segunda-feira, 12 de outubro de 2015

EUA: como apenas 158 famílias financiam grande parte das eleições presidenciais

Publicado no Le Monde. Extraído do Carta Maior

Algumas dezenas de pessoas que fizeram fortuna nos setores de energia e finanças e são totalmente desconhecidas do grande público contribuíram com quase metade dos recursos arrecadados até agora pelos candidatos à eleição presidencial americana. O New York Times se debruçou sobre estas famílias 'sui generis', cujas contas bancárias definem a política dos EUA.

Segundo o jornal americano, 158 famílias doaram 176 milhões de dólares, equivalentes a quase a metade dos recursos arrecadados até agora pelos candidatos: uma concentração sem precedentes desde os anos 1970. Estas famílias, obviamente, estão longe de representar o lar americano médio e suas fortunas vêm principalmente das finanças, do setor de energia ou do entretenimento.

Elas formam o que o Times descreve como "uma classe à parte, longe da maioria dos americanos, mesmo estando geografica, social e economicamente próximos". Muitas vezes, vivem nos mesmos bairros – de Los Angeles, Houston ou Miami – poucos herdaram suas fortunas e muitos são imigrantes, não tendo nascido nos Estados Unidos.

"Independentemente de posições políticas, eles fazem parte dos conselhos das mesmas orquestras sinfônicas, dos mesmos museus ou programas para a juventude. São sócios nos negócios, casam seus filhos entre eles e, às vezes, se enfrentam em partidas de poker", explica o jornal.

Este pequeno grupo de americanos financiam principalmente candidatos republicanos. Isto se explica por laços pessoais e econômicos – alguns candidatos tendo ficado ricos na mesma área de atuação de seus doadores de campanha – mas, principalmente, por afinidade ideológica. A maioria destas famílias compartilha com os candidatos republicanos a vontade de se livrar dos obstáculos regulamentares a suas empresas. Muitos candidatos republicanos querem, por exemplo, anular algumas das disposições da Lei Dodd-Frank, adotada após a crise financeira de 2008, estabelecendo barreiras jurídicas para os fundos hedge, que muitas dessas famílias possuem.

O jornal americano também vê nesta tendência republicana, um "contrapeso financeiro" à tendência demográfica em favor dos democratas. A maioria dos americanos é a favor de mais impostos sobre os mais ricos e de uma maior intervenção do Estado para corrigir as desigualdades.

O New York Times observa que, paradoxalmente, embora o montante gasto pareça importante, representa uma fração insignificante da riqueza dessas famílias. Kenneth Griffin, banqueiro de Chicago, por exemplo, gastou 300 mil dólares na eleição, o que, proporcionalmente, equivaleria a 21 dólares em um orçamento americano médio.

Este desequilíbrio também é resultado do decreto Citizens United, da Suprema Corte dos EUA que, em 2010, reduziu as restrições legais à participação de empresas no financiamento de campanhas políticas no país.

Tradução de Clarisse Meireles




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