Clemente
Ganz Lúcio[1]
Estima-se em mais de 200 milhões o
número de pessoas que estão desempregadas no mundo, resultado
que inclui os
mais de 30 milhões de trabalhadores desocupados depois da crise
de 2008. Tratam-se
de estimativas da Organização Internacional do Trabalho (OIT),
no estudo
“Perspectivas Sociais e do Emprego no Mundo” (www.ilo.org).
Para atender aos que começam a
buscar uma ocupação, entre eles os jovens que atingem a idade
adulta, ou
responder à maior participação das mulheres no mercado de
trabalho, a economia
mundial precisa criar mais de 40 milhões de postos por ano.
Trata-se de um
enorme desafio, porque isso requer sustentar uma taxa de
crescimento econômico
que amplie a capacidade produtiva global (mais empregos com
maior
produtividade) para atender a demanda de consumo dos mais de 7
bilhões de
habitantes do planeta.
Para que isso ocorra é preciso que a
dinâmica do consumo das pessoas, das empresas e dos governos
amplie a demanda
da produção de bens e serviços. No caso da maioria das pessoas
em idade adulta,
a capacidade de consumo é majoritariamente decorrente dos
empregos e do poder
de compra dos salários ou dos benefícios da aposentadoria.
Quando os postos de
trabalho são fechados e os salários são arrochados, as pessoas e
famílias
perdem capacidade de consumo, o que rebate diretamente sobre a
demanda,
reduzindo o nível de atividade das empresas e gerando ociosidade
da capacidade instalada
das plantas empresariais, o que gera ondas de demissões e
alimenta um dramático
ciclo recessivo. Da mesma maneira, por exemplo, a queda do
consumo faz cair a
receita do Estado, que arrecada menos impostos e reduz a
capacidade de gastos
correntes com as políticas públicas de investimentos. A OIT
estima que o
desemprego, o arrocho dos salários, os empregos precários e a
informalidade
retiram da economia uma demanda potencial equivalente a US$ 3,7
trilhões, perda
correspondente a 2% do consumo global e de 1,2% da produção
mundial.
Além do desemprego, observa-se que
ocorrem mudanças profundas nas relações de trabalho, com o
crescimento dos
empregos em tempo parcial, das ocupações precárias e da
informalidade. Há um
movimento mundial que amplia a insegurança e a precarização no
mundo do
trabalho. Em boa parte dos 90 países pesquisados pela OIT, cerca
de 75% dos
trabalhadores estão ocupados em empregos precários, em tempo
parcial, sem
contrato de trabalho e na informalidade.
Nessa dinâmica, há aumento da
desigualdade e crescimento da pobreza. Contraditoriamente, a
educação e o
conhecimento científico se ampliam e transformam-se em novas
tecnologia e
inovação, que aumentam a produtividade e esta não para de
crescer, na contramão
dos salários, que não param de cair. A desigualdade cresce em um
mundo de
abundância!
Entendemos que o objetivo da política
econômica é gerar
empregos para produzir os bens e serviços para promover o
bem-estar, a
qualidade de vida e a sustentabilidade ambiental. Essa é uma
forma de conceber
a economia, sentido este sempre em disputa na sociedade.
O desafio para os trabalhadores é,
de maneira insistente e indelegável, recolocar o trabalho na
centralidade da
política econômica, tarefa que requer muita luta e capacidade de
disputa no
campo da economia política. No Brasil, nossa tarefa é construir
uma rápida
transição para o crescimento econômico baseado na combinação
entre o
investimento e o incremento e a repartição da produtividade,
ampliando, por
meio do emprego, a melhor distribuição de renda, a inclusão
social e econômica
e o mercado interno de consumo. Sem dúvida, não há mágica.
Somente muito
trabalho para gerar renda e riqueza e muita força política e
disposição de luta
para criar regras que distribuam os resultados de maneira justa
e igualitária.
[1] Sociólogo, diretor técnico do DIEESE, membro do CDES – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.
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