segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Pajeú: levar água e cidadania ao deserto

https://youtu.be/oZhmn--WukM

As eleições terminaram em outubro. Só que não…

mobius
Aproprio-me da gíria da garotada e da ideia muito bem exposta por José Roberto de Toledo, hoje, no Estadão para tratar de algo que, de fato, representa uma baita parcela de nossas dificuldades econômicas.
Outra parte, é certo, vem do próprio Governo, que não consegue entender que, sem política, nenhuma administração pública funciona. E isso vale mais ainda para as de austeridade que para os momentos pródigos, onde a fartura serena espíritos naturalmente.
Mas é inegável que a economia, a esta altura, é mais influenciada do que influenciadora da política.
O exemplo tomado por Toledo, o discurso “fora da curva” de Geraldo Alckmin ao chamar o PT de praga da qual precisaria o Brasil se livrar, é apenas mais um dos muitos que se pode encontrar para ver que, em lugar da disputa política, o que se coloca em xeque é a própria legitimidade da democracia que, afinal, provêm do voto.
E é evidente que isso está ocorrendo desde a noite daquele domingo de outubro em que o TSE divulgou a vitória de Dilma Rousseff.
Formou-se uma “aliança” espúria entre mídia, oposição, corporativismo parlamentar, setores do Judiciário – com o tempero exótico de grupelhos de extrema -direita e de uma nova camada de udenismo de classe média não para mudar ou pressionar por políticas de governo, mas para desejar e construir a queda do Governo.
Um movimento ilegítimo que encontra eco na incapacidade do Governo  reagir, sempre tonto com as pancadas que, toda semana, recebe e com outras que ele próprio desfecha em si mesmo, como esta da CPMF, que perdeu a chance de colocar na “Agenda Brasil” de Renan Calheiros quando ali se propôs “cobrar pelo SUS” e se deixou levantar como “intenção” sem que houvesse a menor condição política de faze-la retornar na mesma forma.
As “bandeiras” que o Governo levantou se assemelharam demais à dos adversários e as que eles, esperta e cinicamente, elevaram se pareciam com as nossas.
E como se permite que siga um clima eleitoral – onde a radicalização das posições é todo o tempo estimulada – é nele que, inexoravelmente, estamos.
De pouco adiantará apelar a que não estejamos, portanto.
O que é preciso, sim, é que as posições políticas se tornem claras e o projeto histórico permanentemente  reafirmado.
É na política que se encontrará forças para a recuperação de uma economia que, verdade, sente os efeitos da crise mundial mas que, aqui, sente mais ainda o peso do pessimismo, da incerteza e da falta de horizontes palpáveis e realizáveis.
Por isso é que nem mesmo se pode dizer que o “ajuste fiscal” de Joaquim Levy não funcionou – e ele tem, em si, uma lógica perversa recessiva. É que nem as medidas conservadoras que nele se embutiam puderam se realizar, porque a política não o deixou.
É política, política na veia do que precisamos, porque sem ela só teremos tremores.

Boneco de Lula é expulso da Paulista

Por Altamiro Borges em seu Blog
O "Pixuleco" - o boneco inflável que exibe o ex-presidente Lula com roupas de presidiário - não está agradando. Na sexta-feira (28), ele foi furado por manifestantes antifascistas em frente à sede da prefeitura de São Paulo. Já no domingo, ele teve que ser esvaziado às pressas na Avenida Paulista. Os donos do boneco - que até agora não apresentaram a nota fiscal da obra de 15 metros de altura, mas apenas revelaram que ela custou R$ 12 mil e foi financiada por "empresários alagoanos" - talvez algum usineiro metido em trabalho escravo ou algum sonegador de impostos -, tiveram que deixar o local aos gritos de "fascistas", "golpistas" e outros adjetivos impublicáveis.
O próprio site G1, pertencente à famiglia Marinho - que transformou o "Pixuleco" em celebridade nos vários veículos da Globo - registrou a patética cena: "Organizadores do ato com o boneco inflável do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vestido de presidiário decidiram terminar o protesto de domingo (30) na Avenida Paulista antes do horário pretendido depois que um grupo de apoiadores do governo foi à avenida para confrontar a manifestação. O boneco foi inflado às 11h e seria desmontado às 15h, mas o tumulto fez os organizadores mudarem de ideia. O boneco foi esvaziado às 13h55", informou a jornalista Gabriela Gonçalves.
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Ainda segundo a matéria - que não esconde o apoio aos grupelhos fascistas que obraram o Pixuleco -, "os petistas comemoraram quando o boneco foi esvaziado e gritaram o nome de Lula. 'Era para ficar mais tempo, mas não queremos conflitos', disse Heduan Pinheiro, 34 anos, integrante do movimento Brasil Melhor e é um dos responsáveis por trazer o boneco para Avenida Paulista. 'Vamos encerrar em respeito aos cidadãos. Vimos que em São Paulo não dá para se manifestar livremente. Mas se voltarmos a nos manifestarmos aqui, estaremos muito mais preparados', completou". 
De relance, a reportagem do G1 - "o portal de notícias da Globo" - informa que os organizadores "levaram grades e contrataram seguranças particulares para proteger o boneco" - mas não diz o valor e nem os financiadores. O esforço é para apresentar os donos do Pixuleco como vítimas de agressão. No seu final, sem maior alarde, apenas registra que "o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, foi abordado por manifestantes antigoverno no início da tarde deste domingo na Avenida Paulista. Cardozo caminhava na avenida com um outro homem quando passou a ser xingado e vaiado". De fato, os sinistros financiadores do Pixuleco são "fascistas civilizados", cheios de amor no coração!

Sincronia e transformação

José Luís Fiori


José Serra: "Partamos nesse instante para uma ofensiva e não fiquemos na defensiva porque a defensiva será a vitória de fato dessas forças reacionárias que hoje investem contra o povo brasileiro". Pronunciamento ao vivo na Rádio Nacional do RJ, feito na madrugada do dia 1º de abril de 1964.
Apesar de sua aparente instabilidade, a história política da América do Sul apresenta uma surpreendente regularidade, ou "sincronia pendular". Alguns atribuem ao acaso, outros à conspiração política e a grande maioria, aos ciclos e às crises econômicas. Mas na prática, tudo sempre começa em algum ponto do continente e depois se alastra com a velocidade de um rastilho de pólvora, provocando rupturas e mudanças similares nos seus principais países. Esta convergência já começou na hora da independência e das guerras de unificação dos Estados sul-americanos, mas assumiu uma forma cada vez mais nítida e "pendular", durante o século XX.
Foi assim que na década de 30 se repetiram e multiplicaram por todo o continente as crises e as rupturas de viés autoritário; da mesma forma que na década de 40, quase todo o continente optou simultaneamente pelo sistema democrático que durou até os anos 60 e 70, quando uma sequência de crises e golpes militares instalou os regimes ditatoriais que duraram até os anos 80, quando a América do Sul voltou a se redemocratizar. Mas agora de novo, na segunda década do século, multiplicam-se os sintomas de uma nova ruptura ou inflexão antidemocrática - a exemplo do Paraguai - com o afastamento parlamentar e/ou judicial do presidente eleito democraticamente.
O mundo passa por uma transformação geopolítica gigantesca, que determinará os caminhos do século XXI
Neste momento, até o mais desatento observador já percebeu esta repetição, em vários países do continente, dos mesmos atores, da mesma retórica e das mesmas táticas e procedimentos. Sendo que no caso brasileiro, estes mesmos sinais se somam a um processo de decomposição acelerada do sistema político, com a desintegração dos seus partidos e seus ideários, que vão sendo substituídos por verdadeiros "bandos" raivosos e vingativos, liderados por personagens quase todos extremamente medíocres, ignorantes e corruptos que se mantém unidos pelo único objetivo comum de destroçar ou derrubar um governo frágil e acovardado.
Mas a história não precisa se repetir. Mais do que isto, é possível e necessário resistir e lutar para reverter esta situação, começando por entender que esta crise imediata existe de fato, mas ao mesmo tempo ela está escondendo um impasse estratégico de maior proporção e gravidade que o país está enfrentando, e que não aparece na retórica da oposição, nem tampouco na do governo. Neste exato momento, o mundo está atravessando uma transformação geopolítica e geoeconômica gigantesca, e seus desdobramentos determinarão os caminhos e as oportunidades do século XXI.
E ao mesmo tempo a sociedade brasileira está sentindo e vivendo o esgotamento completo dos seus dois grandes projetos tradicionais: o liberal e o desenvolvimentista. Por isto mesmo soam tão velhas, vazias e inócuas as declarações propositivas do governo, tanto quanto as da oposição mais ilustrada. O mundo bipolar da Guerra Fria acabou há muito tempo, mas também já acabou o projeto multipolar que se desenhara como possibilidade, no início do século XXI.
Esta mudança já vem ocorrendo há algum tempo, mas ficou plenamente caracterizada na reunião realizada na cidade de Ufa, na Rússia, no mês de julho de 2015, do grupo Brics, e logo em seguida, da Organização de Cooperação de Xangai (que já conta com adesão, como observadores, da Índia, do Irã, e Mongóliaconfigurando uma nova bipolaridade global entre regiões e civilizações, e não entre países de uma mesma cultura europeia e ocidental.
É neste contexto que se deve situar e entender a crescente colaboração militar entre a Rússia e a China, a nova "guerra fria" da Ucrânia, a reaproximação dos EUA com Cuba e Irã e vários outros movimentos em pleno curso neste momento, ao redor do mundo. Da mesma forma que se deve entender a extensão do impacto mundial da crise da Bolsa de Xangai e sua sinalização de que está em curso uma mudança da estratégia nacional e internacional da China, envolvendo também sua decisão de entrar na disputa - de longo prazo - pela supremacia monetário-financeira global. A mesma pretensão e disputa que já derrubou vários outros candidatos nestes últimos três séculos.
Mas seja qual for o resultado desta disputa, a verdade é que o mundo está transitando para um patamar inteiramente novo e desconhecido, e o Brasil precisa se repensar no caminho deste futuro. Neste contexto, atribuir apenas ao Fisco a causa ou a solução do impasse brasileiro é quase ridículo, e tão absurdo quanto restringir a discussão sobre o futuro do Brasil a um debate macroeconômico, ou sobre uma agenda remendada às pressas contendo velhas reivindicações libero-empresariais, dispersas e desconectadas.
O Brasil está vivendo um momento e uma oportunidade única de se "reinventar", redefinindo e repactuando seus grandes objetivos e a própria estratégia de construção do seu futuro e de sua inserção internacional, com os olhos postos no século XXI.
Mesmo assim, nesta hora de extrema violência e irracionalidade, se o Brasil conseguir vencer e superar democraticamente a crise imediata, já terá dado um grande passo à frente, rumo a um futuro que seja pelo menos democrático. Mas atenção, porque este passo não será dado se o governo e suas forças de sustentação não passarem à ofensiva, começando pela explicitação dos seus novos objetivos e de sua nova estratégia, uma vez que seu programa de campanha caducou. Hoje, como no passado, a simples defensiva "será a vitória de fato das forças reacionárias que hoje investem contra o povo brasileiro".
José Luís Fiori professor titular de economia política internacional da UFRJ, é autor do livro "História, estratégia e desenvolvimento" (2014) da Editora Boitempo, e coordenador do grupo de pesquisa do CNPQ/UFRJ. Escreve mensalmente neste espaço.

Discurso proferido na solenidade da Câmara de Vereadores de Joinville, em homenagem aos 60 anos de existência do DIEESE



BOA NOITE A TODAS E A TODOS.
NOSSOS AGRADECIMENTOS A ESTA CASA DO POVO PELA HOMENAGEM AO DIEESE. AGRADECIMENTOS ESPECIAIS AO VEREADOR MANOEL FRANCISCO BENTO, DO PARTIDO DOS TRABALHADORES, PELA LEMBRANÇA DE HOMENAGEAR O DIEESE NESSES SEUS 60 ANOS DE EXISTÊNCIA.

AGRADECIMENTOS A TODOS OS COMPANHEIROS E COMPANHEIRAS PRESENTES; AGRADECIMENTOS ESPECIAIS A TODOS OS DIRIGENTES E ÀS DIRIGENTES SINDICAIS AQUI PRESENTES. AGRADECIMENTOS CARINHOSOS À DIREÇÃO DO DIEESE TAMBÉM AQUI PRESENTE E A QUE NÃO PODE ESTAR (PELA CONFLUÊNCIA DOS ASTROS A MAIORIA NÃO PODE ESTAR AQUI). Sueli do Sintraseb e Jorge Godinho, dos hoteleiros de Criciúma.
ESTA HOMENAGEM AO DIEESE, INICIATIVA DE UM PARLAMENTAR DA CASA, O VEREADOR BENTO, NA VERDADE, É UMA HOMENAGEM A TODO O MOVIMENTO SINDICAL DE JOINVILLE. O DIEESE É CRIA DO MOVIMENTO SINDICAL BRASILEIRO, E SE NÃO HOUVESSEM SINDICATOS FORTES NO BRASIL E AQUI NA REGIÃO, O DIEESE NEM MESMO EXISTIRIA. PORTANTO, COMPANHEIROS E COMPANHEIRAS A HOMENAGEM AO DIEESE É, NO FUNDO, UMA HOMENAGEM AOS TRABALHADORES QUE CONSTRÓEM O PROGRESSO DE JOINVILLE E ÀS ENTIDADES QUE OS REPRESENTAM.
COMPANHEIROS E COMPANHEIRAS:*
Cito aqui, depoimento de Tenorinho, do sindicato dos Laticínios de SP, como era conhecido esse pernambucano, nascido em 1923 e falecido há poucos anos atrás (em 23 de janeiro de 2010):
Diz Teroninho:
“O Dieese passou por todo um sistema de preparação. Ele não surgiu de um estalo, não, ele foi fruto de todo um acúmulo de aprendizagem. Então, nós fizemos o Pacto de Unidade Intersindical, que começou com cinco sindicatos: gráficos, metalúrgicos, marceneiros, têxteis e vidreiros. Ali na rua dos Cerealistas. Então, naquela rua era uma casa baixa de um sócio, onde funcionava o sindicato, que se transformou em sede e dali nós começamos a “mandar brasa” em tudo. E todas as nossas lutas sindicais durante esse período, as lutas reivindicatórias, elas encontravam a barreira de como provar que era aquela percentagem que os trabalhadores reivindicavam, não tinha como, não tinha um aferidor. O único em que a Justiça se baseava – aí vamos chegar no Dieese – era uma comissão do Ministério do Trabalho, a qual não tinha a nossa presença nem participação, e a Secretaria de Abastecimento de São Paulo, comandada por Ademar de Barros e o Secretário era o João Acioli, até um advogado do Sindicato dos Têxteis.
Então esses dois dados nunca conferiam com aquilo que a gente achava que era o custo de vida e nós nos batíamos, e só levávamos alguma vantagem quando fazíamos greves enfrentando polícia, enfrentando todas as dificuldades para fazer uma greve como fizemos em 1953, a chamada “Greve de 700 mil trabalhadores”. Então surgiu a ideia da gente criar o nosso próprio organismo de levantamento de custo de vida. Aí eu, como secretário do Pacto; Salvador Romano Lossaco, presidente do Sindicato dos Bancários – aqui eu rendo a minha homenagem, porque sem ele não “tinha” existido o Dieese; Remo Forli, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos – eram os dois maiores sindicatos na época, os mais combativos eram esses dois; nós, do Laticínio, que não era numericamente tão expressivo, mas politicamente era peso-pesado; enfim, nós somamos cinco sindicatos e começamos a trabalhar dia e noite. Mas era até meia-noite, uma hora, duas horas da manhã, elaborando, pesquisando, estudando, e um dos homens-chave nisso aí se chama – foi este que já falei - Salvador Romano Lossaco, que não era do Partido Comunista, era um anarquista nato, mas de uma fidelidade de classe e de uma competência para ficar do nosso lado, que era impressionante.
Nós fundamos o Dieese. Fundamos o Dieese e pusemos: Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos. Antes era só Departamento Intersindical de Estatística. Aí um jornalista chamado Xavier Toledo - que era um jornalista do Correio Paulistano que trabalhava na Câmara e que acompanhava a gente, era um simpatizante - disse: “Olha, vocês têm que acrescentar, à ‘Estatística’, ‘Estatística e Estudos Socioeconômicos’, porque vocês abrem a perspectiva de se tornarem um instituto”. E nós incorporamos essa sugestão, ficou Di-e-ese. Foi um negócio muito bonito, uma vitória grande.”
Companheiros e companheiras:
O tempo passou, levado também pelo vento das lutas. As notícias da atual arena repetem manchetes. Hoje, como antes, sintonizados com o presente e coetâneos com os desafios de futuro, quando o Dieese completa 60 anos, rendemos nossa homenagem aos milhares de tenorinhos, leninas, salvadores e mônicas, que construíram, com muito trabalho militante e compromisso com a justiça e a solidariedade, uma instituição a serviço da classe trabalhadora!
Há 60 anos, o movimento sindical brasileiro demonstrou que é uma instituição que sabe arriscar para ser moderna e responder aos desafios do presente e do futuro. Em 1955, apesar das diferenças políticas presentes na classe trabalhadora organizada, a luta por ideais comuns propiciou a unidade para criar e investir na construção de uma entidade técnica, intersindical, unitária. Nascia o Dieese.

Desde então, os dirigentes afirmam que entendem muito bem o papel do conhecimento na luta social e o poder e a capacidade que ele gera para o debate público.

As primeiras pesquisas, sobre custo de vida, já abriram a demanda para a assessoria, nas negociações com os empregadores e os governantes locais e presidentes. O trabalho evidenciou que o conhecimento produzido deveria favorecer, além da assessoria às lutas sindicais e às negociações coletivas, o investimento em formação sindical. Assim foi feito durante décadas.

Hoje o Dieese trabalha para consolidar presença nacional, com a realização da Pesquisa da Cesta Básica de Alimentos em todas as capitais brasileiras. A entidade avança ainda, neste momento, para implantar uma nova pesquisa sobre a situação das ocupações, do desemprego e das condições de trabalho, com a Nova PED, Pesquisa de Emprego e Desemprego. Foram criados vários modelos de pesquisa sindical, para que as entidades sócias conheçam melhor as características dos trabalhadores da base e para resgatar informações e produzir análises sobre acordos coletivos, salários, pisos salariais e greves, entre outras.

A produção de estudos e anuários estatísticos se expandiu porque a demanda temática cresceu. Atualmente, o Dieese assessora o movimento sindical em mais de 40 temas (salário mínimo, reforma tributária, terceirização, rotatividade, informalidade, previdência social, seguridade social, política industrial, orçamento público, questões de gênero, raça e juventude). A diversidade de questões é ampla e de grande complexidade. Pesquisas, estudos, notas técnicas, anuários, livros, seminários, debates, oficinas são exemplos das várias maneiras de se disponibilizar permanentemente a produção técnica.

O investimento em formação sindical cresceu e, ao completar 50 anos, o Dieese perguntou às entidades sindicais filiadas se o projeto que deu origem à entidade, de criar uma universidade do trabalhador, ainda estava no horizonte. A resposta foi sim e, desde então, têm sido feitos investimentos para a construção da Escola Dieese de Ciências do Trabalho, hoje em pleno funcionamento. Reconhecida pelo Ministério da Educação, a instituição acaba de formar a primeira turma de bacharéis em Ciências do Trabalho, que, em setembro, receberão os certificados de conclusão da graduação.
O movimento sindical hoje mostra-se conectado com sua história porque mantém e renova os fundamentos originais do Dieese: a unidade, a diversidade intersindical e a autonomia técnica do trabalho. Mas vai além, pois aposta na capacidade de organização para produzir conhecimento para enfrentar as questões que estão presentes hoje na agenda do sindicalismo e da sociedade.
As profundas mudanças no mundo do trabalho, nos processos produtivos, na produção do conhecimento, em uma sociedade que amplia o campo dos serviços e se integra economicamente, ocorrem em um cenário em que cresce a desigualdade. Mais da metade da população vive na pobreza. O meio ambiente também tem sido penalizado. Os desafios políticos ganham maior relevância. É urgente empenhar esforços para que a igualdade, a justiça, a ética, a solidariedade e a cooperação voltem a ter centralidade nas relações sociais. Manter o Dieese é a decisão de dirigentes que apostam nesta agenda e no papel de uma instituição que mobiliza competência cognitiva para gerar conhecimento a serviço dos trabalhadores.
Foi Marx quem observou em meados do século XIX que “os homens fazem a sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente”. Assim foi o DIEESE nestes primeiros 60 anos de vida: construído com base na vontade dos trabalhadores e nas possibilidades colocadas pelas circunstâncias históricas.
Senhores, acredito que o movimento sindical e o DIEESE, sejam mais importantes neste momento em que a ideia de que o Brasil não tem mais jeito é poderosa, conta com avalistas de peso e interesses antipopulares, inclusive ao nível internacional.

AGRADECIMENTOS ESPECIAIS A ESTA CASA, AGRADECIMENTOS ESPECIAIS AO VALIOSOS MILITANTES DO MOVIMENTO SINDICAL AQUI PRESENTES; AGRADECIMENTO ESPECIAIS AOS PARLAMENTARES DESTA CASA. AGRADECIMENTO ESPECIAL AO VERADOR BENTO QUE TEVE A IDEIA DA HOMENAGEM AO DIEESE E A TODA A SUA EQUIPE. AGRADECIMENTO AO GRANDE COMPANHEIRO ZEKA CHAVES, ASSESSOR DO VEREADOR, FIGURA FUNDAMENTAL NESSE ACONTECIMENTO.
VIVA O BRASIL, VIVA OS TRABALHADORES, VIVA O POVO BRASILEIRO!
MUITO OBRIGADO.
*Material elaborado com base em dois textos de Clemente Ganz Lúcio, sociólogo e diretor técnico do Dieese. Os textos foram levemente enxertados com uma ou outra frase. 

Os migrantes e a tragédia do século

Flavio Aguiar, de Berlim. Extraído do Carta Maior

A crise financeira que se espraiou a partir da China e de sua economia que revelou suas fraquezas.

O assassinato ao vivo de dois jornalistas nos EUA, reacendendo debate sobre posse de armas naquele pais.

A recuperação, ainda que parcial, dos preços do petróleo no mercado internacional e a decorrente valorização das ações da Petrobras (que está longe de ser a massa alquebrada que nossa velha mídia quer que ela seja).

Correu mundo e manchetes a denúncia feita pelo doleiro Alberto Yousseff na CPI, em Brasilia, sobre ter o senador Aecio Neves recebido propina de Furnas. A noticia só foi escondida pela velha mídia brasileira. Além da denúncia em si, que deve ser averiguada e provada, o ocorrido expôs a parcialidade da nossa velha mídia e a fragilidade dos vazamentos da Operação Lava Jato.

Mas as manchetes principais foram para a terrível tragédia dos migrantes na Europa. Mais de 70 corpos em decomposição foram encontrados dentro de um caminhão abandonado numa auto-estrada austríaca. Inicialmente a policia estimou os corpos em 20, depois em 50 e finalmente em “mais de 70”. A imprecisão das cifras deveu-se ao adiantado estado de decomposição dos corpos. O caminhão pertencera a uma empresa transportadora de galináceos da Eslováquia, que afirmou tê-lo vendido em 2014. Estava em nome de um cidadão romeno e tinha placa da Hungria. Na manhã da sexta-feira a policia húngara afirmou ter detido o motorista suspeito, além de alguns possíveis cúmplices.

Na quarta-feira foram encontrados 50 corpos no porão de um navio no Mediterrâneo, que tinha 450 pessoas a bordo.

na quinta-feira mais um naufrágio neste mar, desta vez ainda perto da costa da Líbia, provocou a morte de pelo menos 200 pessoas. Outras 200 conseguiram se salvar, socorridas por navios ou conseguindo chegar à terra firme.

Uma vaga de milhares de migrantes, vindos sobretudo da Síria e do Iraque, conseguiu “furar” o bloqueio do Exército da Macedônia junto à fronteira grega. A Macedônia acabou pondo trens á sua disposição, para que eles atravessassem em direção à Sérvia. Deste país eles pretendem passar à Hungria e dali para a Europa Ocidental. A Hungria está construindo um muro na fronteira com a Sérvia, mas até o momento os migrantes têm conseguido atravessar.

Houve uma mudança de rota no caso de muitas destas correntes migratórias. A Líbia continua sendo a rota preferida pelos que vêm da Nigéria, da Eritreia e da Somália e tentam ingressar na Europa pela costa italiana. Mas no momento a maior massa de migrantes vêm da Síria e do Iraque, preferindo estes o caminho da Turquia ou da Grécia.

O fluxo de imigrantes provém de países desorganizados por guerras civis, em alguns casos com ajuda decisiva de potências ocidentais, como no caso da própria Líbia, do Iraque e da Síria. A emergência do Exército Islâmico na Síria e no Iraque só piorou a situação.

A chanceler Angela Merkel e o presidente François Hollande se reuniram durante a semana para concertar uma ação conjunta diante da questão. O maior problema está no convencimento de outros dirigentes em aceitar quotas de imigrantes refugiados.

Há forte resistência por parte de muitos europeus em assumir a responsabilidade diante do fenômeno. Nesta semana ouvi a entrevista de uma deputada polonesa, do campo conservador, junto ao Parlamento Europeu, dizendo que a Polônia não receberá estes imigrantes, porque são indesejáveis, na maioria só querem se beneficiar das vantagens europeias, muitos são terroristas, etc. Acrescentou ela que, caso recebesse imigrantes, o país só aceitaria “aqueles que fossem cristãos”. A deputada teve sorte de não ser eu o entrevistador, porque eu perguntaria a seguir, na lata, se esta afirmação implicava também a exclusão de judeus.

Na Alemanha prossegue o novo “esporte” neo-nazista: queimar abrigos presentes e futuros destinados aos refugiados. O incidente mais grave aconteceu na cidade de Heidenau, perto de Dresden, no estado da Saxônia, onde houve um confronto entre policiais e manifestantes que tentavam incediar um destes abrigos. Os manifestantes mais exaltados gritavam “Heil Hitler” e outros slogans nazistas. Também cantavam “Wir sind das Volk”, “Nós somos o povo”, slogan das manifestações que antecederam a queda do muro de Berlim em 1989, e que agora está sendo apropriado pela extrema-direita. O vice-chanceler Sigmar Gabriel, do SPD, e a chanceler Angela Merkel estiveram em Heidenau, condenando as manifestações. Depois disto a sede do SPD em Berlim recebeu uma ameaça telefônica dizendo que havia uma bomba no prédio, que foi evacuado. Além da ameaça a pessoa que telefonou também proferiu slogans racistas. Nenhuma bomba, no entanto, foi encontrada.

No fim de semana estava prevista uma festa para receber os refugiados em Heidenau. Diante da ameaça, por parte de elementos da extrema-direita, de atacar a festa, o governo do estado e a prefeitura proibiram qualquer manifestação ou festa até a segunda-feira. Os partidos de oposição no plano federal (Verdes e Linke) protestaram, alegando o direito constitucional à livre manifestação. O deputado verde Cem Özdemir declarou no rádio que iria a Heidenau no fim de semana e conclamou todos os que quisessem a segui-lo.

Do outro lado do Atlântico, o pré-candidato republicano Donald Trump afirmou que, se eleito, deportará dos EUA todos os imigrantes ilegais. Um jornalista perguntou como ele faria isto, uma vez que o número de “ilegais” chega a 11 milhões. Ele respondeu que tem muitas qualidades como “manager”, e que o processo de deportação seria “tranquilo” e “humanitário”. O último grande processo de deportação massiva nos EUA ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, quando 110 mil japoneses e descendentes foram confinados em casos de concentração dentro do pais, num processo que provocou traumas ainda vivos.



Lula vai inflar ou desinflar, como candidato?

Blog Tijolaço

Por   lulamujicA
Em meio a esta polêmica imbecil sobre o boneco inflável do ex-presidente Lula com roupa de presidiário (um processinho “básico” sobre seus donos e exibidores resolveria o problema) o fato político relevante é a admissão clara que Lula fez, ontem, de que será candidato a presidente em 2018.
Claro que todo mundo sabe, e faz tempo, de que esse  é o provável rumo do ex-presidente, embora fosse, em condições normais, muito cedo para assumi-lo.
Faltam três anos para a eleição, afinal.
Mas não há outra alternativa para Lula senão esta, porque ele já foi “lançado” candidato há muito tempo, e justamente pelas forças que se opõem ao projeto político que ele representa.
Lula, faz meses, é objeto da mais impiedosa campanha de destruição política e moral que um líder deste país já sofreu desde Getúlio Vargas.
Lula não tem um apartamento no Leblon, como Aécio Neves, muito menos falam dele as más línguas que possua um “cafofo” na Avenue Foch, crème de la crème de Paris. Mas o apartamento que nem comprou no Guarujá – este “paraíso do Caribe” –  é o prato predileto das notícias  de O Globo.
Seu filho não tem emissoras, nem sociedade com o grupo Disney, mas é “sócio” da Friboi, mesmo sem ter uma ação sequer do frigorífico. Quando muito, com aqueles hábitos de “ralé” – seu pai vai pra a praia carregando isopor – pode ser que compre uma picanha ou um cupim daquela marca para assar num churrasco.
A “exploração de prestígio” que Lula  faz, mundo afora, defendendo produtos e empresas brasileiras é um indigno “lobby”. E o dinheiro que empresas – inclusive a Globo, sua detratora-mor – lhe pagou para explorar o tal  prestígio por palestras e eventos “deve ser” remuneração disfarçada de “negócios escusos”.
Lula é o alvo.
Por isso, sua frase, ontem, ao participar de um seminário com o ex-presidente uruguaio Pepe Mujica:
– Você só consegue matar um pássaro se ele ficar parado no galho. Se ele voar, fica difícil.
Acertou em cheio.
Lula precisa mover-se e entrar no centro da polêmica.
Ele tem sangue frio, experiência e “tempo de janela” para enfrentar toda esta turma com verdades.
E tem, sobretudo, uma trajetória que o faz surgir como esperança em tempos de confusa perplexidade que vive o povo brasileiro, que viu a presidenta que elegeu se calar e agir de forma errática e contraditória  logo que  se fecharam as urnas.
Mas tem que se comportar como pássaro, não deve e não pode ficar preso ao terreiro governista, onde parte da turma esqueceu o que foi e outra parte jamais chegou a ser em tempo algum.
Ao contrário do Governo, que não sabe e já não pode buscar o enfrentamento, Lula precisa dele, até porque contra ele se move uma guerra de extermínio político.
Lembro do que dizia, sobre isso, o velho Brizola, em 1982: “eu sou como pão-de-ló, quanto mais me batem, mais eu cresço”.
Quem, no Brasil, pode se oferecer como esperança, pode sinalizar um tempo de bonança tão desejado em meio à crise?
Fernando Henrique e seus tucanos?
Cunha e seus processos?
Sérgio Moro, o Datena do Direito?
Ninguém, ninguém mais que Luís Inácio Lula da Silva, que tanto  pode vestir a toga de Doutor Honoris Causa da Universidade de Salamanca como entrar num botequim no Capão Redondo, em São Paulo,  ou em Olaria, subúrbio carioca.
Talvez, no Brasil, só não lhe convenha andar na Avenida Paulista, convertida em “coxódromo” por algumas dúzias de fanáticos.
A população, na sua tantas vezes inconsciente sabedoria,  percebe Lula como saudade, tanto quanto a elite, parte dela, também o percebe como medo, embora racionalmente não tenha porque se queixar de seus governos.
Por isso mesmo, Lula só pode ser enfrentado pelo ódio e o ódio – perguntem aos marqueteiros – é o pior dos combustível na política e, sobretudo, em eleições.
Lula disse ontem que “voltou a voar”.
Só quem pode fazer isso é quem estiver leve e puder mirar o céu.

domingo, 30 de agosto de 2015

Petroleiros tiram a paz de José Serra e atrapalham sua palestra sobre o pré-sal na Bolsa de Valores do RJ

do site da FUP, extraído do Conversa Afiada Oficial



Se o senador José Serra (PSDB-SP) pensou que teria paz e tranquilidade para conversar sobre o pré-sal a sós com investidores, empresários e representantes de multinacionais petrolíferas, certamente deve ter terminado o seu dia completamente decpecionado, já que na tarde desta sexta-feira, 28,  os petroleiros ocuparam a entrada do prédio da Bolsa de Valores, no centro do Rio de Janeiro, onde o parlamentar esteve presente para ministrar uma palestra sobre o futuro do pré-sal, organizada pela Câmara de Comércio Americana do Rio.

Representantes da FUP, do Sindipetro Caxias, do Sindipetro RJ, da CUT e integrantes de movimentos sociais como MAB (Movimento dos Atingidos por Barragens), FIST (Frente Internacionalista dos Sem Teto) e Levante Nacional da Juventude, levaram faixas e cartazes em defesa da Petrobrás e, também de repúdio ao PLS 131, de autoria do Serra, que insiste em querer tirar da Petrobrás o papel de operadora única do pré-sal.

O senador entreguista, que bobo não tem nada, fugiu da manifestação e chegou ao prédio da Bolsa de Valores de Helicóptero, exatamente como manda o figurino de políticos distantes da realidade, covardes e sem nenhum tipo de compromisso com a classe trabalhadora.

Apesar da tentativa truculenta da equipe de segurança do local, que tentou impedir o protesto, os petroleiros e demais manifestantes foram resistentes e prosseguiram com o ato até o inicio da noite.


[Fotos:Caroline Cavassa e Heron Barroso]

Pré-sal ofertado na bandeja



José Álvaro de Lima Cardoso
        É possível que o PLS 131, do senador José Serra, volte à pauta em setembro, com risco inclusive de aprovação, já que é frágil a articulação da sociedade e fraca a reação do governo contra o referido projeto. O mesmo acaba com o artigo da Lei que garante à Petrobrás participação mínima de 30% do consórcio vencedor de cada bloco licitado no pré-sal e retira a estatal da condição de operadora única nas atividades de exploração de petróleo em águas profundas no Brasil. O projeto de Serra, tudo indica, visa cumprir promessa feita à Chevron, em 2010, de rever o modelo de partilha e retirar a Petrobrás do controle das reservas existentes no pré-sal, como revelou o site Wikileaks em 2013.
         O sistema de Partilha, com garantia da Petrobras como operadora única em 30% dos leilões, representa inúmeras vantagens para o país. Garante fiscalização e controle na extração de petróleo, possibilita que a Petrobrás priorize a encomenda de insumos, equipamentos e navios brasileiros, impulsionando toda uma indústria, gerando emprego, renda e desenvolvimento do país. É fato conhecido que as multinacionais não investem na indústria nacional, adquirindo as plataformas de petróleo somente no exterior.
         Quebrar o modelo de Partilha (que, no fundo é o objetivo não confesso de Serra) vai gerar uma corrida para retirar o petróleo daqui, na maior velocidade possível e remeter os dividendos ao exterior. A literatura sobre o assunto mostra que isso aconteceu no mundo todo. Países que não colocaram as suas reservas ao serviço do povo e dos interesses do país, pagaram um alto preço. Com a quebra da exclusividade da Petrobrás no pré-sal, iremos perder o controle e o ritmo da exploração, já que as multinacionais do petróleo são basicamente predatórias.
         Mesmo se analisada sem nenhuma posição nacionalista, de defesa da riqueza nacional (e o pré-sal talvez seja a última grande riqueza nacional que ainda pertence ao Brasil), pode-se considerar simplesmente absurda a possibilidade de entregar a garantia que tem hoje a Petrobrás, de exclusividade na operação e de ter, ao menos, 30% das imensas reservas do pré-sal, que já disponibiliza ao país quase 900 mil barris de petróleo/dia, e cuja magnitude ainda não foi sequer precisamente mensurada. Se houvesse no Brasil uma opinião pública mais crítica e esclarecida não haveria nem ambiente para esse projeto sequer ser apresentado.  
                            *Economista e supervisor técnico do Dieese em Santa Catarina.