sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Brizola nasceu há 94 anos. E por que não é apenas passado?

Ontem, conversando com João Franzin,  jornalista de São Paulo, da área sindical, ele perguntou-me a que eu atribuía o fato de Leonel Brizola, dez anos depois de sua morte, ainda ser tão lembrado na internet.
Claro que existe a saudade, existe o fato de ele, morto, não estar tão sujeito às idiossincrasias dos vivos, não ter de dividir apoio ou discordância em cada coisa que dissesse e, ainda, o fato de não ser mais “adversário eleitoral” de ninguém.
Disse-lhe algo, porém, que acabou não entrando na correta matéria que reproduzo abaixo, publicada hoje, na passagem do 94º aniversário de nascimento de Brizola, talvez porque isso seja algo de muito subjetiva compreensão minha: é que Brizola ainda representa – e sem nunca tê-lo desejado – a luta contra aquele que se sucedeu às oligarquias e ao poder militar como forma de dominação do Brasil: os meios de comunicação.
Com todos os méritos – e teve, ajudado por ter “nascido” já em plena era da TV – que o PT possa ter tido em matéria de comunicação, ele jamais teve essa compreensão ou a coragem de tomar as posições a que elas nos obriga.
Brizola, agora herói da Pátria, a teve, com todos os ônus que ela o trouxe e que muitos viviam repetindo que era “uma besteira”  para suas pretensões eleitorais – porque poder, para ele, sempre foi inseparável de voto – enfrentar a Globo como ele fazia.
Sim, a máquina de poder da mídia pode nos devorar por isso.
Mas, sem isso, sempre nos devorará, mais cedo ou mais tarde, por mais dóceis e complacentes sejamos.
Porque a classe dominante brasileira não tem ideias a expor, porque se expusesse  o único que pensa para o Brasil, o papel de donos do entreposto colonial, seria atirada ao mar como os americanos atiraram as caixas de chá por conta do imposto inglês que lhes cobravam.
O que têm a dizer, alternada ou simultaneamente, é falar de corrupção ou subversão, embora os seus as pratiquem todo o tempo, por décadas e séculos.
Reproduzo a matéria, muito gentil, da Agência Sindical.

Jornalista trabalhou 22 anos com Brizola

João Franzin

Fernando Brito trabalhou com Brizola 22 anos
O jornalista Fernando Brito trabalhou 22 anos com Leonel Brizola. Fernando, que edita o blog Tijolaço, falou à Agência Sindical, encerrando a série de entrevistas sobre o líder trabalhista que faria 94 anos sexta, dia 22.
Brizola ressurgiu com força nas redes sociais e entrou para o panteão dos heróis da Pátria. Fernando Britto analisa esse ressurgimento e também a trajetória do último grande continuador do trabalhismo.
Definição – Para Fernando, a palavra que define Brizola é inconformismo. Mas, ressalva, era um “inconformismo social, que transcendia a questão pessoal”. A base, ele avalia, era a postura ideológica: “Brizola dizia que a ideologia é o que nos orienta durante o voo, quando as nuvens encobrem o horizonte e dificultam o pouso”.
O problema dele era sempre político, diz o jornalista. Mesmo nas contrariedades, não passava recibo. Foi assim frente a Lula, com quem teve uma relação acidentada. “Vi o Brizola ser fraterno e vi bater, porque havia uma certa visão elitista no petismo”, conta, calculando que,  hoje, seria diferente, com o PT no canto do ringue. “Nada como tomar o remédio amargo”, comenta.
Exílio – Para Fernando, a figura pública massacrou a vida pessoal de Brizola. Os poucos momentos de folga eram as idas à estância no Uruguai, onde, diz, a vida também não era fácil, pois havia trabalho pesado a fazer. Ele conta que o exílio obrigou a família Brizola – que vivia confortavelmente – “ir viver numa casa de pedra, sem luz elétrica”.
Os 15 anos de exílio distanciaram Brizola da vida nacional. Isso, segundo Fernando Brito, se reflete também na sua visão de comunicação. “Ele não teve como acompanhar as mudanças tecnológicas. Eu fico imaginando Brizola frente às facilidades da internet. Mas a comunicação pra ele eram ainda o rádio e os jornais”.  
Tijolaço – Foi uma coluna dominical – paga – que Brizola publicou primeiro no Jornal do Brasil e depois em O Globo. “No começo, uma equipe fazia, sugerindo temas. Depois, eu passei a fazer. Na verdade, Brizola ditava os textos. Se você for observar, há, ali, períodos longos, repletos de vírgulas. Eu finalizava os textos, mas os títulos eram sempre do Brizola”, relembra.
*Aqui, apenas um complemento, explicável pela necessidade de resumir no texto. A comparação da ideologia com o radar, no pensamento do Brizola, terminava no céu nublado. Na hora de tocar o solo, dizia ele, um apaixonado por aviação, “o vôo é sempre visual”.

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