego baixo. Mas, se o crescimento não voltar, ele vai aumentar. E, para botar a economia para crescer, é preciso buscar uma política econômica que o setor privado considere necessária para investir. Dilma está dizendo ganhei com um discurso e vou governar com outro”, festeja o representante do capital financeiro. No mesmo rumo, Maurício Molan, economista-chefe do Santander, elogiou a decisão do Copom. “Há um esforço para gerar um choque favorável de expectativas”.

Desde abril, o Copom não elevava a Selic, temendo seus efeitos destrutivos na economia, com a queda na geração de emprego e a retração do consumo. A surpreendente decisão desta quarta-feira evidencia que as eleições acabaram, mas que os rentistas continuam com forte poder de pressão sobre as tais “autoridades econômicas”. Os banqueiros perderam nas urnas, mas não desistiram do embate político. Na maior caradura, até o presidente do Itaú – que fez campanha aberta para Marina Silva e, no segundo, para o cambaleante tucano – já disse que “será um parceiro de Dilma”, mas apresentou sua lista de exigências. Os rentistas não elegeram a presidenta e agora querem impor o ministro da Fazenda.

A decisão do Copom confirma que sem a pressão permanente e unitária das ruas, dos movimentos sociais, o novo governo poderá virar refém do poderoso “deus-mercado”, cedendo às suas exigências. A festa da vitória acabou; agora é intensificar a pressão!

O terceiro turno já começou. O austericídio também?


Pedro Paulo Zahluth Bastos (*) no Carta Maior

A declaração de Aécio Neves depois da derrota eleitoral foi saudada como exemplo de civilidade, mas é ambígua: “...Considero que a maior de todas as prioridades deve ser unir o Brasil em torno de um projeto honrado”.

O que significa unir o Brasil em torno de um “projeto honrado”, após as denúncias de Veja, corroboradas pelo JN da Globo, sobre o “domínio do fato” dos desvios da Petrobrás por Lula e Dilma? E depois que, na véspera da eleição, Merval Pereira, entre outros, tenha reverberado declarações antigas do deputado federal Carlos Sampaio (PSDB-SP) defendendo o impeachment de Dilma por causa da desonra da Petrobrás?

A capa da Folha de São Paulo dessa terça-feira (28/10/2014) não deixa dúvidas de que o terceiro turno será jogado também na gestão econômica: “Dilma busca para Fazenda nome do mercado financeiro”. O balão de ensaio é repetido por vários jornais depois da desvalorização do dólar e queda da bolsa na segunda-feira, com a ressaca previsível provocada pela derrota do candidato do “mercado”.

O clamor (ou terror financeiro?) se espalha por relatórios do mercado financeiro: JPMorgan, o banco que liderou o enfrentamento contra a reforma financeira de Obama e que, no Brasil, emprega Armínio Fraga, dizia na segunda-feira que “caso a presidente reafirme a política econômica do primeiro mandato, o tumulto pode ser grande o suficiente para se espalhar por outros emergentes.” [link para http://www1.folha.uol.com.br/colunas/viniciustorres/2014/10/1539281-pilulas-do-dia-seguinte.shtml].

O terrorismo econômico como recurso de poder

O esforço do jornalismo econômico e do mercado financeiro para disciplinar a política econômica de Dilma Rousseff foi anunciado durante a campanha eleitoral, em relatório escrito por Tony Volpon, analista da Nomura Securities, em 22 de setembro. Diante da perspectiva de reeleição de Dilma Rousseff, ele admitiu que o mercado financeiro agiria de modo coordenado para impor-lhe o “pragmatismo sob coação”:

A visão otimista é que, uma vez que a eleição acabe, Rousseff sabe que precisa comprometer-se com os mercados e ser mais pragmática... Nossa visão atual é que, provavelmente, só veremos uma mudança real na política econômica em um segundo governo Dilma sob pressão substancial do mercado. O modelo para nós é exatamente o ciclo de aperto feito pelo BC em 2013, que só alcançou a extensão que teve por causa das pressões criadas pela discussão em torno do ´tapering´ do Fed. Chamaríamos isso de ‘pragmatismo sob coação’” [link para http://brasileconomico.ig.com.br/financas/mercado-como-elee/2014-09-24/coacao-pos-marina-ja-comecou.html]. [1]

Não seria a primeira vez que Dilma cederia ao “pragmatismo sob coação”. Sua política econômica fracassou na tentativa de provocar uma desaceleração tênue em 2011, tendo exagerado na contração fiscal e no aperto monetário. Quando buscou reagir à aterrisagem forçada, o fez sem ganhar a opinião pública para a necessidade de fazê-lo.

De fato, o Banco Central (BCB) iniciou um ciclo de redução da SELIC em agosto de 2011 que foi objeto de fortes críticas oriundas de economistas ligados ao mercado de capitais, centros universitários ortodoxos, consultorias financeiras e jornalistas econômicos. A divergência de opiniões levou, como sempre, a acusações de “intervenção política” mesmo depois de ficar claro que o BCB acertou ao avaliar o cenário internacional e a tendência de inflação no Brasil.

Ao invés de admitir o erro, economistas de mercado argumentaram algo como o BCB “arriscou e deu sorte” ao reduzir taxas de juros, esperando por uma oportunidade para coagi-lo outra vez a um ciclo de elevação. O ciclo de elevação foi iniciado em meados de 2013, depois que a economia experimentou choques de custos associados à depreciação cambial e à elevação de preços agrícolas e fretes [link para http://www.jb.com.br/sociedade-aberta/noticias/2013/04/16/combater-a-inflacao-com-recessao-e-estrategia-ultrapassada/].

Como a economia mal se recuperara da aterrisagem forçada de 2011, as pressões de demanda não eram fortes a ponto de permitir uma propagação séria da inflação que precisasse e pudesse ser contida com elevação forte de custos financeiros, ou seja, aumento prolongado dos juros. Iniciado sob pressão de choques de custos e não de demanda, o ciclo de elevação de juros estendeu-se mais do que esperado, segundo Volpon, por causa da pressão dos mercados sobre a opinião pública.

O governo Dilma também não reagiu à pressão do mercado sobre a política fiscal. A desaceleração cíclica iniciada em 2011 foi provocada pelo esgotamento da reposição do estoque de bens duráveis comprados a prazo e pela contração de planos privados de investimento provocada por isso, pela avalanche de importações e pelos sinais de austeridades emitidos pela contração conjunta do Tesouro e do Banco Central em 2011.

Nesse cenário, a reversão para uma política fiscal expansionista era plenamente justificada. Ia contra o consenso de mercado mas em linha com a discussão internacional sobre os danos da austeridade pós-crise global [link para http://www.valor.com.br/opiniao/3131570/origens-da-austeridade-expansionista]. Se contivesse em tempo o ritmo da desaceleração cíclica, provavelmente sustentaria o ritmo de elevação de impostos e, sobretudo, não pioraria a relação dívida pública e PIB [link para www.eco.unicamp.br/docprod/downarq.php?id=3350&tp=a]. Mais do que isso, sustentaria a demanda privada e estimularia a confiança de consumidores e investidores em relação a um futuro de receitas próprias e custos financeiros incertos.

A reversão da austeridade fiscal, contudo, foi tardia, limitada e, pior, ocorreu sem comunicação e disputa ideológica, de modo envergonhado e escondido. Ofereceu a senha para que o mercado desconstruísse a política econômica, responsabilizando pelo baixo crescimento a perda de credibilidade gerada pela “contabilidade criativa” e pelo “aparelhamento do Banco Central” [link para http://www.valor.com.br/opiniao/3181684/austericidio-fiscal].

Com isso, os mercados conseguiram esconder a responsabilidade da própria austeridade pelo baixo crescimento. O argumento implícito, contrafactual e inteiramente injustificado é que, se o governo não revertesse a austeridade monetária e fiscal, mas insistisse nela, o consumo das famílias e os investimentos privados reagiriam aos juros mais altos e à maior arrecadação líquida de impostos como não reagem em nenhum lugar do mundo: expandindo-se...

Ademais, ao recusar-se a fazer a defesa das escolhas de política econômica através do debate ideológico aberto, o governo Dilma priorizou a reconstrução de pontes com o mercado ao invés das demandas reprimidas de trabalhadores, consumidores e pequenos empresários, seu eleitorado potencial. Eram poucos os economistas de mercado que, como Volpon chegou a escrever em 2013, percebiam que o “austericídio” prejudicava o potencial de reeleição de Dilma Rousseff, sem comprar de fato a simpatia dos mercados?

O risco político e econômico de um novo austericídio

Não surpreende que, em declaração às vésperas do primeiro turno, Armínio Fraga tenha afirmado sua opção pelo gradualismo pois, no governo Dilma, “o arrocho já foi feito”. O economista de mercado que sempre defendeu mais austeridade prometia, agora, crescimento rápido desde que o governo Dilma fosse substituído por um governo com mais credibilidade perante os mercados [http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,ao-lancar-plano-tucano-arminio-adota-tom-social,1570435].

A mesma consciência do impacto político da austeridade foi mostrada por um ex-ministro, também banqueiro, vinculado ao PSDB de São Paulo. Em agosto de 2014, Luiz Carlos Mendonça de Barros escreveu “enfim, o ajuste recessivo”: “independentemente do timing eleitoral, o chamado ajuste recessivo continua a tomar conta da economia brasileira neste fim de mandato presidencial.” [Link para http://www1.folha.uol.com.br/colunas/luizcarlosmendonca/2014/08/1504129-enfim-o-ajuste-recessivo.shtml]. Às vésperas do primeiro turno, afirmaria que “o x da questão é saber quantos já o fizeram (captado a recessão) e se a oposição saberá capitalizar o desconforto latente até a eleição. Se a eleição fosse daqui a um ano, o governo ia estar mal." [link para http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/09/1524021-endividamento-familiar-e-economia-fraca-impulsionam-candidatos-de-oposicao.shtml].

As eleições já passaram, e Dilma foi eleita em parte porque, apesar da crise, sua campanha e milhares de militantes voluntários de esquerda foram capazes de mostrar, corretamente, a vinculação dos economistas dos dois principais candidatos de oposição à visão austericida que é exigida hoje pelos mercados financeiros.

Em uma economia que sofre a ameaça de recessão prolongada e não a expectativa de sobreaquecimento, uma virada para a austeridade teria efeitos graves sobre as contas públicas (reduzindo a arrecadação) e sobre a possibilidade de atender os anseios por bens públicos universais e infraestrutura social que, desde junho de 2013, a população reclama nas ruas das grandes cidades brasileiras. Provavelmente também traria, afinal, a retomada do desemprego que era esperada pelos economistas de oposição antes das eleições.

Se ceder à coação política implícita no terrorismo de mercado, Dilma Rousseff arrisca ganhar credibilidade perante o mercado mas arriscar sua credibilidade perante o eleitorado, exatamente quando mais precisar dela para lutar pela reforma política que diz ser sua prioridade legislativa. Ou quando seu governo for julgado politicamente pelos possíveis desvios da Petrobrás. Arrisca ganhar reputação perante o mercado, mas desmobilizar a energia e o apoio dos que a elegeram, exatamente quando for chamada a disputar o terceiro turno.

(*) Professor Associado (Livre Docente) do Instituto de Economia da UNICAMP. Ex-Presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica(ABPHE).

[1] Corrigi a tradução em relação à reportagem do Brasil Econômico

O ministério da correlação de forças

 Saul Leblon, no Carta Maior

A presidenta Dilma fará de seu novo ministério uma trincheira de competência técnica, mas também um instrumento de ação política para abortar cercos e superar flancos revelados antes e depois das urnas.

O PT, partidos aliados e movimentos sociais naturalmente serão contemplados: foi deles a responsabilidade pela candidatura vitoriosa em outubro.

Mas o setor empresarial também será incorporado.

A concessão de um governante vitorioso é uma lâmina de dois gumes.

Um deles fatia um pedaço do seu mandato para o mercado; o outro fatia um pedaço do mercado que os inconsoláveis pelotões do revanchismo querem perfilar na ordem unida do terceiro turno contra Dilma.

Quem serão os anfíbios nessa composição?

Aqueles com os quais é possível dialogar porque tem um grau de compreensão mais amplo do significado de um processo de desenvolvimento.

Ou seja, enxergam em um mercado interno pujante, com empregos, salários e direitos sociais a contrapartida indissociável de vendas, lucros e investimentos.

Um exemplo aleatório?

Luiza Trajano –dona da rede Magazine Luiza, a maior do Brasil.

Em janeiro deste ano a empresária soterrou em estatísticas  um gabola representante da secessão conservadora em debate na Globo News. ‘Poupe-me Luiza’, grunhiu o rapaz, Diogo Mainardi, já nas cordas, quase exangue, depois que a empresária ainda pediu seu email  para entupi-lo  com mais informações opostas à ignorância  exclamativa do interlocutor sobre a situação econômica do país.

Quando outros integrantes da mesa balbuciaram o risco de ‘bolhas’ em socorro ao nocauteado, a convidada ainda retrucou: “Como é possível falar em bolha? Nós precisaremos construir 23 milhões de moradias nos próximos anos do Minha Casa Minha Vida para que a população atinja um nível habitacional próximo ao dos países desenvolvidos. Como se pode falar em bolha? São 23 milhões de casas para 23 milhões de pessoas. (Gente) que mora hoje com o sogro, a sogra ou pagando 400 reais de aluguel por um cômodo. (Em habitação) não se pode esquecer que nós tivemos três décadas  perdidas (como bolha?)’

Não foi necessário contar até dez: o telespectador atestou o nocaute técnico com fraturas espalhadas por toda a credibilidade da bancada do Brasil aos cacos.

Exemplos como os de Luiza Trajano ou o do aventado  Luiz Trabuco Cappi –presidente de banco que pensa como a empresária, não por benemerência, mas de olho no avanço do crédito no país, podem ser acomodados em um governo de composição acossado pelo terceiro turno golpista, associado aos rentistas que preferem lucrar sem produzir.

Acercar-se de anteparos não antagônicos à construção de um desenvolvimento convergente é o que qualquer governante progressista sempre fez e fará, após renhida batalha eleitoral.

A pretensão conservadora de isolar Dilma em uma Guantánamo institucional, e impedi-la de governar, não é uma miragem.

As operações de assalto estão explícitas nas manchetes ressentidas das horas que correm, nos perdigotos expelidos de colunas sulfurosas e na rejeição da Câmara ao projeto que institui conselhos populares --organismos consultivos para o aperfeiçoamento dos programas sociais do governo.

São sinais do tipo: às favas as urnas!

Reverter a escalada dos liberais que não se libertam jamais da UDN embutida nas veias, não se resolve com um ministério puro sangue.

É mais difícil que isso.

E é dessa dificuldade que deveriam cuidar prioritariamente o PT e os movimentos sociais.

Em vez de serem desmobilizados os recursos, as lideranças, as caravanas e as estruturas de coordenação destinadas à vitória nas urnas –como sempre se fez--   chegou a hora de fincar um divisor de águas.

Voltar às bases; organizar a sociedade; reatar o diálogo no campo da esquerda.

Para fazer diferente do que a frente única do conservadorismo apregoa para o Brasil nesse momento não basta lutar por nomes no ministério do novo governo.

Quanto vale um general sem exércitos?

 O ministério mais importante hoje é aquele capaz de coordenar as linhas de passagem para um novo ciclo econômico repactuando metas, concessões, prazos, avanços e salvaguardas com o conjunto das forças sociais.

Esse ministério não fica em Brasília. Seu endereço: metabolismo do movimento social brasileiro, sem número, sem sede, sem articulação intersetorial, sem mídia abrangente, sem canais com a opinião pública, sem...

Se o campo progressista não  dispõe de força sequer para aprovar conselhos populares de natureza consultiva, que chance existe de vingar uma regulação da mídia, prevista aliás desde a Constituição de 1988 e nunca posta em prática? (Leia a análise de Venício Lima; nesta pág).

Mais que isso.

Quem adiciona coerência à macroeconomia do desenvolvimento é correlação de forças da sociedade em cada época.

O colapso neoliberal trouxe para o colo do governo uma crise da qual a Nação é vítima e não sócia; as forças progressistas são adversárias, não coautoras.

O nome da crise não é PT, não é Petrobrás, não é intervencionismo.

O nome da crise é a desenfreada ferocidade com que capitais especulativos impuseram um padrão global de taxa de retorno irreproduzível na economia sem níveis asiáticos de exploração da mão de obra.

O nome da crise é a ausência de instituições internacionais com poder de coordenação sobre essas matilhas   –e de contrapartidas locais de contenção na forma de controles efetivos sobre os fluxos de capitais.

É tudo isso que subtrai o chão firme de governos progressistas nas diferentes  latitudes econômicas.

No Brasil com uma agravante, como mostram os acontecimentos nas horas que urgem.

O cerco conservador derrotado nas urnas sentiu o cheiro das feridas abertas no adversário. E decidiu emendar um terceiro turno de golpismo paraguaio, corroendo a vontade das urnas por dentro das instituições.

Nas páginas de economia martela-se a contrapartida macroeconômica do putsch  branco: o dirigismo (leia-se o pré-sal) e a gastança fiscal (leia-se o salário mínimo e os programas sociais) são incompatíveis com a necessária redução do juro para a retomada do investimento.

Em miúdos: para voltar a crescer o país precisa de algo que o governo reeleito é incapaz de propiciar, a menos que se renda incondicionalmente ao programa derrotado.

 Um xeque-mate?

Não, pelo pequeno detalhe de que as urnas não sufragaram o que seria a pá de cal no projeto de construção de uma democracia social no Brasil.

 Ao contrário, dobraram a aposta no caminho.

Não iludidas, não anestesiadas pela propaganda petista, como se dizia antes.

Mas amadurecidas após 12 anos e três sufrágios presidenciais na mesma direção, a ponto de 54,5 milhões resistirem à avalanche de criminalização e demonização do partido portador desse projeto.

É isso que impede o destape final do aluvião de arrocho armazenado no dique do conservadorismo.

Não é café pequeno, portanto, o confronto em marcha batida no país.

Tampouco é negligenciável o fato de que a negociação do quarto ciclo de governo progressista se dá sob a determinação de uma realidade mundial  pior  que a vigente em 2002, 2006 e mesmo em 2010.

A tese de que o Brasil é uma ilha de crise petista cercada de prosperidade neoliberal por todos os lados --da qual inadvertidamente o ‘intervencionismo apartou o país’, faz parte da fabulação criada para   engessar o novo governo.

O desempenho das exportações, por exemplo, tem sido decepcionante urbi et orbi. Da Alemanha de Merkel, aos EUA de Obama. E a Organização Mundial do Comércio (OMC) prevê que o oxigênio externo ficará ainda mais rarefeito.

A expansão prevista para o comércio mundial em 2015 recuou de 5,3% para 4%, sujeita a novos recortes; bancos brasileiros já trabalham com 3%, para menos.

A ideia genial dos armínios globais de arrochar o consumo interno e deslocar a oferta de cada economia para a demanda do vizinho colidiu com as leis da física.

Na medida em que todos pularam de cabeça no cocho alheio, a busca da  ração transformou-se em anemia coletiva.

Nesse ambiente entupido de produção sem demanda, com elevada capacidade ociosa na indústria, o mercado popular criado no Brasil nos últimos 10 anos (53 milhões de pessoas, que formam a 16ª economia do mundo, com credenciais para o G 20) representa um trunfo inestimável.  Mas a moeda valorizada há duas décadas fragiliza essa conquista, transformando-a em um aspirador de importações, com os efeitos depressivos na produção, no emprego e no investimento industrial.

Reverter esse flanco é crucial.

 Não tanto para redimir as exportações, pelas razões expostas acima. Mas para preservar principal usina de produtividade da economia, sem a qual não haverá excedente econômico a negociar em uma sociedade que reclama novos saltos de qualidade de vida, renda e direitos.

A defesa da industrialização, portanto, é indissociável do projeto vitorioso nas urnas de outubro, que pressupõe a repactuação de uma matriz de crescimento ordenada pela justiça social.

Não será um processo isento de algum sacrifício programado, alerte-se. Negociado democraticamente, porém, disporá de salvaguardas associadas a um calendário de ganhos progressivos.

A composição do novo ministério da Presidenta Dilma é um pedaço dessa negociação.

Mas é só uma das múltiplas rodadas que vão se estender pelos próximos quatro anos, com uma peculiaridade: e Karl Marx redivivo sucedesse ao keynesiano Guido Mantega pouco espaço teria para colocar em prática suas convicções, diante da correlação de forças interna e internacional.

Modificá-las implica organizar a sociedade para que o resultado da urna se traduza em um poder efetivo de pressão nos embates à vista.

 O estiolamento dessa referência organizada nos últimos anos talvez explique um pedaço significativo dos 48 milhões de votos obtidos pelo conservadorismo na disputa presidencial.

O ciclo progressista iniciado em 2003 libertou 60 milhões de brasileiros da calcificação  social .

Supunha-se que isso teria mudado a geografia política do país de forma irreversível nos marcos da legalidade. A quase derrota eleitoral em diferentes momentos da disputa presidencial de 2014 mostrou que essa mutação ademais de inconclusa no campo social é volátil na sua  inexistente organização política.

O que mais o PT tem a dizer a esse universo que ascendeu ao consumo e, sobretudo, como pretende que ele assuma o comando efetivo de seu destino rumo a uma cidadania plena?

Esse é o ministério que o campo progressista precisa ocupar com infatigável determinação no mais breve espaço de tempo: o ministério da mudança na correlação de forças e da hegemonia histórica na sociedade brasileira.

As urnas lhe deram quatro anos para isso.

Se falhar de novo, dificilmente haverá uma chance tão cedo outra vez.



Carta aos jornalistas da Globo e da Abril


Caríssimos,
Vocês perderam a eleição. Protagonizaram a campanha mais sórdida jamais realizada por órgãos de imprensa em toda a história da República, e assim mesmo perderam. Tentaram envenenar a opinião pública brasileira contra uma candidatura, distorceram fatos, inventaram outros, e orquestraram no mesmo diapasão uma opinião seletiva sobre inquéritos policiais  em andamento, atropelando todos os protocolos de comportamento ético de uma imprensa que, mesmo não sendo nunca imparcial na opinião, deveria ao menos tentar sê-lo no noticiário.
Entretanto, não escrevo para celebrar a sua derrota. Muitos já o tem feito. Ao contrário, tomo a liberdade de lhes escrever pelo cuidado que tenho com o seu destino. Gosto da alta qualidade material dos produtos que oferecem à sociedade. As novelas da Globo são sem paralelo no mundo. Os casos de ficção e mesmo as reportagens especiais são de categoria internacional. O mesmo se aplica às revistas não ideológicas da Abril. Contudo, tudo isso está sendo colocado em risco pelo jornalismo sórdido que vocês praticam.
Tenho idade para ter visto muitos impérios jornalísticos  brasileiros que se destruíram, ou que foram destruídos pela concorrência. O seu pode ser o próximo. Vocês, nessa campanha presidencial, ao escolheram um lado com o sectarismo principista de um Estado Islâmico, foram além da crítica ao governo para atacar as próprias bases do Estado democrático. Vocês foram ao extremo de subverter o processo judicial envolvendo o poder da República que deveria ser o mais respeitado, a Justiça, em maquinações eleitoreiras rasteiras e macabras. Não fosse a internet, depurando o noticiário, e vocês teriam ganho.
Sei que o caminho suicida que escolheram era uma aposta na candidatura que lhes parecia a mais adequada para tirá-los das dificuldades empresariais e afastar o risco de uma regulamentação mais democrática da mídia. No primeiro caso, o fato de ambas as organizações serem os beneficiários das duas maiores contas de publicidade do governo parece não lhes ser satisfatório. Ou querem mais ou tem medo de perder o que tem. No segundo caso, o risco é um marco regulatório que quebre o monopólio de algumas mídias.
Sim, porque os verdadeiros democratas brasileiros não querem muito mais do que aquilo que os norte-americanos têm. Não me consta que a NBC, a ABC ou a CNN sejam proprietárias de jornais e revistas nos Estados Unidos. Por outro lado, não me consta que o New York Times ou o Wall Street Journal sejam donos de televisões e rádios. Quebrar o monopólio jornalístico da Globo no Brasil não seria diferente do que Cristina Kirchner fez com o Clarín na Argentina, e isso, é preciso reconhecer, simplesmente segue o padrão americano e não tem nada a ver com violação da liberdade de imprensa.
Esta é uma questão política da mais alta relevância, e se alguém, de um ponto de vista imparcial, analisa a campanha presidencial que acaba de ser encerrada encontra amplas justificativas para querer a busca de um marco regulatório adequado. Entretanto, isso é também uma questão econômica, tendo em vista a concorrência no mundo da mídia. A articulação de jornal, televisão e rádio traz óbvias vantagens comerciais monopolísticas para seu dono, além de um inequívoco poder político que pode ser manipulado contra concorrentes, mas também contra a democracia.
Trabalhei  sete anos no Jornal do Brasil até pouco antes do início de sua decadência. O JB, quando lá entrei no começo dos anos 70, era dono absoluto do mercado de pequenos anúncios. Quando muitos, e esse era o caso, era a melhor fonte de receita do jornal porque o anúncio era pago adiantado na boca do caixa. Pois bem, a certa altura O Globo decidiu entrar pra valer no mercado de pequenos anúncios. Se fosse jornal contra jornal, tudo bem. Mas o Globo lançou todo o peso da televisão para anunciar seus classificados. Aos poucos, liquidou com o negócio do JB, que não tinha televisão para defender-se.
Esse pequeno incidente revela o verdadeiro poder dos monopólios midiáticos. Quando se trata de política, esse poder é multiplicado. Basta lembrar das consultas obrigatórias que os presidentes faziam a Roberto Marinho sobre iniciativas importantes no tempo em que ele estava em pleno vigor físico. Os herdeiros estão longe da habilidade política do pai, e estão entrando num terreno perigoso de oposição sistemática ao governo. Isso acontece sobretudo na Veja e, principalmente, no Jornal da Globo.
Quando William Waack, Carlos Alberto Sardenberg e Arnaldo Jabor extrapolam sua função de apresentadores e comentaristas para assumirem o papel de doutrinadores raivosos contra a política externa ou interna do governo, manipulando descaradamente o noticiário, é, em sua essência, uma violação das regras de concessão pública de televisão e põem em risco uma organização que, fora da política, é líder absoluta da produção audiovisual na América Latina. Acho que interessa a todos os brasileiros que essa liderança seja conservada e ampliada. Espera-se que o jornalismo da Globo e de Veja não ponham tudo a perder, não junto ao governo, mas junto a telespectadores, leitores e anunciantes, sendo varrido da cena pelo noticiário plural da internet.
J. Carlos de Assis - Economista, doutor pela Coppe/UFRJ, professor de Economia Internacional da UEPB.

Contra a histeria: 7 mitos da eleição

Por Rodrigo Vianna, no blog  Escrevinhador
 
Todo mundo sabe que não acredito em jornalismo “isento”. A não ser que seja isento de impostos (a Globo, parece-me, acreditou que era isenta de certos impostos).

Mas essa eleição trouxe alguns exemplos de que, mesmo assumindo posições claras em favor de um ou outro candidato, os jornais e a mídia convencional (e também os blogs e ativistas digitais) podem guardar espaço para trabalhar de forma honesta com a informação.

A “Folha”, por exemplo – apesar do episódio lamentável com Xico Sá – parece ter recuado em sua fúria antipetista durante a campanha de 2014. E abriu espaço para reportagem e opiniões divergentes. Lembremos que foram da “Folha” as informações sobre o Aeroporto de Cláudio e sobre o suposto pagamento de propina para Sérgio Guerra (PSDB)…

Agora, reproduzo material muito interessante publicado pela turma de José Roberto Toledo, no “Estadão”. Não conheço Toledo pessoalmente, mas está evidente que faz um trabalho correto – sem brigar com os fatos.

Confiram o texto – que ajuda a desmontar a histeria que certos setores (minoritários, diga-se) do tucanato procuram disseminar.

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Os sete mitos das eleições de 2014

Por José Roberto Toledo, Daniel Bramatti, Daniel Trielli, Diego Rabatone, Lucas de Abreu Maia e Rodrigo Burgarelli, no Estadão

Mais perenes do que qualquer partido ou movimento político, algumas ideias sobre o que move os eleitores se repetem a cada eleição. No entanto, dados e detalhamentos das votações desafiam esse senso comum. O Estadão Dados analisou 7 erros mais repetidos
Mito 1: Foi o Nordeste que elegeu Dilma

É claro que o desempenho de Dilma no Nordeste foi crucial para a sua vitória – lá, ela teve 20 milhões de votos no segundo turno, o que correspondeu 72% do total de válidos. Mas a presidente reeleita obteve um apoio razoável em todas as cinco regiões. Seu menor porcentual de votos válidos foi no Sul, onde ela teve o apoio de 41% dos eleitores que escolheram um candidato. Na verdade, a impressão de que o Nordeste sozinho é o grande responsável pela reeleição de Dilma é fortalecida quando se vê o mapa eleitoral de cada Estado pintado por quem teve o maior porcentual de votos ali. Nesse mapa, metade do Brasil aparece pintado de azul, como se ela tivesse ido em direção totalmente oposta à outra metade, vermelha. O deputado estadual eleito Coronel Telhada (PSDB-SP) chegou a defender a independência do Sul e do Sudeste por causa disso. Mas, na verdade, dos dez Estados em que Dilma obteve menor votação, apenas três estão nessas regiões: SC, SP e PR. Todos os outros estão ou no Norte ou no Centro-Oeste. Visualmente, é possível ver como o apoio a Dilma se espalha pelo Brasil pelo gráfico de relevo ao lado – nenhuma das duas maiores “montanhas” que representam o número absoluto de votos está no Nordeste.

Mito 2: Palanque estadual influencia eleitores

Pesquisas e resultados eleitorais voltaram a demonstrar que a maioria dos eleitores não faz conexão entre o voto para presidente e para governador. Apesar da prática tradicional dos presidenciáveis de buscar “palanques fortes” nos Estados – alianças com candidatos a governador -, não há evidências de que isso renda votos. Apoiado por praticamente toda a cúpula do PMDB do Rio de Janeiro, o tucano Aécio Neves buscou popularizar a chamada “chapa Aezão”, na esperança de que os eleitores de Luiz Fernando Pezão votassem também nele. Os mapas de votação de ambos, porém, mostram que não houve sintonia eleitoral. Pesquisa Ibope divulgada pouco antes do 2º turno mostrou que, dos eleitores de Pezão, seis em cada dez pretendiam votar em Dilma Rousseff. Marcelo Crivella, adversário do peemedebista, fez campanha explícita para Dilma – mas isso não impediu que cerca de 40% de seus eleitores manifestassem intenção de votar em Aécio.

Mito 3: Pesquisas erram resultado da urna

Embora alguns insistam que as pesquisas de intenção de voto consistentemente erram o resultado das urnas, não é o que mostram os dados – tanto os das eleições de domingo quanto os e históricos. A vitória de Dilma Rousseff (PT) na disputa pela Presidência foi prevista pelo Ibope, que atribuía a ela 53% da preferência do eleitorado. Dilma recebeu 52% dos votos válidos, portanto dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos porcentuais.O Datafolha também atribuía favoritismo à petista, embora ela estivesse no limite do empate técnico com Aécio Neves (PSDB). Ambos os institutos descreveram, por meio dos números, a campanha do 2.º turno: Aécio começa à frente, carregado pelo embalo do 1o turno, em que teve votação superior ao esperado. Dilma se recupera na última semana, com uma insuficiente reação de Aécio na véspera do pleito. Para os institutos, os números exatos importam menos que o movimento descrito pelas curvas de intenção de voto de cada candidato. Sem elas, é impossível analisar qualquer campanha. Desde 2002, a diferença média da sondagem de véspera do dia da eleição de Ibope e Datafolha para o resultado do 2.º turno é de um ponto porcentual – portanto dentro da margem de erro. Assim, os institutos acertaram os resultados das eleições em todos os anos, mesmo em 2014, na disputa mais acirrada da história.

Mito 4: Votos nulos são sinal de protesto

Após os protestos que tomaram as ruas das principais cidades do País em junho de 2013, analistas e cientistas políticos previram aumento significativo de votos nulos na eleição deste ano. Isso não ocorreu: foram 4,4% de nulos em 2010 e 4,6% em 2014 – a comparação leva em conta os dois segundos turnos da disputa presidencial. É claro que muitos indivíduos podem anular o voto como forma de protesto. Mas as estatísticas indicam que parcela significativa dos nulos se deve a erros no momento do voto. Uma evidência disso é a diminuição dos votos anulados entre o 1.º e o 2.º turno das eleições – entre uma e outra etapa, o número de cargos em disputa cai de cinco para apenas um ou dois, o que reduz a complexidade do manejo da urna eletrônica. Outro indício é o fato de que a taxa de nulos para deputado estadual – o primeiro cargo na ordem de votação – é sempre mais baixa, já que são contadas como voto na legenda as tentativas equivocadas de digitar os números de presidenciáveis.

Mito 5: Família Campos transfere votos

O tucano Aécio Neves lançou sua campanha no 2.º turno em Pernambuco, onde recebeu o apoio da viúva e dos filhos de Eduardo Campos, candidato a presidente pelo PSB até agosto, quando morreu em um acidente aéreo. Os líderes do PSDB esperavam que a família Campos e a máquina do PSB no Estado proporcionassem uma vitória a Aécio no Nordeste, assim como já havia ocorrido com Marina Silva, primeira colocada em Pernambuco no 1.º turno. A estratégia não deu resultados. Aécio teve entre os pernambucanos apenas 29,8% dos votos, resultado próximo da média que obteve em todo o Nordeste: 28,3%. O tucano ganhou em apenas uma cidade pernambucana: a pequena Taquaritinga do Norte, onde obteve 7.340 votos, 432 a mais do que a presidente Dilma Rousseff (PT). Em Recife, onde Marina havia obtido 63% dos votos no 1.º turno, Dilma venceu na segunda rodada da disputa por 60% a 40%.

Mito 6: Minas Gerais elege presidente

Mesmo se ganhasse seu Estado natal, Aécio Neves (PSDB) ainda teria dificuldade em se eleger. Dilma Rousseff (PT) teve 52,4% no Estado, e o tucano teve 47,6%. Se ele tivesse invertido esse resultado e ganhado os 550.601 votos que ela ganhou a mais em Minas, ainda faltariam 2,3 milhões de eleitores no resto do Brasil. Na votação total de Aécio, Minas representa 11%, menos que a soma de Santa Catarina e Bahia. Só uma vitória distante em Minas, de 63% a 37%, daria a Aécio os votos necessários para ganhar de Dilma. Com esse resultado – quase igual ao do Estado de São Paulo (64% a 36%) –, ele teria 52.771.137 de votos em todo o Brasil, um a mais que Dilma. Mas uma vantagem tucana como essa não acontece em eleições presidenciais em Minas desde que Fernando Henrique Cardoso ganhou em 1994, no primeiro turno. Naquele ano, derrotou Lula no Estado por 65% a 22%. Nem em sua segunda vitória de primeiro turno, em 1998, Fernando Henrique repetiu o resultado: foi 56% a 28%.
Mito 7: Abstenção é alta e demonstra apatia

Ao fim de todas as eleições, analistas correm para declarar que cerca de um quinto da população decidiu não votar. O número se baseia na abstenção divulgada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ou seja, os eleitores que não foram às seções eleitorais. Historicamente, a abstenção gira em torno de 20% e o número não varia muito de eleição para eleição. Essa análise é falha porque atribui às abstenções um peso político maior que o que de fato têm. Isso porque o suposto não comparecimento às urnas tem mais a ver com uma falha no cadastro eleitoral do TSE que com a falta de engajamento político. A abstenção foi menor em 2014 precisamente nos municípios que passaram recentemente pelo recadastramento biométrico — em que os eleitores registram na Justiça Eleitoral suas impressões digitais. O recadastramento remove da lista do tribunal eleitores que já morreram, e que, naturalmente, não podem aparecer para votar.


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P.S.: De todos itens acima, só discordo – em parte – do Item 3. Pesquisas erram, sim! Erraram muito no primeiro turno, e menos no segundo. E há os casos estranhíssimos da Sensus e Veritá, que davam vantagem de 8 a 15 pontos a Aécio quando todo mundo sabia que a eleição estava empatada – com leve vantagem para Dilma.

quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Discurso de Marcelo Freixo

https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=3X60WG4oZDQ

O que realmente explica a vitória do PT no Nordeste

Maurício Angelo no GGN
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Novamente, após a vitória da presidenta Dilma Rousseff pela reeleição com 3,5 milhões de votos a mais que o adversário, Aécio Neves, a xenofobia e o ódio gratuito contra o Nordeste, decisivo no pleito com mais de 70% dos votos para Dilma, voltou a aparecer nas redes sociais.
Velhas ideias elitistas de separação “norte” e “sul” e “uso político” do Bolsa Família – apesar de São Paulo ser o segundo estado que mais recebe recursos do Bolsa Família (atrás somente da Bahia) e ter se mostrado reduto absoluto do PSDB, diga-se – ecoaram. Não somos um país dividido, mas um mosaico, como mostra o gráfico das eleições presidenciais nos municípios, abaixo. Dilma também venceu em Minas Gerais, superando Aécio Neves em sua própria “casa” – uma resposta contundente do povo de MG ao seu ex-governador e atual senador – além de vencer no Rio de Janeiro e alcançar votações muito próximas no Espírito Santo e Rio Grande do Sul.
Mas o que realmente explica a massiva votação que o PT recebe do Nordeste nas últimas 4 disputas pela presidência? O Bolsa Família – programa em que 76% das pessoas que recebem trabalham com carteira formal e mais de 1,6 milhão de famílias já abriram mão espontaneamente do benefício – decifra sozinho esse “fenômeno”? Seria a popularidade absurda de Lula, um pernambucano?
Os dados e fatos abaixo, compilados por mim em reportagens diversas dos últimos 4 anos (links aqui), mostra o quanto o estado se desenvolveu absurdamente na economia, na educação, na saúde, nos investimentos que atrai, na força do seu mercado, na inclusão social e mudança da pirâmide de renda. O quanto o governo do PT (2003-2014) transformou a região muito, mas muito além do Bolsa Família, beneficiando todos os extratos da população nordestina e colocando no mapa uma região historicamente negligenciada.
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Leia também: A responsabilidade jornalística e a regulação da mídia em xeque

É claro que o Nordeste ainda tem muito para avançar, no controle da violência, nos indicadores sociais e econômicos e cresce acima da média brasileira justamente porque passou tanto tempo esquecido e tem tanto para melhorar. Responsabilidade compartilhada entre a União, estados e municípios.
O mérito inegável do Partido dos Trabalhadores, que uma parcela felizmente minúscula da população, repleta de ódio e estupidez, prefere ignorar, é colocar a região de volta no caminho de protagonista do Brasil.

 Emprego, renda, crescimento e desenvolvimento social

  •  Em 2002, 4,8 milhões de nordestinos tinham emprego formal. No final do ano passado, eram 8,9 milhões.
  • Segundo a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), entre 2001 e 2012, o nordestino teve o maior ganho de renda entre todas as regiões, o que fez com a participação da base da pirâmide social caísse 66% para 45% –ou seja, mais de 20 milhões de pessoas deixaram a pobreza.
  • Com mais de um quarto da população brasileira, a classe média no Nordeste foi engrossada em 20 pontos percentuais na última década, alcançando 42% dos habitantes.
  • A classe A também ganhou agregados e saltou de 5% para 9% desde 2002.
  • O poder de compra dos nordestinos já chega quase a 450 bilhões de reais, valor que corresponde à economia de países como Peru e República Checa.
  • O programa de cisternas levou mais de 1 milhão de reservatórios de água para pessoas carentes.
  • O Luz Para Todos beneficiou mais de 7 milhões de pessoas somente no Nordeste, com mais de R$6 bilhões de investimento na região.
  • Na última década, entre 2003 e 2013, o Nordeste cresceu mais do que a média nacional, com avanço de 4,1% ao ano, enquanto o país ficou na marca de 3,3%. Números divulgados pelo Banco Central (BC) apontam que a região responde por 13,8% da economia nacional.
  • Isso representa um crescimento de 41% em 10 anos, ante 33% da média nacional.
  • Em 2012, por exemplo, a economia local cresceu o triplo da brasileira.
  • Segundo cálculos do Banco Central, a economia nordestina cresceu 2,55% no segundo trimestre de 2014, na comparação com o primeiro, que já havia mostrado expansão de 2,12%.São taxas sem paralelo no restante do país. Nenhuma das demais regiões obteve dois trimestres consecutivos de alta, e as taxas, mesmo quando positivas, foram bem mais modestas. Pela medição do IBGE, a economia do Brasil encolheu 0,2% de janeiro a março e 0,6% de abril a junho.
  • O Produto Interno Bruto (PIB) do Nordeste crescerá 2,6% em 2014, muito acima da média nacional.
  • O Nordeste criou 1,04 milhão de postos de trabalho no primeiro trimestre de 2014, o que representa quase 60% do total de vagas abertas em todo o Brasil, segundo dados do IBGE.
  • Além de ter apresentado o maior resultado em termos de geração de vagas no primeiro trimestre de 2014, a formalização na região também é forte e tem colaborado para a intenção de consumo se manter em níveis elevados, avaliou Bentes. Os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram alta de 2,2% no emprego formal no Brasil em 12 meses até abril. No Nordeste, o avanço é de 3,3%, com destaque para o comércio e os serviços.
  • Levantamento da Firjan aponta que, na última década, 97,8% dos municípios nordestinos apresentaram crescimento do IFDM (Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal).

 Educação e Saúde

  •  Em 2000, segundo dados do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), o Nordeste tinha 413.709 universitários. Em 2012, esse número saltou para 1.434.825. Com isso, a região ultrapassou o Sul e passou a segunda com maior número de estudantes do ensino superior –20% do total–, atrás apenas do Sudeste.
  • Nos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, 18 universidades federais foram abertas –sete delas no Nordeste, todas fora das capitais.
  • A região tem conseguido fazer subir o número de pessoas com 18 anos ou mais nas universidades. Formados, eles passarão a ganhar 15,7% a mais por ano de estudo, segundo o Data Popular.
  • O SUS [Sistema Único de Saúde] está presente em todos os municípios nordestinos, principalmente com suas equipes de PSF [Programa de Saúde da Família], e o ensino fundamental é praticamente universalizado.

 Bolsa Família

  •  Em 2013, o Bolsa Família deve repassar 25 bilhões de reais para mais de 13,8 milhões de famílias, metade delas no Nordeste. Na região, quatro em cada dez famílias recebem o benefício social, com valor médio de 152 reais por mês.
  • De acordo com estudo recentemente divulgado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Bolsa Família tem efeito multiplicador de R$ 2,40 sobre o consumo final das famílias, por isso setores como comércio e serviços – formado no Nordeste, principalmente por pequenos negócios -, que atendem esse consumidor final, são os mais beneficiados. Além disso, o levantamento mostra que cada real investido no programa gera um retorno de R$ 1,78 para a economia.

 Agricultura

  •  Até 2022, segundo projeções do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), o Brasil plantará cerca de 70 milhões de hectares de lavouras e a expansão da agricultura continuará ocorrendo no bioma Cerrado. Somente a região que compreende os estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia terá, nesse mesmo período, o total de 10 milhões de hectares, o que representará 16,4% da área plantada e deverá produzir entre 18 a 24 milhões de toneladas de grãos, um aumento médio de 27,8%. Estamos falando do Matopiba, região considerada a grande fronteira agrícola nacional da atualidade.
  • O Matopiba é peça-chave para o desenvolvimento da agricultura e para a segurança alimentar do País. “O investimento na produção sustentável na região do Matopiba será fator de segurança alimentar para o Nordeste, assolado por secas que matam as plantas de sede e os animais de fome”, apontou o presidente da Embrapa, Maurício Antônio Lopes, que prevê com o crescimento do agronegócio um valioso desenvolvimento social para a região.
  • A agricultura familiar é responsável pela produção dos principais alimentos consumidos pela população brasileira: 84 % da mandioca, 67% do feijão; 54 % do leite; 49 % do milho, 40 % de aves e ovos e 58 % de suínos.
  • No Nordeste a agricultura familiar é responsável por 82,9 % da ocupação de mão de obra no campo. 
 Tecnologia
  •  O Porto Digital, em Recife (PE), já perdura por mais de uma década gerando cerca de 6 mil empregos em quatro centros de pesquisa de tecnologia, quatro multinacionais, além das startups que também estão sediadas ou possuem escritórios no parque. Foram aproximadamente R$ 90 milhões investidos na reforma da zona portuária da capital.
  • De acordo com um estudo feito em 2010, o Porto Digital fatura quase R$ 900 milhões por ano, engloba quase 500 empreendedores em seu parque e paga salários acima de R$ 2,5 mil. A maior parte de sua mão de obra possui ensino superior e pelo menos um segundo idioma. Atualmente, o Porto Digital se caracteriza por oferecer alta taxa de empregos ao público jovem: 35% dos trabalhadores de lá têm entre 17 e 25 anos.
  • Na maior parte, as empresas que estão instaladas no parque são voltadas para o desenvolvimento de software para gestão empresarial, soluções para o mercado financeiro e para a área de saúde, mas também há startups que desenvolvem games, sites e intranets empresariais e ainda controle de trânsito e mecanismos de segurança patrimonial.
  • Grandes empresas como Microsoft, IBM, Samsung e Motorola possuem bases instaladas no parque, sendo que a Motorola mantém o único centro de verificação e integração de teste de software para celulares da marca no mundo – um investimento de US$ 20 milhões da fabricante estadunidense.
  • No parque, a maior parte das companhias atua na oferta de serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) – são 147 empresas neste setor, das pouco mais de 200 que têm base no pólo. 89% das empresas no Porto Digital são matrizes.
  • Campina Grande, na Paraíba, é um dos 74 pólos tecnológicos do país, mapeados pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anproteca). Concilia todos os predicados necessários: uma centena de empresas de TI, mil empregos gerados e o maior número proporcional de PhDs do Brasil – 600.
  • Nos últimos anos, o setor alavancou para 43 países as exportações de software e hardware, que vão de bancos de dados de alta complexidade às mais simples recicladoras de cartuchos. Entre seus clientes estão nomes como HP, Nokia, Petrobras e Interpol, a polícia internacional para o crime organizado. 
  • Ao menos 250 novas mentes aportam todos os anos para preencher as vagas de Ciência da Computação e Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Nos próximos cinco anos, um contingente de quase mil cérebros inundará o mercado local de tecnologia da informação (TI).
Consumo e crédito
  •  Pesquisa do Data Popular, citada pela EXAME, aponta que o potencial de vendas no Nordeste, durante os próximos 12 meses, soma 1,2 milhão de imóveis, 1,6 milhão de carros e 1 milhão de motos. O levantamento ainda indicou que os nordestinos estão cada vez mais sofisticados. A região concentra a maior intenção de compra do país em itens como notebooks, smartphones e tablets.
  • Dados da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) mostram que a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) caiu 7,4% na média do Brasil quando se compara junho deste ano com igual mês de 2013. Nesta mesma base, a ICF cresceu 4,3% no Nordeste, para 135 pontos, o nível mais alto entre as regiões e o único resultado ainda crescente.
  • O Nordeste foi a região em que as operações de crédito das empresas mais cresceram entre 2007 e 2011. Dados do Banco Central apontam que, enquanto que no Brasil foi registrado um aumento de 126%, chegando a R$ 1,044 trilhão, as empresas nordestinas responderam por uma expansão de 200%, somando R$ 121 bilhões.
  • No que se refere ao pequeno varejo e atacado, o Nordeste detém 27% do número de lojas do Brasil, concentradas na Bahia, Pernambuco e Ceará, que juntas somam 69% do faturamento da região.
  • Salvador ocupa a quinta posição do ranking de Potencial de Consumo, IPC MAPS 2011, ficando atrás de São Paulo, Rio, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba, com R$ 38 bilhões de potencial de consumo.
  • A indústria de bebidas também está aquecida na região, onde o consumo de cerveja cresceu 10,2% desde 2010, ante 4,9% no resto do país.

 Investimento, mercado e infraestrutura

  • A transposição do Rio São Francisco está 63% concluída, empregando 11.500 pessoas e beneficiará 390 municípios em quatro estados: Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte em 470km de canais.
  • Dezenas de empresas já estão realizando ou realizam investimentos significativos na região, com instalação de novas fábricas, polos de desenvolvimento e novos projetos.
  • Em Goiana, a 60 quilômetros de Recife, no norte de Pernambuco, um novo polo farmacoquímico deve ser concluído até 2016. Numa área de 287 hectares, estão sendo instaladas 11 empresas de remédios e biotecnologia — um investimento total de 1 bilhão de reais que criará 1443 novos empregos.
  • Entre as companhias que vão desembarcar na região estão Hemobrás, Normix, Vita Derm, Hair Fly, Rishon, Brasbioquímica, Luft Logistics, White Martins, Quantas Biotecnologia, Biologicus e Multisaúde.
  • No início do ano, a Ambev inaugurou uma nova fábrica na mesma cidade, um investimento de 725 milhões de reais que gerou 1 000 empregos.
  • Na Bahia, a Heineken amplia a operação da fábrica de Feira de Santana, enquanto o  Grupo Petrópolis, fabricante das cervejas Itaipava e Petra, abriu em novembro sua primeira fábrica nordestina em Alagoinhas e uma segunda fábrica em Itapissuma (PE). A empresa já está contratando para os 600 postos que serão criados.
  • Um dos segmentos mais favorecidos pelo aumento de renda no Nordeste foi a indústria de alimentos e bebidas, o que tem atraído empresas como Nissin Ajinomoto, Mondelez, Natto e Companhia Brasileira de Sorvetes. Só em Pernambuco, 22 grandes fabricantes desembarcaram nos últimos seis anos.
  • E oito novas fábricas ficarão prontas até o ano que vem — uminvestimento total estimado em 2,8 bilhões de reais, com a geração de mais de 6 500 empregos diretos. A pernambucana GL Empreendimentos — de massas e biscoitos — inaugura em julho sua nova indústria de alimentos, um investimento de 143 milhões de reais.
  • Com grande potencial de ventos, o Nordeste é o principal centro da produção de energia eólica no Brasil. Apesar de nova, essa é a fonte de energia que mais cresce no país. “Os investimentos só começaram há cerca de quatro anos, mas já cresceram 1 500%”, afirma Elbia Melo, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). A região é responsável por 78,3% da capacidade de geração de energia eólica no Brasil, com 132 parques considerados aptos, em operação ou em testes. Além deles, 58 parques eólicos estão em construção e outros 263 já foram contratados nos leilões energéticos. A previsão é que a energia eólica gere 80 000 postos de trabalho em toda a sua cadeia produtiva só no Nordeste.
  • No ano passado, Camaçari recebeu a fábrica da gigante chinesa  JAC Motors, um investimento de 900 milhões de reais que permitiu a geração de 3 500 empregos diretos e 10 000 indiretos.
  • A indústria automotiva decolou no Nordeste com o anúncio da instalação da fábrica da Fiat em Pernambuco, há três anos. Para garantir a produção de 40% da demanda de peças e componentes da montadora, está sendo criado o Parque de Fornecedores no Polo Automotivo de Goiana, na região metropolitana de Recife.
  • São 16 empresas — globais e nacionais — que ocuparão 12 edifícios nos quais serão produzidas 17 linhas de componentes. Em uma área construída de 270 000 metros quadrados, o Parque de Fornecedores ficará junto à fábrica da multinacional italiana, em um modelo integrado de produção.
  • Ao todo, o Polo Automotivo vai gerar 8 000 empregos diretos até o fim de 2015. Cerca de 4 000 dessas vagas serão criadas apenas nas fornecedoras de autopeças, que reúnem empresas como Magneti Marelli/Faurecia, Lear, Adler e Pirelli. A Fiat, por sua vez, vai contratar 600 profissionais de nível superior ainda neste ano.
  • Estimativas que apontam investimentos na casa de R$ 6 bilhões no segmento de hotelaria e turismo para a região. O FNE (Fundo Constitucional de Financiamento do Nordeste), administrado pelo BNB (Banco do Nordeste do Brasil) programou investimento de mais de R$ 500 milhões à edificação de novos estabelecimentos do setor hoteleiro.
  • A cadeia produtiva do petróleo também está aquecida no Nordeste, e a indústria naval é uma das que mais têm contratado. Com investimentos simultâneos ocorrendo em diversos estados, o setor deverá gerar cerca de 15 000 empregos diretos na região, com boas oportunidades para engenheiros navais, cujos salários estão cotados entre 5 000 e 14 000 reais.
  • O grande símbolo do deslocamento da indústria naval do Sudeste para o Nordeste é o Estaleiro Atlântico Sul (EAS), sediado no Complexo de Suape, em Pernambuco, desde 2008 e com uma carteira de investimentos de 8,1 bilhões de dólares. O estaleiro conta com 6 200 empregados e deve chegar a 7 000 até o fim deste ano.
  • O Porto de Suape, que teve um aporte de R$ 1,2 bilhão em investimentos, cresceu 26% em 2012 e empregou 60 mil pessoas.

O enorme peso do Brasil na América Latina

http://www.pragmatismopolitico.com.br/2014/10/mulher-de-mujica-diz-que-america-latina-respirou-com-vitoria-de-dilma.html

Sobre o mercado de trabalho rural: entrevista com economista do DIEESE

http://www.senado.gov.br/noticias/tv/programaListaPadrao.asp?ind_click=1&txt_titulo_menu=Agenda%20Econ%F4mica&IND_ACESSO=S&IND_PROGRAMA=S&COD_PROGRAMA=6&COD_VIDEO=369787&ORDEM=0&QUERY=&pagina=1

Propaganda da fragmentação do território brasileiro não deve ser tolerada

http://jornalggn.com.br/blog/fabio-de-oliveira-ribeiro/propaganda-da-fragmentacao-do-territorio-brasileiro-nao-deve-ser-tolerada

Tese da divisão é chantagem contra Dilma

Por Breno Altman, em seu blog: através do Blog do Miro
O terceiro turno já começou. O país reelegeu a presidente Dilma Rousseff e o programa petista, mas as forças derrotadas buscam impor sua agenda.

O instrumento principal, por ora, não são tentativas abertas de desestabilização e sabotagem. O movimento é mais sutil, ainda que possa ser preparatório de manobras mais agressivas. Trata-se de emparedar o governo e obriga-lo a acatar medidas e nomeações ao gosto do bloco político-social batido nas urnas.

A chave conceitual destas operações está na afirmação de que a nação teria saído dividida do processo eleitoral. Vencedora por margem estreita, só restaria à presidente abraçar teses que atendessem os interesses e as posições de seus adversários. Fora desse diapasão, não teria condições e legitimidade para governar.

A chefe de Estado, nesta lógica, teria que aceitar ser refém dos grupos políticos e corporativos que, sem maioria popular, controlam o poder econômico e de informação, além de reter forte influência sobre o Parlamento, a Justiça e outras instituições do Estado.

O preço para a paz seria o predomínio, mesmo que parcial, da plataforma neoconservadora rejeitada pelo voto. Ainda assim, sem quaisquer garantias de que, feitas as concessões, seriam respeitados eventuais acordos.

Vale lembrar que não há uma só linha na norma constitucional que subtraia prerrogativas de um governante que tenha sido eleito por diferença pouco confortável.

Ou alguém acha que, vitorioso Aécio Neves, estaríamos assistindo pressão equivalente, dos mesmos atores antidivisionistas, para nomear um sindicalista para o Ministério da Fazenda ou cortar juros como principal providência de ajuste fiscal?

A questão é puramente funcional. A tese da divisão serve, neste momento, à intenção de encurralar o governo e força-lo a adotar caminho que, atendendo as reivindicações do mercado, provoque o máximo desgaste junto aos eleitores e militantes de esquerda.

A divisão real do país é de outra natureza, que não pode ser confundida com a decisão democrática e soberana que reconduziu Dilma ao comando da República, dando-lhe mandato uno e legítimo.

Mas é fato que o Brasil vive em dualidade de poderes desde a primeira posse de Lula, em 2003. As forças progressistas detêm o governo nacional, mas sem maioria parlamentar, sob fogo cerrado dos monopólios da comunicação e com instituições judiciais usualmente cúmplices de manobras oposicionistas.

Como tal impasse pode ser rompido? Essa talvez seja a principal dúvida de todos os protagonistas.

O campo conservador aparentemente escolheu sua estratégia, com duas variantes.

A primeira está em curso: chantagear a presidente e obriga-la a recuos de peso, desidratando sua liderança política.

A segunda permanece embutida: deflagrar processo de sabotagem e impedimento, a partir de eventuais denúncias de corrupção no caso Petrobrás, com a meta de fazer o governo, o PT e Lula chegarem estropiados a 2018.

A presidente e o petismo, porém, vivem uma encruzilhada.

Durante doze anos, a busca de governabilidade foi encarada quase exclusivamente como uma tarefa institucional, constituindo alianças parlamentares que pudessem aprovar os projetos do Planalto e proteger o governo da desestabilização.

O arrefecimento da disputa política-ideológica era visto como necessário para facilitar estes acordos, reduzindo conflitos e danos. A militância e os movimentos sociais, sempre fundamentais para as batalhas eleitorais, eram recolhidos à posição de reserva estratégica na hora de governar.

O cenário, no entanto, parece ter mudado sensivelmente. O avanço nas reformas encontra resistência conservadora cada vez mais dura e frontal, contaminando amplos setores centristas da base parlamentar. Vão se fechando os espaços para trafegar entre as velhas instituições.

O discurso da vitória de Dilma reflete, de algum modo, a presente situação.

A presidente reeleita falou em diálogo e união, buscando isolar as frações mais radicalizadas da direita e ganhar tempo na reconfiguração de seu governo.

Mas também deu centralidade à proposta de reforma política através de plebiscito popular, sinalizando que é chegado o momento de enfrentar os problemas estruturais.

O presidente do PT, Rui Falcão, foi enfático ao dizer que, sem mobilização popular, não haverá reforma alguma. Não é pouca coisa. Claramente introduz as ruas como elemento imprescindível da governabilidade, o que constitui forte novidade na estratégia petista.

Estamos assistindo, de toda forma, aos primeiros passos de um embate decisivo.

A direita ensaia, com a tese da divisão, um discurso para dobrar e desidratar o governo, antes de esquarteja-lo.

A esquerda, talvez com alguma timidez, acumula forças para enfrentar os entulhos autoritários, encravados no sistema político e no monopólio da mídia, sobre os quais se mantém a dualidade de poderes que freia a aceleração e o aprofundamento das reformas

Os plutocratas contra a democracia

http://brasil.elpais.com/brasil/2014/10/24/opinion/1414171151_841734.html

terça-feira, 28 de outubro de 2014

VIVA O POVO BRASILEIRO


 
O povo brasileiro
Orgulho dessa nação
Não divide o país
Seria uma aberração

Todos os estados unidos
Sem dependência estrangeira
Seria uma nação mais forte
Uma nação mais brasileira

Vamos juntos nessa ideia
Fortalecendo o Brasil
Uma nação de todos
De um povo varonil

Tenha orgulho de ser brasileiro
No mundo somos respeitados
As diferenças de opinião
É uma conquista, um legado

Abaixo o preconceito
A arrogância e prepotência
Quem age desse jeito
Lhe falta inteligência

Se somos todos iguais
Como prega a constituição
Quem se acha superior
Devia voltar à razão

A livre expressão de ideias
Conquistada a duras penas
Tem que ser mais valorizada
Isso não é o problema

Se pensa diferente
O melhor é dialogar
O respeito a toda gente
Faz a vida melhorar

O povo brasileiro
Que luta e vai em frente
Mostra inteligência
Quando une toda gente

Viva o nosso país
Viva o povo trabalhador
Que em todos os rincões
Mostra o seu valor

Vou já me despedindo
Agradecendo a sua atenção
Vamos ajudar o Brasil
A ser uma melhor nação

Dino Gilioli, poeta.
6 livros publicados, entre eles: Cem Poemas (Editora da UFSC)