sábado, 18 de julho de 2015

Enquanto Dilma trabalha, Cunha tenta tumultuar o país

18 de julho de 2015 | 12:00 Autor: Miguel do Rosário
A Presidenta Dilma Rousseff e o ministro da Defesa, Jaques Wagner, participam da cerimônia comemorativa do Dia do Exército, no Setor Militar Urbano (Antônio Cruz/Agência Brasil)
Antônio Cruz/Agência Brasil)
O golpe contra Dilma Rousseff talvez gostaria de assumir um rosto mais elegante do que o de Eduardo Cunha ou Jair Bolsonaro.
Desde o início das manifestações contra Dilma, havia um certo constrangimento entre um setor mais “cult” do golpe, e outro mais tosco, mais brutal, repleto de faixas que pediam intervenção militar (algumas em inglês!).
A ala mais tosca e mais brutal prevaleceu, como se viu no dia 15 de março, que parecia um filme de terror B, cheio de cenas inverossímeis, como uma faixa que pedia a extinção do Congresso, do STF e do Executivo: “Queremos só Polícia Federal e Ministério Público”; ou o discurso de um cidadão num dos carros de som, xingando Montesquieu e pedindo o fim do sufrágio universal.
O fato é que Dilma Rousseff continua trabalhando, à sua maneira, sem falar muito, enquanto Eduardo Cunha apela para a mais abjeta superexposição midiática.
Enquanto Dilma se esforça para pôr em andamento medidas que estabilizem a nossa economia e a façam voltar a crescer, Eduardo Cunha assumiu o papel de um terrorista irresponsável, ansioso, descontrolado, disposto a criar CPIs, autorizar iniciativas de impeachment, apenas para tumultuar e livrar a sua pele.
As CPIs criadas por Cunha, dos Fundos de Pensão e do BNDES, já iriam ser criadas de qualquer maneira. A intenção da oposição era fácil de prever. Como oposição, devemos entender não apenas os partidos, mas também a mídia e os setores golpistas incrustrados nos aparelhos de repressão. A intenção era a seguinte: depois de promover uma notável destruição da imagem do PT com a manipulação das investigações contra a Petrobrás, queriam fazer o mesmo com os fundos de pensão e o BNDES.
Mas a oposição planejava fazer as coisas com mais calma, para não afetar a economia brasileira e o empresariado. Afinal, os petistas tem um capital político a perder, mas os empresários tem um patrimônio financeiro a perder. Os empréstimos do BNDES foram realizados para todos os empresários nacionais, a começar pelos maiores. Se a insanidade política levou a oposição a causar um prejuízo incalculável, e ainda em curso, das maiores empresas de construção civil do país, com risco de um gigantesco disperdício em matéria de patrimônio intelectual em engenharia e tecnologias, imagina o que acontecerá se esta loucura for aprofundada com outras CPIs?
Acuado, desesperado, Cunha espera contar com o apoio dos setores mais extremados da oposição à Dilma Rousseff, os zumbis lobotomizados pela mídia dispostos a destruir o país se for necessário, para “acabar com o PT”. O que desejam pôr no lugar, parece não importar para eles, e por isso são zumbis lobotomizados.
Para o governo, é interessante que essas CPIs, que seriam abertas de qualquer jeito, agora venham com marca maligna, partidária, suja, de Eduardo Cunha.
São CPIs que já nascem desmoralizadas, com a marca do ódio e do oportunismo políticos.
Será o momento igualmente de monitorar o grau de (ir)responsabilidade da nossa grande imprensa. Irá embarcar no navio fantasma de Eduardo Cunha?
Eu diria que… sim, fingindo pudor à princípio, mas logo logo se pondo à vontade.
A disposição de Cunha de liberar todos os pedidos de impeachment contra Dilma, por outro lado, ajuda a fortalecer uma das minhas tantas teorias conspiratórias.
Qual era a teoria? Que o grande ataque zumbi, em massa, se concentraria em agosto. Manifestação golpista do dia 16, votação do TCU, do TSE. Tudo converge para agosto, quanto até mesmo a economia poderá sofrer o seu primeiro baque forte por causa do ajuste fiscal.
E agora, agosto começará com um presidente da câmara completamente ensandecido pelo ódio político, acuado por acusações e holofotes negativos, disposto a tocar fogo em Roma para desviar as atenções da mídia.
Alguns leitores se irritam com meus prognósticos sombrios para agosto, acusando-me de um medo que, em verdade, eles é que sentem.
Não tenho medo de agosto. Mas não posso me furtar a prever a tentativa de golpe. Ontem assisti a um documentário sobre Marighella, no qual um de seus amigos conta que o então ativista, pouco antes do golpe de 64, fez prognósticos sombrios, mas profundamente realistas, e que se materializaram depois, sobre o cenário político dos anos que viriam.
Mas Marighella jamais foi covarde. Assumiu a vanguarda da luta contra o regime militar e se tornou um dos poucos herois da nossa história política.
Eduardo Cunha sempre foi oposição à Dilma e sempre foi golpista. É muito melhor para o governo que ele agora assuma abertamente essa oposição.
A polarização entre um golpe liderado por Eduardo Cunha, Veja e Globo, e a democracia defendida pelos movimentos sociais e uma presidenta eleita, interessa ao governo.
Esperemos, todavia, que o governo, diante do golpe iminente, ou de uma sequência de golpes, desperte de sua letargia e se articule junto aos que o querem lhe apoiar. Esperemos que Dilma seja mais democrática, e dê entrevistas à mídia alternativa, como o jornal Brasil de Fato, e empreenda iniciativas políticas ousadas.
É um bom momento, por exemplo, para discutir uma lei democrática de mídia, mesmo que for para perder na Câmara, porque seria uma vitória de Pirro da oposição, visto que o simples fato de criar um debate na sociedade já seria uma grande vitória para o movimento pela democratização da mídia. A opinião pública progressista, que venceu as eleições de 2014 (Dilma e governo sempre esquecem disso) veria quem é contra a democracia na mídia: Cunha, Bolsonaro, Feliciano, PSDB, e toda a escória reaça.
Enfim, o governo e o campo progressista no parlamento precisam criar agendas positivas, para fazermos um contraponto à agenda apocalíptica que Eduardo Cunha quererá impor nos próximos meses.

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