Por Fernando Brito · 24/09/2015
É preciso muito cuidado ao tratar da disparada do dólar, para que não
se chegue à falsa conclusão de que o Brasil está numa situação cambial
desesperadora, sem condições de controlar a cotação do dólar aquém do
“céu é o limite” que parte do mercado financeiro alardeia.
O que aconteceu hoje, mais do que as intervenções do Banco Central no
mercado – que já tinha se identificado hoje – foi mostrar ao mercado
que o “colchão de mais de 370 bilhões de dólares representados pelas
reservas cambiais brasileira são uma incontestável garantia de que o
país pode e vai reagir a ataques especulativos contra a sua moeda.
Mais ou menos como um cowboy que chegasse a um daqueles saloons do Velho Oeste e abrisse a jaqueta mostrando o Colt 45 na cintura. Um tremendo “calmante” contra possíveis confusões…
A mobilização de 5% das reservas para corrigir o cambio significaria
praticamente dobrar toda a quantidade de moeda estrangeira negociada no
mercado financeiro brasileiro.
Daí a fazer isso, porém, vai uma distância grande. Mas é preciso
lembrar que este ano, os países emergentes já jogaram, até agosto, US$
290 bilhões de suas reservas em operações de estabilização cambial. O
Brasil usou zero.
Não que se espere, já e já, uma grande queda do valor da moeda
americana, muito abaixo do que já se deu hoje, até porque ela segue
subindo em todo o mundo – menos que aqui, é verdade, onde se somam
razões políticas – e não dá sinal de inverter, lá fora, esta tendência.
Ao contrário, a declaração de hoje da presidente do Federal Reserve,
o BC americano, Janet Yellen, de que seria “apropriado elevar os juros
até o final deste ano” tende até a tornar mais forte (ou sólida, à
medida em que em que o mercado financeiro já “precificou” a alta dos
juros por lá) esta tendência.
Mas há outros elementos que devem ser considerados.
Não vou citar o Nassif, que já tinha feito a mesma demonstração (depois
da feita, já há certo tempo, pelo Rodolfo Gamberini, da TV Gazeta), mas
a matéria publicada pela insuspeita revista Exame, da Abril – “Não, o dólar não está tão caro quanto parece”
-que demonstra, com variação em relação aos cálculos, próprias do
período a que se referem, que “recorde” em cotação do dólar só haveria
com valores muito acima dos praticados hoje.
O desalinhamento cambial brasileiro era doença de anos, o que não
quer dizer que o remédio devesse ser servido nas doses cavalares em que
foi.
A alta do dólar tem impacto imediato nas exportações brasileiras de
produtos manufaturados – as de maior geração de valor agregado e efeitos
econômicos – que, em setembro, subiram mais de 17% e em dólar,
compensando com folga as perdas de minérios e commodities agrícolas.
O efeito negativo da desvalorização cambial na elevação dos preços
internos, de outro lado, tende a ser mitigado ou diluído no tempo pela
situação de recessão, que reduz o seu consumo e modera a ânsia de
remarcações.
Não é a menor possibilidade de estabilização da situação financeira
no curto prazo, embora exista uma possibilidade – não uma probabilidade –
de que os movimentos sejam menos histéricos, sobretudo se o Governo
repetir a primeira e parcial votação dos vetos e Eduardo Cunha não se
atirar de cabeça na aventura do impeachment.
Mas que o trabuco que sossegou a baderna no saloon foi a menção ao uso das reservas, lá isso foi.
Põe muito mais medo que o outro Trabuco, o Luiz Carlos, presidente do
Bradesco e padrinho da indicação de Joaquim Levy para a Fazenda.
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