Breno Altman em seu Blog
A escalada contra a
presidente Dilma Rousseff se transformou, a partir deste domingo, em
movimento reacionário de massas. A última vez que assistimos fenômeno
dessa natureza foi às vésperas do golpe militar de 1964, com as marchas
que abriram alas para os tanques.
Ainda que a situação política
seja distinta e não estejamos às beiras de uma ruptura constitucional,
menos ainda da intervenção militar apregoada por frações do antipetismo,
mudou de qualidade a disputa entre os dois campos nos quais se divide
atualmente o país.
Setores numerosos das camadas médias colocaram
na ordem do dia a derrubada de um governo legitimamente eleito. Contam
com a associação dos principais meios de comunicação e partidos de
direita, incluindo elementos da base aliada.
A chefe de Estado e o Partido dos Trabalhadores precisam decidir qual rumo irão tomar diante deste novo fato político.
A
patética entrevista dos ministros Miguel Rossetto e José Eduardo
Martins Cardoso, na noite de ontem, aponta o caminho da conciliação e do
acordo.
Não tiveram a elegância de ir a público no dia 13,
quando o movimento sindical e popular saiu às ruas para defender a
democracia e protestar contra o ajuste fiscal.
Mas açodadamente
se apresentaram para conferência de imprensa, ao vivo, depois das
manifestações convocadas pela República de Higienópolis. Seu discurso as
avalizou como democráticas por terem sido pacíficas, além de oferecer
uma mão estendida e trêmula para o diálogo.
Não foram capazes nem
sequer de denunciar atuação partidária e manipuladora da Rede Globo,
uma concessão pública, claramente transformada em porta-voz da intentona
reacionária.
Possivelmente o complemento desta atitude seja
imaginar que o governo, para se proteger, deva abrir ainda mais espaços
para o conservadorismo na composição do gabinete, dobrar-se com maior
genuflexão ao parlamento e renunciar mais claramente à agenda sufragada
nas eleições de outubro.
O raciocínio implícito a esta orientação
é de que sempre existe a possibilidade de evitar o confronto contra
classes sociais e grupos políticos hostis a quaisquer mudanças que
minimamente afetem seus interesses ou potencialmente ameacem sua
hegemonia.
Getúlio Vargas ceifou a própria vida porque acreditou
nesta suposição e viu-se encurralado. João Goulart foi apeado do poder e
morreu fora do país porque partilhou a mesma ilusão.
Se for esta
a estratégia, por falar em história, o governo correrá o risco de
repetir cenário provocado por Neville Chamberlain, então
primeiro-ministro inglês, quando cedeu a Tchecoslováquia para os
alemães, em 1938, tentando apaziguar Hitler. “Entre a guerra e a
desonra, escolheu a desonra, e terá a guerra”, afirmou Winston
Churchill, seu clarividente conterrâneo e sucessor.
Mas há outras alternativas à disposição da presidente e do PT.
A
mobilização do dia 13 demonstrou que existem potentes reservas de apoio
para Dilma recompor o bloco político que permitiu seu triunfo em
outubro. Há espaço para a construção de uma frente ampla que defenda a
democracia e as reformas populares, buscando reunir nas ruas as forças
que faltam ao governo dentro das instituições.
Obviamente este passo será possível apenas se a política econômica e a própria composição ministerial forem revistas.
A
presidente instalou um clima de confusão, divisão e desânimo nos
últimos meses, com as medidas de ajuste fiscal e a nomeação de ministros
sem qualquer compromisso com o programa vitorioso em 2014.
Talvez
acreditasse que seu problema principal fosse o mesmo de sempre: como
obter maioria parlamentar e apaziguar o capital, de tal forma que sua
administração pudesse evitar o isolamento e enfrentar as dificuldades da
economia.
A dimensão da jornada antidemocrática, no entanto,
mostra que é outra a questão crucial: sem uma repactuação urgente com o
campo popular, o petismo perderá as condições de disputar vitoriosamente
as praças públicas, os corações e mentes dos milhões de trabalhadores
que formam sua base social.
Não há tempo a perder, esta é a verdade.
Os próximos dias e semanas valerão por anos.
O projeto histórico representado pelo PT e a esquerda está em perigo real e imediato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário