Ricardo Kotsho, em seu blog
Se já tinham alguma desconfiança, os ricos brasileiros e seus
blogueiros de estimação agora é que vão ter certeza mesmo de que Barack
Obama é comunista.
Na contramão das medidas econômicas recessivas que vêm sendo
estudadas pelo governo Dilma 2, o presidente dos EUA vai anunciar nesta
terça-feira, em seu discurso anual sobre o Estado da União, que enviará
projeto ao Congresso com proposta que prevê aumentar os impostos dos
mais ricos e dos bancos e, ao mesmo tempo, desonerar a carga tributária
da classe média.
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, novo "czar" da economia
brasileira, poderia aproveitar sua viagem esta semana a Davos, na Suíça,
onde representará nosso país no Fórum Econômico Mundial, para perguntar
aos seus colegas americanos como é possível fazer um "ajuste fiscal",
tirando de quem tem mais e vive da especulação financeira, para
beneficiar quem vive apenas do seu trabalho, ao contrário do que o
ministro vem planejando por aqui.
O "Plano Robin Hood" de Obama prevê um aumento da arrecadação de US$
320 bilhões nos próximos dez anos, com a maior taxação de grandes
bancos, casais que ganham mais de US$ 500 mil por ano e cobrança de
impostos sobre heranças _ algo simplesmente fora de cogitação dos
ajustes de Dilma-Levy.
De outro lado, a proposta do governo americano prevê uma desoneração
de US$ 175 bilhões dos impostos pagos pela classe média no mesmo
período, segundo notícia publicada nesta segunda-feira no New York
Times, venerável publicação que, perto dos jornalões brasileiros, deve
parecer um perigoso porta voz do socialismo, a ameaçar a liberdade de
expressão em todo o mundo.
O principal jornal americano já prevê que Obama "vai enfrentar forte
resistência num Congresso agora controlado pelo Partido Republicano", o
equivalente, mal comparando, ao nosso PSDB.
O mais curioso e triste para nós é que Obama, que perdeu as últimas
eleições parlamentares nos Estados Unidos, mostra coragem para enfrentar
a oposição republicana, mesmo estando em minoria, enquanto Dilma
Rousseff, que acabou de vencer as eleições gerais no Brasil, com ampla
maioria no Congresso Nacional, faz exatamente o contrário, para agradar
ao mercado.
Até agora, mesmo com a presidente se mantendo em ensurdecedor
silêncio desde que tomou posse no segundo mandato, há 19 dias, seus
ministros e assessores só vêm anunciando medidas que oneram a classe
média, como o aumento dos impostos de profissionais liberais e
prestadores de serviço que formaram pequenas empresas na forma
de pessoas jurídicas, mais conhecidos por "PJ", além de restringir o
acesso a benefícios sociais e liberar o aumento de tarifas.
Chega agora a cheirar a ironia a ameaça feita por tucanos emplumados,
às vésperas da eleição de outubro, de que deixariam o Brasil se Dilma
se reelegesse. Para quê?
Bom mesmo é ficar rico no Brasil, ir às compras e investir em imóveis
nos Estados Unidos, sem nenhuma ameaça de taxação das suas fortunas.
Tem lugar melhor no mundo para ser banqueiro ou herdeiro que vive de
rendas? Quando começa a faltar água e luz, é só pegar um avião, de
preferência um jatinho particular, e ir para suas casas em Punta ou
Miami. Seu rico dinheirinho estará garantido pelo nosso fisco camarada, e
não tem nenhum Obama que o ameace.
E vamos que vamos.
Em tempo (atualizado às 11h30) _ Acabo de ler na manchete do UOL: "Riqueza de 1% deve ultrapassar a dos outros 99% no mundo até 2016, diz ONG".
Estudo da organização britânica Oxfam informa que a "explosão da
desigualdade" está dificultando a luta contra a pobreza global. "Apesar
de o assunto ser tratado de forma cada vez mais frequente na agenda
mundial, a lacuna entre os mais ricos e o resto da população continua
crescendo a ritmo acelerado", advertiu a diretora executiva da Oxfam
Internacional, Winnie Byanyma.
A presidente Dilma e o ministro Levy bem que poderiam ler este estudo antes de apresentar as propostas brasileiras em Davos.
Barack Obama já está fazendo sua parte para evitar que este abismo entre ricos e pobres cresça ainda mais.
E nós?
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