do Brasil de Fato.
Embora o ódio cultivado, especialmente nos setores
de classe média alta, siga se intensificando - presente em
"panelaços" e pequenas
manifestações que perseguem a Presidenta Dilma e a tornam
uma refém no palácio - o clima que anunciava uma
catástrofe iminente do governo já não permanece. As manifestações pelo impeachment,
que prometiam superar a campanha das Diretas Já, esvaziaram e nos
últimos quatro meses, as ações da Petrobras subiram mais de
50%, desmentindo o noticiário catastrofista da grande
mídia. Mesmo a dimensão do roubo investigado na Operação Lava Jato
que inicialmente apontava dezenas de bilhões já
revela sua real dimensão de centenas de milhões,
equivalente a outros escândalos como o caso do
"trensalão de São Paulo" e possivelmente menor que o
escândalo das contas secretas do HSBC. Tudo isso
contribui para uma percepção distinta do cenário
político de dois meses atrás.
O cerco político das forças de direita ingressa
numa nova fase, onde a política de sangramento e desgaste
se mantém, deixando claro que o importante é aprisionar o
governo afastando-o de qualquer projeto desenvolvimentista
e arcando com todas as conseqüências de um ajuste fiscal
de interesse do capital financeiro. Blindada na economia
pela presença do Ministro Levy, cujo afastamento
provocaria retaliações econômicas e na política pela
atribuição do poder de negociação ao Vice Presidente
Michel Temer, o governo Dilma perde sua capacidade de
iniciativa.
O "sangramento" prossegue. Investem na criação de
um imaginário de um caos administrativo e financeiro de
uma Petrobrás mergulhada na corrupção com o descarado
intuito de alterar o marco regulatório da exploração do
petróleo. Querem alterar a legislação que possibilita
empréstimos em operações internacionais do Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social - BNDES, estender o
noticiário de denúncias seletivas para as empresas do
setor elétrico, aos fundos de pensão e outros bancos
públicos. Em resumo, atacam com todas as forças os
instrumentos estratégicos necessários a qualquer projeto
nacional de desenvolvimento. Ao governo só restaria
administra um "ajuste fiscal".
Neste cenário, a ofensiva de direita, animada com
seus sucessos neste primeiro semestre cometeu um único e
grave erro. Pautou o Projeto de Lei 4330 escancarando a
porta das terceirizações. Tal medida que, sem nenhuma
dúvida integra a pauta dos setores patronais com
prioridade, abriu a possibilidade do governo Dilma,
unindo-se ao movimento sindical e popular, recompor sua
base social de apoio. Uma questão decisiva!
O sentimento de traição de uma base social que
pouco depois de uma disputada eleição, em que a candidata
Dilma empunhou um discurso claramente á esquerda
deparou-se com um ajuste fiscal que transmite a clara
sensação de um estelionato eleitoral é o maior problema
enfrentado pelo governo e pelas forças populares que o
apoiaram. Um
descontentamento legítimo ante uma frustração real.
Ao assumir a
posição de vetar o dispositivo jurídico que estende a
terceirização para a chamada "atividade fim", a Presidenta
Dilma ganhou a oportunidade de recompor sua base social e
até mesmo de disputar parcelas dos setores médios que
foram conquistadas para a oposição e o discurso golpista.
Uma oportunidade em grande parte perdida com a
insistência do governo em manter as Medidas Provisórias
664 e 665 que reduzem direitos previdenciários.
Diversos economistas, inclusive ligados ao PT
alertaram que o impacto pífio obtido com as medidas
provisórias poderia ser alcançado apenas antecipando o fim
de desonerações fiscais inúteis que sequer serviram para
gerar postos de trabalho. De nada adiantou. A Presidenta
Dilma manteve as MPs 664 e 665, jogando fora uma incrível
oportunidade e assumindo o lastimável papel de deixar
claro que o ajuste fiscal recai nas costas dos
trabalhadores.
Com isso abriu um grave flanco para as forças de
direita, agravando a situação do PT, com seus deputados
expostos em cartazes vexatórios por votarem contra os
trabalhadores, tendo que defender o injustificável que é
votar pela redução de direitos.
O episódio demonstra que persistir na lógica do
atual "ajuste fiscal" somente aprofundará o isolamento
social do governo. Um
ajuste que não impede de
aumentar seguidas vezes a taxa básica de juros,
repassando à especulação financeira valores muitas vezes
superiores aqueles que se afirma necessário "ajustar".
Um ajuste claramente neoliberal.
O fato positivo desta conjuntura é que é que a CUT
manteve-se firme, bem como a CTB e os movimentos sociais,
que organizam jornadas de luta tanto contra as MPs do
governo como contra o "PL das Terceirizações". As
mobilizações previstas para o dia 29 de maio demonstram a
capacidade de luta e vitalidade dos setores populares.
O próximo passo decisivo será a votação da "Contra
Reforma Política" nas próximas semanas. Eduardo Cunha
pretende levar à plenário sua proposta de
constitucionalizar o financiamento empresarial quando o
Supremo Tribunal Federal somente não o eliminou devido a
uma manobra do Ministro Gilmar Mendes. Será mais uma
oportunidade para saber se o governo Dilma encontra-se
definitivamente blindado ao comando de Temer e Levy ou se
ainda conserva alguma capacidade de iniciativa política.
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