no Blog de Jandira Feghali.
Gaúcha de nascimento e
paulistana de coração, Inoil Amaral Rodrigues, de 70 anos, professora
aposentada do Ensino Fundamental e especializada em alfabetização,
marcou a Internet no último domingo (16) após ser fortemente hostilizada
por manifestantes, na Avenida Paulista, simplesmente por estar vestida
de vermelho. Em diferentes registros de vídeo e uma foto que registrou
exatamente o episódio, de autoria do fotógrafo Luciano Marra, Inoil
aparece reagindo com coragem e paciência aos atos de agressão verbal e
ódio vindos de paulistanos trajados de camisas da seleção brasileira e
apetrechos dos mais esquisitos na cabeça. Parecia Copa do Mundo, mas
eram só as excentricidades de uma galera muito louca.
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Dona Inoil ficou conhecida como
“Dama de Vermelho” na internet, em alusão à cor que lhe rendeu atenção
por parte das agressões fascistas e de parte da imprensa (uma pequena
parte interessada em se aprofundar nos assuntos, é claro).
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O mandato político da deputada federal Jandira Feghali, líder do PCdoB
na Câmara, se sensibilizou com o episódio e declarou apoio a ela e
tantas outras pessoas que foram alvo de reações agressivas, simplesmente
por quererem expressar o contraditório naquele dia, em diferentes
pontos do Brasil. Por isso, com produção e entrevista do repórter Bruno Trezena, nossa seção “2 Dedos de Prosa” desta semana é com ela.
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Com a palavra, a Dama de Vermelho.
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Bruno Trezena: Vamos do início? Como a senhora foi parar naquela situação?
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Inoil Amaral:
Primeiramente, permita-me explicar, não sou militante de nenhum
partido. Tenho militância simpática aos governos de Lula e Dilma, mas o
que se viu naquele dia foi um absurdo tamanho comigo e outras pessoas.
Desde quando é proibido sair às ruas vestido de vermelho, mesmo que haja
manifestações contrárias ao PT? Onde está a liberdade de expressão?
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Para se ter uma ideia, naquele dia nem me lembrava que haveria atos
contra a Dilma. Tanto que o que chamou a atenção dessas pessoas foi o
casaco vermelho que eu levava dentro da bolsa e, quando tudo explodiu em
agressão, ergui sob a cabeça.
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O dia ocorria normalmente. Mais
cedo havia ido à feira e um dos vendedores me disse que teria que fechar
mais cedo por conta do tal protesto na Avenida Paulista. Voltei pra
casa, almocei e resolvi ir à rua pra ver como estava a movimentação.
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BT: E o que aconteceu quando a senhora chegou no local?
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IA:
Vi os carros de som estacionados, as pessoas passando pra lá e pra cá e
resolvi entender o que dizia um dos manifestantes no microfone. Parei
na ciclovia e fiquei lá, ouvindo. Nessa hora notei um senhor de cinza,
com uma roupa lembrando farda militar, gesticulando na minha direção de
longe. Ele fazia movimentos bruscos com a mão, dando a entender para que
eu saísse dali. Achei aquilo tudo muito estranho. E foi aí que notei
uma senhora atrás de mim, de amarelo, acompanhada de uma moça bem
humilde – acho que era a empregada dela – me fitando com uma cara de
raiva. Quando me virei ela perguntou: “Por que você está vestida
assim?”. E eu perguntei qual era o problema da minha roupa, mas ela
continuou: “Você é do PT?”. Segui explicando que estava acompanhando a
manifestação como todo mundo e tinha direito de estar ali. Não demorou
muito para que as agressões começassem.
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BT: Nas imagens a
senhora aparece andando por uma rua e respondendo calmamente às
agressões que vinham na sua direção. Por que aquilo?
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IA:
Em determinado momento, um senhor fardado se aproximou e me questionou
sobre estar ali. Qual o problema da minha presença? Tentei explicar, mas
ele logo saiu perguntando de forma agressiva: “A senhora é comunista?
Eu sou capitão do exército e advogado, acho melhor a senhora sair daqui,
vai começar o hino nacional”. Foi quando eu disse em sua direção: “E
daí o que o senhor é. O senhor pode ser o que quiser. Eu vou continuar
aqui da mesma forma que vocês. E eu respeito o hino, vocês eu não
respeito”. Assim que acabou o hino, seguido do silêncio, eu gritei:
“Viva a democracia! Viva a liberdade de expressão!”. E aí tudo começou.
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BT: Que tipo de agressões a senhora sofreu?
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IA:
Todos se viraram pra mim e passaram a me acusar de petista, comunista,
de terrorista ou sei lá mais o que. Carros começaram a buzinar e um
monte de gente a gritar palavrões na minha direção. Algumas pessoas
passaram a assoprar aquelas vuvuzelas no meu ouvido, tentando me atingir
de alguma forma. E eu continuei meu caminho, de braço erguido com a cor
que tanto incomodava aquele estranho grupo. É isso, eles tinham medo do
vermelho. É uma fobia inexplicável, de gente com muita desinformação
nas ruas, sem saber o que quer realmente da vida. É um absurdo o que
aconteceu, mas eu sigo em paz.
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BT: O que a senhora presenciou nesses atos, antes da confusão começar?
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IA:
Coisas terríveis. Num desses carros de som, um senhor fardado gritava
no microfone que as forças militares fariam uma reunião no Quartel
General do Exército, ali no Ibirapuera, e que precisavam reagir a
entrada de árabes no país. Diziam que eles fariam terrorismo com ajuda
do governo brasileiro. Mas eu digo, meu filho, terrorismo são essas
pessoas que estão fazendo diariamente no Brasil. Eles amedrontam o povo,
inventando coisas e deturpando a História, gerando um grande temor na
sociedade. É através do medo e da raiva que eles estão tentando trazer o
povo pro lado deles. É uma tática suja, do tipo de gente que criou a
Ditadura.
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BT: Muitas dessas pessoas pedem o retorno da Ditadura no Brasil…
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IA:
Olha, isso jamais. Não entendo o que eles estão fazendo nas ruas,
exigindo intervenção militar… onde essas pessoas estavam quando milhares
de famílias foram destroçadas pelo Regime Militar? Diversos cidadãos
estão traumatizados até hoje por conta da perseguição política e dos
crimes de Estado. Lembro até hoje, quando tive meu primeiro filho, o que
soldados daquela época fizeram com uma conhecida. Um pelotão deles
apareceu de repente na minha rua e tiraram dos braços de uma vizinha seu
filho de apenas dois anos. É muito doloroso recordar isso e, como se
vê, tem gente que não faz a mínima noção do que clama por aí.
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BT: Inoil, sua
determinação virou símbolo a diversas pessoas do Brasil. Se tivesse a
oportunidade de dizer algo à presidenta Dilma, o que falaria?
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IA:
Eu falaria pra que ela fique tranquila, como eu fiquei, pois foi a
maioria popular que a elegeu. Foi democrático, dentro do sistema
eleitoral. O povo trabalhador mais humilde gosta dela, e eles não serão
afetados por este ódio elitizado. A diferença de opinião política vai
existir, mas todos têm que respeitar a democracia. Tem gente aí que quer
tentar dar o golpe, mas não vão passar.
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BT: A senhora passou…
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IA: A Dilma também vai. E de coração valente.
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