sexta-feira, 29 de maio de 2015

Decisões que agravam problemas

Clemente Ganz Lúcio

  
Depois de uma década, o desemprego volta a atormentar a vida dos trabalhadores. Sem crescimento econômico não há geração de emprego. O Brasil, a sétima economia do mundo, enfrenta dificuldades para sustentar o crescimento por meio do aumento dos investimentos, do incremento geral da produtividade e da agregação de valor na produção de bens e serviços.
Os indicadores de mercado de trabalho (PED, do Dieese/Seade, PME e Pnad, ambas do IBGE) indicam crescimento expressivo da taxa de desemprego, comparada com os mesmos meses de anos anteriores. O mesmo acontece com o Caged, registro administrativo do MTE, que apresenta resultados negativos, com fechamento de postos de trabalho. Esse movimento tende a se agravar ao longo do ano. A expectativa é de uma “tempestade perfeita”, em que ajuste fiscal, pressão inflacionária, política monetária restritiva, falta de água no Sul e sobretudo no Sudeste, e excesso no Norte e em alguns estados do Nordeste, Operação Lava-Jato, entre outros fatores, contribuem para a queda no nível de atividade econômica e uma recessão que pode chegar a um PIB negativo de 2% neste ano e baixíssimo crescimento em 2016.
Nesse cenário, as medidas de ajuste fiscal alteram as regras de acesso ao sistema de proteção, especialmente no que se refere à situação de desemprego. Ainda não há um instrumento adequado para garantir o emprego e evitar demissões, em situações adversas. Diante do infortúnio do desemprego, que sempre atinge primeiro os trabalhadores que ocupam cargos de assistentes, ajudantes, auxiliares, serventes, os mais jovens e os com menos formação, milhares deixarão de ter acesso ao sistema de proteção que o seguro-desemprego propicia ou terão reduzido ou impedido o direito à renda oferecida pelo abono salarial.
No momento em que o trabalhador mais precisa de proteção social do Estado e a economia mais necessita de renda preservada pelo emprego, o país escolhe caminhos e faz mudanças que agravam problemas. Vem aí um período de muita dificuldade, que esperamos e lutaremos para que seja transitório.
* Clemente Ganz Lúcio é diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese)

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